Rio

Escolhes fazer uma caminhada, atravessar a cidade, procurar um lugar recatado que ainda não conheças, onde possas estar ao sol.

Recordas que te falaram de um café português, sobre o rio, com muito boa exposição solar e muito tranquilo. Como é dia de caminhada e tens que fazer algumas compras para casa o local escolhido tem que passar pelo centro. Escolhes o Rio café e descobres que te mentiram! Não há Super Bock!!!! Heresia.

Telefonas para o 21 e descobres que há 8 em stock com um preço promocional…€20! Fazes a reserva e tens agora 4 litros de cerveja reservados por €20! Uma boa maneira de teres algo para acompanhar o jantar…

Entendes agora perfeitamente o porquê do povo desta ilha ter um bronzeado “de camionista”. Ao teu lado tens duas mulheres a debater o quão libertina a vizinha se tornou, desde que se divorciou. Há um misto de horror e inveja nas palavras delas e sorris, na direcção oposta á da conversa. Foi com fenómenos destes que a vídeo-vigilância prosperou!

No rio continua um desportista, no seu kayak, dando voltas sobre si mesmo. Não parece que precise de ajuda e, passados uns minutos, já circula pelo rio a um ritmo de quem apenas se refrescou antes de continuar.

Ora tens sol, ora está encoberto. Vês os aviões a partir e a fazer a habitual curva á direita que os leva a passar por cima do teu apartamento. Questionas-te porque não farão uma curva á esquerda mas ninguém te responde.

Fumas mais um cigarro e dás graças por teres encontrado 8 Super Bock por €20! Prioridades…

Aquele abraço.

Sorriso diário

Rotineiramente segues para o café matinal, o multibanco continua avariado e já tens uns três cafés no livro de calotes (não, aqui não utilizam a porta do frigorífico), o dia promete máximas de 16 mas já tens maturidade suficiente para não acreditar em promessas.

O trânsito é caótico, junto á câmara municipal, segues cuidadosamente entre a fila de carros que tenta circular por onde não há espaço, és cumprimentado e saudado por desconhecidos que te incentivam a prosseguir a tua marcha pela frente dos carros que conduzem e chegas, exactamente três minutos depois de teres partido, á paragem do autocarro.

Relembras que tens que interpelar o jovem que te arranjou uns filmes para veres pois tens apanhado uns sustos valentes em cada um deles. Sorris e questionas-te: o que seria da vida sem um pouco de emoção?

A tua amizade mais próxima e mais querida tornou-se tia-avó! E, sabendo tu que tens quase a mesma idade, sorris de maneira traquinas enquanto pensas que ainda não chegou a tua hora de teres tal honra. Sorris, num misto de quem não sabe o que sentiria mas sempre solidário com quem tem a felicidade de sentir. Recordas o 3 de outubro de 1999, quando te tornaste tio e concluis que deve ser uma sensação de felicidade semelhante.

Hoje tens a festa mensal dos expatriados e já sabes que vais percorrer muitos edifícios históricos de Cork (nome de código para Pubs). Vais conhecer pessoas novas e diferentes e ouvir a sua história de vida. Como és sempre indiscreto, muito provavelmente abandonarás os que nada acrescentam para te juntares aos que mais te ensinam. Aquele dia de escutar os outros que tu tanto aprecias.

Aquele abraço.

Manhãs

Há alguma falta de hábito tua quando, mais uma vez, um estranho passa por ti e afirma que está uma bela manhã. Olhas á volta mas és o único a quem ele se dirige, sorris e concordas porque, de facto, está uma bela manhã – céu nublado, com algumas abertas de sol intenso e sem sinais de chuva.

Ainda estás ensonado, na tua esplanada dos dias de semana, a largar os últimos bocejos antes da curta caminhada até á paragem do autocarro. Tiras o casaco quando o sol aparece e vestes o casaco quando as nuvens o escondem, num ritual a que te habituaste desde a primeira semana.

Cravam-te um cigarro e respondes com o habitual “era o último”. O sarcástico Irlandês responde que, se tivesse um euro por cada vez que ouve essa frase, estaria rico…A EUR 10.50 por maço de tabaco não há outra resposta possível…

O 215 passa por ti, no sentido contrário do teu, o que significa que tens 15 minutos para uma caminhada de 3 minutos…pedes outro café e segues o teu caminho num passo tão lento que te sentes ultrapassado por caracóis, tartarugas e outros animais de reconhecida rapidez! Entretanto surge um corvo…

É quinta-feira, o mano festeja o seu aniversário e há que ligar-lhe! Aquele abraço.

 

Ambientes

Lembram-se dos 2 marretas, no balcão do teatro onde os restantes marretas actuavam? Eles eram grandes amigos, apesar do humor de ambos ser diametralmente oposto – uma espécie de dueto, em que um conta uma piada da qual se ri e o outro, na tentativa de superar a piada de que não se riu, tenta uma piada ainda mais decadente. Há inclusivé um episódio em que um deles pensa que o outro saltou do balcão…tal a intensidade da “piada”.

Transpondo para os dias de hoje: imaginemos 2 Irlandeses e um Americano que se sentam na mesma fila. E agora, imaginemos por momentos que eles se consideram pessoas detentoras de um humor superior – de um cariz tal que só mentes muito brilhantes poderão entender. Continuemos a imaginar e coloquemos o vosso humilde narrador na fila atrás desses personagens e que, após umas semanas a rir-se sozinho, resolve participar do humor sem sentido que é debatido na referida fila.

O humor corrosivo irlandês, complementado pelo humor que é causado pela constante correcção que o Americano faz da pronúncia do vosso humilde narrador, sem que humildemente reconheça que não passa de um produto de origem numa conquista Inglesa, mais tarde, descartada por ser longínqua demais para explorar.

São assim os dias que o vosso humilde narrador passa, enquanto trabalha, apreendendo os vícios e costumes de quem o rodeia e do que o rodeia. Atento a tudo, escolhendo o que mais aprofundar, envolvido na natureza singular deste país maravilhoso que é a Irlanda. Se precisarem de motivos para uma visita, deixo-vos uma dica muito importante: tragam guarda-chuva mas venham com a visão preparada para ser deslumbrada pela beleza que, constantemente, vos vai rodear: beleza humana, beleza natural, beleza sarcástica mas com um grande sentido de humor.

Habemus risum!

Rotinas

Há o taxista, sempre presente na esplanada do Murphy’s, de pint de Guiness pousada sobre o barril que faz o papel de uma mesa.

Há o sem abrigo, que desperta á mesma hora a que tu corres para o Néctar, para recolher o teu cappuccino matinal.

Há os motoristas dos autocarros locais que, em bando, se dirigem para o Murphy’s, para uma pint de final de turno.

Há a chuva, que alegremente constatas, não caiu com o vigor anunciado pelos avisos da protecção civil (muito rápidos a actuar por estas bandas).

Há sempre o desconhecido que te cumprimenta – como se fosses aquele membro da família á muito desaparecido.

Há uma série de pequenos detalhes que te recordam que não estás no teu país mas sorris – porque se não fossem pequenos detalhes a lembrarem-te, tu jamais irias notar.

Chove! E nós também sorrimos nesses dias. 🇮🇪

Perduram

Outrora apelidada como a autora da carta anónima, cuja origem nunca sequer me propus investigar – tal era a estupidez com que foi interpretada naquele momento por quem ma lia, aos berros, afirmando que eu afinal tinha “outra”. ☠️ Dois anos passaram nesse hipotético episódio.

Não sou pessoa de dizer “não me importo com o que os outros dizem” e agir de forma contrária ao que afirmo. Nunca fui e acho que já tenho maturidade suficiente para saber entreter-me com factos e não boatos. Imaginem que até sorrio: quando relembro momentos de dor, de ver a minha confiança a tentar ser quebrada – numa tentativa vã de me afastar daquele sorriso traquinas que tanto amo. 🤗

Gosto de estar a passar por esta vida sem criar muitas ondas – sobretudo que afectem outrém – mas, acima de tudo nutro um especial apreço pelo facto de simplesmente não dar importância a pessoas e “factos” que mais não são do que o bilhete de identidade de quem produz tais obras de arte…ao nível de uma Joana Vasconcelos. Ahahahah, escrevi Joana Vasconcelos e nível na mesma frase. 😂

Por vezes desabafo contigo estes hipotéticos cenários porque, lá está, “ouvi dizer” que faz bem e, nesse boato específico, eu acredito. 🤔

Aquele abraço.

Devaneio nocturno debaixo de uma monumental trovoada. 🇮🇪 🇵🇹

Segundas

Curiosa a forma como os Irlandeses celebram a aparição do sol. Os sorrisos abrem-se, o passo é mais vigoroso e seguro, a postura é perfeita e a sensação que um forasteiro tem é que algo muito bom está a acontecer…☀️☀️☀️🇮🇪🇮🇪🇮🇪

As segundas-feiras são dias muito pouco apreciados pelo mundo fora. A excepção é uma cidade, infelizmente sem gauleses irredutíveis, que celebra a sua feira semanal. Por entre trocas de material que foi testado e não serviu, apetrechos para a semana que começa e devaneios para um dia que pode nunca chegar, eis a massa popular reunida para a confraternização semanal. Talvez afinal a cidade esteja pejada de gauleses… quem sabe? ❤️🇵🇹

Confesso que habitualmente fujo na direcção oposta á do evento… não só na segunda-feira mas também nos restantes dias e só me aventuro por terrenos acima da rua 20 quando convidado para confraternizar com uma família que me é muito próxima! 😉

O texto refere-se ao dia de ontem. Hoje está nublado, já caíram umas pingas mas o vosso humilde narrador continua de sorriso maroto e bem aberto. A magia anda no ar….😂

Silêncio

O silêncio pode ser um problema ruidoso. Quanto mais tempo temos de silêncio mais precisamos de ruído! Que mais não seja para exercitar a audição! 🤔

Poderá soar a contradição mas a ausência de som não é um elemento natural dos dias de hoje. Talvez no campo, em casas separadas por muitos quilómetros, tal seja possível de observar mas haverá sempre um elemento da natureza a “manchar” essa ausência de ruído. E, é nesse elemento que nos devemos concentrar pois é a sua presença benéfica que nos permite divagar sobre as virtudes da nossa audição – excepto se for um mosquito! Um mosquito está, na escala de audição humana, para o humano como o bombardeamento de Dresden esteve para os Alemães – ouvimos o ruído mas destrói-nos a paz! 😂

Não sei se é coincidência mas o silêncio permitiu-me ouvir ruídos dos quais me mantinha afastado e, mercê da alegria de voltar a ouvir, talvez aprecie mais esta nova fonte de ruidosa inspiração. Também não sei se é mais recompensador ouvir um ruído antigo ou debruçar-me sobre um ruído novo – explorando as suas virtudes e os seus defeitos para, juntos, aprendermos a ouvir melhor. 😊

Vou, silenciosamente, estudar este ruidoso problema. Se não me ouvirem é porque estou a estudar e, enquanto amigos, vocês irão – ruidosamente – sorrir… porque me conhecem e sabem que nem o silêncio é de ouro nem o ruído é algo a menosprezar. 😉

Aquele abraço.

Coisas com piada…

Aquele momento em que o telefonema do Tesco chega, a anunciar que pretende fazer a entrega às 21 horas em ponto, e tu estás a 30 minutos de distância de casa e ainda estás a trabalhar…

Educadamente pedes á pessoa mais serena que tens perto de ti que atenda a chamada e, após uma breve troca de palavras, temes pela entrega da tua encomenda…

Dás uma gargalhada para dentro, quando o sereno colega de trabalho termina a chamada e exclama: estava a ver que me chateava com o gajo do Tesco… e nem era nada comigo!!!

Do lado de lá da linha, o cliente do centro do país continua a mostrar-te as virtudes de ter um servidor de DNS próprio e tu, entusiasmado com a conversa, queres saber todos os detalhes!

Entretanto, e já após teres terminado o teu trabalho, liga-te o gajo do Tesco – com uma voz de quem pede muito por favor – e a entrega fica combinada para as 21:45…

A viver perigosamente em Cork…😂

Luminosidade

Hoje tomei nota dos factos: o dia começou a clarear às 5 da manhã, a mesma luz que só nos abandona por volta das 22… temos 7 horas de sono natural, sem luz.

Adoro persianas! Cada vez mais sinto saudades terríveis desse instrumento que evita que a luz solar prejudique o nosso sono. Este sistema de cortinas definitivamente não é para olhos sensíveis que despertam ao primeiro sinal de luz. Vou trabalhar numa solução pois todos os sonhos andam á volta desse tema…

Mais um dia, mais uma amizade. Segundo um amigo comum, ela é “esquisita” mas, depois de debatermos o que o “esquisito” significa chegamos á conclusão que todos são esquisitos perante nós e vice-versa – o segredo passa pelo apetite de conhecer pessoas diferentes ou andar sempre embarcado num cruzeiro de iguais: sem debate, seguindo o líder, sem racionalidade… não é para mim!

Debatam-se sempre as diferentes maneiras de ser (e de viver, para seguir a letra da música) para, pelo menos, termos conhecimento do porquê de as tratarmos como diferentes. Pelo menos… assim evitamos deduções de terceiros e fazemos o nosso próprio julgamento de carácter – a nossa própria noção de quem é o outro! De alguma forma acho que é o que tem faltado a um mundo preguiçoso – mais ávido por seguir do que ter opinião própria.

Apeteceu-me escrever isto…

Aquele abraço.

Chuvinha de …..

Estou em cima do motorista do autocarro! Não no sentido carnal da coisa mas apenas no andar de cima do double decker.

Chove, o que não é novidade nenhuma, e recordo os melhores momentos que vivi á chuva com o topo da lista ocupado por São Tomé e Príncipe, no Blue Marlin Resort, ouvindo o Toto, ao longe, com o “i guess it rains down in Africa”.

Já tenho saudades do sol mas hoje o sofrimento surgiu de receber um vídeo dos Foo Fighters, em pleno teatro Odéon, a darem um concerto maravilhoso. Perdi a Aída, devido ao controle de capitais, e agora Foo Fighters porque simplesmente já não vivo lá.

A vida continua e nem sempre os horários coincidem. Vou aproveitando o tic-tac dela para ir curtindo os melhores momentos. Sou um democrata: por vezes ganho e por vezes perco mas, acima de tudo, há um sorriso traquinas que permanece e isso… não tem preço!

Aquele abraço.

 

Natureza

Os domingos têm a fama de serem um dia muito calmo, passado na tranquilidade da família, com um bom convívio e uma amena cavaqueira.

Não foi o caso específico deste domingo. Depois das celebrações de ontem, foi com grande esforço que subi a Saint Patrick’s Hill e cheguei ao parque, com uma semana de atraso, que tão bem me haviam descrito.

Foi a primeira vez que saí de casa de manga curta, desci para um almoço que conseguisse providenciar energia suficiente para a subida e, logo após a refeição, comecei a escalada das inúmeras escadas que conduzem a um dos topos de Cork.

Fiz exactamente o mesmo que os Irlandeses: deitei-me na relva a ler enquanto o sol tratava do meu bronzeado de camionista. Não dei pelo tempo a passar, somente via os capítulos a subirem de número, e relaxei num sítio que realmente é no centro da cidade mas longe do ruído por ela produzido.

Aos poucos vou descobrindo quem és e constatando que temos muitos gostos em comum – o salmão, os copos, a mesma maneira de gostar de apreciar a natureza. Tenho saudades tuas mas sei que estás a fazer algo que aprecias pelo que me resta aguardar pelo teu regresso.

A Irlanda tem realmente muita qualidade de vida e a minha missão é descobrir, com a ajuda dos locais, os sítios escondidos com mais qualidade para serem apreciados. Trata-se de apreender informação, com muita pesquisa, enquanto me vou mexendo nesta ilha.

Aquele abraço.

As manhãs

Acordas com o ruído dos vizinhos a sair de casa, espreguiças o corpo ao som da passarada (anda pela vizinhança um novo som e, mais tarde, irás averiguar de que nova ave se trata).

Abres os olhos com a ajuda dos dedos, numa espécie de espreguiçar ocular, arrastas o corpo até á cozinha e tens a primeira imagem erótica do dia – a máquina de café está lavada e pronta a ser usada.

Colocas água até á medida, café até ao cimo, limpas toda a área circundante do reservatório de café e atarrachas a parte superior. Salivas por antecipação, colocas os corn flakes no prato e acrescentas uma dose generosa do maravilhoso leite fresco irlandês.

Comes ao ritmo de quem ainda não tomou café, terminas no momento em que a máquina de café começa a emitir o ruído típico de quem está pronta e sentes uma alegria tua pelo ritmo perfeito da tua “orquestra” matinal.

Tomas o chuveiro já mais desperto e cobres o corpo com alguma roupa que tiras do armário. Desces à cidade e relaxas enquanto bebes o teu cappuccino. Questionas-te se devias ter ficado um pouco mais na cama mas, enquanto dono do teu tempo, fazes uma gestão atempada de tudo…

Aquele abraço.

Vida no campo

É quando vives num país como a Irlanda que o teu sentimento de querer estar em contacto com a natureza mais se revela.

Recordas São Tomé e Príncipe, onde para chegares a uma roça tinhas que sair do 4×4 e, munido de uma catana como os locais, abrias caminho por entre a verdura que, em escassas horas, estaria exactamente igual.

Recordas Moçambique e o facto de não poderes ter ido para Villanculos de avião – alguém havia plantado uma horta no meio da pista de aterragem.

Recordas imensos paraísos africanos, onde nada é artificial, e começas a ter a certeza de que esse é talvez o continente mais próximo do que consideras ser o teu conceito de beleza.

Continuas a tua viagem no autocarro e contemplas os cenários verdes que a Irlanda te dá. Sonhas acordado com a força de quem quer executar e sabes que estás mais perto de concretizar esse sonho.

Divagações reais ou sonhadas mas, sobretudo, matinais.

Aquela pergunta…

Não gosto quando me fazem aquela pergunta! Muito embora para alguns seja de fácil resposta eu não dou respostas fáceis e raramente não tento expandir para lá da pergunta feita. Seja: tenho um feitio complexo e talvez por isso nunca tenha dado apenas uma resposta mas sim iniciado, quase sempre, um debate à volta da questão. Ora, afinal és um chato, dirão alguns…Não, não me considero chato (eu sei que sou suspeito ao afirmar isto) mas talvez apenas estejamos todos mergulhados num marasmo de respostas simples (Sim ou Não) e voltemos para o conforto do ecrãs do nosso smartphone, tablet, portátil ou computador…sem que o emissor mereça a consideração de uma resposta, de um pouco do nosso tempo…Emissor esse que até é, inúmeras vezes, aquele que mais procuramos no referido ecrã!

O tempo é-nos concedido mal nascemos – qual cronómetro regressivo que nunca sabemos quando chegará ao zero final – a pancada nas costas e o choro marcam o início da vida. Considero-o a maior dádiva que temos neste mundo e tento equilibrar as cedências que faço do meu tempo com pessoas que me ajudam a sorrir, a melhorar, a conhecer, etc…Em resumo: a fazer de mim alguém mais capaz perante mim, acima de tudo, e perante a sociedade. Pessoas que, respeitando o seu tempo da mesma maneira, escolhem despender comigo uma parte da dádiva que a elas lhes coube. Já me senti imensamente alegre e realizado com algumas pessoas e completamente destroçado e destruído com outras – mas esse é um processo de aprendizagem pelo qual, por vezes, temos que passar mais do que uma vez.

Não acredito em positivismo ou negativismo, não acredito em fugir de pessoas tristes com a vida para ir de encontro às alegres com ela. Acredito, acima de tudo, que cada um de nós tem força suficiente para tudo! Num mundo subjugado pelo dinheiro eu acredito na amizade sem interesse e enoja-me – sem que perca muito tempo com isso – o mundo de valores em que o rico é considerado intelectual e o “pobre” um infeliz e pessoa negativa. Sempre vi um melhor raciocínio no “pobre” que luta face ao rico que herdou o título de intelectual. Gosto de pessoas que lutam pelo intelecto que possuem face a pessoas que se aproveitam apenas de falhas do sistema.

Tenho fé – numa altura em cada vez mais a fé é contestada; de cada vez que é diferente daquela em que acreditamos – eu tenho fé em mim próprio e naqueles e naquelas que escolho para me rodearem. Acredito em mim e lutarei sempre por mim – nos momentos bons farei sorrir os outros e partilharei o segredo do meu sorriso e nos momentos maus não os farei chorar mas explicar-lhes-ei o porquê das lágrimas.

Não sou narcisista, mas tenho o meu orgulho e auto-estima. Evito perder tempo – mas estou longe de ser perfeito nesse capitulo – com trivialidades que inevitavelmente me encaminham para tormentas. Mas, sou de um país de descobridores, e as tormentas fazem parte da descoberta da boa esperança que todos desejamos e passamos a vida a procurar – incessantemente – e essa procura é a mais bela odisséia de todo o ser humano.

Por duas vezes na vida me perguntaram: gostas de viver nesta cidade? E eu, sem sequer recordar as duas cidades em que estava, respondi sempre: Adoro! Porquê? Porque o sítio é irrelevante quando se está com quem se ama. Talvez não devesse expandir para lá da pergunta feita…

Aquele abraço.

Henrique Milheiro da Costa Correia de Matos