Recordações

É alguém que me acompanhou, num percurso profissional de 11 anos…quase 12, e que sempre me ajudou a concretizar as tarefas que o emprego impunha, com o menor esforço ou stress. Se a era das máscaras veio para ficar eu devo confessar que vou passar por pessoa mal educada pois não consigo reconhecer as pessoas mas, após a máscara removida, eis a antiga colega de trabalho que já não via desde 2013! Falamos de tudo, sem aprofundar nada. Matamos saudades de um tempo em que, apesar das poucas armas que tínhamos, fazíamos verdadeiros milagres em termos de vendas e a sua entrega ao domicílio. Foi uma salutar recordação de pessoas que tanto nos dizem e com quem já não teremos oportunidade de confraternizar novamente. Foi bom, muito bom!

A salutar constatação que uma noite que querias calma, a um canto, a ver passar tudo e todos se pode transformar numa amena cavaqueira entre pessoas que não encontrarias, mesmo se procurasses. Cumprimentos enviados a quem os merece e as despedidas trouxeram a última cerveja, acompanhada de um amoroso “É mesmo esta que vai fazer a diferença?” – ao que me apeteceu responder que sim, foi! O caminho, feito junto ao mar, foi a mais tranquila das viagens para casa deste verão – as ondas a mostrarem tantas oscilações, as rochas que ficam despidas quando a maré desce, a gota de maresia que bate na cara. E tudo isto enquanto aquele muro me ia acompanhando, do lado direito, e eu ia recordando o quantos muros serão necessários até nos sentarmos e

falar, num diálogo que parecia prometido mas que peca por tardio.

O domingo trouxe o ócio – uma vontade enorme de não despir o pijama, não tomar banho….ser um inerte humano, só hoje! Fechadinho no meu cubículo e em contacto com o mundo….é o máximo a que posso aspirar hoje! E muito feliz com isso!

Armado em mestre de culinária…

Num dia de algum calor, e demasiados forasteiros na cidade, decidimos confinar na casa da Vóvó. O repasto de bacalhau comido sobre a copa das nespereiras herdadas da rua 14, a água como companheira de hidratação e o café como remate perfeito para uma refeição ligeira. O Matos mais novo a mostrar as suas notas finais e os restantes a reclamarem de algumas décimas que ele falhou em algumas disciplinas, como paródia às excelentes notas que ele obteve (claramente sai à Mãe!!!). 

Vimos o Grande Prémio da Áustria juntos e ambos dirigimos impropérios, que não posso aqui reproduzir, aquando da manobra simplesmente idiota do Vettel. Acabaram 50% dos que iniciaram – o que indica bem da dureza da prova e do azar de alguns pilotos – cujos motores, suspensão ou simplesmente sorte não esteve com eles. Revimos as jogadas do campeonato inglês e ainda conseguimos ver um pouco do  Liverpool a jogar contra o Aston Villa.

Sentei-me no meu degrau e deixei a mente vaguear, num automatismo que acontece assim que o alapar da bunda se dá. Falta-me um limoeiro – num campo de visão tradicionalista – que me dizem foi acometido de um qualquer surto que passou por cá e afectou os citrinos. O outro limoeiro continua lá – velhinho mas ainda com pujança para ceder um ou outro bom limão à família. Por entre banhos de mangueira fomos aproveitando para colocar a conversa em dia e auscultar a opinião do mais novo em relação ao seu futuro.

Não há dias perfeitos mas nós conseguimos aperfeiçoar este domingo. De diálogos serenos e construtivos até aos gritos de “Idiota”, “Domingueiro” e afins, dirigidos ao Vettel. Sornei no sofá azul mas ainda não consegui dormir. Ainda recupero dos melhores bifes de cebolada de que me recordo uma vez que o picante, a mim, afecta-me profundamente. Prefiro condimentos mais directos e gostosos, que não hesitam na rampa a caminho do tacho. Condimentos emocionais que, para serem verdadeiros, simplesmente entregam-se, com todo o seu sabor, no estrugido da vida!

Pelo canto do olho vou espreitando – 5/7/2020

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Talvez fosse…

Talvez fosse da humidade da manhã ou hábitos antigos, que a memória traiçoeira teima em recordar. Talvez fosse o efeito de uma noite demasiado dormida ou apenas o alegre despertar pelo seu amor. Talvez tivesse sido o desafio para um mergulho ou a ansiedade com que ele esperava esse mesmo convite. Fosse o que fosse a verdade é que a noite havia sido dos melhores sonos das últimas décadas: absolutamente alheado de tudo, de cérebro praticamente vegetando e, a parte que não vegetava, produzia um ruído branco que me mantinha ainda mais reconfortado no sono. Foi belo…

A tarde, feita a dois tempos, passada na sede da confraria, foi um misto de recordações e planos de futuro. Ninguém abordou o presente e eu, que sou mais de aprender do que de tentar ensinar, escutava os diálogos cruzados que iam sendo criados. Desta vez não havia o lobby anti lacticínios – chegou um pouco mais tarde – pelo que conversa se centrava mais em desprezar a carga horária quase nula que um dos presentes tem. A nossa gargalhada – que só existe com o acordo dele e a nossa convicção – é um grito grupal, talvez até tribal, mas que expressa o sentimento de grupo quando o assunto divaga para a relativa carga horária do sujeito. Uma espécie de diálogos vazios em que as palavras são mais importantes do que o contexto. Uma espécie de querer estar ao invés de estar contra o estar presente.

O mergulho foi dado antes das 13 e mesmo a tempo de chegar a horas ao almoço. A segunda parte da tarde envolveu o lanche e umas Carlsberg que são sempre a loura ideal para nos satisfazer, mesmo que sejam madeixas!!!! Ahahahahahahah, rio-me porque outrora fui “condenado” por uma ex-namorada a só ter relacionamentos com cabelos com madeixas mas, quis o destino, que tal nunca tenha acontecido…bem pelo contrário!!!! #ruivasaopoder 

O sono já faz dos meus olhos algo pesado e começo a ceder ao cansaço do dia. O adolescente tem muito mais pujança do que eu pelo que, lá para Dezembro, devo estar em forma! Depois informo de que ano!!!! Ahahahahahah

Um dia dedico-me à comédia – 29/6/2020

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Um dos maiores exercícios de introspecção da história da humanidade!

Não vos dá a impressão que o nosso planeta, de alguma maneira, está a respirar fundo? O mar tem um verde maravilhoso, o azul do céu parece mais moderado, os pássaros já só lhes falta entrarem pela janela e virem conversar connosco. Ontem o céu deu uns brutais “arrotos”, sob a forma de uns trovões diferentes do habitual, mas sempre a intimidar; hoje revela nuvens de um branco bem limpo, de um cinzento bem claro, de um cinzento escuro bem definido, lá para os lados de Anta. Ora está calor ora está frio, a lembrar a Grécia, durante o Verão, quando as tempestades aparecem para refrescar o mês diabólico de mínimas de 32 graus….nós temos a versão “light”!

Sinto que estamos na maior aula de sociologia de que há memória e ninguém pode chumbar, sob pena de morte. O estímulo não parece ser suficiente para todos, eu inclusive, porque a veia Espinhense atrai-nos muito para a beira-mar, para a nossa praia. Temos que estar mais atentos à professora, de modo a “beber” as palavras de quem tem mais experiência no estudo do quotidiano, da sociedade e das suas interações de modo a adquirirmos as rotinas necessárias para viver (ou sobreviver, porque não conhecemos o mundo de amanhã!)

Há mais gente sã a falar sozinha nas ruas, há cumprimentos a desconhecidos e de desconhecidos, há a pseudo vénia, quando alguém se afasta de nós e nós vamos fazendo o mesmo…Todo um novo protocolo de gestão de emoções em que, todos juntos sem o estar, nos vamos habituando a esta nova vida – como se estivéssemos a cultivar a terra, pela primeira vez na história da humanidade, fazendo experiências até uma colheita com sucesso!

Com jeitinho, e juntando algum lirismo à “coisa”, até pode ser que este venha a ser o passo mais significativo da história da humanidade! Que tudo o que nos falta agora possa ser celebrado, um dia, com quem mais o desejamos! Com um dedilhar muito lento, com um sorriso grandioso, num diálogo sem palavras e tão só e apenas com emoções!

 

Até lá….sonhamos! – Devaneios sonhados do dia 11 de Maio de 2020

eheheh

Digestão

Agora que os scones sem tempo estão mal digeridos, eis o humilde autor diante da sertã, com as raspas de bacon prontas a fritar na gordura delas próprias, enquanto bate bem os ovos. As torradas estão a aquecer, o bacon fica pronto, o ovo entra e, bem mexido, misturam-se as raspas de bacon. As torradas ficam prontas, uma leve passagem de manteiga, colocadas no prato e prontas a levar com a mixórdia de ovos mexidos com bacon. Os espargos estão a dourar um pouco e, dentro de segundos, o brunch estará pronto. Há sumo de limão ou de laranja para acompanhar – os citrinos ao serviço da digestão de repastos mais difíceis. Um regresso à ilha porque a meteorologia está muito igual…para melhor, mesmo assim!

Ao som do Underdog, dos Kasabian, e após ouvir o Claudio Ranieri dizer que, no balneário e antes dos jogos, dizia sempre aos jogadores “Somos o Underdog, não temos nada a perder” e…ganharam o campeonato – vou transformando o brunch em bolo alimentar enquanto sorrio com o diálogo dos meus vizinhos velhotes que, dia após dia, se degladiam em palavras más que mais não conseguem demonstrar o amor de ambos…curiosa maneira de demonstrar amor!

Hoje passei pelos açambarcadores – essa raça organizada, sem clube pelo qual lute excepto pelo alargamento do próprio umbigo – e lá tive que comentar com o já habitual “um lanchezinho para a ceia?” face a 6 carrinhos cheios a deitar por fora que mais pareciam dirigidos ao Ministério da Defesa Nacional do que propriamente a uma família…e estão cá todos os dias! Desejo que se confundam completamente nas contas e tenham que congelar papel higiénico ou fantasiarem-se de múmias até ao século XXII e que, a partir daí, possam usar as máscaras e E.P.P. para se fantasiarem de enfermeiros ou médicos até ao século seguinte! (desculpem o desabafo, estava atravessada)!

Os cafés na janela são o equivalente ao curto em chávena fria do Bombar (um dia o Raúl acertará!), os cigarros fumados na janela são o mais semelhante a estar sentado na areia, bem longe de tudo e de todos, a tranquilamente curtir o cigarro enquanto o sol se põe. Por vezes recordo-me que existe uma TV mas, com antecedentes tão longos longe do aparelho, resolvo continuar a cultivar a vida de costas voltadas para a TV sem que tal signifique que vivo de costas voltadas à informação, bem pelo contrário.

Quero ver as varinas gritar “É do nosso mar!”, enquanto olho para o mar e lhe agradeço o que nos vai dando. Quero ver o sol a pôr-se enquanto bebo uma verdinha. Quero caminhar na esplanada, enquanto me desvio da multidão de gringos, como se de um videogame se tratasse. Quero sentir cada grão de areia, entre os pés, as pernas, as mãos…onde ela quiser…a chatear-me o sistema mas com um aroma a maresia que desculpa qualquer moléstia. Quero….que esta merda passe!

Desabafo que era para ser matinal mas eu, que sou um gajo com tempo disponível e sem amarras, fui alargando até agora. Que gostem. – 10/4/2020

scones

Rikers Island

As grades são tudo o que me limita – as janelas que me impedem de voar, a porta que nos impede de sair, a TV e o seu discurso catastrófico – quanto a mim, ainda aquém do necessário (uma opinião pessoal), que nos dá um cenário dantesco, muito para além do que conseguimos imaginar e constatar.

Fujo da solitária cerca de 30 minutos por dia – aquém do confinamento na solitária de Rikers – que permite 60 minutos de pátio – para olhar o mar, após ter fugido de todos aqueles com quem me cruzei pelo caminho. Os olhares são desconfiados, as caras são de medo e o vírus continua a ser algo desconhecido.

Notícias de uma besta quadrada, que preside a um país da América do Norte, e que tenta, a todo o custo e com recurso ao “Almighty dollar”, comprar os estudos feitos por uma companhia Alemã em prol de uma vacina, para uso exclusivo no povo a que “preside” – quanto a mim o ponto mais baixo da humanidade mas, vindo de quem vem, não me espanta que se consiga “superar”. Os “familiares” dessa besta, que presidem aos destinos do Reino Unido e do Brasil, seguem-lhe os passos…

Medo do desconhecido? Todos temos, quando somos humildes ao ponto de o reconhecer. Tentar superar o desconhecido, através de iniciativas individuais, nunca superará a força do movimento colectivo (a vida tem-nos dado inúmeros exemplos). O meu grande medo, actualmente, é a falta de um grande líder mundial que consiga unir a humanidade face a uma das maiores catástrofes com que já se deparou.

Conspirações e afins são a justificação possível para quem acredita nessas teorias mas o facto é que lidamos com o desconhecido e os únicos dados que possuímos vão sendo transmitidos dos países mais afectados para os que serão afectados em seguida. Estamos a aprender conforme o tempo vai passando, conforme a virose vai evoluindo, conforme os mortos vão destruindo a nossa confiança e os pacientes recuperados nos dão alegria (apesar das fortes mazelas com que ficam). 

E a economia? É talvez a justificação para a morosidade com que algumas nações enfrentam este flagelo – ninguém ousa sequer contabilizar os custos de algo assim até porque, nesta altura, tal seria considerado insensato. Não há material suficiente, não há conhecimento suficiente, há um esforço desmedido por parte daqueles que realmente dominam estes fenómenos epidémicos – contrariado por Governos mais preocupados com a economia e eventuais reeleições (a política é a verdadeira origem da palavra hipocrisia).

Saudades de um bom abraço, de um bom beijo, de fazer todas as coisas que nunca nos fazem falta – quando as temos – mas que se transformam em saudade, assim que a oportunidade de as termos desaparece…O humor tudo supera!

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Caminhada 

Vais andando em direcção ao bacalhau mas a ementa só referia arroz de pato.

Cruzas-te com uma mãe e os seus filhos e, perante a avó que assiste, uma das crianças pergunta à mãe o que é a tentação (a mãe havia dito às crianças para segurarem bem o Labrador, quando passaram perto da água, por causa da tentação). A avó sorri perante a pergunta mas a mãe – fruto da sua experiência – responde dizendo que é resistir a algo que se quer muito…sorri, a avó e a mãe também, e as crianças ficaram a pensar naquilo! Devia ter parado para ver e ouvir como acabou!!!

Sentado a comer o arroz de pato, a observar as folhas que caíram na água e são levadas pela corrente numa forma que se assemelha muito a pintainhos a serem carregados para jusante.

Já me servem o café como eu aprecio e sou saudado por um grupo que se desloca em kayaks. Ainda a reflectir no melhor local para ver o derby – está encoberto mas a temperatura ronda uns agradáveis 17 Celsius.

Vamos caminhar, até já.

Em casa!

Viagem longa para quem está só a duas horas de Portugal – duas horas e vinte de avião e três horas e meia de autocarro…

É bom voltar a ver algumas caras, locais, coisas…e estar de volta ao cabeleireiro para tirar este peso extra de cima de mim. Se já tinha a mania do cabelo curto agora tenho a mania do pente 4 – uma espécie de vingança por um dia me terem obrigado a cortar por essa medida e, logo depois, chegou um telegrama a dizer que já não necessário.

Saíram pessoas da equipa portuguesa e o volume de trabalho decresceu substancialmente. Os dias de trabalho são passados na leitura de Saramago e Arturo Pérez-Reverte e na conversa com o resto da equipa.

Nunca parando de pesquisar o mundo, na procura de algo melhor e num país tão agradável quanto a Grécia, nunca esmorecendo a dedicação presente, nunca fugindo ao conhecimento de novos locais, pessoas, diferentes maneiras de ser e de agir.

Sempre de sorriso aberto, agora com mais um dente – temporário – que, no próximo ano, dará lugar à obra completa! Um grande abraço a duas dentistas que trataram exemplarmente desta empreitada.

Agora posso afirmar: já nada me espanta neste mundo!

A viver – hoje e sempre.

Um dia não são dias…

Há muito que aprendeste a ultrapassar as agruras da vida e, apesar delas, este foi realmente o melhor período de férias que alguma vez tive na vida adulta. Chegado a 1 de Setembro, depois de apanhar o metro e o comboio, subi a rua e encontrei o jovem de 12 anos e 364 dias a correr para os meus braços. Ele já havia ido 2 vezes à estação para ver se eu chegava…sem sucesso! Cheguei no terceiro comboio e o Samsung continuava sem conseguir registar-se numa rede portuguesa…incontactável!

Foi um abraço como só os pais que amam os filhos sabem dar e receber. Foi um agradecimento de um Pai a um filho por todo o esforço que ele tem colocado naquilo que é o emprego dele – os estudos – bem como na forma como tem evoluído socialmente, desportivamente e a maneira como define os seus objectivos futuros. Obviamente o jantar foi escolha dele e as pizzas do Tomate foram a escolha…culpa da menina Paula que lhe mostrou o sabor das ditas e imediatamente o colocou a fazer a sua própria pizza – não estive contigo desta vez, mas nunca és esquecida.

Adaptar-me a Espinho é algo que faço com um gosto que me sai naturalmente! Talvez não seja o que esperam de mim, mas o que eu quero…a t-shirt, as havaianas e o calção de banho são a indumentária mais utilizada! Furando por entre os “rurales” ainda conseguimos um dia de bastantes mergulhos e, com grande alegria, constato que já não fico gelado após o primeiro mergulho – está perdida a adaptação às águas Gregas e recuperada a adaptação às águas espinhenses.

Ri-me, como sempre o fiz, com o Luís Pires e chegamos à conclusão que já só faltam aproximadamente 28 meses até os Pais voltarem a dormir como outrora o fizeram. Debatemos os velhos métodos para adormecer crianças – o aspirador, o exaustor da cozinha, etc…apenas para chegar à conclusão que o rebento dele e da Henrieta consegue triunfar e não cede a métodos velhos de adormecimento.

Coloquei a conversa em dia com a Carla Lacerda e com o Ricardo Tavares e, retomando onde havíamos ficado da última vez, progredimos no conhecimento daquilo e daqueles que nos rodeiam. Muito recompensador e libertador. Bem hajam.

Passei tempos deliciosos com os meus primos, mãe, irmão, madrinha e padrinho “adoptado” e não consigo encontrar palavras suficientes para lhes agradecer. Terá que ser por acções. O Pedro a.k.a. “Careca” foi, como sempre, o impecável animador daquelas noites espinhenses que todos julgam que não vão dar em nada e.…dão sempre! Sempre com o acompanhamento do Roger Waters e alguns discos pedidos – alguns mesmo pirosos – de outrora. Vi a factura detalhada ser introduzida no Bombar e chorei à gargalhada com o detalhe a que se pode chegar!

Gosto muito da minha cidade e de um certo número de pessoas que a habitam. Muitos ainda procuram a sua vocação, mas, acima de tudo, são pessoas que sabem dar tudo em prol dessa palavra que é a amizade. São o que nos faz voltar e ter saudades. Bem hajam.

Sair no aeroporto de Dublin e encontrar o Quim Tó à espera da Mãe dele demonstrou-me que os espinhenses estão em todo o lado, mas os bons…merecem sempre um abraço!

Nunca digo adeus e, quem me conhece, sabe que me despeço com um “Até já”. É mais demonstrativo do desejo de voltar e de estar com aqueles que nos dizem tudo e eu não consegui estar com todos. Com os meus erros e uma ou outra virtude sempre estarei cá para vós. Se me esqueci de mencionar alguém foi por puro descuido meu, perdoem-me!

Aquele abraço, até já!

As manhãs

Acordas com o ruído dos vizinhos a sair de casa, espreguiças o corpo ao som da passarada (anda pela vizinhança um novo som e, mais tarde, irás averiguar de que nova ave se trata).

Abres os olhos com a ajuda dos dedos, numa espécie de espreguiçar ocular, arrastas o corpo até á cozinha e tens a primeira imagem erótica do dia – a máquina de café está lavada e pronta a ser usada.

Colocas água até á medida, café até ao cimo, limpas toda a área circundante do reservatório de café e atarrachas a parte superior. Salivas por antecipação, colocas os corn flakes no prato e acrescentas uma dose generosa do maravilhoso leite fresco irlandês.

Comes ao ritmo de quem ainda não tomou café, terminas no momento em que a máquina de café começa a emitir o ruído típico de quem está pronta e sentes uma alegria tua pelo ritmo perfeito da tua “orquestra” matinal.

Tomas o chuveiro já mais desperto e cobres o corpo com alguma roupa que tiras do armário. Desces à cidade e relaxas enquanto bebes o teu cappuccino. Questionas-te se devias ter ficado um pouco mais na cama mas, enquanto dono do teu tempo, fazes uma gestão atempada de tudo…

Aquele abraço.

Natural born killers

Eu sabia, na sexta-feira quando resolvi ir em frente com a decisão, que o fim de semana ia ser muito intenso. Sabia que muito provavelmente me deixaria extenuado, mas largamente recompensado, cansado, mas de prazer.

Depois das agruras de um relacionamento demasiado redutor, eu havia esquecido a sua existência (quer de um quer do outro). Talvez não me quisesse recordar ou apenas não me lembrasse, mas lembrei-me que haviam passado 2 anos e imediatamente o sonho voltou. A pergunta que não me largava a cabeça era: será que realmente há novidades? E havia!

Percorri os caminhos cibernéticos da literatura e havia duas obras-primas já disponíveis e uma a ser lançada no dia 11 deste mês. Imediatamente comprei as 2 disponíveis em Português e a que sairá no dia 11 – que será lançada em Inglês.

Foi um domingo de loucura em que, por muito pouco, quase não cheguei ao destino. Completamente vidrado na ânsia de começar a ler, começar a sofrer, começar a tentar decifrar antes do autor o escrever, de chegar ao fim e exclamar: sempre muito bom. E assim foi…até consegui bater o tempo de leitura que o Kindle diz que o livro demora…

Foi muito bom voltar a partilhar momentos com o Gabriel – ainda mais tratando-se de uma aventura maioritariamente passada na Irlanda – e voltar a sorrir com as descrições que o Daniel faz dele.…em sonhos revejo sempre a imagem de um dos melhores restauradores de obras de arte do mundo, apoiado no queixo e com o rosto ligeiramente inclinado…sublime!

Cansei-me, mas foi dos esforços mais recompensadores que tive, num Fitzgerald Park que ora estava nublado ora estava ensolarado. Um dia muito bem passado! Na companhia de estranhos, com o ruído da natureza e com o meu livro. Bem-haja!

Clock ticking

Acordado pela passarada, corpo bem esticado por um espreguiçar ímpar, com muita preguiça de fazer até o próprio café…

A necessitar de fazer as compras semanais e deparado com uma cidade que já dorme a sesta, de ar condicionado ligado, como se a temperatura fosse tão aflitiva…

Estão uns 18 graus, corre uma brisa ligeira, de vez em quando, e estou na esplanada do Ó Conail que, apesar de ter como especialidade o chocolate, tem um cappuccino muito bom.

Sorvo mais um gole e vejo quem passa. Salvo raras excepções está tudo num ritmo típico de domingo e até eu, já depois de ter visitado o Fitzgerald Park, anseio por uma soneca.

Semana muito recompensadora, em termos humanos, com novas pessoas conhecidas. Algumas amizades a fazerem-me questionar como por vezes podemos ter colegas de trabalho como amigos!

O café toca música dos anos 80/90 e os turistas param, espantados, antes de entrar para relaxar um pouco. Este é o meu canto secreto, aquele onde descanso enquanto escrevo, aquele onde bebo café enquanto vejo quem passa, aquele onde me sinto bem.

Ao contrário do Néctar, este café fica numa viela entre a rua principal e uma paralela que nos conduz á Ópera (direita) ou Grand Parade (esquerda). É essencialmente percorrida por pessoas ávidas de conhecer detalhes e não o que o roteiro indica, fugir do vento para uma pequena brisa, apreciar sem pressas e com detalhe.

Um bom domingo. Aquele abraço.

Momentos matinais

Quando consegues dormir até às 10 da manhã, num país sem persianas, e acordas com um som que te faz imediatamente articular o queixo, de espanto…esqueces, por momentos, que devias espreguiçar-te convenientemente antes de iniciares o teu dia e trocas tudo pelo ligeiro abanar de cabeça, ao ritmo da música, seguindo a letra da mesma.

Estranhas que as boas músicas tenham um final – muito embora fiquem em nós por um tempo infinito. Acordaste e estavas no Tendinha, com os teus amigos de sempre, e até coraste porque te perguntaste “Será que realmente passei a noite no Tendinha?” mas sabes que o teu tempo no Tendinha sempre foi para queimar calorias, dançar ao som de boa música e estares com aqueles de quem mais gostas. Mais detalhes e o blog passaria a ter uma classificação de “Só para adultos” …

Ouves a passarada lá fora, abres a cortina e vês o habitual céu nublado, esboças um sorriso de gajo habituado a estas andanças – sorris ainda mais quando te dás conta que é o mesmo sorriso que esboçavas na Grécia quando, pela manhã, abrias as persianas da sala e vias a zona de Victoria no alvoroço matinal e tu – que sempre foste dado a despertares muito precoces – saudavas a boa noite de sono que tinhas tido (apesar da temperatura constante – os 30 graus nocturnos). A maneira como outrora apreciavas cada trovoada – porque já eras como os locais e abrias a casa toda para arejar (e aproveitar para baixar a temperatura no interior da mesma) – e agora começas a ver a chuva como algo habitual – como outrora o Sol o foi.

Olhas, com um amor incondicional, a tua máquina de café e, mecanicamente, colocas água na parte inferior, o depósito do café em cima – que enches com uma colheita de café colombiano do Robert Roberts, enroscas tudo muito bem e colocas ao lume. A espera pelo líquido é feita ao som de uma playlist que encontraste no YouTube e, quando menos esperas, começa a tocar o “This is the day”, dos The The…por momentos és um puto de 15 anos, no Splash, a curtir a mesma música – no meio da pista, de Super-Bock na mão (a cerveja de Leça do Balio era uma forma de separar as boas das más discotecas, no final dos anos 80), cercado de outros 5 companheiros de aventura. Depois de umas tacadas num verdadeiro bilhar Americano e com a noção que o regresso a casa seria feito muito rapidamente – alguém iria sugerir que os “Irmãos Cavaco” (evadidos nesse ano e, na altura ainda a monte) estariam escondidos na moita seguinte – o que fazia sempre com que chegássemos a casa em passo de corrida! Éramos jovens corajosos, mas também corríamos bem!

O café produz o seu efeito e desperta-te para a necessidade de criar novos momentos, mentalmente tens a imagem do duche, mas apetece-te colocar todas estas visões por escrito e questionas-te porque não fazê-lo enquanto bebo mais um café? Raramente discutes muito contigo e, de chávena na mão, atravessas os 2 metros que separam a cozinha da sala, ligas o computador e…deu nisto!

Bom fim de semana malta. Aquele abraço.

Ócio

Finalmente parado, a descansar de visitas feitas e recebidas, de coração cheio, de bacalhau já comido, família visitada, conversas em dia.

A receber um sorriso do sol, aguardando que o vento acalme, pronto para um banho na praia de sempre, um fino à beira mar e o regresso à cidade onde trabalho.

De check-in já efectuado, boarding pass já impresso, bilhete para o Eddie Vedder também impresso e pronto para ser recebido pela meteorologia Irlandesa.

Correr para uns abraços reconfortantes, matar saudades de quem não pôde vir e beber uns pints em homenagem a nós. Continuar a terapia que me dás, devolver os sorrisos que me provocas e, com os nossos baby steps, continuar a nossa vida juntos.

O adepto do planeamento antecipado – 6/6/2017