Persistente

Após a formatação do smartphone, houve que aguardar que a instalação de todas as aplicações fosse novamente feita. O tempo não estica e, se escolhes passar o fim de semana fora de casa, sabes que esta é uma das consequências… espero que tenham tido muitas saudades e que voltem – prontos para devorar mais um relato da vida nesta ilha!

Foi um fim de semana dedicado a um misto de cozinha e lazer, em casa alheia, num trânsito constante entre o quarto e a cozinha. Com uma vista panorâmica da cidade de Cork e colinas que a rodeiam, dedicamo-nos á leitura, gastronomia, conversa e exercício.

No domingo tive a felicidade de conseguir a última dose de bacalhau com natas, no Rio Café, e voltei a Portugal durante o tempo que a refeição demorou a desaparecer. Diria mesmo que se evaporou!

De regresso ao trabalho e com os sentidos colocados na reunião de avaliação desta sexta-feira. Ou continuo ou aceito a vaga em Budapeste! A ver vamos!

Sempre a curtir o melhor que esta ilha tem…e é mesmo muita coisa!!!!

Aquele abraço.

Detalhes…

É nos pequenos detalhes que nascem as grandes obras… digo eu…😂 Ironicamente foi o alho que nos aproximou! Nenhum dos dois concebia uma refeição sem primeiro estar certo da existência de alho suficiente para levar a cabo a obra!

Viram juntos o pôr do sol, puseram a conversa em dia e a outra personagem, agora mais morena que loura, tinha muito para contar. Tentavam avançar capítulos, por entre beijos de saudade, e muitas vezes não conseguiam ir muito além da primeira letra do capítulo seguinte.

O encaixe era perfeito, ao nível da melhor engenharia, e pouco ficou por ser feito. Apesar do hálito ser maioritariamente de alho, nada os impediu de até se rirem –  aquando de um comentário de um transeunte que referiu sentir um odor a alho no ar de Cork…

Uma maneira muito imperfeita de não sair de casa! Na proporção directa do prazer obtido.

Aquele abraço.

Trabalho

Tenho a sorte de trabalhar com dois profetas: um é o profeta do “que se foda!” e o outro o profeta do “vamos apanhar ar!”.

Completamente distintos! Um nunca se penteou, gosta de umas boas cervejas, adora a família que tem e é dono de uma atitude que faz sorrir o morto. Dá sempre vontade de sorrir e copiar algumas partes. O outro é alguém que se cuida bastante, gosta do ar livre, arrasta-nos nessa paixão e permite-nos momentos de lazer enquanto trabalhamos.

Em grande parte eu devo a estes dois profetas muitos dos sorrisos dos últimos meses. Bem haja!

Homenagem lhes seja feita.

Mudanças

Acordado pelo ajuntamento de pássaros no jardim – seria uma manifestação? – eis-me a caminho no 215A (autocarro que utiliza os atalhos todos e chega mais cedo). Com aquela necessidade permanente de café, rodeado de duas belas cidadãs russas que trabalham comigo, pronto para um novo dia!

Sempre lento a despertar, sempre rápido após o ter feito, sempre desejoso de ter tudo arrumado, sempre incumpridor!

Sou um dos poucos que circula com um casaco, voltei a vestir verde e estou muito bem disposto. Não sei se já me posso chamar de Irlandês adoptado – falta o inverno para eu saber se resisto – mas tem sido – a nível pessoal – uma experiência muito enriquecedora.

Na Grécia tive 18 meses de cultura e passeio e aqui estou com 4 meses de passeio e sempre misturado com diferentes culturas. Ambas as experiências são enriquecedoras. O que falta? O tempo o ditará!

Aquele abraço.

Mania das grandezas…

Tens sede e apetece-te uma cerveja. Visitas o frigorífico e recuas, perante o tamanho das garrafas que te olham. São louras, estão a gotejar de frescura e tu recuas? Não te reconheço! São XL, com 50 cl de conteúdo…

Estará doente? Pergunta a voz diabólica. Não, é um rapaz consciente! Afirma a voz angelical.

Continuas de frigorífico aberto e já quase temes pela integridade delas. Apetece-te retirar os oito pecados do frio, colocá-las em fila e tirares uma selfie, enquanto as abraças!!!!

Também te passa pela cabeça a fotografia de grupo e tu a fazeres um coração, com os indicadores e os polegares… por favor, tudo menos isso!!!! O Kindle emite um som e tens outra paixão que chama por ti. Foste corajoso em ir espreitá-las, foi como um Pai que verifica como estão as crianças, antes de se deitar. ❤️

Vais sonhar com caricas a voar dos gargalos, gargalhadas desmedidas e tremoços… muitos tremoços! 😋

Elas andam a provocar… 😊 – 24/7/2017

Rio

Escolhes fazer uma caminhada, atravessar a cidade, procurar um lugar recatado que ainda não conheças, onde possas estar ao sol.

Recordas que te falaram de um café português, sobre o rio, com muito boa exposição solar e muito tranquilo. Como é dia de caminhada e tens que fazer algumas compras para casa o local escolhido tem que passar pelo centro. Escolhes o Rio café e descobres que te mentiram! Não há Super Bock!!!! Heresia.

Telefonas para o 21 e descobres que há 8 em stock com um preço promocional…€20! Fazes a reserva e tens agora 4 litros de cerveja reservados por €20! Uma boa maneira de teres algo para acompanhar o jantar…

Entendes agora perfeitamente o porquê do povo desta ilha ter um bronzeado “de camionista”. Ao teu lado tens duas mulheres a debater o quão libertina a vizinha se tornou, desde que se divorciou. Há um misto de horror e inveja nas palavras delas e sorris, na direcção oposta á da conversa. Foi com fenómenos destes que a vídeo-vigilância prosperou!

No rio continua um desportista, no seu kayak, dando voltas sobre si mesmo. Não parece que precise de ajuda e, passados uns minutos, já circula pelo rio a um ritmo de quem apenas se refrescou antes de continuar.

Ora tens sol, ora está encoberto. Vês os aviões a partir e a fazer a habitual curva á direita que os leva a passar por cima do teu apartamento. Questionas-te porque não farão uma curva á esquerda mas ninguém te responde.

Fumas mais um cigarro e dás graças por teres encontrado 8 Super Bock por €20! Prioridades…

Aquele abraço.

Sorriso diário

Rotineiramente segues para o café matinal, o multibanco continua avariado e já tens uns três cafés no livro de calotes (não, aqui não utilizam a porta do frigorífico), o dia promete máximas de 16 mas já tens maturidade suficiente para não acreditar em promessas.

O trânsito é caótico, junto á câmara municipal, segues cuidadosamente entre a fila de carros que tenta circular por onde não há espaço, és cumprimentado e saudado por desconhecidos que te incentivam a prosseguir a tua marcha pela frente dos carros que conduzem e chegas, exactamente três minutos depois de teres partido, á paragem do autocarro.

Relembras que tens que interpelar o jovem que te arranjou uns filmes para veres pois tens apanhado uns sustos valentes em cada um deles. Sorris e questionas-te: o que seria da vida sem um pouco de emoção?

A tua amizade mais próxima e mais querida tornou-se tia-avó! E, sabendo tu que tens quase a mesma idade, sorris de maneira traquinas enquanto pensas que ainda não chegou a tua hora de teres tal honra. Sorris, num misto de quem não sabe o que sentiria mas sempre solidário com quem tem a felicidade de sentir. Recordas o 3 de outubro de 1999, quando te tornaste tio e concluis que deve ser uma sensação de felicidade semelhante.

Hoje tens a festa mensal dos expatriados e já sabes que vais percorrer muitos edifícios históricos de Cork (nome de código para Pubs). Vais conhecer pessoas novas e diferentes e ouvir a sua história de vida. Como és sempre indiscreto, muito provavelmente abandonarás os que nada acrescentam para te juntares aos que mais te ensinam. Aquele dia de escutar os outros que tu tanto aprecias.

Aquele abraço.

Manhãs

Há alguma falta de hábito tua quando, mais uma vez, um estranho passa por ti e afirma que está uma bela manhã. Olhas á volta mas és o único a quem ele se dirige, sorris e concordas porque, de facto, está uma bela manhã – céu nublado, com algumas abertas de sol intenso e sem sinais de chuva.

Ainda estás ensonado, na tua esplanada dos dias de semana, a largar os últimos bocejos antes da curta caminhada até á paragem do autocarro. Tiras o casaco quando o sol aparece e vestes o casaco quando as nuvens o escondem, num ritual a que te habituaste desde a primeira semana.

Cravam-te um cigarro e respondes com o habitual “era o último”. O sarcástico Irlandês responde que, se tivesse um euro por cada vez que ouve essa frase, estaria rico…A EUR 10.50 por maço de tabaco não há outra resposta possível…

O 215 passa por ti, no sentido contrário do teu, o que significa que tens 15 minutos para uma caminhada de 3 minutos…pedes outro café e segues o teu caminho num passo tão lento que te sentes ultrapassado por caracóis, tartarugas e outros animais de reconhecida rapidez! Entretanto surge um corvo…

É quinta-feira, o mano festeja o seu aniversário e há que ligar-lhe! Aquele abraço.

 

Ambientes

Lembram-se dos 2 marretas, no balcão do teatro onde os restantes marretas actuavam? Eles eram grandes amigos, apesar do humor de ambos ser diametralmente oposto – uma espécie de dueto, em que um conta uma piada da qual se ri e o outro, na tentativa de superar a piada de que não se riu, tenta uma piada ainda mais decadente. Há inclusivé um episódio em que um deles pensa que o outro saltou do balcão…tal a intensidade da “piada”.

Transpondo para os dias de hoje: imaginemos 2 Irlandeses e um Americano que se sentam na mesma fila. E agora, imaginemos por momentos que eles se consideram pessoas detentoras de um humor superior – de um cariz tal que só mentes muito brilhantes poderão entender. Continuemos a imaginar e coloquemos o vosso humilde narrador na fila atrás desses personagens e que, após umas semanas a rir-se sozinho, resolve participar do humor sem sentido que é debatido na referida fila.

O humor corrosivo irlandês, complementado pelo humor que é causado pela constante correcção que o Americano faz da pronúncia do vosso humilde narrador, sem que humildemente reconheça que não passa de um produto de origem numa conquista Inglesa, mais tarde, descartada por ser longínqua demais para explorar.

São assim os dias que o vosso humilde narrador passa, enquanto trabalha, apreendendo os vícios e costumes de quem o rodeia e do que o rodeia. Atento a tudo, escolhendo o que mais aprofundar, envolvido na natureza singular deste país maravilhoso que é a Irlanda. Se precisarem de motivos para uma visita, deixo-vos uma dica muito importante: tragam guarda-chuva mas venham com a visão preparada para ser deslumbrada pela beleza que, constantemente, vos vai rodear: beleza humana, beleza natural, beleza sarcástica mas com um grande sentido de humor.

Habemus risum!

Rotinas

Há o taxista, sempre presente na esplanada do Murphy’s, de pint de Guiness pousada sobre o barril que faz o papel de uma mesa.

Há o sem abrigo, que desperta á mesma hora a que tu corres para o Néctar, para recolher o teu cappuccino matinal.

Há os motoristas dos autocarros locais que, em bando, se dirigem para o Murphy’s, para uma pint de final de turno.

Há a chuva, que alegremente constatas, não caiu com o vigor anunciado pelos avisos da protecção civil (muito rápidos a actuar por estas bandas).

Há sempre o desconhecido que te cumprimenta – como se fosses aquele membro da família á muito desaparecido.

Há uma série de pequenos detalhes que te recordam que não estás no teu país mas sorris – porque se não fossem pequenos detalhes a lembrarem-te, tu jamais irias notar.

Chove! E nós também sorrimos nesses dias. 🇮🇪

Perduram

Outrora apelidada como a autora da carta anónima, cuja origem nunca sequer me propus investigar – tal era a estupidez com que foi interpretada naquele momento por quem ma lia, aos berros, afirmando que eu afinal tinha “outra”. ☠️ Dois anos passaram nesse hipotético episódio.

Não sou pessoa de dizer “não me importo com o que os outros dizem” e agir de forma contrária ao que afirmo. Nunca fui e acho que já tenho maturidade suficiente para saber entreter-me com factos e não boatos. Imaginem que até sorrio: quando relembro momentos de dor, de ver a minha confiança a tentar ser quebrada – numa tentativa vã de me afastar daquele sorriso traquinas que tanto amo. 🤗

Gosto de estar a passar por esta vida sem criar muitas ondas – sobretudo que afectem outrém – mas, acima de tudo nutro um especial apreço pelo facto de simplesmente não dar importância a pessoas e “factos” que mais não são do que o bilhete de identidade de quem produz tais obras de arte…ao nível de uma Joana Vasconcelos. Ahahahah, escrevi Joana Vasconcelos e nível na mesma frase. 😂

Por vezes desabafo contigo estes hipotéticos cenários porque, lá está, “ouvi dizer” que faz bem e, nesse boato específico, eu acredito. 🤔

Aquele abraço.

Devaneio nocturno debaixo de uma monumental trovoada. 🇮🇪 🇵🇹

Segundas

Curiosa a forma como os Irlandeses celebram a aparição do sol. Os sorrisos abrem-se, o passo é mais vigoroso e seguro, a postura é perfeita e a sensação que um forasteiro tem é que algo muito bom está a acontecer…☀️☀️☀️🇮🇪🇮🇪🇮🇪

As segundas-feiras são dias muito pouco apreciados pelo mundo fora. A excepção é uma cidade, infelizmente sem gauleses irredutíveis, que celebra a sua feira semanal. Por entre trocas de material que foi testado e não serviu, apetrechos para a semana que começa e devaneios para um dia que pode nunca chegar, eis a massa popular reunida para a confraternização semanal. Talvez afinal a cidade esteja pejada de gauleses… quem sabe? ❤️🇵🇹

Confesso que habitualmente fujo na direcção oposta á do evento… não só na segunda-feira mas também nos restantes dias e só me aventuro por terrenos acima da rua 20 quando convidado para confraternizar com uma família que me é muito próxima! 😉

O texto refere-se ao dia de ontem. Hoje está nublado, já caíram umas pingas mas o vosso humilde narrador continua de sorriso maroto e bem aberto. A magia anda no ar….😂

Silêncio

O silêncio pode ser um problema ruidoso. Quanto mais tempo temos de silêncio mais precisamos de ruído! Que mais não seja para exercitar a audição! 🤔

Poderá soar a contradição mas a ausência de som não é um elemento natural dos dias de hoje. Talvez no campo, em casas separadas por muitos quilómetros, tal seja possível de observar mas haverá sempre um elemento da natureza a “manchar” essa ausência de ruído. E, é nesse elemento que nos devemos concentrar pois é a sua presença benéfica que nos permite divagar sobre as virtudes da nossa audição – excepto se for um mosquito! Um mosquito está, na escala de audição humana, para o humano como o bombardeamento de Dresden esteve para os Alemães – ouvimos o ruído mas destrói-nos a paz! 😂

Não sei se é coincidência mas o silêncio permitiu-me ouvir ruídos dos quais me mantinha afastado e, mercê da alegria de voltar a ouvir, talvez aprecie mais esta nova fonte de ruidosa inspiração. Também não sei se é mais recompensador ouvir um ruído antigo ou debruçar-me sobre um ruído novo – explorando as suas virtudes e os seus defeitos para, juntos, aprendermos a ouvir melhor. 😊

Vou, silenciosamente, estudar este ruidoso problema. Se não me ouvirem é porque estou a estudar e, enquanto amigos, vocês irão – ruidosamente – sorrir… porque me conhecem e sabem que nem o silêncio é de ouro nem o ruído é algo a menosprezar. 😉

Aquele abraço.