Um país atento

Há sempre um alerta meteorológico neste país! Hoje é amarelo e, desde que cheguei, acho que nunca houve um dia sem o registo de uma qualquer intempérie…se está sol (um milagre que raramente acontece) a exposição UV é sempre perigosa e, quando chove, há sempre vento a acompanhar…8 ou 80!

Ainda não consegui perceber como é que os locais conseguem andar 90% do tempo vestidos de calções e t-shirt mas confesso que não vou esforçar-me mais por compreender.

Que, de facto, são um povo caloroso isso não há dúvida! Que possuem um património digno de ser preservado e partilhado com as gerações futuras…sem dúvida.

Adoro o verde neste país. Sinto-me em África com a frescura irlandesa.

Aquele abraço.

O coelho branco

Qualquer analogia daltónica entre o coelho branco e o coelho laranja merecerá um comentário apagado. São as novas regras da democracia que o ditam!

Após uma noite passada no White Rabbit (“Follow the White Rabbit”, ring a bell?), a assistir ao Irlanda-Gales, em que as restantes pessoas que assistiam olhavam para o ecrã com cara de quem não reconhecia o desporto em causa (o futebol será, porventura, o terceiro ou quarto desporto – em termos de praticantes – neste país), eis que hoje a selecção jogou.

Um orgulho ver como a bandeira une o povo português. Senão, vejamos: o ponto de encontro é de uma trivialidade tal que somente um incauto, com muitas dificuldades de visão, audição e afins, não conseguirá encontrá-lo. E, após o apito inicial, noto que há uma camisola de um tom que não aprecio particularmente, bastante desbotada (tal como o clube em causa), e a única ideia que me ocorreu foi enviar um email ao proprietário a notificá-lo daquele potencial atentado ao pudor!

Nutro, pelo desporto-rei, um certo amor e não tolero que o mesmo seja abusado sem qualquer perspectiva de compromisso! Embora, no caso anteriormente descrito, a fé seja tanta que, muito provavelmente, não caberá à camisola o abuso, mas sim ao jogo de bastidores!

“Chega!”, gritou a voz de adepto da selecção nacional! “Chega o quê?”, respondeu a voz do adepto do Futebol Clube do Porto que, na ocasião, observava atentamente um jogo da selecção nacional de futebol. Umas pancadinhas no ouvido direito, igual número de pancadinhas no ouvido esquerdo e eis que as vozes se desvanecem…

Há um golo dos nossos e, enquanto outros se questionam quem terá sido o autor, tu já festejas o simples facto da bola ter ultrapassado a linha de golo, estar a caminho do centro do campo e estarmos em vantagem por um golo de diferença! “Está na hora!”, pensas para ti mesmo e, de facto, estava na hora de encomendar a segunda pint e ver os restantes minutos do desafio. O puto que te habituaste a ver crescer domina a bola com o pé esquerdo, passa para o direito e enfia o segundo na rede dos Suíços!!!!! Vibras, contemplas o teu amigo destas andanças (e não só destas andanças!!!!), e constatámos que realmente estamos a ficar velhos para perceber de futebol. Festejamos…ele segura – orgulhosamente – uma meia-pint e tu brindas com a pint que, entretanto, chega.

Não é a mesma sensação que tiveste quando voltaste de Sevilha, ou de Gelsenkirchen, ou de Dublin…mas é um alegre momento que, enquanto expatriado, te faz sentir em casa!

Novas mudanças

Havia a oportunidade de mudar o alojamento do site de um local para outro que me faz um preço por 3 anos correspondente ao preço de 1 ano do site anterior…não é preciso ser economista para optar imediatamente pela mudança!

Não sei ainda se consegui importar todos os subscritores anteriores, mas espero que sim. Com algum tempo e dedicação acho que vou conseguir desenvolver melhor o site e torná-lo graficamente mais atraente…muito embora só me importe com o que escrevo, reconheço que as aparências podem ajudar na apresentação da escrita!

Nunca deixará de ter o propósito inicial – ser o meu diário de ficção – para um dia mais tarde me poder rir com as palermices que vou inventando ou vivendo…confesso que até eu fico confundido com escritos de outrora e não sei se foram ficção ou realidade! Ou talvez não sejam os escritos passados, mas as vivências passadas, mas…quem está a olhar para trás?

Dias de cansaço, dias de glória, dias de esforço, dias de ócio…tudo junto numa compilação de histórias que, um dia, constituirão o livro da minha vida. Com muita coisa escondida, outra sub-repticiamente implícita, mas, acima de tudo, com a vontade de ter uma pena, tinta e papel até que o último bafo me leve! Na falta desses três eu vou teclando no teclado e guardando as conversas online!

Que nunca vos falte a paciência para ler…aqui ou em qualquer outro lado.

Aquele abraço.

Caminhada 

Vais andando em direcção ao bacalhau mas a ementa só referia arroz de pato.

Cruzas-te com uma mãe e os seus filhos e, perante a avó que assiste, uma das crianças pergunta à mãe o que é a tentação (a mãe havia dito às crianças para segurarem bem o Labrador, quando passaram perto da água, por causa da tentação). A avó sorri perante a pergunta mas a mãe – fruto da sua experiência – responde dizendo que é resistir a algo que se quer muito…sorri, a avó e a mãe também, e as crianças ficaram a pensar naquilo! Devia ter parado para ver e ouvir como acabou!!!

Sentado a comer o arroz de pato, a observar as folhas que caíram na água e são levadas pela corrente numa forma que se assemelha muito a pintainhos a serem carregados para jusante.

Já me servem o café como eu aprecio e sou saudado por um grupo que se desloca em kayaks. Ainda a reflectir no melhor local para ver o derby – está encoberto mas a temperatura ronda uns agradáveis 17 Celsius.

Vamos caminhar, até já.

Detalhes…

…ou provavelmente o fundamental da vida…

Entras no autocarro e dás de caras com um italiano que chegou a Cork, vindo de Atenas, no mesmo dia em que tu chegaste. Todas as suas expressões são de satisfação imensa e recordas que ele esteve de férias e, muito provavelmente, este é o primeiro dia de trabalho dele. E assim é, faz-te um resumo da árdua mas recompensadora tarefa que é visitar tudo e todos e o quanto isso nos dá em termos de satisfação.

Os italianos são bastante semelhantes a nós, em termos de valores familiares, e revejo o mesmo sentimento nele conforme o meu, aquando da chegada das últimas férias.

Dizia ele: só me faltou visitar uma pessoa que, já muito tarde soube, precisava da minha visita! Também eu, respondi…mas tento agora retomar o diálogo de outrora – algures numa esplanada em Espinho, quando falamos muito e tivemos a certeza de sermos amigos.

A vida é um ballet e nós temos que criar a nossa melhor coreografia!

Aquele abraço.

Altruísta ou egoísta?

Por vezes escreves como se quisesses que o mundo te ouvisse, outras vezes escreves como se de um sussurro se tratasse – e não queres que ninguém leia…

Por vezes apetece-te largar tudo e mudar o mundo, outras vezes deitas-te no sofá até que te passe…

Gritas bem alto os pensamentos que te ocorrem, somente para te sentires incomodado pelo ruído que tu próprio causaste. Tapas as orelhas e questionas-te se já terá passado…

Estás entre a acção e a inacção, perdido entre sonhos e objectivos concretizados, dividido entre o que está por fazer e o que orgulhosamente já atingiste e perguntas-te, em mais um dos teus monólogos, se realmente serás altruísta ou egoísta…

– És um bipolar literário! Vai-te deitar!!!

– OK, realmente estou com sono…

Em casa!

Viagem longa para quem está só a duas horas de Portugal – duas horas e vinte de avião e três horas e meia de autocarro…

É bom voltar a ver algumas caras, locais, coisas…e estar de volta ao cabeleireiro para tirar este peso extra de cima de mim. Se já tinha a mania do cabelo curto agora tenho a mania do pente 4 – uma espécie de vingança por um dia me terem obrigado a cortar por essa medida e, logo depois, chegou um telegrama a dizer que já não necessário.

Saíram pessoas da equipa portuguesa e o volume de trabalho decresceu substancialmente. Os dias de trabalho são passados na leitura de Saramago e Arturo Pérez-Reverte e na conversa com o resto da equipa.

Nunca parando de pesquisar o mundo, na procura de algo melhor e num país tão agradável quanto a Grécia, nunca esmorecendo a dedicação presente, nunca fugindo ao conhecimento de novos locais, pessoas, diferentes maneiras de ser e de agir.

Sempre de sorriso aberto, agora com mais um dente – temporário – que, no próximo ano, dará lugar à obra completa! Um grande abraço a duas dentistas que trataram exemplarmente desta empreitada.

Agora posso afirmar: já nada me espanta neste mundo!

A viver – hoje e sempre.

Um dia não são dias…

Há muito que aprendeste a ultrapassar as agruras da vida e, apesar delas, este foi realmente o melhor período de férias que alguma vez tive na vida adulta. Chegado a 1 de Setembro, depois de apanhar o metro e o comboio, subi a rua e encontrei o jovem de 12 anos e 364 dias a correr para os meus braços. Ele já havia ido 2 vezes à estação para ver se eu chegava…sem sucesso! Cheguei no terceiro comboio e o Samsung continuava sem conseguir registar-se numa rede portuguesa…incontactável!

Foi um abraço como só os pais que amam os filhos sabem dar e receber. Foi um agradecimento de um Pai a um filho por todo o esforço que ele tem colocado naquilo que é o emprego dele – os estudos – bem como na forma como tem evoluído socialmente, desportivamente e a maneira como define os seus objectivos futuros. Obviamente o jantar foi escolha dele e as pizzas do Tomate foram a escolha…culpa da menina Paula que lhe mostrou o sabor das ditas e imediatamente o colocou a fazer a sua própria pizza – não estive contigo desta vez, mas nunca és esquecida.

Adaptar-me a Espinho é algo que faço com um gosto que me sai naturalmente! Talvez não seja o que esperam de mim, mas o que eu quero…a t-shirt, as havaianas e o calção de banho são a indumentária mais utilizada! Furando por entre os “rurales” ainda conseguimos um dia de bastantes mergulhos e, com grande alegria, constato que já não fico gelado após o primeiro mergulho – está perdida a adaptação às águas Gregas e recuperada a adaptação às águas espinhenses.

Ri-me, como sempre o fiz, com o Luís Pires e chegamos à conclusão que já só faltam aproximadamente 28 meses até os Pais voltarem a dormir como outrora o fizeram. Debatemos os velhos métodos para adormecer crianças – o aspirador, o exaustor da cozinha, etc…apenas para chegar à conclusão que o rebento dele e da Henrieta consegue triunfar e não cede a métodos velhos de adormecimento.

Coloquei a conversa em dia com a Carla Lacerda e com o Ricardo Tavares e, retomando onde havíamos ficado da última vez, progredimos no conhecimento daquilo e daqueles que nos rodeiam. Muito recompensador e libertador. Bem hajam.

Passei tempos deliciosos com os meus primos, mãe, irmão, madrinha e padrinho “adoptado” e não consigo encontrar palavras suficientes para lhes agradecer. Terá que ser por acções. O Pedro a.k.a. “Careca” foi, como sempre, o impecável animador daquelas noites espinhenses que todos julgam que não vão dar em nada e.…dão sempre! Sempre com o acompanhamento do Roger Waters e alguns discos pedidos – alguns mesmo pirosos – de outrora. Vi a factura detalhada ser introduzida no Bombar e chorei à gargalhada com o detalhe a que se pode chegar!

Gosto muito da minha cidade e de um certo número de pessoas que a habitam. Muitos ainda procuram a sua vocação, mas, acima de tudo, são pessoas que sabem dar tudo em prol dessa palavra que é a amizade. São o que nos faz voltar e ter saudades. Bem hajam.

Sair no aeroporto de Dublin e encontrar o Quim Tó à espera da Mãe dele demonstrou-me que os espinhenses estão em todo o lado, mas os bons…merecem sempre um abraço!

Nunca digo adeus e, quem me conhece, sabe que me despeço com um “Até já”. É mais demonstrativo do desejo de voltar e de estar com aqueles que nos dizem tudo e eu não consegui estar com todos. Com os meus erros e uma ou outra virtude sempre estarei cá para vós. Se me esqueci de mencionar alguém foi por puro descuido meu, perdoem-me!

Aquele abraço, até já!

Paz

Disse-me um amigo, muito recentemente, que eu sou uma pessoa que sabe – com a minha maneira própria – trabalhar para a minha própria paz. Tratando-se de alguém que me tem acompanhado de perto – fruto da amizade que nos une e que já nos fez percorrer caminhos agrestes, soalheiros e, acima de tudo, rendeu uma tremenda dose de experiência – tomei a frase como um elogio.

Ele ainda tentou desconcertar-me e, tipo ratoeira e num interrogatório (existem interrogatórios entre amigos ou, quando confiamos e contamos tudo são apenas conversas?) muito bem planeado, abordar temas de outrora e, pacificamente (!) arrancou-me uns sorrisos e, bem-dispostos, brindamos com um fino.

Conseguiu, esse amigo, afirmar que eu sempre soube imiscuir-me nos mais diversos meios e, ao mesmo tempo, manter salvaguardados os valores que mais me são queridos. Achei bastante bonita a forma como ele colocou a questão e acabamos a conversa comparando tais tempos a alguém que tem que usar o salto alto da Joana Vasconcelos e, ainda por cima, com uma pedra que, entretanto, se alojou entre o pé e o azeiteiro salto alto. A dor provocada pela pedra aliada ao fraco gosto de ter que usar aquele salto alto específico.

Agora que estou a poucos dias da partida, e salvo algum imprevisto de maior, vou levar no coração estas férias como das melhores que tive até hoje. Uma proximidade com as amizades que me dizem tudo, a habitual visita a todos os restantes familiares, o FCP a ser goleado no Dragão e ainda os inesquecíveis mergulhos com o meu rebento na Baía dos Porcos!

Vou partir de coração cheio e desejoso de repetir muitas mais vezes este mesmo cenário. Não sei se fui eu que mudei (também), não sei se tudo mudou ou se, muito provavelmente, tudo se manteve, mas uma certeza eu tenho: é bom ter poucos amigos com uma riqueza tão grande como os que tenho!

Não haverá Natal em “casa”, mas muito provavelmente teremos uma Páscoa muito especial – sobretudo para o mais novo membro da família. Por enquanto são desejos, mas assim que se tornem realidade, ouvir-me-ão sorrir porque quererei acordar todos e exclamar a plenos pulmões: voltei!!!!!!

Aquele abraço.

Dias de jogo

Fazes a direita apertada, entras no tabuleiro da obra construída pelo saudoso Eng. Egar Cardoso, vertes uma lágrima quando vês o estádio ao longe. Tentas recompor-te mas a “fome de bola” é superior e, quando chegas ao final da ponte, já há lágrimas derramadas por toda a face…

Não é fanatismo, é um amor por algo não palpável. Vais buscar o jovem de 13 anos e 11 dias e, juntos, caminham até ao centro de estágio.

Encontras a tua prima que, por sua vez, não encontra a chave de casa. Surge o teu primo. Pelo canto do olho continuas a deliciar-te com o resumo do CSKA.

Encomendas uma francesinha e um prego no prato e sorris quando os pratos chegam.

É dia de bola…até os comemos.

Aquele abraço.

Amigos…

Muitas vezes nos questionamos quem são os nossos amigos. Interrogamo-nos, num diálogo mudo, sobre o porquê da amizade que existe entre nós e outrem e, na maioria das vezes, damos por nós a sorrir de momentos muito bem passados e relembramos então o porquê de os apelidarmos de amigos.

Hoje tive a alegria de estar com um amigo de há muitos anos. A vida separou-nos algures por volta dos nossos 22 anos – quando eu tomei uma direcção e esse amigo optou por seguir outra via! Ele estava correcto e eu errado, mas nunca deixei de o apelidar de amigo, apesar da frieza com que fui então tratado.

Ele sempre se pautou por ser uma pessoa de uma serenidade acima da média e, recordo agora, tivemos muitas conversas sobre a decisão de outrora. Talvez fosse a minha maneira de enfrentar os tempos de então, mas, na altura, a decisão errada parecia-me a mais correcta. Ainda hoje ele me recordou – sem precisar de palavras – o quão errado eu estava e, quando o fez, eu sorri como que admitindo toda a minha culpa e desculpando-me por ter escolhido a via incorrecta.

Voltamos, por breves horas, a ter 15 anos. Estávamos os mesmos 3 de outrora e sorríamos como se os anos não tivessem passado…como os putos de outrora. Há muitas recompensas na vida – algumas pelas quais trabalhamos e outras que simplesmente nos são dadas – e esta, sem qualquer margem para dúvida, foi um retroceder até aos tempos da nossa virgindade e sabermos que, apesar de termos tomado direcções opostas num anterior momento da vida, agora nos encontramos no mesmo caminho.

É bom sorrir com um amigo. Muito bom! Agora imaginem com 2….

Aquele abraço.

Visitas…a todos os que amas!

O blog recebe aquela visita de França que teima em não voltar a Cork – será que algo ainda há para dizer? Para fazer? Para concretizar? Os dias de confraternização familiar continuam e os repastos alongam-se em tempo e amena cavaqueira.

Reservas um dia específico para os copos, outro para o almoço com os primos, ainda um para a praia – que grande tareia a que levaste do Atlântico…fazes o teu caminho habitual, respiras fundo, vês pessoas que não sabias ter saudades de ver – dos teus tempos de pretenso jogador de voleibol, sorris com as histórias, dissecas as vivências e rimos em conjunto do quanto caminhamos até termos chegado aqui.

Espinho é uma cidade em que podes fazer tudo a pé e só um parolo é que usa carro (salvo pessoas com necessidades especiais). É uma cidade em que a praia dista, no máximo, uns 10 minutos a pé – para o residente mais afastado. Analisas cada novidade, fazes o teu juízo de valor que interiorizas sem revelar e continuas, de cabeça sempre voltada à procura de novos detalhes – desde a última visita.

Andas trôpego com as palavras reveladas pelos professores do teu filho – em que todos o querem ter na equipa mesmo se houver necessidade de lutar por ele – todos gostam da sua atitude, da sua sabedoria e da sua inteligência. Ressalta nas palavras deles o seu sarcasmo – do qual sou Pai – e a sua inteligência na maneira como aborda as problemáticas de vários ângulos e com várias possibilidades.

Estás contente por estares na tua terra, puto. É só isso que interessa! Diverte-te.

Aquele abraço.

Com tanta calma…

Com toda a calma do mundo vais repondo o teu sono. Dás um beijo de agradecimento às persianas antes de adormeceres e agradeces o sono concedido ao acordar.

Tomas o teu café a 50 metros de casa e até arriscas dizer umas verdades à tua paixão do ciclo. Devia haver um tratamento para traquinas como eu…para podermos rejeitar o tratamento e, com um sorriso de verdade, sabermos abraçar aquelas pessoas que nos chamam amigo.

Estás com o teu filho, tens passeado e nadado bastante. As conversas têm sido longas e muito recompensadoras – estás a ouvir as idéias dele para o futuro – o que significa que ele está atento ao mundo e às suas necessidades.

Hoje chega a maninha e estás desejoso de lhe contar aquela traquinice que fizeste – como enganaste alguém com a verdade e escapaste…ela vai sorrir, dizer “Oh IKA…” e vamos ambos sorrir dessa paixão que nunca se concretizou ou deixou de o ser.

É assim que tu és…traquinas mas ficas sem jeito perante uma só pessoa. Desde tenra idade…

Ironias da vida…aquele abraço.

Cronometragem decrescente

Não é que estejas constantemente a verificar quanto tempo falta mas, na verdade, estás.

Não é que estejas constantemente a pensar naquele abraço á chegada mas, sendo realista, estás.

Não é que sonhes com a gastronomia do teu país mas, com franqueza, sonhas.

Divagas sobre aquele homicídio que a lei permite – o matar saudades – e sabes que, nesse capítulo, és como um soldado no campo de batalha! Saltitando de abraço em abraço até ao abraço final.

Recapitular abraços é tão reconfortante e enriquecedor quanto ver o  Casablanca pela enésima vez – sabes como termina, já tinhas outros planos mas abdicas de tudo, com o teu sorriso traquinas, e vês a obra-prima mais uma vez.

Até já. Aquele abraço.

Contagem

Contas horas, minutos, segundos! Tens um tic-tac mental que,  não sendo explosivo, é emocionante. Queres bater as asas e voar mas ainda tens 3 horas de autocarro até Dublin.

Anseias por sol e dizem-te que chove, anseias por praia e ouves dizer que o verão acabou…anseias por uma Super-Bock fresquinha e sabes que essa nunca te falhará.

Sonhas com tremoços, amendoins e o pôr-do-sol na tua praia.  Imaginas uns banhos de mangueira para remover o sal.

Vagas que te permitam mergulhar, a água estupidamente gelada, o ouvido sempre a ameaçar uma otite. Os membros paralisados com a temperatura e outros mirrados sob a sua influência.

Enfim, és um puto que adora sonhar…

Resumos

Aquela sexta-feira muito dificilmente sairá da tua lembrança – a piada da espontaneidade, o vinho, a cerveja mas – acima de tudo – a empatia.

Conseguires debater tudo o que querias, com quem querias e, sem que estivesses preparado, da maneira que querias.

Há experiências realmente valiosas nesta vida e essa noite será sempre um post-it de sobre como podemos ter tanto com tão pouco.

Há beijos que nos tiram a seriedade e outros que nos despertam sorrisos tão longos que deviam ser emoldurados. Numa moldura que nos relembrasse sempre quão bom foi pintar a  tela.

Aquele abraço.

Diferenças culturais

Quando comemoras 5 meses e 2 dias num país que não é o teu tens tendência para já ter armazenado as diferenças mais significativas entre os dois povos – o teu e o do país em que te encontras. Sem laivos de superioridade, ou inferioridade, sem pretensões sequer de fazer a comparação. Simples constatações!

É óbvio que, sempre que tomas o teu café da manhã, há sempre alguém por perto a beber uma pint. Óbvio porque os turnos de trabalho também implicam trabalho nocturno e, obviamente, esses profissionais fazem-no no final do expediente. Sim…é óbvio que nem todos se encaixam no perfil, mas não vamos ser picuinhas!

Viver na Irlanda deve assemelhar-se muito a viver nos Açores. Há muita chuva, a humidade é sempre elevada, mas as paisagens compensam todo o incómodo do “inverno constante”. Há algo de muito castiço neste povo que é o fazerem exactamente o mesmo que os países quentes fazem no Verão…vestirem roupas de Verão. Olho para as montras e largo mais um espirro, sorrindo quando vejo a decoração de uma qualquer praia com imenso sol. Eis que passa mais um local, vestido com os seus calções e a sua t-shirt e eu, refugiado no meu casaco apertado, pergunto se haverá um calor que eu desconheça – no exterior do meu casaco. Não há!

A verdade é que basta afastarmo-nos alguns quilómetros de uma grande cidade e imediatamente percebemos o porquê da Irlanda. Campos de um verde puro, que só a natureza pode dar, como se fossem roupas deixadas na chuva para realçar as cores. As vacas têm um ar mais robusto e, após horas a pastarem, simplesmente deitam-se no campo e dormem. Os milhões de estrelas que conseguimos observar, assim que a noite toma conta do céu, são dignas de registo. Um registo que faço mentalmente, num constante alimentar da vontade de conhecer a natureza, cada vez mais e cada vez melhor.

A cerveja é boa, as paisagens são divinais, as praias são do mais bonito que tenho conhecido, o povo é amistoso e muito acolhedor. Porque esperam? Venham daí enquanto é Verão! 😉

Aquele sábado

Após a limpeza da casa dirijo-me para o meu canto pacífico onde, ironicamente, há um casamento. Lentamente comendo o meu bife com cebola grelhada, a calma é interrompida pelos convidados que resolvem vir fumar para a esplanada.

Os empregados olham os noivos que chegam num clássico. Carro bonito e noivos de cara feliz, abraçando aqueles que os saúdam logo á entrada.

O gerente dá um ar da sua graça quando exclama, dirigindo-se às funcionárias, um sarcástico “até parece que nunca viram um casamento” mas o olhar das funcionárias está naquele momento, no que sentem as pessoas, na felicidade que paira no ar.

Uma lufada de ar fresco numa rotina de trabalho? Talvez. Um momento a observar? Sempre. A constatação da felicidade alheia é sempre um bom contributo para a nossa própria felicidade – um alhear daqueles sentimentos que são considerados pecados e uma empatia com os valores mais nobres da vida em sociedade.

Mais uma pint, um sorriso quando a convidada dá um nó de laço no vestido de maneira completamente oposta á que utilizarias. Uma constatação de que tudo na vida pode ser feito ao contrário da maneira como fazes e o resultado ser perfeito.

Retalhos de um sábado…

215… é o autocarro.

Os teus três dentes novos estão quase prontos, o autocarro chega pontualmente, ainda não tomaste o pequeno-almoço, tens aquele sorriso na cara…

O que se passa contigo miúdo? Questionas-te. Acho que nada de anormal…respondes a ti mesmo. Então porquê o sorriso traquinas? Deve ser o subconsciente a preparar alguma… é a única explicação que tens!

Depois de um dia de grande esforço, assustas a espanhola – quando te sentas ao lado dela no autocarro. Sorriem com a impertinência do vosso humilde narrador e, após uma breve troca de palavras, troco de lugar. Para vos escrever, é a minha justificação quando, na verdade, é para evitar que os restantes dentes sejam acusados de assédio! A ponderar seriamente se não seria melhor usar uma placa dentária que me protegesse destas situações….

Quase a chegar… até já! Aquele abraço.

Feriado

Quando chegas ao centro da cidade parece que chegaste a uma cidade abandonada – o trânsito é escasso, há uma pessoa que caminha á tua frente e que, de 20 em 20 metros olha para trás com receio de ser violada (?!). O teu raciocínio pré-café apenas te diz que – caso dependesse de vocês os dois – a raça humana extinguir-se-ia! Sorris, porque sabes o disparate que acabas de pensar, e o teu pensamento volta a estar focado no café…

O Néctar está fechado, o café italiano também. Continuas pela Oliver Plunkett e, finalmente, encontras o O’Brien’s aberto! Um suspiro de alívio, uma saudação do interior… ainda te conhecem! Apostas num cappuccino e num cheesecake com muito bom aspecto e esperas na esplanada.

Tens uma vista lateral da Oliver Plunkett, de frente para a farmácia e os primeiros madrugadores começam a circular. O facto de veres outros seres vivos e o café dão-te uma primeira lufada de vigor. Sorris ao ouvir a música que toca e és atirado para o passado – mesma música mas nos antípodas da Irlanda – e constatas que a tua sorte sempre foi o facto de nunca teres parado de sorrir – na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na paz e na guerra.

Sonhas com os teus dentes novos…e sabes que vais poder voltar ao teu sorriso bem aberto.

Trabalhas nos feriados locais e tens 29 dias úteis de férias. De que te queixas?

Aquele abraço.

Pausas

Quando tens aquela possibilidade de, durante o teu horário de trabalho, simplesmente parar. Aproveitar o sol, deitado na almofada gigante, vendo os corvos a passar – certamente a caminho de mais uma travessura – a responsável pela horta a mostrar-te as últimas colheitas, os carros que passam ao longe… muito saboroso!

Hoje é dia de despedida de alguém que tem um significado especial para ti. Durante dois meses vão estar afastados e, muito provavelmente, o reencontro será em Outubro. Aguardas serenamente e gozas este teu novo estado de espírito…a serenidade é o melhor dos confortos.

Toca o despertador e, perante o chilrear dos pássaros, percorres o caminho de volta ao teu posto de trabalho. Dias cansativos mas largamente recompensadores.

Vamos a isto! Aquele abraço.

Persistente

Após a formatação do smartphone, houve que aguardar que a instalação de todas as aplicações fosse novamente feita. O tempo não estica e, se escolhes passar o fim de semana fora de casa, sabes que esta é uma das consequências… espero que tenham tido muitas saudades e que voltem – prontos para devorar mais um relato da vida nesta ilha!

Foi um fim de semana dedicado a um misto de cozinha e lazer, em casa alheia, num trânsito constante entre o quarto e a cozinha. Com uma vista panorâmica da cidade de Cork e colinas que a rodeiam, dedicamo-nos á leitura, gastronomia, conversa e exercício.

No domingo tive a felicidade de conseguir a última dose de bacalhau com natas, no Rio Café, e voltei a Portugal durante o tempo que a refeição demorou a desaparecer. Diria mesmo que se evaporou!

De regresso ao trabalho e com os sentidos colocados na reunião de avaliação desta sexta-feira. Ou continuo ou aceito a vaga em Budapeste! A ver vamos!

Sempre a curtir o melhor que esta ilha tem…e é mesmo muita coisa!!!!

Aquele abraço.

Detalhes…

É nos pequenos detalhes que nascem as grandes obras… digo eu…😂 Ironicamente foi o alho que nos aproximou! Nenhum dos dois concebia uma refeição sem primeiro estar certo da existência de alho suficiente para levar a cabo a obra!

Viram juntos o pôr do sol, puseram a conversa em dia e a outra personagem, agora mais morena que loura, tinha muito para contar. Tentavam avançar capítulos, por entre beijos de saudade, e muitas vezes não conseguiam ir muito além da primeira letra do capítulo seguinte.

O encaixe era perfeito, ao nível da melhor engenharia, e pouco ficou por ser feito. Apesar do hálito ser maioritariamente de alho, nada os impediu de até se rirem –  aquando de um comentário de um transeunte que referiu sentir um odor a alho no ar de Cork…

Uma maneira muito imperfeita de não sair de casa! Na proporção directa do prazer obtido.

Aquele abraço.

Trabalho

Tenho a sorte de trabalhar com dois profetas: um é o profeta do “que se foda!” e o outro o profeta do “vamos apanhar ar!”.

Completamente distintos! Um nunca se penteou, gosta de umas boas cervejas, adora a família que tem e é dono de uma atitude que faz sorrir o morto. Dá sempre vontade de sorrir e copiar algumas partes. O outro é alguém que se cuida bastante, gosta do ar livre, arrasta-nos nessa paixão e permite-nos momentos de lazer enquanto trabalhamos.

Em grande parte eu devo a estes dois profetas muitos dos sorrisos dos últimos meses. Bem haja!

Homenagem lhes seja feita.

Mudanças

Acordado pelo ajuntamento de pássaros no jardim – seria uma manifestação? – eis-me a caminho no 215A (autocarro que utiliza os atalhos todos e chega mais cedo). Com aquela necessidade permanente de café, rodeado de duas belas cidadãs russas que trabalham comigo, pronto para um novo dia!

Sempre lento a despertar, sempre rápido após o ter feito, sempre desejoso de ter tudo arrumado, sempre incumpridor!

Sou um dos poucos que circula com um casaco, voltei a vestir verde e estou muito bem disposto. Não sei se já me posso chamar de Irlandês adoptado – falta o inverno para eu saber se resisto – mas tem sido – a nível pessoal – uma experiência muito enriquecedora.

Na Grécia tive 18 meses de cultura e passeio e aqui estou com 4 meses de passeio e sempre misturado com diferentes culturas. Ambas as experiências são enriquecedoras. O que falta? O tempo o ditará!

Aquele abraço.

Mania das grandezas…

Tens sede e apetece-te uma cerveja. Visitas o frigorífico e recuas, perante o tamanho das garrafas que te olham. São louras, estão a gotejar de frescura e tu recuas? Não te reconheço! São XL, com 50 cl de conteúdo…

Estará doente? Pergunta a voz diabólica. Não, é um rapaz consciente! Afirma a voz angelical.

Continuas de frigorífico aberto e já quase temes pela integridade delas. Apetece-te retirar os oito pecados do frio, colocá-las em fila e tirares uma selfie, enquanto as abraças!!!!

Também te passa pela cabeça a fotografia de grupo e tu a fazeres um coração, com os indicadores e os polegares… por favor, tudo menos isso!!!! O Kindle emite um som e tens outra paixão que chama por ti. Foste corajoso em ir espreitá-las, foi como um Pai que verifica como estão as crianças, antes de se deitar. ❤️

Vais sonhar com caricas a voar dos gargalos, gargalhadas desmedidas e tremoços… muitos tremoços! 😋

Elas andam a provocar… 😊 – 24/7/2017

Rio

Escolhes fazer uma caminhada, atravessar a cidade, procurar um lugar recatado que ainda não conheças, onde possas estar ao sol.

Recordas que te falaram de um café português, sobre o rio, com muito boa exposição solar e muito tranquilo. Como é dia de caminhada e tens que fazer algumas compras para casa o local escolhido tem que passar pelo centro. Escolhes o Rio café e descobres que te mentiram! Não há Super Bock!!!! Heresia.

Telefonas para o 21 e descobres que há 8 em stock com um preço promocional…€20! Fazes a reserva e tens agora 4 litros de cerveja reservados por €20! Uma boa maneira de teres algo para acompanhar o jantar…

Entendes agora perfeitamente o porquê do povo desta ilha ter um bronzeado “de camionista”. Ao teu lado tens duas mulheres a debater o quão libertina a vizinha se tornou, desde que se divorciou. Há um misto de horror e inveja nas palavras delas e sorris, na direcção oposta á da conversa. Foi com fenómenos destes que a vídeo-vigilância prosperou!

No rio continua um desportista, no seu kayak, dando voltas sobre si mesmo. Não parece que precise de ajuda e, passados uns minutos, já circula pelo rio a um ritmo de quem apenas se refrescou antes de continuar.

Ora tens sol, ora está encoberto. Vês os aviões a partir e a fazer a habitual curva á direita que os leva a passar por cima do teu apartamento. Questionas-te porque não farão uma curva á esquerda mas ninguém te responde.

Fumas mais um cigarro e dás graças por teres encontrado 8 Super Bock por €20! Prioridades…

Aquele abraço.

Sorriso diário

Rotineiramente segues para o café matinal, o multibanco continua avariado e já tens uns três cafés no livro de calotes (não, aqui não utilizam a porta do frigorífico), o dia promete máximas de 16 mas já tens maturidade suficiente para não acreditar em promessas.

O trânsito é caótico, junto á câmara municipal, segues cuidadosamente entre a fila de carros que tenta circular por onde não há espaço, és cumprimentado e saudado por desconhecidos que te incentivam a prosseguir a tua marcha pela frente dos carros que conduzem e chegas, exactamente três minutos depois de teres partido, á paragem do autocarro.

Relembras que tens que interpelar o jovem que te arranjou uns filmes para veres pois tens apanhado uns sustos valentes em cada um deles. Sorris e questionas-te: o que seria da vida sem um pouco de emoção?

A tua amizade mais próxima e mais querida tornou-se tia-avó! E, sabendo tu que tens quase a mesma idade, sorris de maneira traquinas enquanto pensas que ainda não chegou a tua hora de teres tal honra. Sorris, num misto de quem não sabe o que sentiria mas sempre solidário com quem tem a felicidade de sentir. Recordas o 3 de outubro de 1999, quando te tornaste tio e concluis que deve ser uma sensação de felicidade semelhante.

Hoje tens a festa mensal dos expatriados e já sabes que vais percorrer muitos edifícios históricos de Cork (nome de código para Pubs). Vais conhecer pessoas novas e diferentes e ouvir a sua história de vida. Como és sempre indiscreto, muito provavelmente abandonarás os que nada acrescentam para te juntares aos que mais te ensinam. Aquele dia de escutar os outros que tu tanto aprecias.

Aquele abraço.

Manhãs

Há alguma falta de hábito tua quando, mais uma vez, um estranho passa por ti e afirma que está uma bela manhã. Olhas á volta mas és o único a quem ele se dirige, sorris e concordas porque, de facto, está uma bela manhã – céu nublado, com algumas abertas de sol intenso e sem sinais de chuva.

Ainda estás ensonado, na tua esplanada dos dias de semana, a largar os últimos bocejos antes da curta caminhada até á paragem do autocarro. Tiras o casaco quando o sol aparece e vestes o casaco quando as nuvens o escondem, num ritual a que te habituaste desde a primeira semana.

Cravam-te um cigarro e respondes com o habitual “era o último”. O sarcástico Irlandês responde que, se tivesse um euro por cada vez que ouve essa frase, estaria rico…A EUR 10.50 por maço de tabaco não há outra resposta possível…

O 215 passa por ti, no sentido contrário do teu, o que significa que tens 15 minutos para uma caminhada de 3 minutos…pedes outro café e segues o teu caminho num passo tão lento que te sentes ultrapassado por caracóis, tartarugas e outros animais de reconhecida rapidez! Entretanto surge um corvo…

É quinta-feira, o mano festeja o seu aniversário e há que ligar-lhe! Aquele abraço.

 

Ambientes

Lembram-se dos 2 marretas, no balcão do teatro onde os restantes marretas actuavam? Eles eram grandes amigos, apesar do humor de ambos ser diametralmente oposto – uma espécie de dueto, em que um conta uma piada da qual se ri e o outro, na tentativa de superar a piada de que não se riu, tenta uma piada ainda mais decadente. Há inclusivé um episódio em que um deles pensa que o outro saltou do balcão…tal a intensidade da “piada”.

Transpondo para os dias de hoje: imaginemos 2 Irlandeses e um Americano que se sentam na mesma fila. E agora, imaginemos por momentos que eles se consideram pessoas detentoras de um humor superior – de um cariz tal que só mentes muito brilhantes poderão entender. Continuemos a imaginar e coloquemos o vosso humilde narrador na fila atrás desses personagens e que, após umas semanas a rir-se sozinho, resolve participar do humor sem sentido que é debatido na referida fila.

O humor corrosivo irlandês, complementado pelo humor que é causado pela constante correcção que o Americano faz da pronúncia do vosso humilde narrador, sem que humildemente reconheça que não passa de um produto de origem numa conquista Inglesa, mais tarde, descartada por ser longínqua demais para explorar.

São assim os dias que o vosso humilde narrador passa, enquanto trabalha, apreendendo os vícios e costumes de quem o rodeia e do que o rodeia. Atento a tudo, escolhendo o que mais aprofundar, envolvido na natureza singular deste país maravilhoso que é a Irlanda. Se precisarem de motivos para uma visita, deixo-vos uma dica muito importante: tragam guarda-chuva mas venham com a visão preparada para ser deslumbrada pela beleza que, constantemente, vos vai rodear: beleza humana, beleza natural, beleza sarcástica mas com um grande sentido de humor.

Habemus risum!

Rotinas

Há o taxista, sempre presente na esplanada do Murphy’s, de pint de Guiness pousada sobre o barril que faz o papel de uma mesa.

Há o sem abrigo, que desperta á mesma hora a que tu corres para o Néctar, para recolher o teu cappuccino matinal.

Há os motoristas dos autocarros locais que, em bando, se dirigem para o Murphy’s, para uma pint de final de turno.

Há a chuva, que alegremente constatas, não caiu com o vigor anunciado pelos avisos da protecção civil (muito rápidos a actuar por estas bandas).

Há sempre o desconhecido que te cumprimenta – como se fosses aquele membro da família á muito desaparecido.

Há uma série de pequenos detalhes que te recordam que não estás no teu país mas sorris – porque se não fossem pequenos detalhes a lembrarem-te, tu jamais irias notar.

Chove! E nós também sorrimos nesses dias. 🇮🇪

Perduram

Outrora apelidada como a autora da carta anónima, cuja origem nunca sequer me propus investigar – tal era a estupidez com que foi interpretada naquele momento por quem ma lia, aos berros, afirmando que eu afinal tinha “outra”. ☠️ Dois anos passaram nesse hipotético episódio.

Não sou pessoa de dizer “não me importo com o que os outros dizem” e agir de forma contrária ao que afirmo. Nunca fui e acho que já tenho maturidade suficiente para saber entreter-me com factos e não boatos. Imaginem que até sorrio: quando relembro momentos de dor, de ver a minha confiança a tentar ser quebrada – numa tentativa vã de me afastar daquele sorriso traquinas que tanto amo. 🤗

Gosto de estar a passar por esta vida sem criar muitas ondas – sobretudo que afectem outrém – mas, acima de tudo nutro um especial apreço pelo facto de simplesmente não dar importância a pessoas e “factos” que mais não são do que o bilhete de identidade de quem produz tais obras de arte…ao nível de uma Joana Vasconcelos. Ahahahah, escrevi Joana Vasconcelos e nível na mesma frase. 😂

Por vezes desabafo contigo estes hipotéticos cenários porque, lá está, “ouvi dizer” que faz bem e, nesse boato específico, eu acredito. 🤔

Aquele abraço.

Devaneio nocturno debaixo de uma monumental trovoada. 🇮🇪 🇵🇹

Segundas

Curiosa a forma como os Irlandeses celebram a aparição do sol. Os sorrisos abrem-se, o passo é mais vigoroso e seguro, a postura é perfeita e a sensação que um forasteiro tem é que algo muito bom está a acontecer…☀️☀️☀️🇮🇪🇮🇪🇮🇪

As segundas-feiras são dias muito pouco apreciados pelo mundo fora. A excepção é uma cidade, infelizmente sem gauleses irredutíveis, que celebra a sua feira semanal. Por entre trocas de material que foi testado e não serviu, apetrechos para a semana que começa e devaneios para um dia que pode nunca chegar, eis a massa popular reunida para a confraternização semanal. Talvez afinal a cidade esteja pejada de gauleses… quem sabe? ❤️🇵🇹

Confesso que habitualmente fujo na direcção oposta á do evento… não só na segunda-feira mas também nos restantes dias e só me aventuro por terrenos acima da rua 20 quando convidado para confraternizar com uma família que me é muito próxima! 😉

O texto refere-se ao dia de ontem. Hoje está nublado, já caíram umas pingas mas o vosso humilde narrador continua de sorriso maroto e bem aberto. A magia anda no ar….😂

Silêncio

O silêncio pode ser um problema ruidoso. Quanto mais tempo temos de silêncio mais precisamos de ruído! Que mais não seja para exercitar a audição! 🤔

Poderá soar a contradição mas a ausência de som não é um elemento natural dos dias de hoje. Talvez no campo, em casas separadas por muitos quilómetros, tal seja possível de observar mas haverá sempre um elemento da natureza a “manchar” essa ausência de ruído. E, é nesse elemento que nos devemos concentrar pois é a sua presença benéfica que nos permite divagar sobre as virtudes da nossa audição – excepto se for um mosquito! Um mosquito está, na escala de audição humana, para o humano como o bombardeamento de Dresden esteve para os Alemães – ouvimos o ruído mas destrói-nos a paz! 😂

Não sei se é coincidência mas o silêncio permitiu-me ouvir ruídos dos quais me mantinha afastado e, mercê da alegria de voltar a ouvir, talvez aprecie mais esta nova fonte de ruidosa inspiração. Também não sei se é mais recompensador ouvir um ruído antigo ou debruçar-me sobre um ruído novo – explorando as suas virtudes e os seus defeitos para, juntos, aprendermos a ouvir melhor. 😊

Vou, silenciosamente, estudar este ruidoso problema. Se não me ouvirem é porque estou a estudar e, enquanto amigos, vocês irão – ruidosamente – sorrir… porque me conhecem e sabem que nem o silêncio é de ouro nem o ruído é algo a menosprezar. 😉

Aquele abraço.

Coisas com piada…

Aquele momento em que o telefonema do Tesco chega, a anunciar que pretende fazer a entrega às 21 horas em ponto, e tu estás a 30 minutos de distância de casa e ainda estás a trabalhar…

Educadamente pedes á pessoa mais serena que tens perto de ti que atenda a chamada e, após uma breve troca de palavras, temes pela entrega da tua encomenda…

Dás uma gargalhada para dentro, quando o sereno colega de trabalho termina a chamada e exclama: estava a ver que me chateava com o gajo do Tesco… e nem era nada comigo!!!

Do lado de lá da linha, o cliente do centro do país continua a mostrar-te as virtudes de ter um servidor de DNS próprio e tu, entusiasmado com a conversa, queres saber todos os detalhes!

Entretanto, e já após teres terminado o teu trabalho, liga-te o gajo do Tesco – com uma voz de quem pede muito por favor – e a entrega fica combinada para as 21:45…

A viver perigosamente em Cork…😂

Luminosidade

Hoje tomei nota dos factos: o dia começou a clarear às 5 da manhã, a mesma luz que só nos abandona por volta das 22… temos 7 horas de sono natural, sem luz.

Adoro persianas! Cada vez mais sinto saudades terríveis desse instrumento que evita que a luz solar prejudique o nosso sono. Este sistema de cortinas definitivamente não é para olhos sensíveis que despertam ao primeiro sinal de luz. Vou trabalhar numa solução pois todos os sonhos andam á volta desse tema…

Mais um dia, mais uma amizade. Segundo um amigo comum, ela é “esquisita” mas, depois de debatermos o que o “esquisito” significa chegamos á conclusão que todos são esquisitos perante nós e vice-versa – o segredo passa pelo apetite de conhecer pessoas diferentes ou andar sempre embarcado num cruzeiro de iguais: sem debate, seguindo o líder, sem racionalidade… não é para mim!

Debatam-se sempre as diferentes maneiras de ser (e de viver, para seguir a letra da música) para, pelo menos, termos conhecimento do porquê de as tratarmos como diferentes. Pelo menos… assim evitamos deduções de terceiros e fazemos o nosso próprio julgamento de carácter – a nossa própria noção de quem é o outro! De alguma forma acho que é o que tem faltado a um mundo preguiçoso – mais ávido por seguir do que ter opinião própria.

Apeteceu-me escrever isto…

Aquele abraço.

Chuvinha de …..

Estou em cima do motorista do autocarro! Não no sentido carnal da coisa mas apenas no andar de cima do double decker.

Chove, o que não é novidade nenhuma, e recordo os melhores momentos que vivi á chuva com o topo da lista ocupado por São Tomé e Príncipe, no Blue Marlin Resort, ouvindo o Toto, ao longe, com o “i guess it rains down in Africa”.

Já tenho saudades do sol mas hoje o sofrimento surgiu de receber um vídeo dos Foo Fighters, em pleno teatro Odéon, a darem um concerto maravilhoso. Perdi a Aída, devido ao controle de capitais, e agora Foo Fighters porque simplesmente já não vivo lá.

A vida continua e nem sempre os horários coincidem. Vou aproveitando o tic-tac dela para ir curtindo os melhores momentos. Sou um democrata: por vezes ganho e por vezes perco mas, acima de tudo, há um sorriso traquinas que permanece e isso… não tem preço!

Aquele abraço.

 

Natureza

Os domingos têm a fama de serem um dia muito calmo, passado na tranquilidade da família, com um bom convívio e uma amena cavaqueira.

Não foi o caso específico deste domingo. Depois das celebrações de ontem, foi com grande esforço que subi a Saint Patrick’s Hill e cheguei ao parque, com uma semana de atraso, que tão bem me haviam descrito.

Foi a primeira vez que saí de casa de manga curta, desci para um almoço que conseguisse providenciar energia suficiente para a subida e, logo após a refeição, comecei a escalada das inúmeras escadas que conduzem a um dos topos de Cork.

Fiz exactamente o mesmo que os Irlandeses: deitei-me na relva a ler enquanto o sol tratava do meu bronzeado de camionista. Não dei pelo tempo a passar, somente via os capítulos a subirem de número, e relaxei num sítio que realmente é no centro da cidade mas longe do ruído por ela produzido.

Aos poucos vou descobrindo quem és e constatando que temos muitos gostos em comum – o salmão, os copos, a mesma maneira de gostar de apreciar a natureza. Tenho saudades tuas mas sei que estás a fazer algo que aprecias pelo que me resta aguardar pelo teu regresso.

A Irlanda tem realmente muita qualidade de vida e a minha missão é descobrir, com a ajuda dos locais, os sítios escondidos com mais qualidade para serem apreciados. Trata-se de apreender informação, com muita pesquisa, enquanto me vou mexendo nesta ilha.

Aquele abraço.

As manhãs

Acordas com o ruído dos vizinhos a sair de casa, espreguiças o corpo ao som da passarada (anda pela vizinhança um novo som e, mais tarde, irás averiguar de que nova ave se trata).

Abres os olhos com a ajuda dos dedos, numa espécie de espreguiçar ocular, arrastas o corpo até á cozinha e tens a primeira imagem erótica do dia – a máquina de café está lavada e pronta a ser usada.

Colocas água até á medida, café até ao cimo, limpas toda a área circundante do reservatório de café e atarrachas a parte superior. Salivas por antecipação, colocas os corn flakes no prato e acrescentas uma dose generosa do maravilhoso leite fresco irlandês.

Comes ao ritmo de quem ainda não tomou café, terminas no momento em que a máquina de café começa a emitir o ruído típico de quem está pronta e sentes uma alegria tua pelo ritmo perfeito da tua “orquestra” matinal.

Tomas o chuveiro já mais desperto e cobres o corpo com alguma roupa que tiras do armário. Desces à cidade e relaxas enquanto bebes o teu cappuccino. Questionas-te se devias ter ficado um pouco mais na cama mas, enquanto dono do teu tempo, fazes uma gestão atempada de tudo…

Aquele abraço.

Vida no campo

É quando vives num país como a Irlanda que o teu sentimento de querer estar em contacto com a natureza mais se revela.

Recordas São Tomé e Príncipe, onde para chegares a uma roça tinhas que sair do 4×4 e, munido de uma catana como os locais, abrias caminho por entre a verdura que, em escassas horas, estaria exactamente igual.

Recordas Moçambique e o facto de não poderes ter ido para Villanculos de avião – alguém havia plantado uma horta no meio da pista de aterragem.

Recordas imensos paraísos africanos, onde nada é artificial, e começas a ter a certeza de que esse é talvez o continente mais próximo do que consideras ser o teu conceito de beleza.

Continuas a tua viagem no autocarro e contemplas os cenários verdes que a Irlanda te dá. Sonhas acordado com a força de quem quer executar e sabes que estás mais perto de concretizar esse sonho.

Divagações reais ou sonhadas mas, sobretudo, matinais.

Aquela pergunta…

Não gosto quando me fazem aquela pergunta! Muito embora para alguns seja de fácil resposta eu não dou respostas fáceis e raramente não tento expandir para lá da pergunta feita. Seja: tenho um feitio complexo e talvez por isso nunca tenha dado apenas uma resposta mas sim iniciado, quase sempre, um debate à volta da questão. Ora, afinal és um chato, dirão alguns…Não, não me considero chato (eu sei que sou suspeito ao afirmar isto) mas talvez apenas estejamos todos mergulhados num marasmo de respostas simples (Sim ou Não) e voltemos para o conforto do ecrãs do nosso smartphone, tablet, portátil ou computador…sem que o emissor mereça a consideração de uma resposta, de um pouco do nosso tempo…Emissor esse que até é, inúmeras vezes, aquele que mais procuramos no referido ecrã!

O tempo é-nos concedido mal nascemos – qual cronómetro regressivo que nunca sabemos quando chegará ao zero final – a pancada nas costas e o choro marcam o início da vida. Considero-o a maior dádiva que temos neste mundo e tento equilibrar as cedências que faço do meu tempo com pessoas que me ajudam a sorrir, a melhorar, a conhecer, etc…Em resumo: a fazer de mim alguém mais capaz perante mim, acima de tudo, e perante a sociedade. Pessoas que, respeitando o seu tempo da mesma maneira, escolhem despender comigo uma parte da dádiva que a elas lhes coube. Já me senti imensamente alegre e realizado com algumas pessoas e completamente destroçado e destruído com outras – mas esse é um processo de aprendizagem pelo qual, por vezes, temos que passar mais do que uma vez.

Não acredito em positivismo ou negativismo, não acredito em fugir de pessoas tristes com a vida para ir de encontro às alegres com ela. Acredito, acima de tudo, que cada um de nós tem força suficiente para tudo! Num mundo subjugado pelo dinheiro eu acredito na amizade sem interesse e enoja-me – sem que perca muito tempo com isso – o mundo de valores em que o rico é considerado intelectual e o “pobre” um infeliz e pessoa negativa. Sempre vi um melhor raciocínio no “pobre” que luta face ao rico que herdou o título de intelectual. Gosto de pessoas que lutam pelo intelecto que possuem face a pessoas que se aproveitam apenas de falhas do sistema.

Tenho fé – numa altura em cada vez mais a fé é contestada; de cada vez que é diferente daquela em que acreditamos – eu tenho fé em mim próprio e naqueles e naquelas que escolho para me rodearem. Acredito em mim e lutarei sempre por mim – nos momentos bons farei sorrir os outros e partilharei o segredo do meu sorriso e nos momentos maus não os farei chorar mas explicar-lhes-ei o porquê das lágrimas.

Não sou narcisista, mas tenho o meu orgulho e auto-estima. Evito perder tempo – mas estou longe de ser perfeito nesse capitulo – com trivialidades que inevitavelmente me encaminham para tormentas. Mas, sou de um país de descobridores, e as tormentas fazem parte da descoberta da boa esperança que todos desejamos e passamos a vida a procurar – incessantemente – e essa procura é a mais bela odisséia de todo o ser humano.

Por duas vezes na vida me perguntaram: gostas de viver nesta cidade? E eu, sem sequer recordar as duas cidades em que estava, respondi sempre: Adoro! Porquê? Porque o sítio é irrelevante quando se está com quem se ama. Talvez não devesse expandir para lá da pergunta feita…

Aquele abraço.

Henrique Milheiro da Costa Correia de Matos