Aquele resumo…

Cheguei a 18 de Maio, depois de uma noite sem dormir, na escala em Istambul, enquanto aguardava a autorização do Governo Grego para entrar. A noite foi passada, como sempre movido pela curiosidade, a tentar descobrir ao máximo o novo aeroporto de Istambul que, diga-se, tem uma escala descomunal. Países normais constroem aeroportos, mas os Turcos construíram uma megacidade a que deram o nome de aeroporto! Não falta absolutamente nada…

Completamente estourado à chegada, e sem paciência para o X95, armei-me em capitalista e fui de táxi para o hotel designado. Não era bem o Hilton, como eu havia sonhado, mas dava para cumprir o propósito de descansar. Central, demasiado central, ousaria dizer, estava perto de todo um mundo que conjuga mais nacionalidades do que o tempo me permite enumerar. Um bom iogurte grego, após o primeiro sono, foi o suficiente para me sentir de volta e, sem mais demora, fui espreitar o “meu” antigo apartamento em Antiochias! Estava tudo como eu havia deixado…o mercadinho, a bomba de gasolina, a vizinhança que olhava com ar de quem não acredita que o antigo vizinho tenha voltado.

Já munido de cartão da Vodafone grega e ávido por confraternizar, numa altura em que o simples pensar em estar com outrém pode ser considerado crime, lá liguei aos “suspeitos do costume” que, como se no dia anterior tivesse partido, me saudaram com a saudade e carinho de outrora. A caminhada até Kallithea, para a bougatsa no sítio do costume, o saudar dos soldados que guardam o soldado desconhecido, o ter a oportunidade de voltar às minhas espetadas preferidas de frango, a tripa que reage prontamente ao iogurte e ao tzatziki, o galgar por ruas que conheço como a palma da minha mão. A cerveja de final de tarde, a vista da Acrópole, o coração sempre a encher-se de emoções e a lágrima no canto do olho.

Foram quase dois anos parado – em termos de trabalho. Com perdas irreparáveis, momentos de alegria indescritível e tristeza como nunca esperei viver. O recordar da cidade que me viu nascer mas que está completamente transformada – invadida por estranhos sem gosto, um deserto de locais de confraternização, com o que já foi a maior feira semanal do país a definhar…cada dia me revejo menos ali e mais aqui. Foi com um final que se deu o meu início da procura de algo novo, perto da Grécia – era o objectivo – e, de uma proposta para a Bulgária surgiu um imprevisto grego que, urgentemente, precisava de portugueses nativos e eu, que penso muito pouco no que toca a voltar à Grécia, aceitei….logo. 

Os finais têm o dom de serem seguidos por novos inícios e, temendo ou não (um ateu teme menos), voltei a fazer um trabalho que me permite viver num país que quero descobrir, até esgotar as minhas forças. Se me dá poder de compra ou a possibilidade de poupar, como na Irlanda? Claro que não! Mas oferece a possibilidade de descobrires 200 ilhas, por entre um continente – também ele – cheio de maravilhas da natureza…e eu sempre fui um homem de uma natureza diferente dos demais.

Obrigado miúdas, pela vossa amizade tão irreverente quanto recompensadora!

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