A visão lírica de um abraço.

O abraço, enquanto gesto de solidariedade carinhosa, pode ser medido pela intensidade que contém e a intencionalidade (numa espécie de superlativo de honestidade contida) que com ele transmite. Não há, disponível no mercado, um aparelho capaz de medir um ou outro, o que, em última instância, leva a que seja o devaneio do momento a, internamente e sem qualquer revelação exterior, dar um valor ao gesto.

Chegados a uma idade que é apelidada de meia, sem que as peúgas tenham qualquer conotação com ela, já sabemos – ou julgamos saber – o valor do que nos espera. Felizmente, e a vida é pródiga nisso, a única constatação é que nada sabemos e, forçados a partir da douta ignorância socrática (o reconhecimento franco de uma pessoa sobre o que ela não sabe), sentimos cada abraço como o primeiro e, tal como um virgem inexperiente, deixamo-nos voar com o sentimento que transmite e sentimos.

Abertos os braços e indefesos perante os outros braços que avançam para nós, de pensamento totalmente adjudicado ao sentimento, receosos até do quanto poderão sentir – sem que qualquer barreira seja imposta – numa liberdade de expressão em que quatro braços pulsam a dois. Flutuando acima do terreno sem que acredite no divino, totalmente entregue sem necessidade de comprovativo de entrega assinado, num tempo que é infinito na durabilidade terrena mas eterno na duração sentimental.

O abraço revela também as emoções despojadas de pudor: o querer dizer tudo sem que o tempo permita dizer nada, o querer tornar o outro um super-herói invencível a quem possamos estar abraçados até ao final dos dias, o altruísmo como expoente máximo da amizade, do amor, da felicidade que é poder ter tido a oportunidade de conhecer e viver com um abraço que durou uma vida.

Que todos tenham um abraço assim – 19/2/2025