Entre o cappuccino da manhã, as caminhadas pela cidade e os intervalos para ler um bocado – deitado na relva de um qualquer parque e nos pequenos instantes em que o Sol o permite – vou observando as famílias que passeiam os seus filhos, brincam com eles e são tão ou mais crianças que eles. Não consigo estratificar as pessoas – talvez fruto da minha criancice enquanto recém-chegado a este país – porque a visão vê tudo com uma beleza sem defeitos, todos como iguais, num quadro muito belo…daqueles que todos admiramos sem sabermos porque o fazemos, mas sem deixarmos de nos espantar pela sua beleza – algo quase irracional, leviano, mas de uma razão que provavelmente reside na racionalidade que nos é transmitida de geração em geração…
Quanto mais tempo de cidade tens melhor dormes. Já consegues entender uma percentagem maior do sotaque dos locais e já os cumprimentas da mesma maneira que eles te cumprimentam a ti. Já conheces as ruas ventosas a evitar e as ruas soalheiras a frequentar. Sabes onde podes tomar o teu café preferido – enquanto praticas o teu espanhol – e dificilmente denunciarás a alguém onde é a melhor relva para estares estendido a ler. Partilhas umas migalhas com os pássaros e questionas-te se os primos deles terão alguém que olhe por eles em Espinho.
Sorris, lês mais um pouco e descobres que a manhã já passou e, no caminho de regresso, cruzas-te com alguns casais que devoram o pequeno-almoço (que é servido durante todo o dia em imensos locais) típico de ressacado – os ovos mexidos, o bacon frito e umas tostas acompanhadas de café preto. Mais uma mulher que passa de manga curta, mais um arrepio que sofres…será que comem salmão o ano todo e conseguem desenvolver uma camada de gordura semelhante à dos ursos? Pesquisas o site da National Geographic e concluis que não há nenhum estudo que comprove o que acabas de pensar…
Sobretudo pensas – muito, de maneira fresca – muito arejada, com muita novidade e com muita sede de conhecimento. E sorris – mostrando que te faltam 3 dentes que em breve vais ter de volta…dás uma gargalhada porque sabes que ninguém sorriria de algo assim, mas…tu és simplesmente tu.
Armado em pensador que vai descobrindo uma cidade nova – 2/4/2017
Ironicamente este é o único texto que até hoje escrevi só para mim e adorei.
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Em relação aos pássaros, por Espinho, haverá sempre banquetes ao final da tarde, fatias de pães de forma que ficaram por comer, mesa posta para as gaivotas…
Forte abraço, meu pequenino! **
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Dez ruas acima há uma série de pássaros de porte menos elevado mas igualmente famintos e saudosistas. Se a piscina não lhes falta, após as chuvadas, já quem lhes dê umas migalhas…Irão sobreviver e crescer…aprenderam comigo a quem só falta voar!
Grande abraço. Tenho que enviar o postal prometido…eu sei!
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