Abstraído do que me rodeia e completamente livre de pensamentos, decisões ou o que quer que seja que habitualmente faz o cérebro funcionar. Olhos perdidos no horizonte – sem que o enxergue – mas somente para atingir a plenitude do deixar o pensamento vaguear sem que a ação de pensar sequer exista. Olhos que se dividem entre os chapéus do cigano aqui em frente e o vestido amarelo, com tons de cinza, da mulher que se encontra em frente a mim.
Agora que constato que o texto não surgiria a menos que houvesse algum – por muito mínimo que seja – pensamento articulado que permite colocar o que se passa em palavras perceptíveis para os que, não estando presentes, consigam perceber e visualizar o desenrolar de tudo o que descrevo, entendo que é possível divagar sem pensar ou, talvez melhor descrito, pensar enquanto se divaga com o olhar perdido. Entretanto ela levanta-se e muda de lugar.
Está ligeiramente posicionada à minha direita e o sol brilha sobre ela. O vestido parece reflectir as linhas do corpo e estar perfeitamente ajustado – como que esculpindo a silhueta e revelando a nudez que esconde. Os cabelos são compridos e os chinelos condizem com o amarelo do vestido – talvez, melhor ainda, conseguem fazer perceber que há uma intenção de fazer o conjunto rimar – numa imagem poética que, sempre que tento captar mais detalhes, sou flagrantemente apanhado a delinear o que pretendo descrever.
Tem uma cara séria, não sorridente e de poucos amigos. Como que habituada a ser observada mas jamais contente por se sentir observada. Trocamos olhares mas a expressão não se dilui da dureza que ela impõe. Os minutos passam e a hora de partir está agora mais perto. Impõe-se a pergunta: tentas que sorria ou deixas a vida continuar sem que saibas a resposta a uma pergunta que não colocaste?
Ao contrário das pessoas, incapazes de uma mudança que afecte o status quo, os locais trazem-nos um resumo de todas as vicissitudes – sobretudo sendo nortenhas.
– Esqueci-me da pasta, com testes por corrigir, em São Bento…(diz uma utente do metro)
– Tem dinheiro?, pergunta o meu vizinho de viagem.
– Não, só os testes por corrigir…
– Então não se preocupe que vão lá estar. No Porto ninguém corrige testes de borla…
Tinha saudades da empatia nortenha!!!! 💪💙
Percorri demasiados quilómetros, com o sorriso parvo e ritmo de sempre. Troquei a Acrópole pela Rua de Trinta e Um de Janeiro e, muito embora não a tenha subido, prestei-lhe a devida homenagem. Visitei ruas que já foram parte do meu dia-a-dia e conheci pessoas maravilhosamente belas – não só no profissionalismo mas também na arte de bem servir o cliente.
Confirmei o que não queria confirmar e apreciei um belo prego no prato, visitei o “meu” emblemático Tamisa e os meus ouvidos viram restituído o sentido apurado para o bom humor portuense. Senti um valente vibrar, ao passar no Pérola Negra, mas deve ter sido um espasmo da imaginação – pois a referida casa estava fechada. Andei na rua, em cima de paralelos, para sentir o chão da Invicta e ouvi a retórica dos transeuntes – num sorver de saudade imaginativa que se transformou em realidade.
Não passei muito tempo na cidade – a Baixa parece um estaleiro a céu aberto – mas senti um sentimento de justiça – por finalmente haver dinheiro para a obra. Não disse um único palavrão mas escutei imensos, não chorei de saudade mas, a ter acontecido, jamais o revelaria.
De pernas cansadas e ao alto, só me apetece exclamar, bem alto, “é uma cidade que tenho em mim entranhada!” mas, fruto do lado racional, limitei-me a apreciar – com um olhar mais voraz do que qualquer turista – todos os detalhes da cidade que, a mim, fortalece o coração (incrível como o racional se dilui num belo emocional).
Agradas-me Invicta, todos os dias! Obrigado pelo homicídio de saudade que hoje me concedeste. Bem haja.
Hoje é dia de linha verde e, ao contrário do normal, revês as caras que pertencem ao “teu” horário, na linha que liga o mar (Piraeus) à montanha (Kifissia). Instalado na primeira carruagem – faço o máximo de tarefas a dormitar, até chegar ao emprego – rodeado de gregas que abanam os leques que, por esta altura, são mais uma arma no combate ao calor pirolítico que se instalou na capital grega.
A instalação sonora vai avisando os utentes – mind the gap, stay away from the doors, etc…de repente, ao sair de Omonia, ouve-se o anúncio de Viktoria, Attiki, fim da linha e por favor desembarque porque a composição está avariada e vai ser substituída (é mato, o número de vezes que acontece). Olhamos todos, uns para os outros, e saímos todos do metro, num belo gesto sincronizado, na estação de Viktoria.
Imaginem, por favor, uma estação onde o metro chega e, ao contrário do habitual, todos abandonam a composição enquanto explicam aos que estão na plataforma o que ouviram. Ouve-se uma porta a abrir e todos olhamos na direção do maquinista que, para espanto nosso, se ri, de gargalhada aberta que não lhe permite falar, ele quase chora…
Qual professora primária, ele afasta-se um pouco mais para o centro da plataforma e, por entre lágrimas de alegria, exclama algo em grego…não em tom de desculpa (um grego não comete erros) mas sim num tom autoritário. A mulher ao meu lado começa a caminhar para dentro do metro e eu sigo-a. Ela explica, assim que nos instalamos novamente, que o maquinista ordenou: o facto de termos a instalação sonora avariada não nos impede de chegar ao destino! Importam-se de voltar a entrar?
Percebem agora como tudo flui neste país? Sempre com uma gargalhada…😂
Humilde narrador esfria a moleirinha com um freddo expresso!
A vizinha saiu de casa depois de mim e, fruto de uma coincidência ou plano bem elaborado, estamos agora a lanchar, lado a lado, cada um na sua mesa. Sorrisos, falsamente envergonhados, cruzados com gestos tão espontâneos que parecem fruto de um nervosismo real, a mesma troca de olhares que temos, sempre que nos cruzamos nos espaços comuns do prédio.
Talvez seja esquecimento, ou apenas um acaso da vida de que todos podemos padecer, mas ela esqueceu-se do isqueiro (acontece bastante na Grécia, todos sabemos a que preço está o gás). Finge olhar à volta – o que, de facto faz – não conseguindo visualizar o meu maravilhoso “Clipper reusable”, finge pretender levantar-se para ir comprar um isqueiro – está a 7 passos do kiosk que os vende – mas prefere exclamar um “Oh”, quando finalmente assume enxergar o meu isqueiro.
A chama acende-se, sem que a alta temperatura sofra alterações, ela coloca a mão dela atrás da minha – obviamente para proteger de um vento que temo não sentir, a chama aproxima-se do extremo do cigarro, num movimento que me faz escutar acordes das mais belas músicas que conheço – num devaneio mental e musical que visa apenas embalar o momento. Ela agradece em inglês (como saberia) e eu respondo com um “ora essa”, em grego.
A tosta mista acaba, a Coca-Cola também já não demora muito e o calor….esse continua a ser brutal. Passa o 1 e o 5, e recordas que ambos conduzem a Sigrou. Recordas os meses aí vividos – apenas para constatar que o apartamento em Victoria foi dos melhores achados – nestas desventuras de ser um expatriado sorridente.
A maneira como era possível viver, num bairro problemático de Atenas, sem que sentisses o mínimo receio, só pode ser atribuída a um maravilhoso vizinho albanês que, fruto de ser o comandante local da noite, protegeu o meu apartamento (no único dia em que me esqueci da porta aberta), com uma simples cadeira, e sentou-se no sofá…a observar se alguém ousava desrespeitar a disciplinadora cadeira.
Acordava com um realejo ou violino, todas as semanas a biblioteca ambulante parava na rua, tinha mercado de rua duas vezes por semana!
Agora, na Boavista, tenho a avenida toda para mim, facilmente consigo fazer as compras inevitáveis, posso vegetar diante de um livro sem ser interrompido, o ruído citadino é menor e o prazer de viver exponencialmente maior!
Foi aqui que tudo começou, em 2015, e as passagens por outros locais apenas acentuam o quão diversificada a Grécia é – um amor que fica gravado onde realmente importa!
Deambulava pela rua, com o queixo demasiado levantado e os olhos num constante varrimento do que o rodeava, alheado na sua rotina de tudo ver – detendo-se, se a necessidade de ver melhor o detivesse – ou armado em hiker profissional, caso a vista já estivesse em memória – admitindo algumas paragens, para a actualição e substituição do backup anterior.
O calçado era limitado a três pares de sapatilhas – mesma marca, mesmo modelo, cores diferentes e um par de botas – mais cobertos de pó de falta de uso do que propriamente as solas gastas, de tanto uso. As meias eram todas pretas, num último suspiro anarquista, e as “coquilhas”, um objecto privado só ao alcance da urologista e de algumas, agora ilustres, beldades femininas não podem aqui ser expostos, sob pena de um atentado ao pudor cibernético (desconfio que não haveria “largura de banda 😂😂😂)!
O corpo, objecto de um estudo científico que decorre desde o dia da chegada, ganha uma dimensão que desperta a obrigatoriedade mental de andar, muito, galgar, ser “cavalar” na conquista de quilómetros, debaixo das solas. Com o espírito de um comandante de avião só quer acumular quilómetros de voo, tal a visualização mental que faz no aquecimento. Sorri, enquanto uma laranja cai sobre um tejadilho “mole” e o som sai com um tom cómico.
Perguntam-lhe como é que consegue viver despreocupado assim e ele, sem que a pergunta acabe, já está a responder “como é que consegues viver preocupada assim?!” Sorriram e observaram o espaço que os rodeava e, terminado o exercício, foram juntos em direção ao pôr-do-sol, que distava uns quilómetros valentes do local onde se encontravam.
Nunca acreditei no sobrenatural mas, depois de ter visto a beldade grega a subir para o autocarro, confesso que há algo endeusado nela. Enquanto aguardamos para virar para Sigrou, consigo um olhar de soslaio, por cima do oligofrénico que se sentou à minha esquerda.
É alta, calça um número grande (provavelmente para suster toda aquela beleza), tem um sorriso discreto que, muito provavelmente, até um cego faz sorrir. O inevitável cabelo encaracolado, uns olhos profundos, de um azul capaz de se confundir (novatos talvez) com a mais bela imagem do mar Mediterrâneo! O ruivo despenteado, enrolada num casaco perfeito para o dia de hoje – de um verde de esperança que reforça toda a convicção na raça humana!
Esperança!, grita a voz humorística da tua mente. Respondes com um “enquanto há vida!”, e sorris – perante o olhar alucinado do gajo que está ao teu lado! Apetece-te cochichar ao ouvido do gajo e, com um tom de Charles Manson, dizeres “You picked the wrong day to seat by my side!”, assim, enigmático mas com um desejo profundo que a paragem dele chegue!
Ela, entretanto, sorve mais um pouco do freddo expresso e o sorriso natural dela parece derreter o gelo do café – tornando-o ainda mais saboroso. A segurança envergonhada da beleza que possui é directamente proporcional à beleza que efectivamente magnetiza quem a pode apreciar! Se fosse de gesso certamente estaria num museu mas, tratando-se de um ser humano, está apenas sorridente, divertida e a pensar em toda a beleza que uma sexta-feira pode conter!
Ela já se apercebeu que as travagens do autocarro são por mim aproveitadas e, tirando partido do embalo, aproveito para arriscar o torcicolo, olhando para a esquerda! Curioso como, visto por quem não conhece o contexto, a cena pode ser hilariante: autocarro trava, a inércia actua e olhamos um para o outro.
Começa cedo, por volta das 6 da manhã, num misto de palpação e preguiça – palpação do estómago e a natural preguiça de quem não tem grande força. A falta de força teve origem numa intoxicação alimentar, após o que eu pensava ser um delicioso bife de vaca (na altura soube muito bem), seguido de um tsunami de emoções, em que o vosso humilde narrador se viu confinado ao quarto de hotel (daqueles de 20 euros por noite, tão típico de quem procura casa e está “entre tectos”).
A palpação advém do facto de todos nós conhecermos o nosso corpo suficientemente bem para sabermos onde tocar, antes de tentar emborcar algo. Obviamente é um conhecimento fútil, descobri eu, por entre coloridos arco-íris de bílis (a agonia de padecer de uma enfermidade que, para além do desconforto corporal, ainda proporciona cores tão pouco bem sucedidas) – aquele aparte desportivo fundamental para aborrecer o lagarto mais paciente.😬
Com a preciosa colaboração de uma funcionária do café, consegui ingerir um latte e duas torradas (branquinhas), com um muito ligeiro toque de manteiga. Uma hora de check-up continuo, muito perto do “trono”, e eis o vosso humilde narrador pronto para a aventura diária que é viver neste maravilhoso país. Investido de um novo vigor, percorre a distância entre o hotel e Monastiraki, sem ressentimentos, relembrando os locais por onde passa e a associação dos amigos que recordo ter recebido em Atenas.
Monastiraki recebe-me com um misto de sonoros batuques, o ruído das mangueiras – que limpam as provas de vida da noite anterior, o cheiro a eucalipto e alguns zombies que ainda procuram a direção certa. Já que chegamos aqui, e porque o Atlantikus ainda está fechado, arrisco caminhar até Thissio (como ir de São Bento até à baixa do Porto, sem a inclinação da rua da fábrica!) Constato que estou bem, sinto-me bem e quero um café! Erro crasso ou um risco necessário? Foi uma prova dos nove, antes de atravessar a cidade! Passei…
Metro de Thissio para Kallithea e há que trabalhar: sexta-feira foi feriado (cenas fictícias ortodoxas) e não consegui mais do que contactar alguns apartamentos para alugar (o processo de alugar uma casa é algo absolutamente surreal – também o foi na República da Irlanda (Eire) e já sabia ao que vinha – tirar fotografias de potenciais alugueres e retomar o contacto na segunda-feira). Antes da parte aborrecida, resolvi antecipar a parte divertida – aferir a minha acuidade visual e comprar uma armação para suster as lentes. Descubro uma optometrista grega, de inglês duvidável, cujo marido complementa o inglês não entendido com o italiano de nascença. Por entre inglês, italiano e grego eis que atingimos a graduação necessária e, como sou alguém que “ama fazer compras”, demoro 5 minutos a escolher a armação. Estão prontos na terça-feira pelo que, agora, só tenho que evitar sentar-me em cima deles (com um corpo tão esbelto 😂, ainda hoje duvido que tenha sido o meu peso a parti-los 🙄 😉 🤥).
Parto, na procura de anúncios para fotografar (na Grécia, os alugueres são anunciados nas portas dos prédios, usando para o efeito uns autocolantes amarelos – de tamanho único – impossíveis de não serem notados) e, após fotografar um deles – e tentar o contacto telefónico, perguntei ao senhor da loja ao lado se ele poderia traduzir. Não só o fez (era um espaço comercial) como também me disse: tire uma fotografia dessa placa (que, para mim, não passava de uma placa com caracteres gregos) porque esse senhor é de uma imobiliária, que fica aqui em cima. Tirei a fotografia, liguei e lá me apareceu o homem, na sua Suzuki 125 (até hoje confiei em poucas pessoas para andar de moto – o António Pedro que me ensinou, o Chico, que me levou do liceu a casa e de volta ao liceu, em tempo recorde, e o meu irmão que, como andava a estudar ortopedia, era de confiança 😂). Montamos, vi motos de frente, andamos em sentido contrário, fizemos mudanças de sentido pela passadeira que serve de separador central, chegamos!
É um rés do chão, que aqui são alteados porque há sub-caves, tem o quarto desejado, uma sala, WC e cozinha. Está sujo (tirando Airbnb é a norma) pelo que vai requerer um esforço adicional. Voltamos ao escritório, por entre carros, passeios, pessoas e, após uma troca monetária, recebo as chaves. A alegria é tal que corri para o hotel (de metro), peguei nas cenas todas e trouxe para aqui – estava ávido por poder responder “estou em casa”! A primeira limpeza está feita, o quarto está como novo, a casa tem agora um cheiro agradável. As aventuras posteriores nada mais são do que a intimidade da casa.
Há dias em que tudo, absolutamente tudo, corre bem – 7/1/2023
Não é um prato tradicional grego e, caso optes por encomendar um bife de vaca e estejas acompanhado de um cidadão grego, ele (ou ela) dir-te-ão quão perigoso é. Tratando-se de algo invulgar – na Grécia come-se, sobretudo, carne de porco e frango. A vitela também faz parte da ementa mas, porque menos consumida, também é um prato de risco – excepção feita às tavernas, onde a comida é fresca e raramente é de risco.
Segundo dia de cama, com uma intoxicação alimentar brutal, que me fez passar a noite a expelir líquidos pelos vários canais possíveis. Obviamente só há um culpado – eu. Assumo a fraqueza que me acudiu, sabendo os riscos que corria, sobretudo porque já passei pelo mesmo em casa – chegar, num dia de verão com luz do dia até às 22, grelhar um bife e, imediatamente, ficar de cama!
Não foi gula, não foi extravagância (um bife de vaca tem um preço que começa nos 12-15 euros e que, dependendo da denominação do local onde se consome, pode encarecer bastante) – um ex-café, redenominado gastro bar (ou qualquer outra denominação azeiteira) consegue inflacionar o produto, sem que a qualidade acompanhe! Pagas o “conceito”, chegas a casa, vomitas o conceito, obras o conceito, expeles o conceito – até o estómago começar a dar mostras de conseguir suster.
Ligas para o amigo de sempre que, inevitavelmente, te recorda o número de vezes em que o prato inicialmente escolhido, acabou por não ser o da encomenda final. Recordas episódios passados – em que a luz faltava em Atenas, durante o horário laboral, e tu chegavas a casa e, sem demora, esvaziavas o congelador, tudo directamente para o lixo!
Agora, que as partes baixas do aparelho digestivo começam a conseguir suster, esboças um sorriso – numa cara pálida que caminha para a normalidade.
Não sei se é um acto de autoflagelação ou apenas diferentes manifestações de força: se por um lado a neve destruiu grande parte das árvores fracas da rua, por outro ei-las que brotam com o dobro da força, no mínimo, que eu não sou gajo para ir lá medir…a olho, carecendo de certificação científica, vá…
Onde jaziam tocos do que outrora haviam sido árvores, olhando sem esforço, vemos agora um vigoroso tronco bébé que, claramente, não precisa de cuidados maternos. – Tens um futuro brilhante, trocamos hoje impressões. Infelizmente, talvez fruto da idade, não obtive resposta mas, o que a vista deslumbrava, era prova suficiente!
Começou inocentemente, como as coisas simples e bonitas da vida começam, mas depressa o sumo de cevada começou a libertar os presentes para um final de tarde de maravilhoso convívio, boa conversa e muitas gargalhadas.
A ausência do contacto, ou de convívio, expressão usada pelo patrão, talvez tenha contribuído mas a qualidade dos presentes era muito mais do que qualquer planeamento poderia reunir! Havia calor, saudade, carinho mas, acima de tudo, uma saudade enorme de celebrar de copo na mão, de dar gargalhadas sonoras e saudáveis.
Até o inquilino e amigo passou e deu o seu aval ao festim saudosista que no Bombar se desenrolava. Fomos putos saudáveis, num excelente final de tarde que, posteriormente e fruto do calção molhado, degenerou em resfriado bem chato de afastar – nada que a receita do mano não cure mas que me chumbou em sonos profundos dois dias seguidos!
Poder-se-ia dizer que houve de tudo um pouco – numa clara alusão ao contributo de cada um – mas seria redutor tendo em conta que só o conjunto fez o sucesso do convívio. Até o espanhol, agora residente português, compareceu para os habituais amendoins…
Foi como voltar a Buenos Aires, abraçar o Aníbal e a sua família e recordar que a amizade pode sempre acontecer…até no táxi de um Peronista que, indo buscar um cliente ao hotel mais capitalista, se surpreendeu por ele não ser tão capitalista quanto o hotel!
Memórias de um final de tarde maravilhoso – 9/4/2021
Se no passado dei a mão sem saber que o fazia, agora tive que dar ao pé para poder ter tudo o que me faltava em casa. Já não se consegue comprar tudo o que se pretende numa só superfície pelo que fui obrigado a dirigir-me de um Doce para um Continente.
Bendita (sem qualquer conotação católica) cidade que, assim que entramos em algum lado, tem sempre uma cara conhecida. Desta vez foi o André que me disse onde estavam as cápsulas e, em 2 minutos, as compras estavam feitas. Por momentos parecia que estava em Cork a fazer compras com o Gabriel (alguém que conhece o Tesco melhor do que a palma da própria mão) e que, em 2 minutos, havíamos encontrado tudo o que queríamos e estávamos na caixa prontos a seguir para casa. Fui tentado por uma caixa de 24 minis Super-Bock (trocamos olhares, eu toquei-lhe, ela sorriu) mas consegui superar a tentação e sair sem comprar cerveja (o que faz todo o sentido para quem já tem o frigorífico cheio do valioso líquido). Continuo a dizer que a Unicer devia apostar na entrega porta à porta, enquanto dura a pandemia, numa clara demonstração de que está com o povo e disposta a um pequeno sacrifício para se tornar o oásis que todos os portugueses e portuguesas almejam encontrar. Se fizerem a entrega com uns saquinhos de tremoços ou amendoins então aí, definitivamente, passam a poder cobrar um serviço gourmet, pois já inclui muito mais do que apenas a cevada líquida! Se, eventualmente, fizerem a entrega com uma tábua de queijos, umas tostas e um bom charuto a acompanhar…então aí passam para o estatuto de Deus de Leça do Balio! (e acreditem que haverá muito mais pastorinhos com visões!!!). Acreditam que encontrei a D. Manuela – que, para mim é uma irmã que tem sempre um bom conselho para a vida – mas só na terceira vez que nos cruzamos é que notei que efectivamente era a D. Manuela? Se há característica que não escapa a ninguém, até porque a D. Manuela não deixa, é o facto de, na sala de cima do Abel, quem manda é a D. Manuela!!!! E, com toda a razão, nem precisa relembrar tal facto a quem por lá passa novamente. Um amor de pessoa que só reconheci na terceira vez (nunca tinha visto a D. Manuela a cochichar!!!!, daí a demora em compreender quem era) porque, nestes tempos de pandemia, ando completamente alheado e sem lentes de contacto pelo que, se se cruzarem comigo e eu não cumprimentar, é sinal que me esqueci das lentes de contacto que recuso usar para sair, no máximo, uns 15 minutos por dia…É bom rever caras…e D. Manuela, se me estiver a ler, um grande abraço e até breve!!! Saudades do arroz de polvo…
Chovia, na volta desse Continente, e tentei novamente o exercício de regressar a casa de cara voltada para o céu, aproveitando cada gota que a natureza me dava. Já espirrei umas centenas de vezes, estou a beber chá e de mantinha (herdada, pelos vistos) pelas pernas, a pensar que nem sempre é boa ideia levarmos com a chuvinha nas trombas! Antes uma constipação que o outro que por aí anda!
Posto isto…vou beber uma mini! Sei lá que tipo de germes poderão estar dentro de mim ambicionando uma cerveja para poderem viajar para outros locais…
Sonhei que idealizava a amizade perfeita: com um sincronismo de raciocínio muito semelhante entre as duas pessoas, com um sentimentalismo muito parecido, com uma cumplicidade muito superior à de qualquer irmão, com um sorriso permanente – muito semelhante ao do vencedor que, do degrau mais alto do pódio, sorri perante as adversidades que acabou de vencer…para ser o melhor.
Acordei e vi que me tinhas enviado uma mensagem com um simples “Só tu…” e um emoji simbolizando uma gargalhada nossa. Há duas exclamações em ti, pelo menos para comigo, que sempre me habituei a responder com uma gargalhada – nunca de gozo mas sim de antecipação!
As expressões são o “Só tu…” e o “Oh IKA” – que, desde sempre, serviram para tu exemplificares algo com o qual não concordas mas igualmente não discordas! Naquela tua maneira tão low-profile de fingir que se trata de algo que jamais farias mas, e ao mesmo tempo, não discordas totalmente que eu o tenha feito. Enfim, respeitas que eu seja traquinas e sorves cada detalhe dos meus momentos de traquinice – que, embora não sendo muitos, são deliciosos. Eu sei porque os vivo e, apesar da amargura em alguns dos casos, a experiência tem sido muito recompensadora.
Vivo sabendo que és real, que batalhas, que sorris, que discutes, que gritas, que dás gargalhadas sonoras que tentas retirar, depois de dadas, como se estivesses envergonhada do volume das mesmas. Nunca estejas! São sorrisos desses que fazem as pessoas sentir aquela doce sensação de felicidade que tanto procuramos e tu…tu ensinaste-me a saber procurá-la, constatar quando a achasse…talvez agora aprenda a saber segurá-la! Cabe-me a mim aprender essa lição.
Obrigado amizade, sempre contigo! Beijo de uma grandeza tal que permita expurgar tudo o que te apoquenta e trocar tudo isso por sorrisos!
Parecia ter tudo para ser mais um jantar com amigos – alguma cerveja, boa carne, a vontade de cozinhar segundo o conceito gastronómico brasileiro, mais cerveja, mais…bem, já perceberam a ideia!
A malta que se foi reunindo cedo mostrou que dificilmente abandonaria a reunião. Houve os que chegaram cedo, os que chegaram cedo, os que foram chegando…não havia controle sobre entradas e saídas. Havia um fluxo natural de pessoas.
As manhãs do fim de semana são sempre muito iguais: o brunch, imposto de maneira fascista por todos os que nele participam, obriga a um acordar com despertador (algo proibido em países sensíveis, durante o fim de semana). A maneira como os participantes tentam demonstrar que estão vivos, quase prontos para fazerem o caminho que os separa da Meca do brunch – o Brick Lane, demonstra bem o quanto a preguiça é combatida – pela imagem de uma tosta, uma fatia de bacon, ovos mexidos com pedaços de chouriço e uma água fresca! Uma espécie de fazer amor em jejum…com o brunch! 🙂
Irónica mensagem da colega decasa que, ao chegar ao portão, teclou um enigmático “o prédio está ardendo”. Eu, que prezo muito a minha temperatura corporal, respondi com um “qual prédio? O nosso?”. Obviamente era o nosso prédio! Medo!!!!! Corremos para a porta de entrada, nessa altura já pejada de bombeiros, e observamos os trabalhos dos bombeiros enquanto o vidro da varanda estourava – provavelmente estaria muito quente do fogo e estalou com a diferença de temperatura imposta pela água! Brutal filme de acção este que nos era dado a presenciar…gratuitamente! Fomos espectadores atentos, de cerveja na mão e sempre obedecendo às instruções que nos eram dadas.
O jantar, como sempre, correu muito bem e as pessoas estavam bem satisfeitas. Muitos momentos com muita piada, as inevitáveis desistências e esfomeados que julgávamos extintos da raça humana – mas o ser humano surpreende-nos sempre com alguém que tem um apetite bem superior aos demais…
O primo é um bem disposto, o futebol não correu tão bem quanto desejávamos: o Vasco da Gama ganhou ao Grémio com um golo absolutamente idiota. O dia já não corria bem – em termos desportivos – pois já tinha visto o Vettel a desistir de um G. P. da Alemanha – que ele liderava – com uma falha absolutamente imperdoável.
Sempre tudo arrumado após a revolução da festa. Sempre um acordar bem disposto. Um dia publico uma fotografia minha…a sorrir! 😉
Voltou o céu cinzento, o sono por força da falta de incentivo para sair do quentinho e enfrentar a meteorologia irlandesa, o vento mais frio, os casacos.
Ao contrário do ano passado, este ano houve bastantes dias risonhos de sol bem aberto. Se bem que o ânimo atinge picos de loucura a verdade é que a terra está completamente seca pela falta de água. Há países que não nasceram para ter verão e certamente também existem os que não nasceram para ter inverno.
Aquela lufada de sorrisos, vinda do continente, com as respostas de uma pessoa bem mais do que importante. A constatação de que a nossa amizade é realmente abençoada – ironicamente escrito por quem não acredita em mitologia…
Tempo de curtir o fim de semana – durante umas semanas seremos 4 a viver na mesma casa – com a visita e os sempre amorosos colegas de casa. Ensinar a visita a acompanhar-nos no brunch, as tradições irlandeses, os detalhes escondidos, os becos desconhecidos, as bebidas frescas e as bebidas naturais mas de teor alcoólico acima do recomendável!
Em jeito de crónica de autocarro, vejo a colega com quem tenho trocado mais impressões: casaco de ganga, calça preta perfeitamente alinhada- nem justa nem larga – e aquele sorriso bonito enquanto coloca a vaselina nos lábios.
O habitual diálogo de circunstância, abordando temas tão inocentes quanto a qualidade do sono, o despertar e a constatação conjunta de que ambos idolatramos o café.
Diálogo de qualidade, por enquanto com a inocência característica de quem desconfia do que se seguirá, e um foco extremo nos olhos um do outro.
Sorrisos inocentes mas prevenidos, gestos livres mas regrados na emoção. Respiramos fundo, com a desconfiança de que há suspiros entre inspirações.
Quinta-feira, já com os objectivos semanais atingidos e com a mente imersa num fim de semana de sonho e de trabalho: na segunda-feira terei atingido o objectivo de saber a resposta à questão: o sonho comanda a vida?
P.S. – Após um ataque ao website fui obrigado a apagar todos os subscritores e utilizadores. Se, por lapso, foste afectado então, por favor, subscreve novamente.
Sentados no autocarro, debatendo a temperatura (alta) que se faz sentir, e eis que surge a polémica frase “Hoje está mais calor aqui do que em Ibiza”. O vosso humilde narrador, ao ouvir a expressão de regozijo face à alta temperatura que se faz sentir, aproveita para responder com um “Mal posso imaginar o número de festas que nos aguarda…em terraços irlandeses devidamente apetrechados para o efeito”.
Ambos soltam uma gargalhada e, quase em uníssono, concordam que a descida dos terraços irlandeses em festa até à realidade do autocarro que, numa segunda-feira nos transporta até ao emprego, está ao nível das maiores tristezas da humanidade.
Constatamos que podemos não ter a meteorologia de Ibiza mas temos as nossas festas bem mais completas e bem mais privadas.
A imprensa insiste em avisar a população que hoje, ao contrário dos restantes 364 dias, o índice ultravioleta é perigoso e devemos proteger-nos com protector solar com um índice mínimo de 50 que, após colocado na pele, nos faz a todos parecer irlandeses…
“Um dia de cada vez” foi a resposta que obtive a uma questão que coloquei. Soa a frase feita mas parece ser o comportamento mais adequado a ter…sempre. Uma espécie de analogia com o ditado popular que nos incentiva a viver cada dia como se fosse o último porque, eventualmente, acabamos por acertar!
Por entre torcedoras da selecção Portuguesa e adeptos da selecção brasileira eis-nos a aguardar o jogo seguinte neste campeonato do mundo.
Giro, e ao mesmo tempo ingrato, como tantas “competições” importantes estão a ser jogadas ao mesmo tempo. Dá a impressão que o tempo não chega para acompanhar todos os resultados! Sim, já sei: um dia de cada vez!
Tenho-me esquecido de ti mas não é por más razões, como bem sabes. Se a viagem de ida foi extenuante, mas com uma chegada bem recompensadora, a viagem de volta foi saudosista e com uma vontade imensa de ficar.
Foi tudo feito sem planeamento, sem agenda definida – excepto no que a dentista diz respeito – e cumpriste quase tudo o que te propunhas fazer…faltaram coisas insignificantes, mas as mais significativas foram cumpridas; regressaste com uma vontade imensa de ser emocional e não voltar, de lutar contra a razão e deixar a emoção tomar conta do destino.
Estiveste com o teu filho e conseguiram retomar a conversa onde a tinham deixado ficar, estiveste com a tua família e, todos juntos, conseguiram voltar atrás no tempo e rir – com prazer desmedido – de factos outrora ocorridos e cuja memória os teus primos, todos mais velhos, agradeceriam que não recordasses. Conseguiste cumprir os pequenos objectivos a que te propunhas e ainda elevaste uma amizade à condição de namorada…nada mau para 2 semanas na tua cidade natal!
Agora regressaste a uma rotina que criaste, que te faz sorrir num país sem sol – que te faz mais forte num país marcado por uma larga ausência de sol, forte presença de chuva e frio, mas de paisagens espectaculares. Anseias a visita, para juntos darem passeios pelos verdes campos irlandeses, qual Heidi e Pedro mas com ideias mais adultas.
“Um dia de cada vez.”, explicaram-te um dia. Nunca duvidei dessa explicação.
A mochila como acessório para fingimento puro de quem não leva absolutamente nada dentro dela. Uma espécie de princípio, que finge determinar que regresso a casa apenas de passagem, e que a casa a que regresso possui tudo – o que determina o porquê desta ser A casa a que retorno.
O som como método de, juntamente com a leitura, bailar. Uma melodia que acompanha o humilde narrador – da cidade em que habita até à cidade em que nasceu. Um trautear que começa na partida e só termina quando o regresso a Cork acontece. Um som e uma leitura que só terminam quando a mochila regressa ao armário de onde saiu e o humilde narrador exclama “Voltei”. Uma leitura que me permite exclamar “Já?” em cada escala feita. Um folhear que é alimentado pela imaginação do leitor perante as palavras do autor – um divagar pelo mundo, pelo espaço, pela natureza, pelas pessoas – movido pela imaginação de outrém mas ajustado à imaginação de quem lê.
A saudade é aquela portuguesa de difícil tradução. Já aqui abordei o “matar saudades” – como uma espécie de homicídio legal, com que as autoridades pactuam e que, uma vez executado, contribui de maneira profunda para um restaurar de valores, dos sentidos, do significado de cada um e cada coisa nesta jornada a que chamamos de vida.
Nunca tiveste jeito para despedidas e foges delas como o Diabo da cruz. 😁
O simples facto de teres escolhido hoje como o dia de partida – dia em que chegou o presidente de Israel – com Syntagma fechada, polícia de choque, a Mossad, o povo palestiniano a manifestar-se e um caos de trânsito (de pessoas e veículos)…e tu, qual traquinas, a furar por entre a confusão até a paragem seguinte do X95 que haveria de te trazer até ao aeroporto. 😎
Não és um turista neste país e a excitação da chegada e o vazio na partida demonstram-no (deve ser do azul e branco). 😉
Rodeaste-te dos que puderam estar presentes.
Tiveste demonstrações de força de alguém que, apesar de conheceres mal, te fez esboçar um sorriso pela forma como, apesar da tenra idade, superou tudo para conquistar o que queria.
Uma alegria imensa por veres uma ex-colega de trabalho – inteligentissima – grávida do primeiro rebento.
Uma amiga que gentilmente te cedeu um quarto para a tua estadia e te acompanhou nas incursões nocturnas.
A tua espanhola preferida que continua a ser muito engraçada e cheia de alegria de viver.
Deixaste o cartão de débito na máquina, após o levantamento de dinheiro no aeroporto, mas nada te podia roubar o sorriso. Nada nem ninguém. Cartão cancelado e a aventura continuou.
Sentado nos bancos do exterior do aeroporto, dás por ti a pensar em todas as aventuras e ilhas que “conquistaste” a partir daqui…e bate uma saudade imensa de voltar, um dia, de vez!
Obrigado a todos pela qualidade do tempo aqui passado. Só foi possível graças a vocês.
…quem a comanda és tu. A tua vida, os sonhos que pretendes concretizar, as acções que pretendes desenvolver, onde queres chegar. Cabe-te a ti miúdo…e teres sonhos sem sentido faz tanto sentido quanto guiar pelo lado errado da estrada! Apesar de viveres na Irlanda…😁
Leste – porque adoras ler – com todo o cuidado o texto que aparecia no ecrã. Releste, não porque houvesse uma incerteza no contexto mas porque era demasiado semelhante ao contexto que pretendias. Era “demasiado honesto”, algo não fazia sentido. Seriam palavras vãs? Um voto contra a castidade? Um grito de ajuda? Uma dissertação sobre outrora? Porquê agora? Acordaste com a sensação de ter sonhado…
Procuraste o que achaste que existia, tentaste extrair dali um sentido mas não achaste o que pensavas que tinhas lido e o sentido permaneceu o mesmo de outrora.
Saltaste da cama, despiste o pijama e tomaste um duche bem quente. Sorrias enquanto te lavavas e havia um ar de contentamento na tua cara. Tudo tinha acontecido sem que algo se tivesse passado. Sorriste e saíste para a rua com um ar diferente….de sonhador alegre, com uma paz diferente e, no entanto, nada havia acontecido.
O concerto havia acabado e estavas na esplanada – esse teu amor por esplanadas vai dar origem a um livro – a terminar a tua pint. Entre a primeira banda de punk rock e a segunda, haviam passado cerca de 2 horas e meia e algumas pints. Tranquilamente fumavas um cigarro, aquecias a mão para poderes a voltar pegar no copo de cerveja, quando o telefone tocou.
O bolso esquerdo das calças trepidava e, sem te teres apercebido, atendeste a chamada e viste uma cara conhecida: o sorriso habitual, a traquinice do costume, um barulho de fundo que tanto poderia ser do emissor como do receptor. Soltaste uma sonora gargalhada e eis que outra cara conhecida tomou o lugar da primeira e ficaste sensibilizado – confessa…ficaste! Brindavam a ti e pediam desculpa pelo atraso (sempre encaraste os atrasos como um sinal de que a paternidade poderia estar ao virar da esquina, muito embora só uma vez o tenhas feito numa esquina…).
Quando uma terceira cara surgiu no ecrã tu já estavas lá, já não estavas em Cork, mas sim no teu canto, de Super-Bock na mão e pronto a discutir a conta final com o mesmo argumento de sempre: – Quem é que bebeu estas cervejas? 🙂
Foi bom termos passados estes minutos juntos! Fui a Espinho e voltei em forma de 0’s e 1’s! Viajei como um pacote de dados e a uma velocidade digna de uns 5G! Brindamos juntos, rimos juntos e soltamos um suspiro (não porque é Natal…um suspiro de saudade!)…um fenomenal suspiro!
Obrigado miúdos; não gosto de surpresas, mas vocês surpreenderam-me, como sempre o fazem. Loucos, com naturalidade…
Há um sentido mais puro quando a linha de raciocínio é semelhante. Uma espécie de paz sem que algum dia a guerra tivesse existido, um reencontro de almas gémeas sem que algum dia tivessem sido iguais (porque tão diferentes), um abraço sem que algum dia se toquem.
O silêncio como forma de demonstrar o quão grande é a vontade de falar, o receio de falar sem que, posteriormente, se possa voltar ao silêncio. O desviar do olhar como forma de defesa, a cegueira como forma de ver, de maneira mais clara, a realidade dos factos.
A revisão mental (e constante) das expressões de outrém, sem recorrer ao olhar. O sentir a audição vibrar porque consegues escutar o que diz. A permanente atenção sem que possas fingir-te desatento. O recurso a reflexos para olhar, sem ser “apanhado”. O ser apanhado e ver na própria face o reflexo de quem adorou tê-lo sido.
Arriscas a vida e sais sem casaco, reconheces a tua falha e voltas atrás para o buscar. Refugiado no ambiente mais quente que o casaco te dá, começas a raciocinar melhor do que no ambiente glaciar anterior.
Relembras a Grécia, quando tropeças num vídeo que mostra imagens da “tua”praça – aguardando a visita do chefe de estado vizinho…Turco. Deve ser um dia giríssimo para ouvir o humor dos gregos, dada a animosidade existente entre Gregos e Turcos e, conhecedor da situação, sorris por não poder estar presente mas imaginando todos os detalhes de todas as conversas que, neste dia, certamente terão lugar.
O frio leva-te a recordar o Rakomelo – essa bebida dos deuses que permite a qualquer ser humano manter-se quente. Devia haver um negócio mundial que permitisse a permanente circulação – obviamente livre – destas receitas populares cujas origens remontam a tempos certamente não documentados…e funcionam!
De volta ao calor resolves escrever umas linhas e…sai isto. Aproveitas os intervalos, entre ausências de trabalho, para documentares momentos, no teu blog . Haverá quem não o ache a melhor das ideias mas nunca foste um grande fã de críticos e sempre lhes deste a dimensão e importância que eles merecem.
Descobriste agora que foste objecto de um qualquer pitoresco estudo sociológico e estás exactamente na mesma após o teres constatado. Continuas sem reconhecer os dias da semana, continuas a descansar quanto baste aos fins de semana. Dás uma gargalhada pois quase nada do que acabaste de escrever é real…apenas algo que fantasiaste para teres umas linhas para escrever.
Uma sexta-feira que me foi roubada, um fim de semana que me foi oferecido. Eis um resumo sucinto do quão díspares os dias podem ser nesta Manhattan irlandesa.
De um encontro às cegas a uma festa de pizza…houve de tudo um pouco. A hospitalidade irlandesa é um riso constante e, estar às 2 da manhã a debater a melhor forma de fazer uma pizza, tornou-se deveras hilariante.
Conhecido o grupo de desconhecidos, que por sua vez “meteu conversa” com outro grupo de desconhecidas. Dás por ti a ser surpreendido por alguém que não julgavas que te pudesse surpreender e terminas a noite com um sorriso desmedido na cara – limpa de cabelos compridos e barbas descomunais.
Um acordar diferente, um café saboroso, um fim de semana muito lucrativo em termos emocionais. Mais uma lufada de ar fresco para a semana que já quase termina.
Uma lógica na falta de lógica, um vento num país habituado a chuva. Sol….acho que foi do Sol….
A folha não tinha absolutamente nada nela. Estava conforme foi expedida da fábrica e destinava-se a ser usada por quem soubesse o melhor uso para ela. Estava propositadamente em branco.
O facto de todos os lápis de cor, pincéis, tintas e demais utensílios habilitados para a preencher estarem afastados não era obra do acaso, mas sim a própria folha que o impunha! Ela queria manter-se em branco até se sentir em condições de ser preenchida pelas melhores cores para a cobrirem e mostrarem ao mundo todo o potencial dessa união.
A folha gostava do cheiro de certas cores – costumava mesmo partilhar com a restante resma que “havia cheiros que a faziam ceder”. Ouvi esta confissão de uma folha que me entrou no escritório e resolveu denunciar a folha que “tinha gostos e era desprevenida”. Não pedi para conhecer a folha mas, sem que eu desse por isso, a folha conhecia-me melhor do que eu…
Revês as palavras escritas, revês as respostas recebidas. Com uma atenção redobrada percebes que há uma palavra que, muito embora mal escrita, é a mais relevante de toda a conversa e, após constatares que nem sequer reparaste nessa palavra – cujo sentido atribuíste a uma língua que não dominas – ficas a pensar no quão desvirtuada a conversa ficou. Uma gralha transforma toda a percepção das palavras numa conversa completamente diferente.
Apetece-te gritar por existirem gralhas – que emitem sons que podem perturbar toda e qualquer comunicação – mas sabes que as borboletas conseguem harmonizar: com a sua beleza, aquele seu voo belo e sincronizado, aquelas asas que te lembram todos os testes psicotécnicos que fizeste, toda a sua harmonia…que sabe voar!
Saboreias cada palavra – como se tivesses vivido a aventura da tua vida e precisasses de voltar a relembrar. Sorris a cada troca de detalhe mais íntimo, falas sozinho porque aprecias toda a envolvência. Não nasceste para julgar ninguém e estás perfeitamente bem com todo e qualquer julgamento que queiram fazer de ti, aguardas uma ocasião singular que te permita trilhar o caminho que optaste por confessar.
Têm sido dias diferentes, mas recompensadores ao ponto de te levarem a escrever estas palavras.
Estava eu sentado na esplanada quando ele chegou. Exclamou “Devo estar a ficar maluco” e eu, com uma boca aberta de espanto, apenas respondi “Ah?” ao que ele imediatamente respondeu “Eu sei que sou maluco, mas não precisas de puxar por mim para que o diga”. Duas gargalhadas explodiram naquele quase silencioso final de tarde – apenas quebrado pelo ruído de algumas gaivotas, que pairavam sobre nós como pedinchando alguns tremoços e um pouco de cerveja.
Era dia de desabafos e, enquanto profissionais do amigável desabafo, os dois sabíamos perfeitamente o que esperar um do outro. A amizade tem aquele dom de nos dar a conhecer a pessoa amiga – as suas rotinas, os seus tiques, suas virtudes e defeitos, forma de contornar uns assuntos e de enfrentar outros. A cerveja chegou, sem ter sido pedida; os tremoços seguiram-se como se estivéssemos perante uma rotina de muitos anos. Quem nos servia era também um amigo – que sabia, de antemão, que no final dos aperitivos nós iríamos contestar a conta, refutar sequer ter participado no consumo de uma das cervejas que nos era apresentada ou que algum dia houvéssemos sequer provado os tremoços – fazia tudo parte de uma coreografia que, jamais ensaiada, nos levava sempre ao mesmo desfecho.
Após a constatação de que a sede é uma virtude e deve ser saciada, eis que os dois amigos se levantavam e, com a promessa de voltar muito em breve, dirigiram-se para o restaurante onde o arroz de polvo esperava por eles. O grande desafio: qual o acompanhamento certo com o arroz de polvo? Misturar vinho com cerveja pode tornar-se um desafio insuperável à medida que os anos avançam e, enquanto um se defende e opta por manter-se na companhia da cevada de Leça do Balio, o outro faz uma incursão nas uvas esmagadas e apuradas em cascos de uma qualquer madeira. Já não debatem qual a madeira que terá apurado o vinho, mas sim a bela noite que a varanda lhes proporciona.
Não resistem a um café no final da refeição – muito embora saibam que já não têm 18 anos e os efeitos da cafeína poderão ser mais prolongados. Esta não é uma noite defensiva…é dia de desabafos, lembram-se? Olham para a adição de todos os elementos do jantar e, sem ousar sequer contestar o olhar da senhora que lhes entregou a conta, pagam o valor sem esquecer uma bonificação que lhes permita lá voltar e ter o tratamento acolhedor a que estão habituados. Descem as escadas e o patrão da casa coloca-lhes uma questão sobre o Futebol Clube do Porto – algo também tradicional nestas “incursões ao arroz de polvo” – que sabem que vai demorar a responder. Há que usufruir das cervejas que são gentilmente colocadas no balcão, reunir consensos na resposta e avançar.
Voltam ao local onde inicialmente se encontraram. A nortada afasta-os do muro e coloca-os na mesa do meio – uma fila atrás de onde começaram. Estão animados, embalados e contentes por estarem juntos. O arroz de polvo estava bom, a cerveja e o vinho evitam qualquer rouquidão na voz e o meu amigo pergunta-me “Ouve lá, porque é que concordaste comigo quando eu me apelidei de louco?” …, entretanto, e por entre gargalhadas, chegam dois finos! A noite está salva…
Instalado no novo apartamento, no mais calmo dos condomínios fechados de Cork, trocando a “solidão” de viver sozinho pela comunhão de partilhar a casa com um casal amigo. Num dúplex, em que os quartos são no andar inferior – sala e cozinha no andar superior – vou desfrutando a calma do espaço – com noites muito bem dormidas, com despertares naturais, com passeios matinais pelo bosque que ladeia o Rio Lee. Há uma certa ironia em gostar imenso de um dado local na cidade e, subitamente, termos a oportunidade de viver mesmo ao lado do local de eleição.
Passeios entre raposas e humanos, entre crianças e gelados, entre um bosque solarengo ou chuvoso, entremeado por fotografias a toda a natureza que me rodeia. Com um sorriso parvo de satisfação, com o estômago reconfortado – depois de mais um repasto de comida tradicional portuguesa, depois do contacto com os que mais sinto como “meus” sem que detenha a sua propriedade.
Caminhando muito, numa base diária, sempre fiel ao novo café de eleição (infiel ao anterior), já adaptado ao clima – e com o sexto sentido quase adaptado às mudanças de humor meteorológicas. A pensar seriamente em questões da maior importância: compro ou não compro umas galochas para os dias de cheias? Com muito poucas dúvidas e muitas certezas, com muita vontade de continuar a explorar enquanto vou amealhando roteiros fictícios que um dia tornarei reais.
A recomeçar, sem que o anterior começo tenha sido interrompido. A rever, sem que consiga atingir o pleno conhecimento da natureza que me rodeia. A interrogar os locais – com temas tão abrangentes quanto a passarada que este país possui. A sorrir, sem esquecer as conquistas do meu rebento que tanto contribui para essa mudança de feições.
Afastado de nostalgias e a reconstruir novos dias. A estabelecer novas amizades e a construir noites diferentes. A ser garoto sem deixar de ser adulto e a ser adulto sem esquecer o que me fez sorrir na infância – será nostalgia infantil? Talvez seja…mas é salutar! Sinto-me num imenso relvado verde, com a bola a rolar e pronto para um grande jogo de futebol! Acho que, para visão de ateu, estou a ser o Deus do meu próprio presente e futuro. Radiante que assim seja!
Mais vale culpar a memória pela minha ausência aqui. É óbvio que não corresponde à verdade mas parece-me ser a maneira menos dura de enfrentar o facto de te ter abandonado durante quase um mês.
Das refeições portuguesas, no Rio Café, ao pós-dilúvio das duas tempestades que enfrentamos, houve sempre muitos pequenos detalhes que ficaram por contar. Ver uma raposa a nadar no rio, logo pela manhã, o festival de jazz e os novos caminhos descobertos.
A raposa foi talvez a mais salutar de todas as experiências, em termos de contacto directo com a natureza. Caminhava eu pela ponte, em direcção ao café matinal no Union Grind, quando reparei num animal molhado que tentava o equilíbrio nos cabos que percorrem as margens do Lee. Obviamente desequilibrou-se e caiu no rio, nadou até às escadas e, qual animal assustado no meio citadino, correu pela rua fora e desapareceu nos jardins da Câmara municipal (provavelmente para pedir asilo….ahahahahahah).
As viagens directas, de Cork para Reykjavík, terminaram no final de Outubro e lá terei que aguardar pela Primavera (ou ir via Dublin) para visitar a Islândia. Não é “bucket list” mas é uma idéia que começou a formar-se por me encontrar aqui tão perto – um pouco à semelhança da visita à Roménia quando me encontrava na Grécia – algo diferente e aqui tão perto.
Estou a poucos dias de mudar de apartamento, para um apartamento dividido com a minha colega de trabalho, e conto as horas que faltam. A casa não tem alcatifa o que, em muito, vai contribuir para uma melhor saúde pulmonar (soa a piada de fumador mas é uma realidade).
Prometo voltar em breve para tentar voltar à cadência das aventuras que vocês merecem ler. Até lá deixo-vos…Aquele abraço!
Chove! Mas chove de maneira semelhante à que levaria qualquer outro país a emitir um alerta meteorológico; aqui temos um simples alerta amarelo, que corresponde a “alguma pluviosidade”.
Assim como não entendo o “feels like”, na temperatura das aplicações, também nisto dos alertas sou um pouco desconfiado. Quem determina a sensação de uma dada temperatura e quem determina que a pluviosidade é em excesso?
A conclusão é que tudo depende da perspectiva: a temperatura pode fazer um Grego sentir frio enquanto um Irlandês passa por ele de manga curta e calções. O agricultor pode exclamar que choveu pouco enquanto que o citadino – afectado pelas cheias do rio – exclama que foi uma intempérie monetariamente dolorosa.
Mais vale uma perspectiva abrangente do que uma expectativa remota.
O ditado popular, com a interpretação que cada um lhe quiser dar, significa para mim, que depois da parte má segue-se a parte boa – numa tradução literal, fácil de entender e que é a minha tradução.
Depois de 12 horas com o vento a soprar muito forte, de ver um carvalho a dobrar – como se de um ramo se tratasse, de ver objectos a passar no ar – como se fizessem parte do céu, de atentamente tudo acompanhar – no apartamento virado a norte (logo, de costas voltadas para a força do vento), de consultar os relatos dos inúmeros sites que cobriam o acontecimento e que diziam que havia pessoas no mar…que queriam testar a força da tempestade…posso finalmente exclamar “Estou aqui! Estou bem.”.
Provavelmente não será a maior tempestade a que assisti – talvez a de Cuba, em 1997, tenha sido maior, mas aqui, não me perguntem porquê, sentia-me mais frágil perante a natureza. O carvalho, no jardim das traseiras do apartamento, oscilava como um simples ramo e eu, que o conheço desde que me mudei para aqui, sei bem que um abraço dos meus não chega para abraçar aquela árvore…assim, a Ideia que constantemente me assolava era “Se aquele elemento da natureza (árvore) perde a batalha contra o outro elemento da natureza (vento) como é que esperam que nós – meros humanos – nos saíamos desta intempérie?”
O facto de haver a obrigatoriedade de estar fechado em casa não ajuda…aproveitei para limpar a casa, lavar a roupa e dormir uma longa sesta – embalado pelos assobios daquele vento que ainda esta noite me passou pelos sonhos. Sim, pelos sonhos…porque apesar de parecer obra de um pesadelo a verdade é que um espectáculo desta natureza (no sentido literal da coisa) não é algo que todos possam presenciar e usufruir. Foi como dormir embalado por uma música diferente do habitual e, para quem nutre um gosto ímpar pela natureza, isso assemelha-se a um embalo muito reconfortante!
O espírito irlandês começou a surgir, a meio da tarde e quando se começou a constatar que o vento baixava de intensidade. No Crisis response do Facebook, relativo à Storm Ophelia, sucediam-se os pedidos de ajuda de irlandeses que solicitavam aqueles bens de primeira necessidade, após uma catástrofe, mas no contexto irlandês. 99% pedia cerveja e 1% solicitava papel higiénico…De seguida, e numa série de organizações espontâneas, começaram a aparecer convites para festas intituladas “Eu sobrevivi à tempestade Ophelia” e os pubs a requisitar mais pessoal para poder lidar com a imensa moldura humana que se havia formado! Bonito de ver, de brindar, de celebrar!
Hoje a manhã assemelhava-se a uma tela pronta a ser pintada pelo artista. Ou, melhor ainda, a obra-prima de um artista após ter presenciado algo ímpar e ter recebido uma inspiração que, aqueles que acreditam, traduzem por divina. Descreveria o dia de hoje como um novo começo…o céu parecia pintado de um azul diferente, o verde parecia mais limpo e desejoso de ser visto, toda a cidade estava limpa e apenas os amontoados de folhas denunciavam os acontecimentos do dia anterior. As pessoas tinham um sorriso muito pronunciado nas faces e os cumprimentos eram mais longos e calorosos que anteriormente. Se não soubesse eu diria que tinham aberto as portas a uma cidade completamente nova onde as pessoas eram naturalmente felizes…
As coisas começam a assemelhar-se a vivências de territórios habitualmente afectados por intempéries: as lojas retiram os placares exteriores, as janelas são cobertas com madeira e a sensação que tens é que estás nas mãos da natureza.
Assistir a uma loura a estacionar o carro, num local onde cabem dois, foi o entretenimento a partir desta húmida esplanada. Falhei a feijoada no Rio café mas vinguei-me nuns divinais baked beans.
Agora debato o estacionamento com a loura…terá sido o meu olhar crítico a providenciar este momento? Seja…
Chove, desde que acordaste. As previsões meteorológicas dizem que a tempestade Ophelia deverá passar muito perto de Cork. Estás abastecido de mantimentos.
Se a chuva, por si só, não constitui uma novidade sabes, de antemão, que o alerta vermelho indicia algo de perigoso. O plano de contingência passa por chamar um táxi para, da maneira que te parece ser a mais segura, ires trabalhar. As escolas estarão fechadas e há um alerta para eventuais cheias do Rio Lee!
Vieste de uma terra de alertas vermelhos porque estavam 42 graus e havia uma tempestade de areia para uma terra com alertas vermelhos onde levas com cargas de água semelhantes á que levou o outro senhor a construir uma arca…opções!
As árvores demonstram a força do vento e estás seriamente a ponderar ir para um hotel, só por uma noite, para evitares o receio que é estar a viver ao lado de pinheiros com mais de 25 metros a cerca de 10 metros de casa! Não é preciso ser um génio da matemática para perceber que são potencialmente perigosos.
Terminada a aventura com a conterrânea do Sr. Putin, estás agora mais livre para fazeres aquilo que gostas. E continuas com a Escócia debaixo de olho! Nunca paraste a tua procura e sabes que, a qualquer momento, poderás ter que fazer as malas e partir. Não são malas de cartão e tu há muito que compreendeste a piada que é partir para um sítio novo, desconhecido e cheio de locais para conhecer – não de férias, mas para trabalhar e conhecer, de novo, pessoas novas, locais novos e ver a natureza, acima de tudo isso, desses novos lugares por explorar.
De dedos cruzados e com um sorriso de quem quer o melhor para si próprio, sem réstia de egoísmo, mas com a certeza do seu valor próprio, vais tomar um duche e desces até à cidade.
Há sempre um alerta meteorológico neste país! Hoje é amarelo e, desde que cheguei, acho que nunca houve um dia sem o registo de uma qualquer intempérie…se está sol (um milagre que raramente acontece) a exposição UV é sempre perigosa e, quando chove, há sempre vento a acompanhar…8 ou 80!
Ainda não consegui perceber como é que os locais conseguem andar 90% do tempo vestidos de calções e t-shirt mas confesso que não vou esforçar-me mais por compreender.
Que, de facto, são um povo caloroso isso não há dúvida! Que possuem um património digno de ser preservado e partilhado com as gerações futuras…sem dúvida.
Adoro o verde neste país. Sinto-me em África com a frescura irlandesa.
Qualquer analogia daltónica entre o coelho branco e o coelho laranja merecerá um comentário apagado. São as novas regras da democracia que o ditam!
Após uma noite passada no White Rabbit (“Follow the White Rabbit”, ring a bell?), a assistir ao Irlanda-Gales, em que as restantes pessoas que assistiam olhavam para o ecrã com cara de quem não reconhecia o desporto em causa (o futebol será, porventura, o terceiro ou quarto desporto – em termos de praticantes – neste país), eis que hoje a selecção jogou.
Um orgulho ver como a bandeira une o povo português. Senão, vejamos: o ponto de encontro é de uma trivialidade tal que somente um incauto, com muitas dificuldades de visão, audição e afins, não conseguirá encontrá-lo. E, após o apito inicial, noto que há uma camisola de um tom que não aprecio particularmente, bastante desbotada (tal como o clube em causa), e a única ideia que me ocorreu foi enviar um email ao proprietário a notificá-lo daquele potencial atentado ao pudor!
Nutro, pelo desporto-rei, um certo amor e não tolero que o mesmo seja abusado sem qualquer perspectiva de compromisso! Embora, no caso anteriormente descrito, a fé seja tanta que, muito provavelmente, não caberá à camisola o abuso, mas sim ao jogo de bastidores!
“Chega!”, gritou a voz de adepto da selecção nacional! “Chega o quê?”, respondeu a voz do adepto do Futebol Clube do Porto que, na ocasião, observava atentamente um jogo da selecção nacional de futebol. Umas pancadinhas no ouvido direito, igual número de pancadinhas no ouvido esquerdo e eis que as vozes se desvanecem…
Há um golo dos nossos e, enquanto outros se questionam quem terá sido o autor, tu já festejas o simples facto da bola ter ultrapassado a linha de golo, estar a caminho do centro do campo e estarmos em vantagem por um golo de diferença! “Está na hora!”, pensas para ti mesmo e, de facto, estava na hora de encomendar a segunda pint e ver os restantes minutos do desafio. O puto que te habituaste a ver crescer domina a bola com o pé esquerdo, passa para o direito e enfia o segundo na rede dos Suíços!!!!! Vibras, contemplas o teu amigo destas andanças (e não só destas andanças!!!!), e constatámos que realmente estamos a ficar velhos para perceber de futebol. Festejamos…ele segura – orgulhosamente – uma meia-pint e tu brindas com a pint que, entretanto, chega.
Não é a mesma sensação que tiveste quando voltaste de Sevilha, ou de Gelsenkirchen, ou de Dublin…mas é um alegre momento que, enquanto expatriado, te faz sentir em casa!
Havia a oportunidade de mudar o alojamento do site de um local para outro que me faz um preço por 3 anos correspondente ao preço de 1 ano do site anterior…não é preciso ser economista para optar imediatamente pela mudança!
Não sei ainda se consegui importar todos os subscritores anteriores, mas espero que sim. Com algum tempo e dedicação acho que vou conseguir desenvolver melhor o site e torná-lo graficamente mais atraente…muito embora só me importe com o que escrevo, reconheço que as aparências podem ajudar na apresentação da escrita!
Nunca deixará de ter o propósito inicial – ser o meu diário de ficção – para um dia mais tarde me poder rir com as palermices que vou inventando ou vivendo…confesso que até eu fico confundido com escritos de outrora e não sei se foram ficção ou realidade! Ou talvez não sejam os escritos passados, mas as vivências passadas, mas…quem está a olhar para trás?
Dias de cansaço, dias de glória, dias de esforço, dias de ócio…tudo junto numa compilação de histórias que, um dia, constituirão o livro da minha vida. Com muita coisa escondida, outra sub-repticiamente implícita, mas, acima de tudo, com a vontade de ter uma pena, tinta e papel até que o último bafo me leve! Na falta desses três eu vou teclando no teclado e guardando as conversas online!
Que nunca vos falte a paciência para ler…aqui ou em qualquer outro lado.
Vais andando em direcção ao bacalhau mas a ementa só referia arroz de pato.
Cruzas-te com uma mãe e os seus filhos e, perante a avó que assiste, uma das crianças pergunta à mãe o que é a tentação (a mãe havia dito às crianças para segurarem bem o Labrador, quando passaram perto da água, por causa da tentação). A avó sorri perante a pergunta mas a mãe – fruto da sua experiência – responde dizendo que é resistir a algo que se quer muito…sorri, a avó e a mãe também, e as crianças ficaram a pensar naquilo! Devia ter parado para ver e ouvir como acabou!!!
Sentado a comer o arroz de pato, a observar as folhas que caíram na água e são levadas pela corrente numa forma que se assemelha muito a pintainhos a serem carregados para jusante.
Já me servem o café como eu aprecio e sou saudado por um grupo que se desloca em kayaks. Ainda a reflectir no melhor local para ver o derby – está encoberto mas a temperatura ronda uns agradáveis 17 Celsius.
Entras no autocarro e dás de caras com um italiano que chegou a Cork, vindo de Atenas, no mesmo dia em que tu chegaste. Todas as suas expressões são de satisfação imensa e recordas que ele esteve de férias e, muito provavelmente, este é o primeiro dia de trabalho dele. E assim é, faz-te um resumo da árdua mas recompensadora tarefa que é visitar tudo e todos e o quanto isso nos dá em termos de satisfação.
Os italianos são bastante semelhantes a nós, em termos de valores familiares, e revejo o mesmo sentimento nele conforme o meu, aquando da chegada das últimas férias.
Dizia ele: só me faltou visitar uma pessoa que, já muito tarde soube, precisava da minha visita! Também eu, respondi…mas tento agora retomar o diálogo de outrora – algures numa esplanada em Espinho, quando falamos muito e tivemos a certeza de sermos amigos.
A vida é um ballet e nós temos que criar a nossa melhor coreografia!
Por vezes escreves como se quisesses que o mundo te ouvisse, outras vezes escreves como se de um sussurro se tratasse – e não queres que ninguém leia…
Por vezes apetece-te largar tudo e mudar o mundo, outras vezes deitas-te no sofá até que te passe…
Gritas bem alto os pensamentos que te ocorrem, somente para te sentires incomodado pelo ruído que tu próprio causaste. Tapas as orelhas e questionas-te se já terá passado…
Estás entre a acção e a inacção, perdido entre sonhos e objectivos concretizados, dividido entre o que está por fazer e o que orgulhosamente já atingiste e perguntas-te, em mais um dos teus monólogos, se realmente serás altruísta ou egoísta…
Viagem longa para quem está só a duas horas de Portugal – duas horas e vinte de avião e três horas e meia de autocarro…
É bom voltar a ver algumas caras, locais, coisas…e estar de volta ao cabeleireiro para tirar este peso extra de cima de mim. Se já tinha a mania do cabelo curto agora tenho a mania do pente 4 – uma espécie de vingança por um dia me terem obrigado a cortar por essa medida e, logo depois, chegou um telegrama a dizer que já não necessário.
Saíram pessoas da equipa portuguesa e o volume de trabalho decresceu substancialmente. Os dias de trabalho são passados na leitura de Saramago e Arturo Pérez-Reverte e na conversa com o resto da equipa.
Nunca parando de pesquisar o mundo, na procura de algo melhor e num país tão agradável quanto a Grécia, nunca esmorecendo a dedicação presente, nunca fugindo ao conhecimento de novos locais, pessoas, diferentes maneiras de ser e de agir.
Sempre de sorriso aberto, agora com mais um dente – temporário – que, no próximo ano, dará lugar à obra completa! Um grande abraço a duas dentistas que trataram exemplarmente desta empreitada.
Agora posso afirmar: já nada me espanta neste mundo!
Há muito que aprendeste a ultrapassar as agruras da vida e, apesar delas, este foi realmente o melhor período de férias que alguma vez tive na vida adulta. Chegado a 1 de Setembro, depois de apanhar o metro e o comboio, subi a rua e encontrei o jovem de 12 anos e 364 dias a correr para os meus braços. Ele já havia ido 2 vezes à estação para ver se eu chegava…sem sucesso! Cheguei no terceiro comboio e o Samsung continuava sem conseguir registar-se numa rede portuguesa…incontactável!
Foi um abraço como só os pais que amam os filhos sabem dar e receber. Foi um agradecimento de um Pai a um filho por todo o esforço que ele tem colocado naquilo que é o emprego dele – os estudos – bem como na forma como tem evoluído socialmente, desportivamente e a maneira como define os seus objectivos futuros. Obviamente o jantar foi escolha dele e as pizzas do Tomate foram a escolha…culpa da menina Paula que lhe mostrou o sabor das ditas e imediatamente o colocou a fazer a sua própria pizza – não estive contigo desta vez, mas nunca és esquecida.
Adaptar-me a Espinho é algo que faço com um gosto que me sai naturalmente! Talvez não seja o que esperam de mim, mas o que eu quero…a t-shirt, as havaianas e o calção de banho são a indumentária mais utilizada! Furando por entre os “rurales” ainda conseguimos um dia de bastantes mergulhos e, com grande alegria, constato que já não fico gelado após o primeiro mergulho – está perdida a adaptação às águas Gregas e recuperada a adaptação às águas espinhenses.
Ri-me, como sempre o fiz, com o Luís Pires e chegamos à conclusão que já só faltam aproximadamente 28 meses até os Pais voltarem a dormir como outrora o fizeram. Debatemos os velhos métodos para adormecer crianças – o aspirador, o exaustor da cozinha, etc…apenas para chegar à conclusão que o rebento dele e da Henrieta consegue triunfar e não cede a métodos velhos de adormecimento.
Coloquei a conversa em dia com a Carla Lacerda e com o Ricardo Tavares e, retomando onde havíamos ficado da última vez, progredimos no conhecimento daquilo e daqueles que nos rodeiam. Muito recompensador e libertador. Bem hajam.
Passei tempos deliciosos com os meus primos, mãe, irmão, madrinha e padrinho “adoptado” e não consigo encontrar palavras suficientes para lhes agradecer. Terá que ser por acções. O Pedro a.k.a. “Careca” foi, como sempre, o impecável animador daquelas noites espinhenses que todos julgam que não vão dar em nada e.…dão sempre! Sempre com o acompanhamento do Roger Waters e alguns discos pedidos – alguns mesmo pirosos – de outrora. Vi a factura detalhada ser introduzida no Bombar e chorei à gargalhada com o detalhe a que se pode chegar!
Gosto muito da minha cidade e de um certo número de pessoas que a habitam. Muitos ainda procuram a sua vocação, mas, acima de tudo, são pessoas que sabem dar tudo em prol dessa palavra que é a amizade. São o que nos faz voltar e ter saudades. Bem hajam.
Sair no aeroporto de Dublin e encontrar o Quim Tó à espera da Mãe dele demonstrou-me que os espinhenses estão em todo o lado, mas os bons…merecem sempre um abraço!
Nunca digo adeus e, quem me conhece, sabe que me despeço com um “Até já”. É mais demonstrativo do desejo de voltar e de estar com aqueles que nos dizem tudo e eu não consegui estar com todos. Com os meus erros e uma ou outra virtude sempre estarei cá para vós. Se me esqueci de mencionar alguém foi por puro descuido meu, perdoem-me!
Disse-me um amigo, muito recentemente, que eu sou uma pessoa que sabe – com a minha maneira própria – trabalhar para a minha própria paz. Tratando-se de alguém que me tem acompanhado de perto – fruto da amizade que nos une e que já nos fez percorrer caminhos agrestes, soalheiros e, acima de tudo, rendeu uma tremenda dose de experiência – tomei a frase como um elogio.
Ele ainda tentou desconcertar-me e, tipo ratoeira e num interrogatório (existem interrogatórios entre amigos ou, quando confiamos e contamos tudo são apenas conversas?) muito bem planeado, abordar temas de outrora e, pacificamente (!) arrancou-me uns sorrisos e, bem-dispostos, brindamos com um fino.
Conseguiu, esse amigo, afirmar que eu sempre soube imiscuir-me nos mais diversos meios e, ao mesmo tempo, manter salvaguardados os valores que mais me são queridos. Achei bastante bonita a forma como ele colocou a questão e acabamos a conversa comparando tais tempos a alguém que tem que usar o salto alto da Joana Vasconcelos e, ainda por cima, com uma pedra que, entretanto, se alojou entre o pé e o azeiteiro salto alto. A dor provocada pela pedra aliada ao fraco gosto de ter que usar aquele salto alto específico.
Agora que estou a poucos dias da partida, e salvo algum imprevisto de maior, vou levar no coração estas férias como das melhores que tive até hoje. Uma proximidade com as amizades que me dizem tudo, a habitual visita a todos os restantes familiares, o FCP a ser goleado no Dragão e ainda os inesquecíveis mergulhos com o meu rebento na Baía dos Porcos!
Vou partir de coração cheio e desejoso de repetir muitas mais vezes este mesmo cenário. Não sei se fui eu que mudei (também), não sei se tudo mudou ou se, muito provavelmente, tudo se manteve, mas uma certeza eu tenho: é bom ter poucos amigos com uma riqueza tão grande como os que tenho!
Não haverá Natal em “casa”, mas muito provavelmente teremos uma Páscoa muito especial – sobretudo para o mais novo membro da família. Por enquanto são desejos, mas assim que se tornem realidade, ouvir-me-ão sorrir porque quererei acordar todos e exclamar a plenos pulmões: voltei!!!!!!
Fazes a direita apertada, entras no tabuleiro da obra construída pelo saudoso Eng. Egar Cardoso, vertes uma lágrima quando vês o estádio ao longe. Tentas recompor-te mas a “fome de bola” é superior e, quando chegas ao final da ponte, já há lágrimas derramadas por toda a face…
Não é fanatismo, é um amor por algo não palpável. Vais buscar o jovem de 13 anos e 11 dias e, juntos, caminham até ao centro de estágio.
Encontras a tua prima que, por sua vez, não encontra a chave de casa. Surge o teu primo. Pelo canto do olho continuas a deliciar-te com o resumo do CSKA.
Encomendas uma francesinha e um prego no prato e sorris quando os pratos chegam.
Muitas vezes nos questionamos quem são os nossos amigos. Interrogamo-nos, num diálogo mudo, sobre o porquê da amizade que existe entre nós e outrem e, na maioria das vezes, damos por nós a sorrir de momentos muito bem passados e relembramos então o porquê de os apelidarmos de amigos.
Hoje tive a alegria de estar com um amigo de há muitos anos. A vida separou-nos algures por volta dos nossos 22 anos – quando eu tomei uma direcção e esse amigo optou por seguir outra via! Ele estava correcto e eu errado, mas nunca deixei de o apelidar de amigo, apesar da frieza com que fui então tratado.
Ele sempre se pautou por ser uma pessoa de uma serenidade acima da média e, recordo agora, tivemos muitas conversas sobre a decisão de outrora. Talvez fosse a minha maneira de enfrentar os tempos de então, mas, na altura, a decisão errada parecia-me a mais correcta. Ainda hoje ele me recordou – sem precisar de palavras – o quão errado eu estava e, quando o fez, eu sorri como que admitindo toda a minha culpa e desculpando-me por ter escolhido a via incorrecta.
Voltamos, por breves horas, a ter 15 anos. Estávamos os mesmos 3 de outrora e sorríamos como se os anos não tivessem passado…como os putos de outrora. Há muitas recompensas na vida – algumas pelas quais trabalhamos e outras que simplesmente nos são dadas – e esta, sem qualquer margem para dúvida, foi um retroceder até aos tempos da nossa virgindade e sabermos que, apesar de termos tomado direcções opostas num anterior momento da vida, agora nos encontramos no mesmo caminho.
É bom sorrir com um amigo. Muito bom! Agora imaginem com 2….
O blog recebe aquela visita de França que teima em não voltar a Cork – será que algo ainda há para dizer? Para fazer? Para concretizar? Os dias de confraternização familiar continuam e os repastos alongam-se em tempo e amena cavaqueira.
Reservas um dia específico para os copos, outro para o almoço com os primos, ainda um para a praia – que grande tareia a que levaste do Atlântico…fazes o teu caminho habitual, respiras fundo, vês pessoas que não sabias ter saudades de ver – dos teus tempos de pretenso jogador de voleibol, sorris com as histórias, dissecas as vivências e rimos em conjunto do quanto caminhamos até termos chegado aqui.
Espinho é uma cidade em que podes fazer tudo a pé e só um parolo é que usa carro (salvo pessoas com necessidades especiais). É uma cidade em que a praia dista, no máximo, uns 10 minutos a pé – para o residente mais afastado. Analisas cada novidade, fazes o teu juízo de valor que interiorizas sem revelar e continuas, de cabeça sempre voltada à procura de novos detalhes – desde a última visita.
Andas trôpego com as palavras reveladas pelos professores do teu filho – em que todos o querem ter na equipa mesmo se houver necessidade de lutar por ele – todos gostam da sua atitude, da sua sabedoria e da sua inteligência. Ressalta nas palavras deles o seu sarcasmo – do qual sou Pai – e a sua inteligência na maneira como aborda as problemáticas de vários ângulos e com várias possibilidades.
Estás contente por estares na tua terra, puto. É só isso que interessa! Diverte-te.
Com toda a calma do mundo vais repondo o teu sono. Dás um beijo de agradecimento às persianas antes de adormeceres e agradeces o sono concedido ao acordar.
Tomas o teu café a 50 metros de casa e até arriscas dizer umas verdades à tua paixão do ciclo. Devia haver um tratamento para traquinas como eu…para podermos rejeitar o tratamento e, com um sorriso de verdade, sabermos abraçar aquelas pessoas que nos chamam amigo.
Estás com o teu filho, tens passeado e nadado bastante. As conversas têm sido longas e muito recompensadoras – estás a ouvir as idéias dele para o futuro – o que significa que ele está atento ao mundo e às suas necessidades.
Hoje chega a maninha e estás desejoso de lhe contar aquela traquinice que fizeste – como enganaste alguém com a verdade e escapaste…ela vai sorrir, dizer “Oh IKA…” e vamos ambos sorrir dessa paixão que nunca se concretizou ou deixou de o ser.
É assim que tu és…traquinas mas ficas sem jeito perante uma só pessoa. Desde tenra idade…
Não é que estejas constantemente a verificar quanto tempo falta mas, na verdade, estás.
Não é que estejas constantemente a pensar naquele abraço á chegada mas, sendo realista, estás.
Não é que sonhes com a gastronomia do teu país mas, com franqueza, sonhas.
Divagas sobre aquele homicídio que a lei permite – o matar saudades – e sabes que, nesse capítulo, és como um soldado no campo de batalha! Saltitando de abraço em abraço até ao abraço final.
Recapitular abraços é tão reconfortante e enriquecedor quanto ver o Casablanca pela enésima vez – sabes como termina, já tinhas outros planos mas abdicas de tudo, com o teu sorriso traquinas, e vês a obra-prima mais uma vez.
Contas horas, minutos, segundos! Tens um tic-tac mental que, não sendo explosivo, é emocionante. Queres bater as asas e voar mas ainda tens 3 horas de autocarro até Dublin.
Anseias por sol e dizem-te que chove, anseias por praia e ouves dizer que o verão acabou…anseias por uma Super-Bock fresquinha e sabes que essa nunca te falhará.
Sonhas com tremoços, amendoins e o pôr-do-sol na tua praia. Imaginas uns banhos de mangueira para remover o sal.
Vagas que te permitam mergulhar, a água estupidamente gelada, o ouvido sempre a ameaçar uma otite. Os membros paralisados com a temperatura e outros mirrados sob a sua influência.
Aquela sexta-feira muito dificilmente sairá da tua lembrança – a piada da espontaneidade, o vinho, a cerveja mas – acima de tudo – a empatia.
Conseguires debater tudo o que querias, com quem querias e, sem que estivesses preparado, da maneira que querias.
Há experiências realmente valiosas nesta vida e essa noite será sempre um post-it de sobre como podemos ter tanto com tão pouco.
Há beijos que nos tiram a seriedade e outros que nos despertam sorrisos tão longos que deviam ser emoldurados. Numa moldura que nos relembrasse sempre quão bom foi pintar a tela.
Quando comemoras 5 meses e 2 dias num país que não é o teu tens tendência para já ter armazenado as diferenças mais significativas entre os dois povos – o teu e o do país em que te encontras. Sem laivos de superioridade, ou inferioridade, sem pretensões sequer de fazer a comparação. Simples constatações!
É óbvio que, sempre que tomas o teu café da manhã, há sempre alguém por perto a beber uma pint. Óbvio porque os turnos de trabalho também implicam trabalho nocturno e, obviamente, esses profissionais fazem-no no final do expediente. Sim…é óbvio que nem todos se encaixam no perfil, mas não vamos ser picuinhas!
Viver na Irlanda deve assemelhar-se muito a viver nos Açores. Há muita chuva, a humidade é sempre elevada, mas as paisagens compensam todo o incómodo do “inverno constante”. Há algo de muito castiço neste povo que é o fazerem exactamente o mesmo que os países quentes fazem no Verão…vestirem roupas de Verão. Olho para as montras e largo mais um espirro, sorrindo quando vejo a decoração de uma qualquer praia com imenso sol. Eis que passa mais um local, vestido com os seus calções e a sua t-shirt e eu, refugiado no meu casaco apertado, pergunto se haverá um calor que eu desconheça – no exterior do meu casaco. Não há!
A verdade é que basta afastarmo-nos alguns quilómetros de uma grande cidade e imediatamente percebemos o porquê da Irlanda. Campos de um verde puro, que só a natureza pode dar, como se fossem roupas deixadas na chuva para realçar as cores. As vacas têm um ar mais robusto e, após horas a pastarem, simplesmente deitam-se no campo e dormem. Os milhões de estrelas que conseguimos observar, assim que a noite toma conta do céu, são dignas de registo. Um registo que faço mentalmente, num constante alimentar da vontade de conhecer a natureza, cada vez mais e cada vez melhor.
A cerveja é boa, as paisagens são divinais, as praias são do mais bonito que tenho conhecido, o povo é amistoso e muito acolhedor. Porque esperam? Venham daí enquanto é Verão! 😉
Após a limpeza da casa dirijo-me para o meu canto pacífico onde, ironicamente, há um casamento. Lentamente comendo o meu bife com cebola grelhada, a calma é interrompida pelos convidados que resolvem vir fumar para a esplanada.
Os empregados olham os noivos que chegam num clássico. Carro bonito e noivos de cara feliz, abraçando aqueles que os saúdam logo á entrada.
O gerente dá um ar da sua graça quando exclama, dirigindo-se às funcionárias, um sarcástico “até parece que nunca viram um casamento” mas o olhar das funcionárias está naquele momento, no que sentem as pessoas, na felicidade que paira no ar.
Uma lufada de ar fresco numa rotina de trabalho? Talvez. Um momento a observar? Sempre. A constatação da felicidade alheia é sempre um bom contributo para a nossa própria felicidade – um alhear daqueles sentimentos que são considerados pecados e uma empatia com os valores mais nobres da vida em sociedade.
Mais uma pint, um sorriso quando a convidada dá um nó de laço no vestido de maneira completamente oposta á que utilizarias. Uma constatação de que tudo na vida pode ser feito ao contrário da maneira como fazes e o resultado ser perfeito.
Os teus três dentes novos estão quase prontos, o autocarro chega pontualmente, ainda não tomaste o pequeno-almoço, tens aquele sorriso na cara…
O que se passa contigo miúdo? Questionas-te. Acho que nada de anormal…respondes a ti mesmo. Então porquê o sorriso traquinas? Deve ser o subconsciente a preparar alguma… é a única explicação que tens!
Depois de um dia de grande esforço, assustas a espanhola – quando te sentas ao lado dela no autocarro. Sorriem com a impertinência do vosso humilde narrador e, após uma breve troca de palavras, troco de lugar. Para vos escrever, é a minha justificação quando, na verdade, é para evitar que os restantes dentes sejam acusados de assédio! A ponderar seriamente se não seria melhor usar uma placa dentária que me protegesse destas situações….
Quando chegas ao centro da cidade parece que chegaste a uma cidade abandonada – o trânsito é escasso, há uma pessoa que caminha á tua frente e que, de 20 em 20 metros olha para trás com receio de ser violada (?!). O teu raciocínio pré-café apenas te diz que – caso dependesse de vocês os dois – a raça humana extinguir-se-ia! Sorris, porque sabes o disparate que acabas de pensar, e o teu pensamento volta a estar focado no café…
O Néctar está fechado, o café italiano também. Continuas pela Oliver Plunkett e, finalmente, encontras o O’Brien’s aberto! Um suspiro de alívio, uma saudação do interior… ainda te conhecem! Apostas num cappuccino e num cheesecake com muito bom aspecto e esperas na esplanada.
Tens uma vista lateral da Oliver Plunkett, de frente para a farmácia e os primeiros madrugadores começam a circular. O facto de veres outros seres vivos e o café dão-te uma primeira lufada de vigor. Sorris ao ouvir a música que toca e és atirado para o passado – mesma música mas nos antípodas da Irlanda – e constatas que a tua sorte sempre foi o facto de nunca teres parado de sorrir – na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na paz e na guerra.
Sonhas com os teus dentes novos…e sabes que vais poder voltar ao teu sorriso bem aberto.
Trabalhas nos feriados locais e tens 29 dias úteis de férias. De que te queixas?
Quando tens aquela possibilidade de, durante o teu horário de trabalho, simplesmente parar. Aproveitar o sol, deitado na almofada gigante, vendo os corvos a passar – certamente a caminho de mais uma travessura – a responsável pela horta a mostrar-te as últimas colheitas, os carros que passam ao longe… muito saboroso!
Hoje é dia de despedida de alguém que tem um significado especial para ti. Durante dois meses vão estar afastados e, muito provavelmente, o reencontro será em Outubro. Aguardas serenamente e gozas este teu novo estado de espírito…a serenidade é o melhor dos confortos.
Toca o despertador e, perante o chilrear dos pássaros, percorres o caminho de volta ao teu posto de trabalho. Dias cansativos mas largamente recompensadores.
Após a formatação do smartphone, houve que aguardar que a instalação de todas as aplicações fosse novamente feita. O tempo não estica e, se escolhes passar o fim de semana fora de casa, sabes que esta é uma das consequências… espero que tenham tido muitas saudades e que voltem – prontos para devorar mais um relato da vida nesta ilha!
Foi um fim de semana dedicado a um misto de cozinha e lazer, em casa alheia, num trânsito constante entre o quarto e a cozinha. Com uma vista panorâmica da cidade de Cork e colinas que a rodeiam, dedicamo-nos á leitura, gastronomia, conversa e exercício.
No domingo tive a felicidade de conseguir a última dose de bacalhau com natas, no Rio Café, e voltei a Portugal durante o tempo que a refeição demorou a desaparecer. Diria mesmo que se evaporou!
De regresso ao trabalho e com os sentidos colocados na reunião de avaliação desta sexta-feira. Ou continuo ou aceito a vaga em Budapeste! A ver vamos!
Sempre a curtir o melhor que esta ilha tem…e é mesmo muita coisa!!!!
É nos pequenos detalhes que nascem as grandes obras… digo eu…😂 Ironicamente foi o alho que nos aproximou! Nenhum dos dois concebia uma refeição sem primeiro estar certo da existência de alho suficiente para levar a cabo a obra!
Viram juntos o pôr do sol, puseram a conversa em dia e a outra personagem, agora mais morena que loura, tinha muito para contar. Tentavam avançar capítulos, por entre beijos de saudade, e muitas vezes não conseguiam ir muito além da primeira letra do capítulo seguinte.
O encaixe era perfeito, ao nível da melhor engenharia, e pouco ficou por ser feito. Apesar do hálito ser maioritariamente de alho, nada os impediu de até se rirem – aquando de um comentário de um transeunte que referiu sentir um odor a alho no ar de Cork…
Uma maneira muito imperfeita de não sair de casa! Na proporção directa do prazer obtido.
Tenho a sorte de trabalhar com dois profetas: um é o profeta do “que se foda!” e o outro o profeta do “vamos apanhar ar!”.
Completamente distintos! Um nunca se penteou, gosta de umas boas cervejas, adora a família que tem e é dono de uma atitude que faz sorrir o morto. Dá sempre vontade de sorrir e copiar algumas partes. O outro é alguém que se cuida bastante, gosta do ar livre, arrasta-nos nessa paixão e permite-nos momentos de lazer enquanto trabalhamos.
Em grande parte eu devo a estes dois profetas muitos dos sorrisos dos últimos meses. Bem haja!
Acordado pelo ajuntamento de pássaros no jardim – seria uma manifestação? – eis-me a caminho no 215A (autocarro que utiliza os atalhos todos e chega mais cedo). Com aquela necessidade permanente de café, rodeado de duas belas cidadãs russas que trabalham comigo, pronto para um novo dia!
Sempre lento a despertar, sempre rápido após o ter feito, sempre desejoso de ter tudo arrumado, sempre incumpridor!
Sou um dos poucos que circula com um casaco, voltei a vestir verde e estou muito bem disposto. Não sei se já me posso chamar de Irlandês adoptado – falta o inverno para eu saber se resisto – mas tem sido – a nível pessoal – uma experiência muito enriquecedora.
Na Grécia tive 18 meses de cultura e passeio e aqui estou com 4 meses de passeio e sempre misturado com diferentes culturas. Ambas as experiências são enriquecedoras. O que falta? O tempo o ditará!
Tens sede e apetece-te uma cerveja. Visitas o frigorífico e recuas, perante o tamanho das garrafas que te olham. São louras, estão a gotejar de frescura e tu recuas? Não te reconheço! São XL, com 50 cl de conteúdo…
Estará doente? Pergunta a voz diabólica. Não, é um rapaz consciente! Afirma a voz angelical.
Continuas de frigorífico aberto e já quase temes pela integridade delas. Apetece-te retirar os oito pecados do frio, colocá-las em fila e tirares uma selfie, enquanto as abraças!!!!
Também te passa pela cabeça a fotografia de grupo e tu a fazeres um coração, com os indicadores e os polegares… por favor, tudo menos isso!!!! O Kindle emite um som e tens outra paixão que chama por ti. Foste corajoso em ir espreitá-las, foi como um Pai que verifica como estão as crianças, antes de se deitar. ❤️
Vais sonhar com caricas a voar dos gargalos, gargalhadas desmedidas e tremoços… muitos tremoços! 😋
Depois de uma noite iniciada a três, depois de todo o suor, um suspiro surgiu da cozinha e, para que não houvesse qualquer dúvida, agarrei na que sobrava e fui deitar-me com ela.
Acordei com as mazelas típicas de quem dorme com três louras tão Portuguesas e tão intensas. Sonhei acordado com os melhores momentos da noite anterior e prometi a mim mesmo repetir.
Ontem havia-lhes saltado a tampa e foram totalmente sorvidas por mim. Hoje mostravam-se vazias de desejo. Completamente extenuadas de toda a acção, clamavam por ser devolvidas a Portugal para uma terapia que lhes repusesse o desejo.
Entrei e perguntei por ela. O Paul, com um ar surpreendido, olhou à volta e não a viu. Pediu-me uma descrição dela e eu, que a conheço há já uns anos, descrevi os detalhes que mais recordava nela – o corte elegante, a frescura do seu olhar, a forma como os nossos olhares se encaixavam e, muito dificilmente, se conseguiam afastar…
O Paul engoliu em seco e foi procurá-la. Eu continuava a descrição contando-lhe, num tom quase de sussurro, o quanto ela me fazia falta; os momentos para recordar e os momentos para esquecer – porque ela tem esse dom…A maneira como ela por vezes espumava – numa espécie de raiva passiva de quem sabe que vai ser devorada, mas complacente com o destino que eu lhe dava.
Quando eu a encontrava na praia era como se os meus pelos todos se eriçassem pela visão daquela loura que, muito para além de me deixar com a língua de fora, sabia como agir para que a língua fosse para dentro! Ela, só ela sabia…como mais ninguém.
Quando o Paul a encontrou eu corri para ela e abracei-a como nunca o havia feito. O suor dela escorria-me pelas mãos e apeteceu-me tê-la mesmo ali…em público! O que, para quem já foi apanhado a montar uma mula em público não é nada de mais! Havia crescido mas eu nunca fui de me intimidar pelo tamanho ou pela idade…tinha um ar mais experiente e de quem me faria gozar ainda mais.
Ainda eu a namorava quando surgiram as gémeas, trazidas pelas mãos do Paul e eu, que não sou de separar famílias, abracei-as a todas e trouxe-as comigo. Estamos agora reunidos e o sabor dela continua igual. As gémeas olham para nós com ciúme mas o momento será delas, assim que eu termine com esta!!!!
Entras pela porta em passo acelerado, rumo ao balcão, mas o amador aqui és tu e já tens dois pares de olhos a seguir os teus movimentos. Chegas ao balcão e, de cabeça baixa, tentas pedir um fino como se fosses um anónimo. Ouves um valente “Olha quem ele é” e é-te proposto um shot que, educadamente, declinas (tens na memória o rumo que normalmente é conduzido pelos shots e queres poder guiar a tua noite).
Recebes o teu fino que sofregamente bebes. Recordas Leça do Balio e todas as suas virtudes, sorris e só te ocorre uma virtude – a fábrica da Unicer e o seu belo néctar. A cerveja está fresca, já não és um anónimo e estás em casa. Faltam alguns adeptos indefectíveis mas contamos com as presenças e veneramos a ausência dos que, por óbvios motivos de força maior, não podem estar presentes.
Falamos das novidades, conto quase tudo que tenho de Cork e vem mais uma rodada. A aposta era de um ano inteiro de cerveja (e eu ganhei) mas não se cobra apostas a amizades. Chega o cachorro quente e posso finalmente exclamar: cheguei! O estómago pede mais um fino, a conversa a isso obriga. Ouvimos as nossas músicas, recebemos a tradução do texto em russo e, boquiabertos, interrogamos o autor. Gargalhadas, muitas.
Aparecem cinco minis no balcão e somos conduzidos, qual asno atraído pela cenoura, a ver o mar. Olhamos para trás e o bar fechou…fomos enganados!!!! Mas amanhã é outro dia e o stock de cerveja já foi conferido antes de sairmos (jogamos pelo seguro, qual turista incauto com medo de não encontrar o oásis no deserto).
Somos amigos e estamos no processo de matar saudades.