Alguém muito próximo perguntou-me, por estes dias e a uma distância segura, porque é que eu nunca escrevia sobre a idade, o envelhecimento, etc…A verdade é que se trata da pessoa ideal para colocar essa questão pois andamos a envelhecer juntos desde 1988…
O Outono da nossa vida, como prefiro apelidá-lo, devido às muitas semelhanças entre a natureza e o corpo humano. Tal como as folhas se desprendem do ramo para, num bailado lento e nas mãos do vento, alcançar o solo e passar a ser um estrume adicional para a árvore de onde caiu…também nós partimos de uma estatística que nos pode deixar no lençol – sem futuro, sem dignidade e ao alcance de qualquer máquina de lavar – ou alcançar o útero e criar uma nova vida.
A vida é feita de probabilidades e nunca sabemos o tempo que nos está atribuído logo, nunca conseguimos saber, antecipadamente, o resultado correcto da equação. Mas é justamente nessa falta do valor final que reside o combustível que nos faz levantar e procurar o objectivo seguinte.
Surgem uns nervos com tiques, obviamente, nervosos, uns dentitos têm que ser substituídos, umas dores de costas que não faziam parte do roteiro habitual. Dás muito mais valor a escutar do que a falar e dá-te um gozo muito maior o processo de aprendizagem das coisas – talvez porque damos mais valor ao tempo (que realmente tem mais valor pois estamos num cronómetro regressivo e já percorremos parte do tempo definido).
Ainda erras como antigamente e aprendes – temporariamente – com o desejo de errar novamente o mais brevemente possível. Adoro essa parte do processo de envelhecimento…dá-me a impressão que sou um “velhinho de desenho animado” que pode escapar sempre das situações, ainda de coluna bem levantada e com um sorriso traquinas que é imagem de marca.
Assim, por alto, é o que me ocorre…
