Uma água fresca.

Porque um dia atípico merece uma continuidade atípica…

Depois de um despertar madrugador, numa tentativa de ver a lua cheia sobre o mar, ciente do número de vezes em que a neblina estraga o espectáculo, resolveu o humilde narrador fazer cinco quilómetros matinais num cenário que nunca havia visto: cinco da manhã, fotografia demasiado nublada para ser considerada, necessidade de optar por um plano B.

Cruzei-me com uma pessoa, possivelmente tão espantada quanto eu, trocamos o vulgar bom dia entre desconhecidos, continuamos em direção aos diferentes destinos. O sol nasceu e a curiosidade tomou conta do processo – tentar imitar os despertares gregos e dar um mergulho no atlântico como se fosse o mediterrâneo.

A água estava fabulosa mas o exterior estava com uma temperatura inferior! O corpo mal enxuto dentro de um fato de treino, o passo acelerado até casa, com o arrependimento e orgulho a servirem de combustível natural. O dar uma valente gargalhada, quando interrogado na chegada a casa, o sentimento de culpa por ainda fazer coisas que já devia ter deixado no passado.

O duche quente a repor a temperatura do corpo, o vestir o pijama de verão, o regresso a uma cama para sonhar com esta nova aventura tornada realidade. O despertar para um novo rol de notícias, dedos com a tinta do jornal, o recordar todos os que te levaram jornais Portugueses quando estavas rodeado de notícias gregas. O saudosismo de quem aprendeu a madrugar para andar na mais bela capital europeia para esse efeito.

Trilhos da madrugada – 20/8/2024

Antes da loucura…😂

E como foi o teu dia?

Uma lufada de ar fresco! Senão, vejamos: após um recolhimento deveras antecipado, em relação ao habitualmente praticado, e após um acordar tão sereno que ainda consegui encontrar o culpado pelo miar de presença, arrastei-me até uma varanda, gelada pela temperatura mas, obviamente, a descongelar pela minha ardente presença, para degustar um arábico, duplo, e aguardei, com uma paciência – que deixou de ter limites para ter admissões muito reservadas – por um dos espectáculos diários que a natureza nos proporciona.

A cadeira colocada virada para a montanha que, apesar do aumento da temperatura, ainda ostenta uns, muito breves, fios de neve, e o café a estabelecer a temperatura das mãos. Ao longe o barulho de estores, que vão sendo levantados para mais uma jornada de trabalho, por cima de mim, pendurado numa antena, um pássaro preto e branco que parece perguntar-me o que faço ali. Tento estabelecer contacto ocular mas a ave não parece querer deixar transparecer em que direcção está a olhar. Envio uma mensagem telepática que, espero, seja entregue. O pássaro olha-me e, com um desdém de quem não lhe interessa sequer defecar em mim, parte rumo ao nascer do sol.

A luz parece ligada a um reóstato que intensifica o céu – ou será a lua que tirou a intensidade? – e o vosso humilde narrador mais não conseguiu do que esboçar um sorriso aberto e lindo perante a natureza que o obrigou a render-se! O café foi sorvido, o cigarro foi fumado e o prazer do início do dia ainda perdura.

A natureza é um afrodisíaco de boa disposição!