Hábitos de Atenas

Que os alarmes vieram resolver muitos dos problemas, sobretudo daqueles que assumem não ser omnipresentes, também é verdade que trouxeram com eles um nível de poluição sonora que não existia. Atenas tem várias redes criminosas – uma das quais especializada em pequenas motorizadas (outras existem, obviamente, para “cobrir” todo o “mercado”) – o que leva a que, a bem da segurança, esses motociclos tenham um alarme – para dissuadir qualquer criminoso mais expedito!

Para uma maior proximidade, deduzo que por razões sentimentais, os proprietários colocam os veículos motorizados mesmo junto à porta de entrada do prédio que habitam (independentemente do as andar em que habitam), possibilitando assim a reunião amorosa, entre proprietários e veículos, assim que atravessam a porta de entrada comum do edifício.

Recordo que existem em Atenas cerca de 2 milhões de motorizadas – dos vários tipos e feitios – que permitem o normal funcionamento da economia local (uns recolhem metais e reciclam, outros recolhem plástico para o mesmo efeito, uns deslocam-se para o emprego enquanto outros fazem da condução o emprego…).

Tentem recordar sons de brinquedos dos vossos filhos e certamente recordarão um ruído histérico – que é uma mescla de vários sons de veículos de emergência – que vocês, muito provavelmente, também odiavam e se peniticiavam pela compra do dito. É esse o som que a maioria das motocicletas possui! Num volume que supera a chegada do avião de Thessaloniki e faz estremecer o mais incauto dos transeuntes – que não consegue esboçar uma reação melhor do que um salto aflito, perante um som que faz estremecer o mais forte dos humanos! Há um modo “ARTILHARIA” nos alarmes gregos…

Uma ideia dos sons de Atenas – 27/11/2023

Full moon and the Parthenon Temple.

O teoria do golpe de estado do P.R.R. – Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

Pela primeira vez na história do país, Portugal vai receber um montante nunca antes visto, para aplicar no desenvolvimento económico. De um lado, o governo democraticamente eleito, com o selo de aprovação de uma maioria absoluta e, do outro, uma panóplia de pessoas, camufladas em partidos políticos, dispostas a tudo – por um quinhão do imenso bolo.

Conjectura-se, sempre sob pretexto do “melhor interesse de Portugal e dos Portugueses”, a maneira mais rápida e viável para aceder a uma parte do bolo – o relógio não pára e, a cada tique-taque, o chantilly parece desaparecer, na ilusão criada pela imaginação dos envolvidos. Alguém vai começar a partir o bolo e urge termos um lugar à mesa!

Alguém sugere contornar o status quo e utilizar a PSP, sob pretexto da confidencialidade (que se dane a reputação da PJ; aproveita-se o processo para colocar três instituições em cheque! – Ministério Público, Procuradoria Geral da República e PJ) e começam a ver-se mãos a serem esfregadas, de contentamento! “Isto faz-se!”, exclama um dos presentes, que invocou o segredo de justiça, para não ser aqui identificado.

O número 1 disponibiliza os seus meios audiovisuais ao partido e a campanha começa, no século XXI, marcado por demasiadas notícias que, após a sua publicação, provaram ser falsas. Nunca um partido político teve tanto apoio dos media em Portugal…

Um último parágrafo, numa publicação online da Procuradoria Geral da República, menciona:
“no decurso das investigações surgiu (…) o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do Primeiro-Ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos no contexto suprarreferido” – uma suspeita sobre a actuação do primeiro-ministro que pode preconizar corrupção! Assim começava o dia, com uma série de buscas, efectuadas em diversas localizações, incluindo a residência oficial do primeiro-ministro. Uma humilhação para os envolvidos que, actuando em nome do país, tornam a humilhação nacional.

“As instituições funcionam.”, abrem os jornais. Curiosamente, não são as instituições do costume – e previstas para o efeito – mas uma excepção, criada “pela confidencialidade necessária ao processo”! (Um prego na reputação da PJ, cuja legitimidade é arrastada pelo “sucesso da operação”!). Houve sucesso? Qual era/é o objectivo da operação? Se a PJ não funciona, prendam-se os culpados…?

Conclusão: se o Ministério Público não conseguir engavetar o ex primeiro-ministro, estaremos perante um golpe de estado…com uma PJ diminuída e um Ministério Público/Procuradoria Geral da República desprovidos de competência! E isso é muito perigoso…normalmente o prenúncio de autocracias!

O humilde narrador frente ao monte Acrópole.

O surreal é rotina na Grécia.

Hoje é dia de linha verde e, ao contrário do normal, revês as caras que pertencem ao “teu” horário, na linha que liga o mar (Piraeus) à montanha (Kifissia). Instalado na primeira carruagem – faço o máximo de tarefas a dormitar, até chegar ao emprego – rodeado de gregas que abanam os leques que, por esta altura, são mais uma arma no combate ao calor pirolítico que se instalou na capital grega.

A instalação sonora vai avisando os utentes – mind the gap, stay away from the doors, etc…de repente, ao sair de Omonia, ouve-se o anúncio de Viktoria, Attiki, fim da linha e por favor desembarque porque a composição está avariada e vai ser substituída (é mato, o número de vezes que acontece). Olhamos todos, uns para os outros, e saímos todos do metro, num belo gesto sincronizado, na estação de Viktoria.

Imaginem, por favor, uma estação onde o metro chega e, ao contrário do habitual, todos abandonam a composição enquanto explicam aos que estão na plataforma o que ouviram. Ouve-se uma porta a abrir e todos olhamos na direção do maquinista que, para espanto nosso, se ri, de gargalhada aberta que não lhe permite falar, ele quase chora…

Qual professora primária, ele afasta-se um pouco mais para o centro da plataforma e, por entre lágrimas de alegria, exclama algo em grego…não em tom de desculpa (um grego não comete erros) mas sim num tom autoritário. A mulher ao meu lado começa a caminhar para dentro do metro e eu sigo-a. Ela explica, assim que nos instalamos novamente, que o maquinista ordenou: o facto de termos a instalação sonora avariada não nos impede de chegar ao destino! Importam-se de voltar a entrar?

Percebem agora como tudo flui neste país? Sempre com uma gargalhada…😂

Humilde narrador esfria a moleirinha com um freddo expresso!

As cores do verão.

A vizinha saiu de casa depois de mim e, fruto de uma coincidência ou plano bem elaborado, estamos agora a lanchar, lado a lado, cada um na sua mesa. Sorrisos, falsamente envergonhados, cruzados com gestos tão espontâneos que parecem fruto de um nervosismo real, a mesma troca de olhares que temos, sempre que nos cruzamos nos espaços comuns do prédio.

Talvez seja esquecimento, ou apenas um acaso da vida de que todos podemos padecer, mas ela esqueceu-se do isqueiro (acontece bastante na Grécia, todos sabemos a que preço está o gás). Finge olhar à volta – o que, de facto faz – não conseguindo visualizar o meu maravilhoso “Clipper reusable”, finge pretender levantar-se para ir comprar um isqueiro – está a 7 passos do kiosk que os vende – mas prefere exclamar um “Oh”, quando finalmente assume enxergar o meu isqueiro.

A chama acende-se, sem que a alta temperatura sofra alterações, ela coloca a mão dela atrás da minha – obviamente para proteger de um vento que temo não sentir, a chama aproxima-se do extremo do cigarro, num movimento que me faz escutar acordes das mais belas músicas que conheço – num devaneio mental e musical que visa apenas embalar o momento. Ela agradece em inglês (como saberia) e eu respondo com um “ora essa”, em grego.

A tosta mista acaba, a Coca-Cola também já não demora muito e o calor….esse continua a ser brutal. Passa o 1 e o 5, e recordas que ambos conduzem a Sigrou. Recordas os meses aí vividos – apenas para constatar que o apartamento em Victoria foi dos melhores achados – nestas desventuras de ser um expatriado sorridente.

A maneira como era possível viver, num bairro problemático de Atenas, sem que sentisses o mínimo receio, só pode ser atribuída a um maravilhoso vizinho albanês que, fruto de ser o comandante local da noite, protegeu o meu apartamento (no único dia em que me esqueci da porta aberta), com uma simples cadeira, e sentou-se no sofá…a observar se alguém ousava desrespeitar a disciplinadora cadeira.

Acordava com um realejo ou violino, todas as semanas a biblioteca ambulante parava na rua, tinha mercado de rua duas vezes por semana!

Agora, na Boavista, tenho a avenida toda para mim, facilmente consigo fazer as compras inevitáveis, posso vegetar diante de um livro sem ser interrompido, o ruído citadino é menor e o prazer de viver exponencialmente maior!

Foi aqui que tudo começou, em 2015, e as passagens por outros locais apenas acentuam o quão diversificada a Grécia é – um amor que fica gravado onde realmente importa!

Tardes quentes – 5 de julho de 2023

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Esplanando…

O sítio tornou-se o do costume e, sentado na mesa habitual, vou trincando o lanche encomendado. A Coca-Cola vem, erradamente, com um zero mas o erro é imediatamente corrigido e a empregada de mesa condenada a beber a dita, no refúgio seguro dela, mas que é bem visível da esplanada.

As motos de baixa cilindrada que fazem mais ruído do que os topos de gama, as conversas de trânsito – algo que pode sempre resvalar, as pessoas que se benzem quando o sino da igreja soa. Os grupos que bebem cervejas frente aos grupos que conversam, os telemóveis como alienamento permanente.

O Kiosk, frontalmente colocado, em permanente rebuliço – a servir todos os que buscam “as falhas” a caminho de casa, os casais que tentam distrair os bebés do calor, os namorados que discutem o dia que agora começa a acabar. O Lenny Kravitz que grita que quer “Fly away”, as pessoas que se abanam – numa infrutífera tentativa de se manterem frescas.

O toldo da esplanada é entretanto aberto e o humilde narrador tenta descortinar de onde chega toda esta “nova luminosidade”, a empregada de mesa que sorri – ao descortinar a procura do narrador e responde com um gesto que demonstra que é ela que está a gerir o processo, mostrando o comando do toldo.

Uma escultural grega que chega – obrigando a um discreto, mas muito forte, empurrar do queixo caído que, aproveitando a distração do dono, coloca a nu toda a indiscrição da situação. Limpados os resíduos do salivar intenso e já recomposto de mais um monumento ambulante que não conhecias. Toca o telemóvel e respondes com toda a segurança: estou em casa, a ouvir música. Pagas a conta e corres para casa!

A maratona nasceu aqui perto – 28/6/2023

Atenas, pelos meus olhos.

O calor chegou, e trouxe com ele a habitual adaptação da indumentária, o que – dado que estamos na Grécia – equivale a um desfile de monumentos históricos (porque imediatamente te ocorre ser um ombro amigo e ouvir todas as histórias, obedientemente), em trajes minimalistas, qual tela branca, por pintar, que clama por ser coberta por uma pluralidade de cores. Não nasci pintor, e não tenho a mínima veia para a arte, mas sei apreciar!

Imaginem um cérebro que, tirando proveito da rotina do caminho para o emprego, aproveita para deambular e apreciar “as bistas”, como se diz na minha terra. Equiparem a imagem dessa rotina à mais bela obra de arte que o vosso coração guarda e, mesmo assim, talvez não estejamos, ambos, sincronizados. Curioso, como o gosto por arte pode ser diversificado: o que é que nos conquista na arte? Porque não discutimos com ela mas sobre ela? Talvez seja precisamente esse facto que a torna tão bela…

As caras envergonhadas, as gatas assanhadas, os decotes suados, as saias que são curtas pela anca – mas que elas teimam em puxar para baixo. Os saloios e os olhares fotográficos, os encontrões do metro, o acaso da conversa, a coincidência de irmos ao mesmo concerto, a ousadia do trocar contactos, a notificação dos familiares mais próximos…

Vai começar o verão – 20/6/2023.

Dias de Atenas…parte CXL…😂

O despertar e o lento interiorizar o quão bem dormiste…acenas a ti próprio um sinal de concordância, após visualizar umas preguiçosas 8:30 no despertador – para quem habitualmente acorda às 5, há que celebrar estes eventos.

Sonhaste, e dás um sorriso envergonhado, assim que te ocorre o porquê de um sono tão retemperador. Olhas-te ao espelho, ciente de que não podes estar envergonhado contigo mesmo, isso não acontece…

Talvez o amadurecimento da vida traga estas mudanças de comportamento! Sei que havia duas covas que havia que transpor, após um galanteio mal dissimulado, e uma pergunta que havia que fazer. A pergunta libertava e soltava o humilde narrador para a tarefa seguinte.

Talvez tenha havido alguma palpação, para um duplo sentido de estímulo e a celebração da conquista daquelas duas adversárias, com tanto de ameaçador quanto erótico. Recordar, com saudade, que a louça ficou por lavar; apesar de bem esfregada, a gordura não se libertava e houve necessidade de recorrer a um desengordurante original, o sentimento de pleno a preencher os dotes de lavador de pratos do vosso humilde narrador…

Devaneio matinal, sonho…18/6/2023

É feriado…

Acordas, lavas a cara, atiras um bocado de desodorizante, lavas os dentes e sais.

A 20 metros da porta está um vizinho, que aguarda que o cão obre. Olhamo-nos e eu fico a pensar na situação do gajo: cerca de 2 metros de altura, uma trela enorme (só para chegar à manápula do gajo…), um cão que se assemelha a um coelho anão…que ladra e, salvo se não tivermos desenvolvimentos à vista, também obra!

O pensamento de merda esfuma-se e reduzo o ritmo (já de si bastante lento) para olhar a fotografia do grego irritado – há um fotógrafo grego, na esquina, que tem uma fotografia de um bebé irritado com o banho que o obrigam a tomar…dobro a esquina, como um verdadeiro super-herói, e vejo um café abandonado no orelhão da vizinhança…

Aproximo-me – o que, na Grécia, significa que fui para a rua e mantive uma distância segura – e vejo uma T-shirt, que descai de um suporte que o orelhão possui. No chão jazem calças e meias…apalpo-me e sinto o casaco vestido…não pode ter sido um golpe de calor, penso eu! 😂 Fotografo o momento, para a posteridade.

O caminho até ao café é longo e assemelha-se a uma travessia no deserto – quando, após umas centenas de quilómetros montado nas costas de um camelo, finalmente chegas ao oásis – apenas para constatares que tens que ir urinar, o que te obrigará a seres o último na fila de água do oásis (não é nada disto, fica a 100 metros de casa, mas há que enquadrar…😂😎). A areia são os passeios irregulares, a tempestade de areia é a possibilidade de levares com uma laranja nos cornos, ressalvo, couro cabeludo, o café é o almejado oásis…

Freddo espresso sketo, parakalo!

Um pequeno gole para o café, um enorme despertar para o Henrique!

Cabine de teletransporte!

O futebol na Grécia.

Sorrio, com um sarcasmo interior que até tenho que conter os espasmos musculares de satisfação plena, quando lhes respondo “Não dá mesmo, tenho cenas combinadas que me é impossível cancelar.” E assim tenho sido feliz ( bem sei que sou um egoista exacerbado nessa procura mas, afinal, a minha felicidade merece essa devoção!)

Recordo, sem saudade, o dia em que a curiosidade se apoderou de mim e, num misto de procura, loucura e estoicismo, embarquei na caravana dos vencedores do passatempo. Faço aqui uma pausa, para reler o escrito, e constatar que a frase anterior é muito típica do vosso humilde narrador; sendo que, normalmente, a saudade existe! Adiante, onde íamos? Sim, na caravana dos vencedores do passatempo da empresa, no camarote, com cozinha aberta.

O inverno estava a chegar, e a promessa de um jogo de futebol em que o campeão nacional estava envolvido, prometia o tipo de aventura de que normalmente um expatriado não usufrui – jantar incluído, bar aberto, umas esculturas ambulantes a servirem-nos…um jogo de futebol ao vivo, em que elas servem os comes (um ideal machista internacional que fui obrigado a usufruir de).

Estava na primeira fila, com um prato preenchido com um misto de carnes brancas e porco, ladeados por um Tzaziki maravilhoso. Os cumprimentos das equipas, umas músicas que não conheço (era o hino do visitado), começa o jogo.

Da imaginação fértil – 2/6/2023

Final score: 1-0

O decatlo como analogia da vida.

Na infância e adolescência temos os sprints em busca do conhecimento – corremos curtas distâncias na ânsia de obter as respostas que esclarecem as perguntas que constantemente nos assolam. Tudo é novo, tudo pode ser experimentado e o risco é algo que nem sequer cruza o nosso pensamento. Somos apelidados de putos – sem que o arrojo seja considerado, de imaturos – porque a experiência de vida carece de erros para providenciar certezas, de pessoas em fase de crescimento – uma analogia aos países em vias de desenvolvimento que desmotiva, face a uma evolução que não vemos esses países atingirem – ficaremos assim para sempre? Em vias de desenvolvimento? Podemos aspirar a ser um país desenvolvido? É a questão que nos colocamos, na certeza de nunca desistir em tão curta etapa! É assim que vejo a competição de abertura, com a corrida dos 100 metros.

O salto em comprimento acompanha-nos pela vida fora e mais não é do que um método alternativo para cobrir a distância que nos separa do objectivo – com a virtude de nos permitir saltar para mais longe, se queremos evitar um obstáculo, ou mais perto, se o objectivo é abraçar não um obstáculo mas uma qualquer fonte do nosso prazer interior.

O lançamento de peso é constante nas nossas vidas e mais não é do que o equilíbrio em que nos pesamos e nos sentimos bem – num mundo perfeito, sem pretensos magros ou gordos, em que gerimos o nosso peso no grau de satisfação interior que ele nos dá – num menosprezo total pelo que os outros pensam! Só tu interessas; porque no fim não há céu que nos acolha ou inferno que nos mantenha quentinhos!

O salto em altura é o crescimento – a constante que nos acompanha até ao final da vida, pois o conhecimento foi feito para crescer incessantemente. Como um alpinista, que escala cada nova montanha com uma atenção redobrada, nunca confiando na solidez providenciada pela natureza e sempre atento a toda a pequena indicação de gelo – num misto de deslumbramento e satisfação, de cada vez que sobe um socalco!

Os 400 metros que encerram o primeiro dia são o primeiro ensaio no percorrer de longas distâncias – após os 100 metros, quem não se diverte com uma volta completa ao estádio? A transição do final da adolescência para a vida adulta, passos de afirmação com muita confiança, planos elaborados com maior morosidade e atenção ao detalhe, os tempos em que és um pouco burguês até…

Os 110 metros barreiras, que abrem o segundo dia, são a representação de todos os obstáculos, alguns inertes incluídos, com que nos vamos deparar: alguns iremos superar, tropeçar noutros e, muito provavelmente, hesitar demasiado nos terceiros. Uma explicação sobre como superar obstáculos voando acima deles!

O lançamento do disco é toda a música que nos embala neste processo denominado vida. De diapasão na mão, numa procura constante pelo acorde perfeito. O aceitar sugestões de novos sons, enquanto mostras o que achas ser o valor do que ouves. As pessoas que nos davam acesso a uma cave, os amigos que aí colocavam música, a recordação de todos os copos cravados – com a dor da lembrança de todos os que tiveste que pagar. Uma melodia como símbolo de um porto seguro!

O salto com vara mais não é do que a superação com a ajuda certa. O acessório como elemento fundamental para a superação – numa simbiose tão perfeita que alguns homens jamais a conseguem superar (correndo o risco, segundo a sabedoria popular, de ficar cegos) e algumas mulheres são suspeitas, dado o exagerado consumo de energia eléctrica.

O lançamento do dardo são todas as paixões que tivemos, as reais, aquelas em que somos obrigados a “deter” o nosso coração e a interrogá-lo quanto às arritmias cardíacas de que passa a padecer. A submissão ao Cupido que, invariavelmente, nos apanha distraídos, na curva.

Os 1500 metros são o puro gozo com que desfrutamos da vida, o sentido de longo versus o que já conquistamos – em termos de “armas” para estarmos sempre acompanhados de um sorriso que, não sendo idiota, parece – mas esse é apenas o meu ponto de vista…

Bom exercício!

De público não tem nada!

Sentado no autocarro, com uma morena voluptuosa e linda sentada ao meu lado. A vontade de deixar descair o corpo, para sentir o dela, a tornar-se em algo sem sentido, quando ela deixa descair o corpo dela sobre o meu. Na imaginação dos transportes públicos tudo é possível e, cada vez mais imbuído desse espírito, sinto que os olhares trocados, ao longo das últimas semanas, dão agora o esperado fruto.

Quanto mais afasto o corpo para a janela mais sinto a pulsação do corpo dela, como um oposto que se atrai, ou uma alma inteligente que sabe tirar partido da inércia inerente a qualquer transporte público em movimento? A Grécia contém questões filosóficas profundas, não ao alcance do comum mortal. Planos maquiavelicamente amorosos são escrevinhados mentalmente, sem que os meios de defesa do estado sejam suficientes para os deter! Bem haja!

O tique nervoso do cabelo – bolas, ela fica ainda mais bonita quando o faz, a maneira como oscila a perna cruzada, que inevitavelmente embate em mim, a troca de contactos – agora que dialogamos e já nos conhecemos! Bom fim de semana e boa Páscoa!

Até já…😬

Palavras que se abraçam.

Soltas – como se a liberdade só pudesse ser explicada por elas, sinónimas – numa deliciosa harmonia de significados tão iguais, antónimas – numa bela dança de opostos, maiúsculas – armadas de uma maturidade típica dos começos, minúsculas – como que pequenos anões que são fundamentais para a tela final, acentuadas – a típica nobreza, cedilhadas – a recordação de outrora, em que a cedilha parecia algo tão esquisito quanto os caracteres chineses.

Rodeadas pela pontuação – num exercício tão vezes falhado, com os pontos que impõem um final, vírgulas que implicam uma pausa e a imaginação constante como agregador de um processo que a ciência não explica. Façamos um parágrafo! Ou um ponto final e continuamos com o mesmo assunto? Talvez apenas uma longa vírgula, que nos permita saltar para o próximo parágrafo e dissertar sobre algo diferente, como o relato de um pouco do que é o quotidiano grego? Vamos nisso!

Se chegaste até aqui mais vale continuares até ao final. Imagina um pequeno troço, para o qual ninguém estava preparado, em que nos é dada a oportunidade de lermos algo que nunca tínhamos lido: o suor da antecipação, a taquicardia por cada letra abraçada, numa palavra que encaixa bem, vá, num enorme puzzle que, quando completo, até sugere uma exclamação! E sim, procuro sempre a exclamação, como forma de bem estar comigo próprio (a cena narcisista 😂).

É algo muito recompensador! Olhar para uma conjugação de esforços de palavras, colocado aleatoriamente num processador de texto muito simples, olhando em volta e constatando que…cheguei! Estou na minha paragem!

https://www.atlasobscura.com/places/dromeas

Sonho de uma manhã de inverno.

Nunca acreditei no sobrenatural mas, depois de ter visto a beldade grega a subir para o autocarro, confesso que há algo endeusado nela. Enquanto aguardamos para virar para Sigrou, consigo um olhar de soslaio, por cima do oligofrénico que se sentou à minha esquerda.

É alta, calça um número grande (provavelmente para suster toda aquela beleza), tem um sorriso discreto que, muito provavelmente, até um cego faz sorrir. O inevitável cabelo encaracolado, uns olhos profundos, de um azul capaz de se confundir (novatos talvez) com a mais bela imagem do mar Mediterrâneo! O ruivo despenteado, enrolada num casaco perfeito para o dia de hoje – de um verde de esperança que reforça toda a convicção na raça humana!

Esperança!, grita a voz humorística da tua mente. Respondes com um “enquanto há vida!”, e sorris – perante o olhar alucinado do gajo que está ao teu lado! Apetece-te cochichar ao ouvido do gajo e, com um tom de Charles Manson, dizeres “You picked the wrong day to seat by my side!”, assim, enigmático mas com um desejo profundo que a paragem dele chegue!

Ela, entretanto, sorve mais um pouco do freddo expresso e o sorriso natural dela parece derreter o gelo do café – tornando-o ainda mais saboroso. A segurança envergonhada da beleza que possui é directamente proporcional à beleza que efectivamente magnetiza quem a pode apreciar! Se fosse de gesso certamente estaria num museu mas, tratando-se de um ser humano, está apenas sorridente, divertida e a pensar em toda a beleza que uma sexta-feira pode conter!

Ela já se apercebeu que as travagens do autocarro são por mim aproveitadas e, tirando partido do embalo, aproveito para arriscar o torcicolo, olhando para a esquerda! Curioso como, visto por quem não conhece o contexto, a cena pode ser hilariante: autocarro trava, a inércia actua e olhamos um para o outro.

Tão infantil quanto outrora – 3/3/2023

É o país, estúpido!

O agir como um turista, no caminho que separa a casa do trabalho, tem as suas virtudes e defeitos – o virtuosismo fica contigo: acordas, atrasas-te, apanhas o interregional ou o autocarro, vais documentando o caminho – sem que haja um compromisso para algum dia reunir tudo, sabes a magia do que saber guardar – em termos de imagens – e o que desprezar, em termos de espaço disponível na cloud.

A secretaria é agora mais pequena mas, atrás de ti, está o departamento de informática, pelo que, qualquer pequeno distúrbio binário é rapidamente ultrapassado. Há uma clarabóia acima de ti – que te seduz pela luz natural que deixa entrar, ou faz chorar – quando reflectida no monitor. A cozinha está perto, pelo que és obrigado a superar o babar – quando o olfacto detecta o pão torrado, no ponto perfeito, entre o torrado e o perigo de causar um incêndio.

A fonte de água está a escassos passos de ti, o que te obriga a uma penitência – entre Sex Pistols, PIL, Joy Division, na tentativa de abafar o som da catarata de água, evitando despertar em ti o desejo de visitar o WC. Em frente tenho uma enciclopédia humana, ao lado uma colega permanentemente a sorrir. Não questiono nada nem ninguém – apenas usufruo das imagens das pessoas, no constante burburinho que um escritório com 3000 pessoas produz.

O cozinheiro de serviço foi um dos concorrentes do Master Chef local e, pelo que me tem sido dado a provar, não percebo como não ganhou! Tivemos um churrasco, num momento de comunhão de toda a empresa, e poder-se-ia pensar que a qualidade decresceria – dada a dimensão do evento – mas eu ousaria dizer que, mais uma vez, ele superou as expectativas! Tropeças na grande líder, cumprimentas o grande líder, estás na fila para usufruir de um pequeno lanche grego, conforme designação humorística local. Estava divino! Percebes igualmente que é hora de ponta no WC (não desse tipo de ponta mas agrada-me o teu raciocínio 😉).

O dia de trabalho chega ao fim com um alento adicional – ainda é de dia e podemos observar, bem ao fundo, o sol a cobrir o Peloponeso e a dirigir-se para o outro lado do planeta. Uma passada vigorosa, por entre conversas escutadas em grego, e estás no caminho de volta, por entre umas centenas – que te acompanham, neste regresso de final do dia.

O frio está a acabar, os dias a crescer, a vontade de planear ao rubro, fim de semana prolongado a chegar.

O humilde narrador.

Aquele dia em que tudo corre bem…🇬🇷

Começa cedo, por volta das 6 da manhã, num misto de palpação e preguiça – palpação do estómago e a natural preguiça de quem não tem grande força. A falta de força teve origem numa intoxicação alimentar, após o que eu pensava ser um delicioso bife de vaca (na altura soube muito bem), seguido de um tsunami de emoções, em que o vosso humilde narrador se viu confinado ao quarto de hotel (daqueles de 20 euros por noite, tão típico de quem procura casa e está “entre tectos”).

A palpação advém do facto de todos nós conhecermos o nosso corpo suficientemente bem para sabermos onde tocar, antes de tentar emborcar algo. Obviamente é um conhecimento fútil, descobri eu, por entre coloridos arco-íris de bílis (a agonia de padecer de uma enfermidade que, para além do desconforto corporal, ainda proporciona cores tão pouco bem sucedidas) – aquele aparte desportivo fundamental para aborrecer o lagarto mais paciente.😬

Com a preciosa colaboração de uma funcionária do café, consegui ingerir um latte e duas torradas (branquinhas), com um muito ligeiro toque de manteiga. Uma hora de check-up continuo, muito perto do “trono”, e eis o vosso humilde narrador pronto para a aventura diária que é viver neste maravilhoso país. Investido de um novo vigor, percorre a distância entre o hotel e Monastiraki, sem ressentimentos, relembrando os locais por onde passa e a associação dos amigos que recordo ter recebido em Atenas.

Monastiraki recebe-me com um misto de sonoros batuques, o ruído das mangueiras – que limpam as provas de vida da noite anterior, o cheiro a eucalipto e alguns zombies que ainda procuram a direção certa. Já que chegamos aqui, e porque o Atlantikus ainda está fechado, arrisco caminhar até Thissio (como ir de São Bento até à baixa do Porto, sem a inclinação da rua da fábrica!) Constato que estou bem, sinto-me bem e quero um café! Erro crasso ou um risco necessário? Foi uma prova dos nove, antes de atravessar a cidade! Passei…

Metro de Thissio para Kallithea e há que trabalhar: sexta-feira foi feriado (cenas fictícias ortodoxas) e não consegui mais do que contactar alguns apartamentos para alugar (o processo de alugar uma casa é algo absolutamente surreal – também o foi na República da Irlanda (Eire) e já sabia ao que vinha – tirar fotografias de potenciais alugueres e retomar o contacto na segunda-feira). Antes da parte aborrecida, resolvi antecipar a parte divertida – aferir a minha acuidade visual e comprar uma armação para suster as lentes. Descubro uma optometrista grega, de inglês duvidável, cujo marido complementa o inglês não entendido com o italiano de nascença. Por entre inglês, italiano e grego eis que atingimos a graduação necessária e, como sou alguém que “ama fazer compras”, demoro 5 minutos a escolher a armação. Estão prontos na terça-feira pelo que, agora, só tenho que evitar sentar-me em cima deles (com um corpo tão esbelto 😂, ainda hoje duvido que tenha sido o meu peso a parti-los 🙄 😉 🤥).

Parto, na procura de anúncios para fotografar (na Grécia, os alugueres são anunciados nas portas dos prédios, usando para o efeito uns autocolantes amarelos – de tamanho único – impossíveis de não serem notados) e, após fotografar um deles – e tentar o contacto telefónico, perguntei ao senhor da loja ao lado se ele poderia traduzir. Não só o fez (era um espaço comercial) como também me disse: tire uma fotografia dessa placa (que, para mim, não passava de uma placa com caracteres gregos) porque esse senhor é de uma imobiliária, que fica aqui em cima. Tirei a fotografia, liguei e lá me apareceu o homem, na sua Suzuki 125 (até hoje confiei em poucas pessoas para andar de moto – o António Pedro que me ensinou, o Chico, que me levou do liceu a casa e de volta ao liceu, em tempo recorde, e o meu irmão que, como andava a estudar ortopedia, era de confiança 😂). Montamos, vi motos de frente, andamos em sentido contrário, fizemos mudanças de sentido pela passadeira que serve de separador central, chegamos!

É um rés do chão, que aqui são alteados porque há sub-caves, tem o quarto desejado, uma sala, WC e cozinha. Está sujo (tirando Airbnb é a norma) pelo que vai requerer um esforço adicional. Voltamos ao escritório, por entre carros, passeios, pessoas e, após uma troca monetária, recebo as chaves. A alegria é tal que corri para o hotel (de metro), peguei nas cenas todas e trouxe para aqui – estava ávido por poder responder “estou em casa”! A primeira limpeza está feita, o quarto está como novo, a casa tem agora um cheiro agradável. As aventuras posteriores nada mais são do que a intimidade da casa.

Há dias em que tudo, absolutamente tudo, corre bem – 7/1/2023

O humilde narrador.

Resoluções do ano velho.

A parte do orgulhoso descobridor:

Agora, que já ultrapassaste os 10% de ilhas habitadas – Aegina, Kea, Hydra, Zakynthos (Zante), Rhodes, Santorini, Amorgos, Naxos, Milos, Lefkada, Kefalonia, Skorpios, Ithaca, Meganisi, Madouri, Evia (Euboea) – começas a planear as visitas de 2023! Será num“trilho” repetido – mas com mais detalhe para dispensar.

Paros e Koufonissia? Certamente! Há aquela necessidade de – como se de um daltónico se tratasse – ver cores diferentes, num caminho marítimo que termina em Amorgos! O processo de acostumar os olhinhos ao deslumbramento é moroso e convém que seja gradual, para bem dos músculos do queixo que, habituado a ceder ao espanto com um deslocamento vertical, pode gradualmente fortalecer-se para as aventuras que se avizinham!

A parte do orgulhoso observador:

Falemos dos transportes públicos na Grécia! Leiam atentamente porque eu, como dizia o outro, não duro sempre!

O lugar mais cobiçado, nos transportes públicos gregos, é junto à porta! Não me perguntem porquê, confunde-me tanto como a vocês. Um exemplo? Entras no metro, autocarro ou comboio e, caso não estejas atento, o cidadão da frente trava e tu bates directamente nele/a (isto são lições que proveem da Grécia antiga e são transmitidas de geração em geração!!!!). O ser humano entrou no transporte público, viu uma oportunidade de viajar como VIP, e não hesitou em travar a fundo para o conquistar! Ainda bem que nos aviões vamos todos sentados…😬

Novo ano, novo IKA? Vê-se logo que não me conheces… – 1/1/2023

O humilde narrador a descer ao mais profundo de Atenas.

Passeiozinho.

O voo de ida foi uma batalha para obter mas, após aquela pesquisa profunda, entre todas as apps possíveis e imaginárias, eis o vosso humilde narrador a conseguir sacar um bilhete a bom preço (obviamente o voo de volta não era só até Atenas, já que segue amanhã para Istambul, mas eu já não irei nele…usufruindo de um bilhete de volta de 91 euros)! 😉😬

O objectivo era dar dois abraços mas, mercê das circunstâncias, acabei por trocar abraços com quase todas as duas famílias que a mim se reuniram. O dia de chegada como celebração e, no segundo dia, a continuação da exploração da cidade – 43 quilómetros em dois dias! 👌 Sem quaisquer bolhas visíveis, após análise cuidada, já em Atenas.

Um paraíso de bom gosto, com a sua dose equilibrada de parolices típicas do ambiente, construção divinal – numa peça harmoniosa em que todas as partes integrantes nos fazem sorrir, de satisfação – pela bela maneira como encaixam e aumentam o volume de construção, como se de uma tela se tratasse. Uma harmonia quase divina, na fluidez do trânsito de bicicletas, aqui e ali interrompidas por discussões em que ambos partilham as culpas – traços de personalidade civilizada. 😍

Não só eles souberam conquistar terra ao mar como também o fizeram com muito bom gosto. 👍 A voltar, muito em breve!!! 🔜

O fim da maratona, antes de embarcar. 🇳🇱

Detalhes da vida de uma viagem.

Há algo de mágico na maneira como pisam o chão – como se o chão se tornasse no anfitrião perfeito, perante tanta beleza emocional. Os pés parecem gravitar, antes de tocar o solo – num movimento de perícia semelhante à recuperação de um foguetão da Falcon X. Ondulam, não andam! Num Mediterrâneo de temperatura perfeita e paisagens sem igual.

Saiu do metro, de encontro à mãe (que já aguardava na plataforma), num passo tão lento que, caso quiséssemos simular o movimento em câmara lenta, não haveria disponibilidade de velocidade tão lenta. Não confundir lentidão com laxismo! Enquanto se preparava para sair, ela focou o alvo e deu um festival de emoção gestual que, somente a ideia, me faz arrepiar os pelos que ainda detenho.

Agora, que já tudo passou, posso dizer que ela teve um gesto simpático para comigo…olhou, marcou, pavoneou e partiu. Obviamente poderia escrever uma trilogia sobre o momento mas, por agora, vou desfrutar da conversa com ela!

Escala em Sofia, Bulgária 🇧🇬

Outono

Há folhas caídas e assam-se castanhas na rua (algo muito cómico, quando comparado com o método português do fogareiro), estão 22 graus e há corajosos na praia (com potencial para criar um bom ajuntamento de carros, no retorno à capital).

As tabernas estão cheias e o cheiro a vitela estufada com ervilhas consegue embriagar o teu palato estomacal, os degraus estão secos e bem seguros, pelo que os chinelos foram uma boa opção, no que a locomoção diz respeito. Olham-te porque estás com a habitual indumentária, cumprimentam-te porque te reconhecem nessa mesma indumentária.

Cumpres os teus rituais sociais e sobes a rua, acompanhado do teu Freddo e dos biscoitos do Veneti. Observas tudo o que te rodeia, como método de estimular a mente enquanto mecanicamente regressas a casa. Vês as diferenças nos prédios da vizinhança, cumprimentas as velhinhas na janela ou varanda, ouves a música de uma flauta, ao longe – questionas-te se vais obedecer à flauta, numa fábula rápida que te cruza o raciocínio.

Cedeste, quando passaste por outra taberna, e agora aqui estamos – a dizer bem do saganaki, das batatas fritas, da vitela estufada…por vezes é bom ceder emocionalmente! É o mais racional a fazer…

O humilde narrador a passear por Atenas.

Na plenitude do ser jaz a sua essência!

Primeiro apelidei-a de primata emocional mas, com o passar do tempo, apercebi-me que havia uma só vontade, em termos emocionais, que era precisamente nunca evoluir! Uma opção voluntária ou induzida, num ambiente em que o rebanho é a forma comum de sociabilização. Como se de um filme se tratasse: de ficção científica, em que o sentimento é reprimido e ilegal.

O lado cientista tentava decifrar a fórmula científica que poderia levar a que algo se afastasse, voluntariamente, do Nirvana emocional – mas a comunidade científica mundial não acreditava que existisse prova de que alguém conseguisse, voluntariamente, repelir sentimentos e, como tal, o objecto de pesquisa caiu no esquecimento.

Testemunhas anónimas deixavam o seu testemunho, de momentos de pleno sentimento e as diferentes formas de expressão que haviam assumido para cada uma delas. Era como um livro, básico e de escola primária, em que o público tentava que o primata aprendesse, mas os ensinamentos da república das bananas prevaleciam sempre. A comunidade científica internacional tentava agora um derradeiro plano: a criação de uma rotina, na mente do primata, de maneira a que as emoções fossem estimuladas diariamente. Teletrabalho, obviamente! A uma distância segura e sem contacto! Tal era a esperança depositada no projecto!!!

De garras afiadas

Chegou pela esquerda e vimo-nos! Mas fingimos não ter visto – num jogo de fingimento que nasceu nos tempos mais antigos da civilização. Continuamos a olhar-nos, mas desta vez já com uma audiência de espectadores casuais que mais pareciam esfomeados do que propriamente predispostos a aprofundar conhecimento. Indiferentes a tudo e a todos acabamos na mesma mesa…por vicissitudes várias da noite talvez se tenham até beijado mas, arrolado como testemunha, o kiosk nada confessou!

Talvez a conversa fosse interessante para ambos ou talvez fosse apenas uma noite de verão na Boavista mas, por momentos, senti paixão pelo sentido que tudo fazia naquela conversa! Continuamos a partilha de informação e sorrimos das incoerências que faziam tudo ser coerente, do diálogo fluido que parecia ter décadas de entrosamento, das gargalhadas sincronizadas que parecíamos ter inventado.

Era como uma brisa agradável numa noite de verão Ateniense – refrescava-me a mente ao mesmo tempo que a visão turvava, arrefecia-me o corpo ao mesmo tempo que ele aquecia, enchia-me o coração ao mesmo tempo que ele pulsava!

Sonho de uma noite de verão – 2/9/2021

O despertar do sonhar acordado chama-se realidade

A expressão muda e, apesar do peito cheio de um bem-estar sem igual, já sentes a nostalgia da ilha – as noites mal dormidas a pensar, enquanto ao longe escutavas música inglesa pela noite dentro, os caminhos que percorreste, os saltos que deste face a cobras e lagartos tão rápidos que só a atenção permanente te permitiram detectar, a felicidade de poder percorrer caminhos com que sempre sonhei e a alegria permanentemente presente.

Alheado de copos, muito embrenhado no café e na água, a sede de querer conhecer tudo enquanto sentias que não tinhas conhecido nada, a vontade de tudo conquistar sem em nada tocar. O sorriso sonoro que, por momentos muito breves, te envergonhava a ser compreendido por quem te rodeia, porque o entendem. O caminhar altivo a identificar a tua vontade de fazeres esta descoberta sozinho – sem quaisquer aborrecimentos excepto tu próprio que jamais te aborreces sozinho.

A chegada ao porto de partida a ser feita pela obrigatória passagem pelo caixote do lixo onde ontem desmarcaste as provas de que havias fumado dentro do carro – recordaste o ar dançante com que saíste do carro, ao som de Peter Tosh, e o quão reconfortante foi esse momento que antecedeu a tensão normal anterior à entrega do carro alugado (há sempre algo mal quando fazes a entrega mas, com seguro contra todos os riscos, é só entregar as chaves).

Até já pensas em deixar de fumar…num devaneio típico da meia-idade! Como se, em vez de investir num cabriolet, resolvesses investir em ti….Sentes alguma vergonha pelo que sentes interiormente pois parece que roubas felicidade quando, na realidade, ela vive dentro de ti. Percebes novamente que não precisas de ninguém para ser feliz mas interrogaste-te se a felicidade não seria maior – sabes a resposta mas não a revelas ao mundo….és um egoísta no que à tua felicidade diz respeito!

E ao chegar ao porto de Katapola recebes um email com boas notícias….podia ser melhor? O futuro a mim pertence!

Até já Amorgos.

Hino da alegria

Acordado desde madrugada por um sonho, resolvi abrir as portadas da varanda e buscar inspiração para voltar a dormir o que faltava! Bastou respirar fundo, constatar que havia malucos a nadar e saber onde estava! Foi-se o sonho mas veio o sono – numa perda de imaginação colmatada pela bela realidade…nada se perdeu!

Hoje foi dia de constipação mas até esse pequeno detalhe foi incapaz de travar o ímpeto e a alegria! No cimo da montanha estavam as nuvens e nevoeiro frios e, junto ao mar, o calor habitual – como para chegar a um tens que passar pelo outro o resultado foram alguns espirros que em nada mais deram!

Visitei os dois lados da ilha e constatei que é de uma beleza singular! As cabras que se atravessam na frente do carro, o preço do pequeno-almoço que diminui um euro quando pedes em grego, as três cervejas de ontem que custaram 14 euros…😂 Há uma semelhança enorme com o Algarve dos anos 80 em que, enquanto os ingleses não chegavam, éramos espoliados através de uma aritmética manhosa feita no papel da mesa ou, pior ainda, feita de cabeça e acertada pela dezena superior…nunca há preços iguais e os “recibos” são pedaços de papel retirados de uma máquina de calcular com rolo de papel….🤗😂😂😂

Antes que o sol se ponha já estou em casa e tomo aquele banho retemperador que, na maior parte das vezes, me atira para a cama logo a seguir ao jantar…geração geriátrica…Tenho a dúvida se será isso ou o querer ver mais, conhecer mais e melhor, saber tudo quando consegui ver tão pouco! Não tenho agenda e esse tem sido o grande segredo de todo este regresso!

Amo este país, como só eu sei amar!

Oito horas

Mentiria se dissesse que nunca havia pensado nesta viagem – e nunca fui gajo de mentiras, mentiria se dissesse que não sinto um nervoso miudinho – desde que a vi, pela primeira vez, que o sinto…recorrentemente! Mentiria se dissesse que é o paraíso – porque muito dificilmente me tirarão da memória tudo o que vivi no Bazaruto e que, muito provavelmente, jamais terei oportunidade de repetir! Mentiria se dissesse que não sinto uma enorme vontade de já lá estar – com os meus botões, os meus livros, a minha curiosidade e os meus horários – e nisso eu sou muito egoísta e jamais mentiria!

Não são as férias de sostrice e descanso puro e duro mas sim a aventura de um Robinson Crusoe tão dedicado a conhecer que faz a ficção confundir-se com a realidade. É a leitura de um pedaço de terra, no meio do mar “plantado”, pelos olhos de um leitor que sempre desejou conhecer aqueles parágrafos, aquela pontuação, toda aquela gramática que sempre lhe encheu o coração. A deliciosa sensação de seres mais um desconhecido, entre turistas, quando na realidade és um residente!

Pensei levar um barco de pesca – para acompanhar o barco que me leva até à ilha, mas depressa me disseram que tal era impossível…pensei em nadar ao lado do barco que me leva, mas depressa me convenceram que a distância jamais havia sido alcançada…pensei em ir escrevendo, durante a viagem, o evoluir das sensações que me percorrem e, graciosamente, fui informado que tal é permitido…assim será!

A estranha sensação maravilhosa que é ambicionar chegar, ver, tocar, cheirar e, obviamente, saborear todos as iguarias locais – as audíveis, as observáveis, as comestíveis…

A lua vai ficando cheia…

O azul profundo

Era o final de 1988, um ano de aprendizagem – entre o inter-rail despesista e a aprendizagem amorosa, a adolescência e os seus calores, os passeios e os trilhos virgens, novos filmes e novas tecnologias. Madrugadas de filmes, num horário irracional da meia-noite às 7 da manhã – enquanto a casa dormia! Snacks na cozinha ou investidas na noite espinhense, em busca de um aperitivo nocturno.

No horizonte adivinhavam-se mudanças e, fruto da curiosidade própria da idade – com o catalisador da irreverência ligado e a uma velocidade estonteante – o humilde narrador raramente via um filme do início ao fim – bicho carpinteiro ou natureza? Jamais a ciência saberá a resposta!!!!

As almofadas estavam prontas e o público enchia já a sala, nessa altura com a lotação esgotada no máximo de duas pessoas! Barriga composta, por um qualquer cachorro quente improvisado e prontos para ver um filme de quase três horas de duração. Confesso que a natureza sempre constituiu um amor – em querer ver para, posteriormente e se possível, conhecer.

O filme começou e imediatamente ficamos deslumbrados com todas as imagens e a espectacularidade da fotografia! Exclamei “Um dia vou ter que conhecer o sítio onde isto foi gravado!” e o meu irmão, gajo sempre atento a detalhes, indicou a Grécia como sendo o local a visitar. Ao longo da vida muitas foram as vezes que repeti a visualização do filme e sempre, sem excepção, a vontade de “ver para crer” estava presente!

O filme retrata a vida de um homem encarcerado num corpo de golfinho, o amor pela natureza num superar constante dos limites, um ser irrequieto e irreverente que não encaixa nos padrões normais da sociedade e que resolve criar o seu próprio mundo – com os inerentes defeitos e virtudes – é assim que eu o vejo!

Quando cá desembarquei, para dar continuidade a uma saga feliz iniciada em 2015, sabia que teria que ser uma das primeiras visitas! Num misto de teimosia, curiosidade e não deixar para amanhã! Assim, e porque a primeira oportunidade foi usada para ir a Meteora, tratei de começar o planeamento logo após a chegada do Norte! O estúdio sobre a praia a um preço médio-alto, o bilhete do barco com lugar reservado e o certificado digital de vacinação Covid estão prontos e o dia da partida mais não é do que um excitante natural, ao nível da melhor cafeína comercialmente disponível!

Faltam cinco dias de trabalho e depois vou conhecer o paraíso! Não na vossa definição da palavra mas sim na definição do que o meu coração precisa!

Monastiraki

Arde e vê-se…

É uma Atenas rodeada de fogos – até a tua antiga praia, que só descobriste como fruto da empatia de uma grega simpática, tem chamas como cartão de visita para quem estiver a sair da água. Uma nova vizinhança, em que te fazes acompanhar pela tua melhor personalidade, novas caras – de personagens novos na tua vida, enquanto planeias a única viagem que sempre quiseste fazer, sem que ninguém possa interferir na tua felicidade. Um egoísmo saudável…

Agradeces ao teu instinto toda a intuição que te tem dado assim como o perdoas por te ter permitido, em raras ocasiões da vida, deixar as coisas chegaram a um ponto intolerável – até para ti. Sorris com amigos, com os projectos que lhes revelas e recebes uma solidariedade profundamente amigável de quem, sem lutar, também batalha por ver-te feliz. Estás rodeado de pessoas recentes que sabem, instintivamente, detectar o teu estado de espírito – ora embarcando na felicidade dele ora erguendo-te de uma melancolia passageira que uma qualquer música te possa causar!

És um bombeiro, num fogo imaginário da vida, disposto a dar-lhe um combate sem tréguas – amando ou ignorando, com a mesma paixão e sem nunca deixar a tua integridade ser afectada. Conheces e reconheces a importância dos valores que te foram incutidos e que, com o diapasão da experiência de vida, foste aperfeiçoando à tua personalidade imperfeita. Dás um grito de força e fazes a reserva e agora? Agora só falta fazer a mala e marcar o barco…algo tão simples quanto respirar vida!

Aquele receio infantil

As pernas eram compridas e, diariamente, cruzávamo-nos no mesmo lugar. O corpo era desenvolvido para uma idade que não aparentava ter – o corpo musculoso, a velocidade com que se deslocava, a aparente indiferença com que fazia o percurso, tudo nela inspirava uma confiança desmedida! Parecia a matriz da perfeição dos seres, aquela por quem todos copiam – comportamentos, confiança, segura de si!

Era quinta-feira à noite quando, cheio de coragem, achei que tinha confiança suficiente para a enfrentar – num diálogo entre desconhecidos que pressupõe sempre alguma tensão, nervoso miudinho, fraqueza de membros que, no dia-a-dia, nunca nos falham e, até pelo contrário, nos impulsionam para conhecer horizontes desconhecidos. A noite seria seguida por três dias de descanso, numa conjugação de um dia de férias e o fim-de-semana de descanso a que todos temos direito!

Tinha-a baptizado de Kareem Abdul-Jabbar – não só pela altura que tinha como também pelo corpo que era semelhante ao de um atleta de alta competição. Mas, nessa noite, fui obrigado a rebaptizar de Michael Jordan! Pela forma como deu um salto, assim que me viu! Recuei, pois a falsa timidez deu lugar a um medo frenético! Ela atirava-se a mim e eu, de pelos em pé e surpreendido por uma reacção tão espontânea quanto corajosa, dei por mim a tirar a havaiana para me defender! “Se é de violência que gostas então é violência que terás!”

Tirei-lhe as medidas, enquanto reparava que ela se propunha voar para mim. Calço 44 mas a havaiana parecia pequena para ela! Agitei-a no ar, na esperança que o movimento a fizesse debandar mas obtive apenas uma mudança de cor nas costas dela que, pela pose agressiva, se assemelhava a uma leoa, que mostra os dentes antes de matar a presa. Rapidamente recoloquei a havaiana no pé e fugi, rua acima!

Foi das baratas mais ferozes que enfrentei…

Quando o IKA está em todo o lado…
Quando o IKA está em todo o lado…

A frescura de Atenas

Sentado num balcão, que combina a temperatura exterior com a brisa fresca que vem do ar condicionado interior, munido de um copo de água e um Freddo expresso sketo, de olhar perdido na esplanada e com um sorriso aberto – esta é a melhor definição do meu domingo.

A patroa da casa que assombra as funcionárias, o café que sai a um ritmo inversamente proporcional à água, as beldades gregas que quase se atropelam para obter o melhor ângulo da esplanada. Os pombos que lutam por migalhas enquanto os humanos reclamam porque a conta está errada, enquanto as motorizadas, sempre kitadas com escapes de rendimento, dão uma sonoridade tão irritante quanto típica na Grécia.

Num canto está o “Abrumhosa”, assim designado porque nunca tira os óculos escuros, no centro a patroa continua, tão exuberante quanto irrequieta, a tentar controlar tudo o que se passa sem deixar transparecer estar tão perdida quanto as funcionárias. Param tudo e sincronizam o que está a ser facturado a cada mesa – num exercício de racionalidade tão atípico nestes negócios – tentando evitar que a Grega, de mão na cintura, volte a reclamar estar a ser cobrada em excesso.

Ao longe, em termos de distância mas não do olhar, está uma diva semelhante à Claire Forlani – numa versão mais humana, mais acessível e de uma beleza ainda mais calorosa do que o “original”! Sai uma mota para fazer as entregas e os nossos olhares cruzam-se, envergonhados mas sinceros, a demora em desviar o olhar deixa a imaginação a transpirar e, cuidadoso como sempre, aproximo o banco alto do balcão de forma a usufruir de mais ar condicionado interior!

Um sorriso, ao longe, obriga-nos a um novo cruzar de olhares e a adoptar uma postura mais defensiva – cruza os braços enquanto acaricia a mão – num gesto de carícia própria que parece acalmar a ideia de carícias menos próprias, conforme definido socialmente.

O corpo está afastado da mesa, uns dois palmos, e apoia o queixo sob as mãos, delicadamente sobrepostas. Braços estendidos e esculturais, cabelo castanho claro que brilha com o impacto do sol. A iluminação natural faz sobressair toda uma simplicidade de uma pessoa que, sem pudor, fixa o olhar no meu! Será um desafio de olhares? Não ouso dizer mas constato que não quero perder! É de olhares fixos que somos “apanhados” por quem nos acompanha mas, sem temermos ser autuados, afundamos os olhos um no outro sem que qualquer lei possa ser aplicada! Uns fora-da-lei sem pudor!

É a única destemida, de um grupo de três pessoas, que enfrenta o sol, com um ímpeto muito mais radiante do que o astro, com os óculos escuros no cimo da cabeça, com um cabelo que, conforme o ângulo vai variando, parece tornar-se mais belo, mais atraente, mais digno de ser tocado. A mão esquerda sobre o braço direito – como que refrigerando a temperatura, o vestido que parece colar-se, mais e mais, a um corpo desenhado por um Da Vinci da anatomia…a forma como lentamente sorve a água, depois do café terminado, é de uma beleza simples mas descomprometida – como se tudo nela fosse simples e, ao mesmo tempo, de uma beleza indescritível que apenas se pode tentar descrever….

A melancia

É a fruta preferida dos praticantes de tiro, sobretudo nos Estados Unidos da América, pelas semelhanças com o corpo humano (o que diz bastante sobre o povo que constituiu esse país e sobre nós, enquanto seres humanos, que não passamos de uma enorme percentagem de água que possui raciocínio)! Sendo ambicioso, vá, porque certamente há exemplos que claramente já deixaram que ambos se diluíssem!

E porque é de calor que se fala – pelo menos por aqui – anuncio desde já a chegada dos 40 graus, para os próximos dias. Como não pretendo fazer parte do grupo das melancias, vou arriscar e não fumar durante os picos de calor. Já passamos pelos 39, duas vezes, mas numa das ocasiões eu estava na frescura de Meteora, muito longe do epicentro do calor e rodeado de uma frescura de montanha, enquanto subia por caminhos endeusados (dizem) e dava por mim com um joelho brutalmente dorido! Um sinal das trevas, claro está…

São dias de cansaço extremo, sobretudo devido ao calor e independentemente da quantidade de água ingerida. Um corrupio constante para o chuveiro para, com a água gelada, obrigar o corpo a descer a temperatura! Não levo toalha porque o simples trânsito entre o final do chuveiro e o quarto permite que o corpo seque e estou pronto para o chuveiro seguinte. Devo andar com um sorriso parvo na cara mas, quem conhece, sabe o que tal sorriso significa…estou em casa!!!!

Devaneios de uma noite quente, mais uma! – 30/6/2021

O novo cantinho

Talvez seja uma conjugação de factores que me traz aqui – a cara bonita, a simpatia singular, o facto de colocarem a música grega num volume anormalmente alto, os olhares que trocamos ou as cervejas com que me vai mantendo aqui…não sei! Ou talvez tenha a certeza mas não quero admitir o óbvio! A cerveja é servida a uma temperatura próxima do congelamento que, para mim, é a temperatura ideal – as noites já não são frescas como outrora, ao longe ouço The Cure a tocar bem alto e, de forma envergonhada mas sentida, finjo não ouvir – para não prejudicar o romance envergonhado!

A alteração manual das músicas é feita por cima do balcão – o que prejudica bastante a lucidez de qualquer heterossexual assumido! A indumentária é a armar ao simples e despretensiosa mas perfeitamente ajustada a um corpo que se assemelha bastante a uma ideia antiga – agora tornada realidade – de como uma deusa grega é! Ouvem-se petardos ao longe e, tratando-se da Grécia, não sabemos se me leram e estão a celebrar ou se começou uma guerra civil! Ela aproxima-se e sussurra-me que é normal…como se o normal existisse na Grécia….eu finjo não ouvir muito bem e recebo um sorriso tão empático que acabo por corar. Ela sorri e afasta-se com o sentimento de dever cumprido….por me ter acalmado, julga ela, como se eu estivesse concentrado no ruído!!!!

Interrompe a música que tocava, debruçará sobre o balcão, com um top do qual só existe o topo e um mostrar atrevido de um traseiro que nem esculpido poderia ser criado de forma tão perfeita! Continuo sem conseguir ouvir, finjo apenas que o faço, qual impostor da audição! Só a visão e o coração funcionam – num sincronismo que apenas é interrompido pelo final da música! Não que eu consiga escutar….é a visão que me mantém informado!!!!

Da antiguidade aos tempos modernos.

Acordado cedo, com a intenção de conseguir fazer o caminho de casa até ao trabalho a pé, dou por mim numa lição de história diária – principalmente porque ainda não me adaptei a uma vizinhança que, apesar de aconchegante, ainda é um mistério para este “miúdo novo no bairro”! Os desvios constantes levam a novas ruas, novos becos, novos locais e novas realidades – como se fosse um fundo novo, numa reunião via Zoom que não existe mas cujo fundo nos dá uma nova e bela imagem, dia após dia! São cerca de cinco quilómetros, quer no percurso de ida quer no percurso de volta, que percorro com maior dificuldade (mas o mesmo prazer) no regresso a casa – influência de dias intensos de treino e o calor – que já se faz sentir – e que derrete, com maior ou menor grau de dificuldade, o esbelto corpo do humilde narrador. 😎😉😂

As horas de treino passam rapidamente e, apesar de termos algum atraso em relação ao horário planeado, estamos juntos na tarefa de superar as dificuldades que vão surgindo – inerentes a todo aquele que se propõe aprender algo novo…e eu adoro novidades, mesmo quando são amizades que nos confessam algo que já deveríamos ter cumprido e que agora podemos cumprir! É reconfortante saber que, de uma maneira diferente, tocamos no mais profundo de outrem! Ainda não existe música nos bares gregos mas, como tudo na Grécia, nada é suficiente para demover as massas populares de se reunirem, falarem e, obviamente, conspirarem! A Grécia é pródiga em personagens diferentes, pensamentos que outros não entendem ou não se esforçam por entender, pródiga em pequenos e grandes acontecimentos que nos obrigam a pensar, raciocinar, aprofundar e, em última análise, enfrentar o amor da fera grega!

As semanas são um equilíbrio entre o trabalho a desenvolver e o destino de fim de semana a escolher – num país onde não faltam destinos de sonho e onde facilmente consegues alimentar a visão com tudo de gourmet que a natureza tem para te deliciares. As horas, pós trabalho, num exercício de descanso da mente e a escrita de algumas palavras que, juntas, desejamos façam sentido. A saga para encontrar um apartamento continua sem que o humilde narrador sinta qualquer pressão no local em que se encontra – uma espécie de aguardar pela ocasião perfeita – como se de um goleador profissional se tratasse no aguardar da ocasião perfeita para aproveitar a única ocasião em que a defesa adversária comete um erro! A empregada de mesa que tem a mesma simpatia de um monge que já não vê pessoas desde o início da reclusão, o bar que sempre frequentaste e que nem sob tortura divulgarias a localização, os carros gregos que insistem em circular numa zona pejada de pessoas, os cães e gatos que merecem mais consideração do que qualquer outro ser.

São dias de aprendizagem que fazes com o mesmo sorriso de outrora, são dias de sorrisos com a mesma alegria de outrora ou, sejamos ousados, são dias felizes!

Aquele abraço! – 1/6/2021

Como a água do vinho.

O célebre ditado popular pretende comparar duas coisas que são o oposto, uma da outra. Se a aventura começou em Omonia, por entre seres humanos que lutam pela vida enquanto esgravatam os contentores do lixo por comida, prostitutos e prostitutas – com o corpo usado para lá de quaisquer limites que anteriormente tenhas presenciado ou ouvido falar, com negociantes de produtos que não encontras nas cadeias normais de retalho, todo um mundo paralelo ao mundo real de tão surreal que é.

Se, iniciei eu o parágrafo anterior, sem que tenha feito qualquer comparação porque não há comparação possível. Como um astronauta sinto que voltei a colocar os pés na Terra! A vizinhança cumprimenta-se, as pessoas sorriem e sinto que aterrei num planeta em que há todo o potencial para ser feliz. Um quarto maravilhoso, uma senhoria que gere a casa dos seus sonhos, um hóspede que sorri de cada vez que volta a perder-se e é obrigado a recorrer ao Google Maps para voltar para casa.

Este retorno está rodeado de curiosidades que, cada vez mais, me fazem recordar o porquê do amor que me ficou gravado aquando da primeira vivência por terras gregas – as pessoas, os sítios, a meteorologia, a loucura inerente ao povo, o bem que se sobrepõe ao mal com uma naturalidade que só não existe em termos de condução – ao volante, refira-se, porque ninguém é perfeito e o Grego acelera bem mais do que utiliza os travões – numa condução que, parecendo desgovernada ou caótica, atinge sempre os seus objetivos.

O som da linguagem – um amor antigo que de aprofundou – como estímulo para uma audição que ansiava pela rotina de o escutar, a beleza constante pela qual os meus olhinhos penavam e que agora volto a ter que proteger, por trás de uns óculos escuros, as papilas gustativas que parecem festejar este regresso como se fossem tambores Taiko japoneses – por entre kebabs, pitas ou o iogurte – essa iguaria que me faz render e aguardar por permissão mental para a vez seguinte (é melhor abreviar a parte gastronómica, sob pena de engordar este texto muito para além de qualquer limite tolerável). O olfacto a espirrar de contentamento perante toda uma natureza que, doméstica ou não, parece ansiar por penetrar-nos com uma panóplia de cheiros que, apesar de não conseguires reconhecer todos, te agradam – de uma forma que é um misto de espanto, saudosismo e satisfação.

Parece ser um texto em que falo dos cinco sentidos, numa lógica de texto que faça sentido (passo a redundância) mas não posso falar do tacto. Não que exista uma proibição de o abordar mas tão só porque seria deselegante menosprezar a intimidade – algo que sempre preservei com um amor próprio primeiro e sorriso nostálgico ou presente, de seguida. Sejamos oudazes: sentir o toque ou ceder o toque a outrem é algo que o nosso íntimo guarda, numa qualquer “cloud” da memória, e eu esqueci a password de acesso (por vontade própria) – só tenho permissão de leitura mas não posso editar ou modificar, seja de que forma for! Bravo, digo a mim mesmo, de cada vez que me recordo dessa fechadura que, apesar de rudimentar, é uma solução moderna e actual.

Não sei o que é a felicidade enquanto estado de espírito permanente mas reconheço, com muito respeito e carinho, o momento presente de felicidade!

A nova vizinhança – 29/5/2021

Passeios históricos

Das caminhadas junto ao mar até às caminhadas por Atenas – se bem que o mar rejuvenesce a alma, a verdade é que a minha cabeça sempre ficou por aqui. Poderão afirmar que menti a mim mesmo durante o tempo em que estive ausente mas a verdade é que fui vivendo, amando, conhecendo e sorrindo enquanto não voltei! Com total entrega – e até dei por mim a não me importar de seguir outrem para que não houvesse interrupções na entrega mútua. Se a vida assim não quis então será porque a Grécia, com o seu espírito livre e amoroso, me quis ainda mais.

Fui fiel a mim mesmo e, na impossibilidade de simplesmente voltar sem trabalhar (que chegou a ser questionada, uma vez que tenho toda a documentação de cidadão Grego), entreguei-me nos braços de um amor antigo que, mea culpa feita, eu não soube preservar – com todo o respeito e carinho que ainda conseguimos ter.

Assisti a uma partida deste mundo que levou muita da beleza que só uma amizade singular proporciona – a irmã que nunca tive decidiu descansar de todas as agruras que a maldita doença lhe provocava e jamais deixarei de a chorar – pois sinto, constantemente, a sua presença – com o sorriso maravilhoso de incentivo, o abraço de profunda amizade, o recordar de segredos tão nossos que eu juraria terem começado quando ainda éramos bebés. Visitarei o Petros, na ilha que visitaste, para recordar locais que não conheço mas, sabendo e conhecendo a tua curiosidade, estou certo que conheceste toda a ilha para depois, com conhecimento de causa, teres deitado na melhor praia que havias descoberto. Sinto em mim o teu incentivo e tal advém da forma única como crescemos – como grandes e inseparáveis amigos.

Num dia concorro a Sofia, na Bulgária, mas dada a demora da empresa a responder, a recrutadora da agência falou em Atenas, como se de uma alternativa se tratasse!!!! O meu mundo parou e o meu tom de voz despiu-se perante a possibilidade de regressar. A recrutadora estava pasmada com a expressão que eu usei, assim que ouvi “Atenas”. Hoje tomei a liberdade de lhe enviar uma mensagem, com uma fotografia anexada, a agradecer o facto de estar aqui. A resposta dela não tardou e dizia “Raramente nas fotografias vemos a felicidade nua que exibes. Um obrigado por me teres deixado participar na tua felicidade”!

Tenho a certeza que ela também tem razão e, tal como outrora me dizias que a Grécia era o meu país, também eu começo a ter a certeza que ambas têm razão – eu é que simplesmente neguei o inegável! Um abraço muito forte, com todo o cuidado. Daqueles que as pessoas comentavam que lhes causava inveja!

Atenas – 23/5/2021

“Apenas” um pôr do Sol

De costas direitas e bem firmes, de indumentária leve – mas com o obrigatório aconchego da camisola de Verão para a humidade noturna, de passo típico de despreocupação, os sorrisos a ultrapassarem a cadência da locomoção. 

Descendo os escassos metros que separam a casa da praia, a trocarem impressões sobre o dia que ainda não havia acabado, idealizando projectos concretos para os dias que virão. Subitamente, no final da rua, deparam-se com o Sol a preparar o palco para a sua despedida diária e, ambos, deixam o queixo cair e concordam que o espectáculo tem que ser visto.

Nascidos numa terra de pescadores e separados por escassos anos, recordam o ano de 1988, quando se conheceram. Detalhes muito turvos em relação a detalhes de 1988 mas a visão muito apurada para o show mágico que tinham decidido assistir. Como locais que são, meteram os pés na areia e sentaram-se na última “fatia” de areia que não estava húmida – uma espécie de palco só nosso, de vista desimpedida e na companhia dos profissionais da praia.

As mãos escondidas pela areia procuravam o contacto um do outro e foi certamente o GPS emocional que as ligou. E foi assim, de mão dada coberta pela areia, que presenciaram o maior espectáculo do Mundo. Uns profissionais a sair da água enquanto outros profissionais se dedicavam à procura do melhor local para lançar o anzol.

Fisgados, primeiro no Sol e depois nos olhos um do outro, saudaram o pôr do Sol com um valente beijo. Ele ergueu-se primeiro e esticou a mão para que ela o pudesse fazer. De passos suaves na areia retomaram o caminho do melhor arroz de polvo do Mundo e nem os amigos de longa data com que se depararam poderiam explicar o porquê daqueles sorrisos tão abertos e cúmplices. Nada haviam roubado mas estavam condenados a amar-se…a mais bela pena a que um ser humano pode ser condenado!

(Original de 2 de Agosto de 2019)

Turbulência

Sentado no lugar 1A, já ouvi o “cross-check” e as instruções no caso de emergência – basicamente, ouvi a hospedeira explicar que, caso dê merda e houver tempo, devemos seguir as recomendações dela…A mulher do 1B tem a mão esquerda cravada no apoio de cotovelo que separa os nossos lugares e olha para mim com um ar de medo profundo – há uma união de sentimentos no receio mas acalmo-a dizendo que estas coisas raramente têm acidentes o que, numa semana com mais um acidente aéreo, não inspira grande confiança…

O plano de ataque está definido, o plano de voo á muito que foi aprovado e o destino pertence a uma conjugação de factores naturais que não convém desafiar. “Clear to take off” e posicionamo-nos na pista, prontos para largar…motores a fundo, travões também e, após o soltar dos travões, eis que o nosso avião ganha altura ruma aos céus…onde aquelas rodas vão pousar é algo que só à nossa imaginação pertence…

Irlanda

18 de Março de 2017. Foi esse o dia em que aterrei em Cork e comecei a fase irlandesa da minha vida. 2 anos, 5 dias…recordo que marquei a viagem para chegar – propositadamente – após a festa nacional, o ‎Saint Patrick’s Day. Uma decisão corajosa de quem vinha de uma série de festas de despedida – algumas a superar o nível de alguns dos filmes da trilogia ressaca – que me fazia sempre recordar a máxima “Poupa o teu fígado!”.

Era um dia nublado e chuvoso aquele em que cheguei. A natureza, de um verde insuperável, dava esperança ao humilde narrador de que talvez houvesse um dia em que se pudesse (eventualmente) até fazer praia…era, obviamente, a visão deturpada pelo cansaço da viagem que teve que ser feita com escala em Londres. Mas sim, consegui um dia ir à praia na Irlanda e farei questão, caso a situação ocorra, de contar aos meus netos para que nunca façam merdas desse tipo!!!!!!

Trocas de casa, pessoas novas conhecidas e acarinhadas, pessoas novas conhecidas e remetidas ao esquecimento, sorrisos, gritos de luta e incentivo e, ultimamente, uma vista muito mais sorridente. Tal como o rio, que nos serve de imagem diária para quem frequenta uma sala completamente rodeada de vidro, também a vida flui naturalmente – talvez não para o rio que desejamos, mas há que fazer o melhor com o que vamos encontrando nas margens ou procurar sítios mais distantes para buscar o pão.

E que rico pão…vivemos a uns 100 metros de uma padaria francesa fabulosa (na Irlanda consome-se mais o nosso pão de forma pelo que a padaria, enquanto estabelecimento, é um conceito quase não existente para eles) na qual os produtos que estão expostos são de fazer babar o mais bem-educado dos meninos de um qualquer colégio particular em Portugal.

Olhos bem abertos na constante procura de mais ver; uma procura constante por novos pequenos nadas que vão surgindo e que urge apreciar. Um lugar quase cativo no autocarro e a construção de uma nova “seita” no fundo do mesmo. Gargalhadas com humores semelhantes, gargalhadas com humores diferentes.

Trocas de olhar e sorrisos constantes, condutores demasiado expeditos e recém-encartados ao volante. Viagens de pura adrenalina versus sermos ultrapassados por caracóis. E, lentamente, conhecendo….

Sempre na luta…

Nunca fomentamos a nossa relação pela exigência no contacto mas percebo que exijas mais de mim do que presentemente te tenho dado. Ando egoísta, talvez seja isso! Mais relaxado, mais dado a tarefas caseiras, mais dado a gargalhadas com os que mais gosto.

Livrei-me do velho portátil e teclo-te agora de um modelo novo. Nem percebo como deixei algo chegar a tão velho mas, por vezes, deixamos coisas envelhecer ao nosso lado sem que exista mérito para que tal aconteça. Não mais voltará a acontecer: mereces que as novas criações provenham de um modelo ao teu nível! E assim será, doravante.

Continuamos a curtir a nossa casa, em frente ao rio, com uns endiabrados (de bons) brunches aos domingos. Vamos usando os sábados para ir conhecendo novos locais para o pequeno-almoço tardio mas os domingos são nossos!!!! A nossa varanda tornou-se o nosso local de culto e o rio, constantemente a fluir em direcção ao mar, a minha alegoria para largar palavras velhas e usar um diálogo novo!

Acusam-me de evitar-te! Que desabafo demasiado contigo, que as pessoas que interessam – só essas existem – são sempre as segundas a saber do que se passa. Acho que são ciúmes, más línguas ou apenas uma forma amorosa de expressarem o seu gosto pelos escritos passados. Mas, tal como na bolsa, lucros passados não são garantia de lucros futuros e, com os escritos antigos, é precisamente a mesma coisa.

Vou começar a natação, assim que consiga atravessar os 20 metros que me separam entre a porta de casa e a piscina do hotel. Com trezentos euros anuais tenho acesso a tudo o que se passa na piscina e, qualquer dia, lá estarei com os velhinhos todos a fazer hidroginástica!

Passos pequenos mas muito seguros. Fevereiro de 2019.

Férias

Havia muito tempo que mentalmente estavam planeadas! Uma espécie – para não usar a palavra “tipo” – de descanso do guerreiro que mais não é do que levar o guerreiro a prestar vassalagem ao Sol.

Partir do aeroporto de Cork assemelha-se, em muito, a partir do aeroporto de São Tomé: as máquinas são ligadas para inspeccionar as bagagens, há muitos sorrisos – por parte dos passageiros que sabem que vão evoluir, pelo menos, uns 20 graus centígrados em termos de temperatura, a boa disposição impera e contagia!

Voo tranquilo, apesar da histérica que seguia a meu lado e que, a cada pedaço de turbulência, se agarrava a mim…fosse a Claudia Maria Schiffer e a história teria sido diferente! Sem turbulência, claro está! A chegada foi tardia e as primeiras impressões de uma semelhança brutal com a Gran Canaria – entre a Playa del Ingles e a Playa de Las Americas há semelhanças tão incontornáveis quanto a relação de vizinhança das 2 ilhas!

Dias passados maioritariamente entre o Papagayo e a praia! Papagayo para hidratar e a praia para plena satisfação da necessidade vital para quem nasceu tão perto do mar! A temperatura da água não seria a ideal – de acordo com os padrões Gregos – mas, para um Espinhense habituado a estas lides…estava fresca!

Festejamos a amizade Luso-Helénica, em todos os momentos em que pudemos estar juntos, e descobrimos que temos maneiras de ser bastante idênticas – sempre sem afectar a amizade ou respeito que nos unem.

Maravilhoso voo de volta para Cork – que estava 21 graus abaixo da temperatura da ilha – e o tabaco a ser capturado na fronteira, por um troglodita da alfândega (que não a discoteca em Caminha….antes fosse!!!!) que só exclamava que a Espanha nunca tinha pertencido à União Europeia! Um intelectual, claro está!

Após pedir uma qualquer declaração, atestando que o tabaco tinha sido apreendido, resolvi dar meia volta e seguir para casa – onde me esperava uma mudança para o apartamento novo!

A ironia da vida é agora tentar perceber como é que 4 dias apenas te colocam na cara um sorriso tão duradouro….

Aquele abraço.

A calma ou acalma…eis a questão.

Prometeste-te (sim, está bem escrito…prometes a ti próprio) um fim de semana tranquilo, cumprindo somente a tradição habitual do brunch e pouco mais. Compras só algumas Super-Bock para acompanhar e sabes que o fim de semana vai ser de descanso.

Se a sexta-feira foi de música, amendoins e Super-Bock, enjaulado entre as quatro paredes da casa do Altus que te permitem vencer o frio, já o mesmo não se pode dizer dos dias seguintes…viver com Brasileiros é um samba constante!

Não só a Super-Bock desapareceu como o frigorífico apareceu cheio de Heineken!

Um homem nunca se deixa derrotar e, por entre uns hambúrgueres maravilhosamente confeccionados, a Heineken foi escorregando pelo esófago. Acho que tanto o sábado como o domingo foram momentos ímpares de confraternização, gargalhadas – com e sem sentido – e uma dor de cabeça no dia seguinte.

O que tem realmente piada na casa é o facto de conseguirmos sempre mais uma gargalhada, mais um sorriso, mais uma situação inesperada – com que todos nos rimos – sem atrapalhar a harmonia diária.

Amor é…cafeína!

Sentado no sofá e refém da sua caneca de café. Mentalmente analisando a evolução do percurso: começou num pequeno curto pela manhã, evoluiu para dois curtos pela manhã para, finalmente, voltar ao conforto da cafeteira de sempre – a quantidade ideal, o aroma possível para a tecnologia utilizada, a temperatura ideal!

Revê os emails recebidos, analisa cada proposta como uma oportunidade de ir conhecer outras paragens, responde no messenger e sorri. Ainda não está funcional e a audácia leva-o a uma segunda cafeteira de café. Recorda a combinação que fizeram na casa e, caso tudo corra bem, em breve terão uma máquina de café para todos!

Liga a TV e acompanha o pequeno-almoço das várias emissoras: os programas simples feitos para uma audiência fácil de cativar e ainda mais fácil de manipular. Muda para a CNN e dá de caras com o Jim Acosta, de sorriso renovado, que me dá as últimas notícias da Casa Branca.

Levanta-se do sofá, desliga a TV e chega à conclusão inicial: deveria haver uma fórmula mágica que, analisando o estado do paciente, indicasse imediatamente a dose de café necessária para o equilíbrio diário! Ora….aí está uma invenção digna e capaz de gerar lucros por muitas gerações.

Está frio, exclama enquanto abre a porta para sair de casa! A diferença de temperatura entre o interior e o exterior é elevada e o choque térmico leva-o a bater a porta, ficando dentro de casa!

Devaneios matinais de quem precisa de um edredão eléctrico para se deslocar…

Um brinde a uma vida nova!

Se me perguntasses como viver um sonho eu respondia: entra com o pé que te apetecer, distribui as coisas como o consenso dos habitantes o ditar, faz uma primeira refeição de sonho, lavem a louça juntas, sentem-se no sofá a digerir à volta de um bom jogo de caixa dos antigos…chamem-lhe o baptismo, se quiserem!

Como não perguntaste…também não te conto! 😉 Ahahahahahahah. Apenas feliz, sabendo que estás bem! Medos, receios e afins não constam nas tuas batalhas passadas e certamente não ousarão marcar presença na vida presente e futura! Ri, despropositadamente, e espalha essa “virose” por todos os habitantes. Estabeleçam consensos, distribuam tarefas, criem laços de equipa e vivam sem imaginar o gozo que é a vossa vida!

Na mesma situação eu recordo que dei uma festa para todos os meus vizinhos – não, não conhecia nenhum! A casa acabou de pantanas mas a surpresa maior estava reservada para o dia seguinte quando, saídos do nada, todos os convidados do dia anterior se apresentaram para ajudar na faxina!

A vida está cheia de feitos inesperados e tu és o mais bonito que me aconteceu!

Perdi a vergonha…

Ainda caíam gotas dela….notava-se que estava a precisar de descanso mas a hora era de acção e o descanso passou para um segundo plano.

Toquei-lhe com a gentileza possível de quem toca algo húmido e a precisar de repouso. A minha mão rodeou-a e apertei-a um pouco para que não me fugisse.

Coloquei aquilo que ela gosta bem dentro dela e fiz uma ligeira pressão para ter a certeza que estava conforme fui ensinado. Sim, estava.

Aqueci-a até obter dela os primeiros acordes de sucesso. Assim que ouvi a sua manifestação de dever cumprido, imediatamente peguei nela e, manipulando-a cuidadosamente, virei-a!

É um prazer diário. Adoro a minha máquina de café!

Lágrimas de emoção

Que grande alegria me deste…

É verdade, não devemos nunca ficar alegres com a tristeza alheia. Sim, eu sei. Tratando-se de uma batalha pela felicidade, não sinto que esteja alegre com tristeza alguma! Quando se batalha por algo, da forma – pausada mas racional – como o fazes, só posso estar alegre por ter-te perto de mim.

Falaste do meu coração como se o conhecesses. Muito provavelmente porque ele tem a estranha mania de controlar as minhas acções românticas e, após as suas acções, sai de fininho – rindo como o Muttley. Não que se ria do sentimento mas apenas se ri de satisfação por estar mais perto de um coração semelhante.

Nem só de semelhanças é feita a vida mas, e aqui dou um voto de louvor a nós os dois, que nós temos tido a nossa dose de semelhanças…não há como negá-lo. Somos o fruto de uma série de coincidências que nos colocou no caminho um do outro. A mais bela série de coincidências, ousaria dizer.

O teu texto de hoje tem tudo o que eu gostaria de receber de ti: honestidade, pragmatismo, receio…acima de tudo, tem uma dose de força tua para enfrentares as adversidades com que te deparares.

Quero poder dizer-te ao ouvido palavras que nunca te escreverei mas que ousarei tentar fazer-te sentir, sempre!

Mais do que um beijo, o maior abraço amoroso do mundo!

Rubores que espalham por aí…

A cara, linda como sempre, aparece no canto superior direito acompanhada de uma bola verde à sua direita. Respiro fundo, trocamos breves impressões e a cara linda e a bola verde cedem o lugar a outros que continuam ligados. 😦

Questionas-te se faz sentido ficar corado perante uma imagem que aparece e desaparece…são questões que te são respondidas de dentro para fora e, sem dares conta que estás com o teu sorriso traquinas (sorriso traquinas é uma marca registada por mim e qualquer utilização requer autorização prévia). 🙂

Conheces o sorriso traquinas e sabes demasiado bem o que ele significa para ti. Não dominas os momentos em que ele aparece mas é algo que sabes que estar a acontecer pois começas quase a fumegar das faces coradas. Sabes perfeitamente que colocar uma cara de quem acabou de ser bafejado pela fuligem de uma locomotiva não é a melhor maneira de disfarçar o que sentes. Nunca disfarçaste nada, não comeces agora! Diz-te o Zé… 🙂 🙂

Apresento-vos o Zé! Provavelmente já tinham lido algo sobre ele mas hoje eu apresento-o à sociedade. Não vai debutar no Ateneu Comercial do Porto mas as redes socias, blogs e afins parecem-me um cenário muito mais digno de iniciar a sua vida em sociedade!

O Zé, indivíduo de uns quarenta e qualquer coisa anos de idade, é o mais assertivo dos seres sem existẽncia física! Dá-te conselhos que não acatas, dá-te sugestões que raramente segues mas, acima de tudo, é o teu maior confidente – aquele tipo de pessoa que, apesar de apresentarmos à sociedade, sabemos que colocamos a nossa vida nas mãos dele (se ele as tivesse).

Aquela vozinha, no fundo da tua cabeça, que sempre te incentivou quanto te faltava incentivo, sempre te empurrou quando não querias andar, obrigou-te a correr quando querias descansar. Obrigado Zé! 🙂

Alinhamento de linguagem

Numa galáxia perto de si, a apenas alguns milhões de anos-luz, os sujeitinhos locais argumentavam sobre qual a melhor maneira de comunicar. Os sons que emitiam não formavam uma linguagem perceptível por ambos e as faces alteradas pela cor da emoção não disfarçavam o sentimento.

De um lado o macho, sem quaisquer pretensões alfa (nunca é demais salientar), abanava o seu corpo – numa espécie de dança inventada para o efeito: corpo muito atabalhoado no movimento, face corada pela falta de movimento natural mas cheio de convicção que o objectivo da dança seria alcançado. Do outro lado a donzela – a face linda que ele havia memorizado havia tantos anos, os olhos concisos e mordazes, a face dourada aos olhos de quem a olhava, o sorriso escondido pela face obrigada a estar séria.

Ao tocar na mão dela – talvez porque fosse a primeira vez que o faziam com o sentimento presente – estremeceu. Ela perguntou-lhe se ele estava nervoso e ele, quase a hiperventilar e desesperadamente procurando um saco para repôr o ritmo respiratório normal, respondeu que estava “apenas” emocionado…(ele era mentiroso nas situações em que sabia que seria imediatamente apanhado).

Para quem olhava ao longe eles nitidamente pareciam alinhados mas, para ambos, eles estavam apenas sintonizados numa mesma onda, obviamente larga, mas a maré ora enchia ora vazava. Era na praia-mar que estavam mais juntos – quando percorriam a areia do conhecimento que pretendiam ter um do outro e, ora molhando o pé na água salgada e fria ora voltando à areia, debatiam o que os separava.

Foi no debater o que os separava que descobriram o que os unia…e foram felizes para sempre!

The end.

Sem rotina

O Zé lutava contra os pontos finais. O máximo que ele algum dia arriscou foi um ponto e vírgula que, posteriormente, substituiu por reticências. Nunca mais voltou ao assunto, olhou à volta e viu que o mundo continuava alegre e pronto a abraçá-lo. Abraçou-o de volta e submergiu no seu novo mundo.

Foi a busca de abraços que o levou a uma pausa que não havia programado. Recordava aquela conversa,  no muro das Sereias, como se haviam encontrado, as vicissitudes do encontro e a que agora se tornou a “habitual espia” – que rondava como um perdigueiro que sente o odor da presa mas anda perdida na procura para a entregar ao dono.

Se havia algo que eu notava no Zé era a grande evolução em termos de inteligência emocional – ele não sabia a quem atribuir o mérito e eu ousei perguntar-lhe se o facto de se ter rodeado dos melhores e ter tido as ervas daninhas afastadas não teria contribuído para o belo prado verdejante em que a sua vida se tornara. Ficou no ar, como pergunta retórica, pois o Zé é um homem de poucas respostas…

O Zé olhou-me nos olhos e disse: arrisquei uma vírgula! A cara estava corada e, em termos de Zé, isso significa que a vírgula tinha sido deliberadamente colocada para sugerir o que lhe ia no pensamento. Não se desculpou com o uso da vírgula pois sabia que o diálogo, em que a havia usado, era com a escolha pessoal dele.

Arrisquei perguntar ao Zé…é mútuo? O Zé mudou de expressão e, com cara de garoto que se sente encurralado por uma sugestão que pode ser a verdade, confessou: não sei. Queria que fosse, disse. Faço o que posso para que seja mas temo demasiado o que possa ser. Temes?, perguntei eu. Não, respondeu-me o Zé, com as bochechas ainda ruborizadas…

O Zé aproximou-se do meu ouvido e segredou-me: sempre gostei dela! Daquelas linhas artísticas que ela tem, do dom linguístico que aplica de cada vez que se expressa, da sua maneira de agir e de pensar. Subiu o tom de voz para dizer: isto dura desde os 17 anos…haverá cura? – perguntou como se estivesse perante uma pandemia em que ele é a única real vítima.

Zé, perguntei com um tom de quem precisa de saber a verdade para continuar a conversa de amigos: porque achas que se trata de uma doença se tu tens a vacina…tudo o que tens que fazer é perguntar-lhe! O Zé assimilou a resposta – ou fingiu assimilar porque este homem já sabe as respostas às perguntas que coloca – olhou-me nos olhos e disse-me: é bom ter-te como amigo porque permites que a conversa flua sem que todas as respostas estejam presentes…

Levantou-se, deu-me um abraço e, quando já caminhava para casa, voltou-se para trás e exclamou: um dia vamo-nos rir disto! Sorri-lhe de volta e percebi que a vírgula não tinha sido usada como pausa mas como catalizador…o Zé havia sido directo e tinha agora um pretenso receio da sua acção.

Foi com uma sonora gargalhada que reagimos ao “um dia vamo-nos rir disto”! Já passamos por tanto juntos que os segredos de um não passavam, para o outro, de um intervalo de tempo em que toda a história seria revelada…

Regras da natureza…

Dia de celebração, de contentamento, de Super-Bock, de tempestade e de muita televisão. Porquê? Porque agora o menino “Callum” está a atravessar a cidade de Cork – ventos estupidamente fortes, chuva de toda e qualquer direcção, frio, algumas enchentes na cidade e um mal estar…

Enquanto Irlandês herdado temporariamente pela República da Irlanda, telefonei para o Off Licence e reservei oito Super-Bocks para o fim de semana (4 litros de cerveja para entreter estes dias de reclusão). Preso em casa mas com a mente solta a navegar por ideias que nem sempre ouso escrever, gritos que não vou dar e abraços que, estando em stock, terei que entregar.

Após ter passado o dia de ontem a desfilar o casaco novo pela herdade de Altus, hoje é dia de melhorar as prestações no Fortnite! Começar uns treinos após o jantar, pausa para uma trinca rápida e de volta ao treino. O gozo inerente ao já não conseguir jogar o que outrora jogava e ver outros, com a idade que outrora tive, a darem verdadeiras lições de como jogar o jogo.

A vida é igual…mas real e sem armas! Combate-se com o coração…

Palavras proibidas

des·ma·me

(derivação regressiva de desmamar)

substantivo masculino

  1. Acto ou efeito de desmamar.
  2. Época em que deixa de haver amamentação.

“desmame”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/desmame [consultado em 20-09-2018].

Talvez uma palavra a ser censurada do dicionário português! Trata-se de um acto violento – para ambos os sexos – e o seu uso deveria assentar numa autorização prévia de um qualquer organismo público que supervisionasse a sua utilização.

O homem nasce e agarra-se às mamas para sobreviver, quando muito ainda tem direito a um suplemento – já fora da mama – mas enganado por objectos que apenas simulam o mamilo. Assim, desde tenra idade o recém-nascido habitua-se à ideia que a mama é fonte de alimento. Precisa delas para sobreviver, para se desenvolver e crescer. A natureza humana sobrepõe-se a qualquer preconceito e a Mãe alimenta o filho(a) em qualquer ocasião em que tal seja necessário.

O fascínio, todavia, não termina por aí e, apesar de um hiato de tempo em que o outrora recém-nascido esquece a beleza da sua fonte de energia, depressa as protuberâncias femininas voltam a fazer parte do quotidiano do adolescente. Deixam de ver a fonte de energia de uma forma para a passarem a ver como fonte de energia para actos mais apaixonantes, não tão recompensadores energeticamente – bem pelo contrário – mas demasiado recompensadores de outras formas e feitios (porque a beleza provém também da diversidade existente).

Existem as ameaçadoras – que gritam por alguma acção no perímetro delas, existem as sensíveis – que se exaltam quando “sofrem” um afecto mais enérgico, existem as ultra sensíveis – que clamam que qualquer tipo de acção que interrompa o status quo é passível de conduzir a algo mais (eu, pessoalmente, designo estas por falsos positivos).

Existem de vários tamanhos e feitios e é isso que talvez conduza a que o homem não resista a olhar – o homem tem esse gesto não como voyeur mas porque apenas pretende saber em que pasta do seu arquivo deverá colocar a memória do que acabou de visualizar. O homem, como ser estudioso que é, procura o maior número de modelos de maneira a produzir um catálogo que possa passar a gerações futuras, numa procura insaciável (belo termo) pelo par perfeito.

Curioso é constatar que é um trabalho que nunca acaba! Saúdo os homens que todos os dias saem de casa – quais columbófilos – na procura da melhor ave. Umas voam, outras são estáticas mas, acima de tudo, todas nos deixam recordações.

Amanhã falamos de traseiros…

Maldita pontuação…

Ela falava com pontos finais e de exclamação e eu respondia com pontos e vírgulas e interrogações. Semelhante a um interrogatório dos tempos da Gestapo, o suposto espião desviava-se das questões mais pertinentes (soariam a acusações?) sem nunca colocar um final na cadência do diálogo: como se se tratasse de um sádico, que adora aquecer debaixo do holofote potente dirigido aos seus olhos.

Ela fazia analogias e ele teorizava sobre ambos os lados a serem comparados. Ela fazia parágrafos e ele abandonou a pontuação e, ao melhor estilo de Saramago, perguntou-lhe se ela seria a Pilar del Río dele…A pergunta devia ser retórica, sem que o autor se apercebesse, pois recebeu como resposta mais uma série de pontos finais.

Ele lutava por vírgulas, pontos e vírgulas, reticências e ela respondia-lhe com pontos finais, pontos de exclamação e parágrafos. Parágrafos sem que houvesse qualquer discurso directo de seguida, apenas soando a uma pausa no diálogo imposta pelo bom senso feminino.

Falaram de tudo sem nunca aprofundar nada e, no final, ficaram com a sensação que poderiam ter aprofundado tudo sem falar quase nada. Talvez não seja a distância que os separa mas apenas e só as diferentes maneiras que usam para pontuar as frases…

Uma ida a casa…

O reencontro com o meu descendente foi tão recompensador quanto o reencontro entre dois melhores amigos. Obviamente que me perguntou se a prenda de aniversário da Mãe tinha chegado e eu entreguei-lha…fugiu para um canto para testar o seu novo som e era vê-lo colocar o polegar ao alto para me informar que estava de acordo com as expectativas.

Na primeira noite ainda corri para o cantinho húmido do costume: Jorge a dar o seu melhor, Fellaini a rasgar com o seu rock alternativo todo e a Super-Bock a saltar geladinha. Recordo-me apenas que optei por não sair de dentro do Bombar e ter optado por ficar a delirar – sim, delirar – com todo o metal com que o Fellaini nos brindou – até Wolfmother nos entreteve! Eram 2 da manhã quando cheguei e a polícia acabou com a festa por volta das 3 e meia – o que acabou por resultar muito bem porque me permitiu passar pela padaria e engordar mais um pouco!

No dia seguinte corri para o porto seguro de sempre onde a mãe adoptiva estava com o seu filho e a minha melhor amiga. Abraçamo-nos como sempre e retomamos a conversa onde a tínhamos deixado: não havia novidades que eu não soubesse mas apenas uma necessidade de reforçar o apoio a quem mais significou e significa – sempre – em termos de amizade, dedicação e carinho. És insuperável na tua maneira de seres minha amiga, Obrigado!

O inesperado serviu para darmos uma lição de amizade a todos os que nos rodeiam e, mais uma vez, superamos a “prova” com distinção. Num momento infeliz houve uma equipa de amigos que conseguiu, com toda a naturalidade do mundo, proteger uma pessoa que sempre nos disse e diz tanto, ensinou e ensina tanto, dedicou e dedica tanto tempo. Há amizades insuperáveis e esta é e será sempre a minha.

Sei que estás em boas mãos pois vi o quanto todos queremos o teu bem e quanto naturalmente damos para que tal aconteça! Nunca conseguiremos ser tão completos quanto tu és mas sempre te serviremos com a mesma dedicação com que nos ensinaste e estamos sempre aqui para ti! Mereces todo o bem do mundo.

Muitas vezes, ao longo da minha vida, conseguiste milagres: roubei-te uma amiga com quem casei e de quem sou um grande amigo, mostraste-me sempre um sentido mais amplo e calmo das coisas e das pessoas, és e sempre serás a minha inspiração para o que de mais belo há no mundo – uma das raras pessoas que existem no mundo capaz de o fazer e que eu, cedo na vida, tive a sorte de ter encontrado. Sempre juntos!

Obrigado a todos pelos bons momentos e pela forma como juntos superamos os momentos menos felizes nesta curta passagem por Espinho. Vocês mostraram-me que a união faz a força e que grande força nós somos!

Um grande abraço a partir de Cork.

Sempre lindas

Mudei o ângulo em que tinha a cadeira e observei ambas. Havia uma expressão comum nas duas: eram lutadoras como eu nunca havia visto na vida real, estavam numa pose de descanso, mas descortinava-se nas suas faces as chagas das batalhas e o olhar pensava no fim da guerra sem nunca descurar que a batalha seguinte estava a minutos de distância.

A soma de anos de amizade comigo aproxima-se de 100 e eu, um pouco afastado mentalmente da conversa, só pensava nas voltas que a vida realmente dá. Haviam concretizado os seus sonhos, mas com grandes custos. São mulheres com ideais muito semelhantes aos meus e não demorou muito até que eu fosse criticado por outrora me ter misturado com gente sem ideais.

Adoro ambas num sentido completamente diferente: de um lado a melhor amiga que nasceu comigo e, do outro, a primeira paixão que nunca deixou de me fazer corar sempre que a vejo. Sinto-me um puto reguila quando estamos juntos – não pelas traquinices da juventude, mas pela sorte que tenho por tê-las perto de mim. Fico com a mesma cara de um recém-nascido após a primeira gargalhada…quando o bebé tem o primeiro sorriso e, porque talvez tenha gostado da sensação que o sorriso lhe provocou, o repete vezes sem conta.

Adorava poder conceder a ambas tudo o que desejassem – mesmo se eu não estivesse incluído – pelo simples prazer de voltar a ver os sorrisos de outrora nas faces delas. Abertos, sonoros, vindos do mais profundo de dentro delas e de fazer as multidões corar de inveja.

Não tendo o dom de mudar as coisas eu aproveito para passar o meu tempo com elas: as palavras são ditas com mais facilidade que os actos, disse-lhes. Todos temos uma maturidade diferente de quando crescemos juntos, aceitamos partes do destino sem nunca deixar de o enfrentar, rimos com a consciência de que o minuto seguinte poderá ser de lágrimas mas nunca deixaremos de ser o que sempre fomos: bons amigos.

Adoro-vos! E esse sentimento nunca deixarei que mude.

A amizade celebra-se!

Passei toda a minha vida sempre com uma amizade que designei como sendo a melhor. Melhor porque é superior em tudo: na bondade, na presença, na cooperação, na partilha de momentos únicos, nas gargalhadas que ainda hoje demos, no medo e receio que tínhamos com desafios que enfrentamos, na praia e no campo, no mar e na terra. Este bem poderia transformar-se o maior parágrafo alguma vez escrito se eu fosse enumerar todas as tuas virtudes! Não o farei porque é a intimidade da nossa amizade que prevalecerá – contra tudo e contra todos.

Não tenho a receita mágica para te devolver todas as forças de que precisas, mas dou-te toda a minha força para que triunfes…sempre! Sempre foi assim e sempre será! Essa é uma certeza que terás que viver sempre com.

Num mundo perfeito jamais te terias cruzado com as adversidades com que te cruzaste e que eu presenciei. Num mundo perfeito o povo ansiaria por ser como tu, trabalharia para conseguir tanto como tu sem nada pedir em troca. Num mundo perfeito tu irias sentir-te envergonhada com todo o reconhecimento que te seria dispensado, mas, como tens a certeza do teu valor, saberias superar o reconhecimento para, como sempre o fazes, superar-te cada vez mais.

Vejo-te como o desenho perfeito da amizade – sem qualquer necessidade de retoque ou edição. Nunca conseguirei sequer estar perto de um esboço desse desenho perfeito de amizade que és, mas a simples tarefa de tentar dá-me a certeza da tua grandeza e do teu engrandecer constante.

Tudo em ti parece fácil de executar – porque és tu que executas! Se, após ter memorizado como o executas, tentar o mesmo exercício eu apenas consigo sorrir, desistir de tentar e, com o meu sorriso malandro, sentir o maior orgulho do mundo de cada vez que me chamas de amigo.

Amar é possível na amizade e eu sempre soube que amava a nossa amizade pela simplicidade com que sempre a executamos. Uma espécie de engrenagem que se encaixa e se mantém em movimento muito para além do tempo em que estamos juntos.

Tentei, mas acho que ainda não consegui a descrição ideal da nossa amizade. Continuarei a tentar! Sempre juntos!!!

Beleza

Eram imagens rápidas, mas de uma beleza cativante – quase me projectavam para a presença, em termos de espaço e tempo. Decorava e sorvia os detalhes como se não houvesse amanhã e, com grande esforço, consegui armazenar uma grande parte na minha memória…espero não perder esse dom!

Foi totalmente inesperado, mas de uma proximidade sem igual. Foi a expressão de um desejo versus a expressão do mesmo desejo. Confusos? A confusão faz parte do caminho a trilhar para descobrirmos o caminho – uma espécie de vegetação densa que, com a ajuda de uma boa catana, se vai desbravando. Sim, já em 2002 passaste por uma experiência semelhante e, após o caminho aberto, viste uma das mais belas paisagens da tua vida. Parece que estás habilitado a este tipo de experiências e nunca deixaste de explorar a paisagem em todo o seu esplendor.

Há vontade de correr, de apertar, de ver mais de perto e poder, em conjunto, descobrir a paisagem na sua plenitude. Vontade de repetir a imagem, vezes sem conta, até se tornar uma memória permanente no teu cérebro. Uma espécie de beleza que queres incrustada na cabeça para, qual GPS, descobrires os melhores caminhos para a clareira.

Debateste as melhores formas de abordar o caminho e, em conjunto, chegaram à conclusão que é melhor perder o mapa e usufruir apenas dos sentidos para – tateando – descobrir a paisagem que procuram.

É um jogo de vontades e alinhamentos, de desejos e curiosidade, mas acima de tudo é a vida a desenrolar-se numa direcção que te apraz registar e aguardas pela tua vez de usar a catana para chegar ao objectivo. Com golpes delicados, mas decididos!

άλφα

Hoje foi uma espécie de dia atípico em que me coube a missão de explicar à audiência as diferentes fases de evolução de um programa (aplicação ou o desenvolvimento de software do início ao fim).

Não houve o início que todos esperavam pois comecei com uma grande gargalhada – maioritariamente cruzei-me com o assunto em 1988, ajudei ao desenvolvimento da aplicação de então e fiquei com a incumbência de, em ambiente de teste, obrigar a aplicação a cargas sempre superiores ao que a empresa desenvolvedora recomendava.

O produto passou por ambientes de teste, desenvolvimento e, após tudo muito bem testado e comprovado, foi colocado em produção. Foi, mais tarde, substituído por uma versão em que já não havia necessidade de dial-up a uma rede X25, nem N.U.I.’s…nada! A nova versão assentava nessa coisa inovadora de então que se designava por internet.

Confesso que já não me lembrava de grande coisa dessa altura, mas com a ajuda de alguns colegas de trabalho de outrora, construí algo que deixou o assunto bem explicado e interiorizado – foi a opinião final que me deram.

A gargalhada do início vem do termo “alfa” – que, na informática, designa a versão mais simples da aplicação. Significa isto que a primeira versão entregue tem que ser testada muito mais exaustivamente que todas as seguintes pois será a que mais erros certamente irá conter.

Incrivelmente dei por mim com um olhar de satisfação…talvez pelo facto dessa versão alfa se ter desenvolvido e se ter tornado num dos mais apetecíveis produtos de um dos bancos portugueses. Ou talvez tenha sido um ar de reprovação…por outras versões alfa nunca conseguirem sequer ver a luz do dia…. Curioso como a aplicação deixou saudades!

A informática tem o dom de fazer despertar chagas de outrora, mas – e todos hoje o sabemos – a informática é uma ciência de 0’s (desligado) ou 1’s (ligado) e, para memória futura, essa aplicação ainda hoje é usada por empresas com um número de movimentos diários que mais nenhuma outra aplicação comporta…talvez seja uma espécie de produto velho a quem não é dada a oportunidade de se reformar!

Escoceses…

Há sempre um sorriso quando ele chega. A maneira de falar, o sotaque que uma vida não mudará, o sarcasmo muito bem aprimorado, eis o amigalhaço escocês logo pela manhã! Este homem é o personagem mais terapêutico do edifício em que me encontro: tem absoluta noção de onde está, porque está e quanto tempo vai estar e, acima de tudo, ainda nos ensina o porquê de tudo isto lhe dar tanto gozo.

Há que criar o contexto para que percebam melhor: indivíduo na casa dos seus sessenta anos, com pouco cabelo – que permanece permanentemente coberto por um gorro, aqueles óculos caídos pelo nariz, os poucos cabelos brancos e o olhar entre a parte de cima dos óculos e os teus olhos. Um encolher de ombros quando as condições meteorológicas mudam – algo que, aqui, acontece a cada piscar de olhos, um sorriso perante o Sol e uma imediata piada, com aquele sotaque bem profundo, contatando algo como: foi por causa deste Sol que me mudei para este país “tropical”.

Incentiva-nos pela experiência de vida que nos vai contando, pela piada que sabe que o seu sotaque causa – há inclusivé um outro escocês que diz não o entender muito bem (e sorri, enquanto o diz) e pela rapidez de raciocínio com que alimenta o diálogo – que por vezes se torna num monólogo – de tal maneira os restantes intervenientes ficam de queixo caído perante o “dialecto”.

A melhor comparação que conheço, para vos tentar elucidar, serão os dois velhotes dos Marretas (Statler & Waldorf) mas, e este mas faz toda a diferença, naqueles momentos de elevado sarcasmo que, pelo menos uma vez, terminam com um velhote desaparecido do balcão e o outro a perguntar “ele saltou?”

A semana começa numa segunda-feira mas o sentido de humor nunca adormece!

Boleia

Num país onde não tens carro, e onde o autocarro pode demorar 20 minutos a chegar e outros 40 até ao centro, qualquer oferta de boleia para casa é uma benção – para quem acredita nessas coisas. 😉

Acho que, pela quinta vez, me cruzei com o mesmo português – a quem outrora pedi desculpa por não ter reconhecido – e, mais uma vez (nestas coisas há que ser coerente) não o reconheci. Saí por volta das 20, para apanhar ar, e vi alguém – numa postura quase militar, de face mal humorada e com cara de poucos amigos – que me intimidou pela pose. Quinze minutos depois, quando todos saímos, qual não foi o meu espanto quando o colega que me tinha dito que havia boleia se dirigiu ao “alguém” de postura militar e lhe perguntou se havia boleia para mim… 🙂

Obviamente estes desencontros devem fazer parte desse processo milenar designado por envelhecimento! 🙂 A gargalhada que eu e o “alguém” demos foi mesmo porque ele tinha a certeza que eu não o reconheceria e a certeza dele  – que se tinha confirmado…mais uma vez! Tenho que arranjar uns comprimidos para a memória ou começar a guardar fotografias das pessoas que mais vezes esqueço – haverá cartões de memória capazes de armazenar tanta informação? 🙂

Viagem divertida e bem tranquila até ao centro, num carro que tinha chegado no próprio dia, e foi já na última curva que o pneu cedeu….cedeu perante a pressão da curva à esquerda em que, por segundos, o pneu foi trilhado contra o passeio e…borracha versus cimento é uma luta desigual! 😉

Saltamos os cinco do carro e, qual equipa de mecânicos de Fórmula 1, tratamos da mudança do pneu estourado. Eu disse “qual equipa de mecânicos de Fórmula 1”? Menti…tivemos que ver vídeos no YouTube para entender como se removia a roda e, mercê do conhecimento mais profundo de um dos envolvidos – que enfiou um bom biqueiro no pneu – o pneu foi substituído pela “rodinha 24” que hoje em dia serve de pneu suplente. 🙂

Seguiram-se as despedidas, com o sentimento de dever cumprido, e o caminho para o centro. Entretanto o Cucas havia ligado e estava a acompanhar – via Skype – a mudança do pneu, o estado de espírito dos envolvidos e, com palavras de força e incentivo, resolvemos o problema com toda a motivação do mundo. 

Demos umas gargalhadas valentes – eu e o Cucas – pela piada que é o programares tudo para ainda haver tempo para compras, antes do jantar, sendo que a mudança do pneu havia frustrado esses planos. Lá fomos juntos, na conversa até casa, a debater o novo plantel desse grande treinador do Fifa 2017. 🙂 🙂 🙂

Pequenos momentos inesperados que conquistamos com um sorriso na face!

Sonho tornado realidade

Sonhei que idealizava a amizade perfeita:  com um sincronismo de raciocínio muito semelhante entre as duas pessoas, com um sentimentalismo muito parecido, com uma cumplicidade muito superior à de qualquer irmão, com um sorriso permanente – muito semelhante ao do vencedor que, do degrau mais alto do pódio, sorri perante as adversidades que acabou de vencer…para ser o melhor.

Acordei e vi que me tinhas enviado uma mensagem com um simples “Só tu…” e um emoji simbolizando uma gargalhada nossa. Há duas exclamações em ti, pelo menos para comigo, que sempre me habituei a responder com uma gargalhada – nunca de gozo mas sim de antecipação!

As expressões são o “Só tu…” e o “Oh IKA” – que, desde sempre, serviram para tu exemplificares algo com o qual não concordas mas igualmente não discordas! Naquela tua maneira tão low-profile de fingir que se trata de algo que jamais farias mas, e ao mesmo tempo, não discordas totalmente que eu o tenha feito. Enfim, respeitas que eu seja traquinas e sorves cada detalhe dos meus momentos de traquinice – que, embora não sendo muitos, são deliciosos. Eu sei porque os vivo e, apesar da amargura em alguns dos casos, a experiência tem sido muito recompensadora.

Vivo sabendo que és real, que batalhas, que sorris, que discutes, que gritas, que dás gargalhadas sonoras que tentas retirar, depois de dadas, como se estivesses envergonhada do volume das mesmas. Nunca estejas! São sorrisos desses que fazem as pessoas sentir aquela doce sensação de felicidade que tanto procuramos e tu…tu ensinaste-me a saber procurá-la, constatar quando a achasse…talvez agora aprenda a saber segurá-la! Cabe-me a mim aprender essa lição.

Obrigado amizade, sempre contigo! Beijo de uma grandeza tal que permita expurgar tudo o que te apoquenta e trocar tudo isso por sorrisos!

Noite de talentos…

Parecia ter tudo para ser mais um jantar com amigos – alguma cerveja, boa carne, a vontade de cozinhar segundo o conceito gastronómico brasileiro, mais cerveja, mais…bem, já perceberam a ideia!

A malta que se foi reunindo cedo mostrou que dificilmente abandonaria a reunião. Houve os que chegaram cedo, os que chegaram cedo, os que foram chegando…não havia controle sobre entradas e saídas. Havia um fluxo natural de pessoas.

As manhãs do fim de semana são sempre muito iguais: o brunch, imposto de maneira fascista por todos os que nele participam, obriga a um acordar com despertador (algo proibido em países sensíveis, durante o fim de semana). A maneira como os participantes tentam demonstrar que estão vivos, quase prontos para fazerem o caminho que os separa da Meca do brunch – o Brick Lane, demonstra bem o quanto a preguiça é combatida – pela imagem de uma tosta, uma fatia de bacon, ovos mexidos com pedaços de chouriço e uma água fresca! Uma espécie de fazer amor em jejum…com o brunch! 🙂

Irónica mensagem da colega decasa que, ao chegar ao portão, teclou um enigmático “o prédio está ardendo”. Eu, que prezo muito a minha temperatura corporal, respondi com um “qual prédio? O nosso?”. Obviamente era o nosso prédio! Medo!!!!! Corremos para a porta de entrada, nessa altura já pejada de bombeiros, e observamos os trabalhos dos bombeiros enquanto o vidro da varanda estourava – provavelmente estaria muito quente do fogo e estalou com a diferença de temperatura imposta pela água! Brutal filme de acção este que nos era dado a presenciar…gratuitamente! Fomos espectadores atentos, de cerveja na mão e sempre obedecendo às instruções que nos eram dadas.

O jantar, como sempre, correu muito bem e as pessoas estavam bem satisfeitas. Muitos momentos com muita piada, as inevitáveis desistências e esfomeados que julgávamos extintos da raça humana – mas o ser humano surpreende-nos sempre com alguém que tem um apetite bem superior aos demais…

O primo é um bem disposto, o futebol não correu tão bem quanto desejávamos: o Vasco da Gama ganhou ao Grémio com um golo absolutamente idiota. O dia já não corria bem – em termos desportivos – pois já tinha visto o Vettel a desistir de um G. P. da Alemanha – que ele liderava – com uma falha absolutamente imperdoável.

Sempre tudo arrumado após a revolução da festa. Sempre um acordar bem disposto. Um dia publico uma fotografia minha…a sorrir! 😉

Assim, é mais fácil sobreviver a onda de calor! 🙂

Vindo do além…

Voltou o céu cinzento, o sono por força da falta de incentivo para sair do quentinho e enfrentar a meteorologia irlandesa, o vento mais frio, os casacos.

Ao contrário do ano passado, este ano houve bastantes dias risonhos de sol bem aberto. Se bem que o ânimo atinge picos de loucura a verdade é que a terra está completamente seca pela falta de água. Há países que não nasceram para ter verão e certamente também existem os que não nasceram para ter inverno.

Aquela lufada de sorrisos, vinda do continente, com as respostas de uma pessoa bem mais do que importante. A constatação de que a nossa amizade é realmente abençoada – ironicamente escrito por quem não acredita em mitologia…

Tempo de curtir o fim de semana – durante umas semanas seremos 4 a viver na mesma casa – com a visita e os sempre amorosos colegas de casa. Ensinar a visita a acompanhar-nos no brunch, as tradições irlandeses, os detalhes escondidos, os becos desconhecidos, as bebidas frescas e as bebidas naturais mas de teor alcoólico acima do recomendável!

Vamos fazer a festa! Aparece.

Louras…

Em jeito de crónica de autocarro, vejo a colega com quem tenho trocado mais impressões: casaco de ganga,  calça preta perfeitamente alinhada- nem justa nem larga – e aquele sorriso bonito enquanto coloca a vaselina nos lábios.

O habitual diálogo de circunstância, abordando temas tão inocentes quanto a qualidade do sono, o despertar e a constatação conjunta de que ambos idolatramos o café.

Diálogo de qualidade, por enquanto com a  inocência característica de quem desconfia do que se seguirá,  e um foco extremo nos olhos um do outro.

Sorrisos inocentes mas prevenidos,  gestos livres mas regrados na emoção. Respiramos fundo,  com a desconfiança de que há suspiros entre inspirações.

Quinta-feira, já com os objectivos semanais atingidos e com a mente imersa num fim de semana de sonho e de trabalho: na segunda-feira terei atingido o objectivo de saber a resposta à questão: o sonho comanda a vida?

P.S. – Após um ataque ao website fui obrigado a apagar todos os subscritores e utilizadores. Se, por lapso, foste afectado então,  por favor,  subscreve novamente.

Aquele abraço.

Um dia…de cada vez!

Sentados no autocarro, debatendo a temperatura (alta) que se faz sentir, e eis que surge a polémica frase “Hoje está mais calor aqui do que em Ibiza”.

O vosso humilde narrador, ao ouvir a expressão de regozijo face à alta temperatura que se faz sentir, aproveita para responder com um “Mal posso imaginar o número de festas que nos aguarda…em terraços irlandeses devidamente apetrechados para o efeito”.

Ambos soltam uma gargalhada e, quase em uníssono, concordam que a descida dos terraços irlandeses em festa até à realidade do autocarro que, numa segunda-feira nos transporta até ao emprego, está ao nível das maiores tristezas da humanidade.

Constatamos que podemos não ter a meteorologia de Ibiza mas temos as nossas festas bem mais completas e bem mais privadas.

A imprensa insiste em avisar a população que hoje, ao contrário dos restantes 364 dias, o índice ultravioleta é perigoso e devemos proteger-nos com protector solar com um índice mínimo de 50 que, após colocado na pele, nos faz a todos parecer irlandeses…

“Um dia de cada vez” foi a resposta que obtive a uma questão que coloquei. Soa a frase feita mas parece ser o comportamento mais adequado a ter…sempre. Uma espécie de analogia com o ditado popular que nos incentiva a viver cada dia como se fosse o último porque, eventualmente, acabamos por acertar!

Por entre torcedoras da selecção Portuguesa e adeptos da selecção brasileira eis-nos a aguardar o jogo seguinte neste campeonato do mundo.

Giro, e ao mesmo tempo ingrato, como tantas “competições” importantes estão a ser jogadas ao mesmo tempo. Dá a impressão que o tempo não chega para acompanhar todos os resultados! Sim, já sei: um dia de cada vez!

Beijos Maninha e até já!

Por entre as brumas da memória…

Tenho-me esquecido de ti mas não é por más razões, como bem sabes. Se a viagem de ida foi extenuante, mas com uma chegada bem recompensadora, a viagem de volta foi saudosista e com uma vontade imensa de ficar.

Foi tudo feito sem planeamento, sem agenda definida – excepto no que a dentista diz respeito – e cumpriste quase tudo o que te propunhas fazer…faltaram coisas insignificantes, mas as mais significativas foram cumpridas; regressaste com uma vontade imensa de ser emocional e não voltar, de lutar contra a razão e deixar a emoção tomar conta do destino.

Estiveste com o teu filho e conseguiram retomar a conversa onde a tinham deixado ficar, estiveste com a tua família e, todos juntos, conseguiram voltar atrás no tempo e rir – com prazer desmedido – de factos outrora ocorridos e cuja memória os teus primos, todos mais velhos, agradeceriam que não recordasses. Conseguiste cumprir os pequenos objectivos a que te propunhas e ainda elevaste uma amizade à condição de namorada…nada mau para 2 semanas na tua cidade natal!

Agora regressaste a uma rotina que criaste, que te faz sorrir num país sem sol – que te faz mais forte num país marcado por uma larga ausência de sol, forte presença de chuva e frio, mas de paisagens espectaculares. Anseias a visita, para juntos darem passeios pelos verdes campos irlandeses, qual Heidi e Pedro mas com ideias mais adultas.

“Um dia de cada vez.”, explicaram-te um dia. Nunca duvidei dessa explicação.

Até já.

Mochila, som e saudade…

A mochila como acessório para fingimento puro de quem não leva absolutamente nada dentro dela. Uma espécie de princípio, que finge determinar que regresso a casa apenas de passagem, e que a casa a que regresso possui tudo – o que determina o porquê desta ser A casa a que retorno.

O som como método de, juntamente com a leitura, bailar. Uma melodia que acompanha o humilde narrador – da cidade em que habita até à cidade em que nasceu. Um trautear que começa na partida e só termina quando o regresso a Cork acontece. Um som e uma leitura que só terminam quando a mochila regressa ao armário de onde saiu e o humilde narrador exclama “Voltei”. Uma leitura que me permite exclamar “Já?” em cada escala feita. Um folhear que é alimentado pela imaginação do leitor perante as palavras do autor – um divagar pelo mundo, pelo espaço, pela natureza, pelas pessoas – movido pela imaginação de outrém mas ajustado à imaginação de quem lê.

A saudade é aquela portuguesa de difícil tradução. Já aqui abordei o “matar saudades” – como uma espécie de homicídio legal, com que as autoridades pactuam e que, uma vez executado, contribui de maneira profunda para um restaurar de valores, dos sentidos, do significado de cada um e cada coisa nesta jornada a que chamamos de vida.

Até já Espinho.

Digo nunca porque é verdade…

Nunca tiveste jeito para despedidas e foges delas como o Diabo da cruz. 😁

O simples facto de teres escolhido hoje como o  dia de partida – dia em que chegou o presidente de Israel – com Syntagma fechada, polícia de choque, a Mossad, o povo palestiniano a manifestar-se e um caos de trânsito (de pessoas e veículos)…e tu, qual traquinas, a furar por entre a confusão até a paragem seguinte do X95 que haveria de te trazer até ao aeroporto. 😎

Não és um turista neste país e a excitação da chegada e o vazio na partida demonstram-no (deve ser do azul e branco). 😉

Rodeaste-te dos que puderam estar presentes.

Tiveste demonstrações de força de alguém que, apesar de conheceres mal, te fez esboçar um sorriso pela forma como, apesar da tenra idade, superou tudo para conquistar o que queria.

Uma alegria imensa por veres uma ex-colega de trabalho – inteligentissima – grávida do primeiro rebento.

Uma amiga que gentilmente te cedeu um quarto para a tua estadia e te acompanhou nas incursões nocturnas.

A tua espanhola preferida que continua a ser muito engraçada e cheia de alegria de viver.

Deixaste o cartão de débito na máquina, após o levantamento de dinheiro no aeroporto, mas nada te podia roubar o sorriso. Nada nem ninguém. Cartão cancelado e a aventura continuou.

Sentado nos bancos do exterior do aeroporto,  dás por ti a pensar em todas as aventuras e ilhas que “conquistaste” a partir daqui…e bate uma saudade imensa de voltar, um dia, de vez!

Obrigado a todos pela qualidade do tempo aqui passado. Só foi possível graças a vocês.

Aquele abraço e até já.

O sonho não comanda a vida…

…quem a comanda és tu. A tua vida, os sonhos que pretendes concretizar, as acções que pretendes desenvolver, onde queres chegar. Cabe-te a ti miúdo…e teres sonhos sem sentido faz tanto sentido quanto guiar pelo lado errado da estrada! Apesar de viveres na Irlanda…😁

Leste – porque adoras ler – com todo o cuidado o texto que aparecia no ecrã. Releste, não porque houvesse uma incerteza no contexto mas porque era demasiado semelhante ao contexto que pretendias. Era “demasiado honesto”, algo não fazia sentido.

Seriam palavras vãs? Um voto contra a castidade? Um grito de ajuda? Uma dissertação sobre outrora? Porquê agora? Acordaste com a sensação de ter sonhado…

Procuraste o que achaste que existia, tentaste extrair dali um sentido mas não achaste o que pensavas que tinhas lido e o sentido permaneceu o mesmo de outrora.

Saltaste da cama, despiste o pijama e tomaste um duche bem quente. Sorrias enquanto te lavavas e havia um ar de contentamento na tua cara. Tudo tinha acontecido sem que algo se tivesse passado. Sorriste e saíste para a rua com um ar diferente….de sonhador alegre, com uma paz diferente e, no entanto, nada havia acontecido.

Curioso esse teu modo de viver miúdo….

Surpresas…

O concerto havia acabado e estavas na esplanada – esse teu amor por esplanadas vai dar origem a um livro – a terminar a tua pint. Entre a primeira banda de punk rock e a segunda, haviam passado cerca de 2 horas e meia e algumas pints. Tranquilamente fumavas um cigarro, aquecias a mão para poderes a voltar pegar no copo de cerveja, quando o telefone tocou.

O bolso esquerdo das calças trepidava e, sem te teres apercebido, atendeste a chamada e viste uma cara conhecida: o sorriso habitual, a traquinice do costume, um barulho de fundo que tanto poderia ser do emissor como do receptor. Soltaste uma sonora gargalhada e eis que outra cara conhecida tomou o lugar da primeira e ficaste sensibilizado – confessa…ficaste! Brindavam a ti e pediam desculpa pelo atraso (sempre encaraste os atrasos como um sinal de que a paternidade poderia estar ao virar da esquina, muito embora só uma vez o tenhas feito numa esquina…).

Quando uma terceira cara surgiu no ecrã tu já estavas lá, já não estavas em Cork, mas sim no teu canto, de Super-Bock na mão e pronto a discutir a conta final com o mesmo argumento de sempre: – Quem é que bebeu estas cervejas? 🙂

Foi bom termos passados estes minutos juntos! Fui a Espinho e voltei em forma de 0’s e 1’s! Viajei como um pacote de dados e a uma velocidade digna de uns 5G! Brindamos juntos, rimos juntos e soltamos um suspiro (não porque é Natal…um suspiro de saudade!)…um fenomenal suspiro!

Obrigado miúdos; não gosto de surpresas, mas vocês surpreenderam-me, como sempre o fazem. Loucos, com naturalidade…

Até já!

Apurar os sentidos…

Há um sentido mais puro quando a linha de raciocínio é semelhante. Uma espécie de paz sem que algum dia a guerra tivesse existido, um reencontro de almas gémeas sem que algum dia tivessem sido iguais (porque tão diferentes), um abraço sem que algum dia se toquem.

O silêncio como forma de demonstrar o quão grande é a vontade de falar, o receio de falar sem que, posteriormente, se possa voltar ao silêncio. O desviar do olhar como forma de defesa, a cegueira como forma de ver, de maneira mais clara, a realidade dos factos.

A revisão mental (e constante) das expressões de outrém, sem recorrer ao olhar. O sentir a audição vibrar porque consegues escutar o que diz. A permanente atenção sem que possas fingir-te desatento. O recurso a reflexos para olhar, sem ser “apanhado”. O ser apanhado e ver na própria face o reflexo de quem adorou tê-lo sido.

Ninguém disse que seria fácil…

 

Frio…

Arriscas a vida e sais sem casaco, reconheces a tua falha e voltas atrás para o buscar. Refugiado no ambiente mais quente que o casaco te dá, começas a raciocinar melhor do que no ambiente glaciar anterior.

Relembras a Grécia, quando tropeças num vídeo que mostra imagens da “tua”praça – aguardando a visita do chefe de estado vizinho…Turco. Deve ser um dia giríssimo para ouvir o humor dos gregos, dada a animosidade existente entre Gregos e Turcos e, conhecedor da situação, sorris por não poder estar presente mas imaginando todos os detalhes de todas as conversas que, neste dia, certamente terão lugar.

O frio leva-te a recordar o Rakomelo – essa bebida dos deuses que permite a qualquer ser humano manter-se quente. Devia haver um negócio mundial que permitisse a permanente circulação – obviamente livre – destas receitas populares cujas origens remontam a tempos certamente não documentados…e funcionam!

De volta ao calor resolves escrever umas linhas e…sai isto. Aproveitas os intervalos, entre ausências de trabalho, para documentares momentos, no teu blog . Haverá quem não o ache a melhor das ideias mas nunca foste um grande fã de críticos e sempre lhes deste a dimensão e importância que eles merecem.

Descobriste agora que foste objecto de um qualquer pitoresco estudo sociológico e estás exactamente na mesma após o teres constatado. Continuas sem reconhecer os dias da semana, continuas a descansar quanto baste aos fins de semana. Dás uma gargalhada pois quase nada do que acabaste de escrever é real…apenas algo que fantasiaste para teres umas linhas para escrever.

Escrever é quase tão gratificante quanto ler.

Que dia é hoje???

Uma sexta-feira que me foi roubada, um fim de semana que me foi oferecido. Eis um resumo sucinto do quão díspares os dias podem ser nesta Manhattan irlandesa.

De um encontro às cegas a uma festa de pizza…houve de tudo um pouco. A hospitalidade irlandesa é um riso constante e, estar às 2 da manhã a debater a melhor forma de fazer uma pizza, tornou-se deveras hilariante.

Conhecido o grupo de desconhecidos, que por sua vez “meteu conversa” com outro grupo de desconhecidas. Dás por ti a ser surpreendido por alguém que não julgavas que te pudesse surpreender e terminas a noite com um sorriso desmedido na cara – limpa de cabelos compridos e barbas descomunais.

Um acordar diferente, um café saboroso, um fim de semana muito lucrativo em termos emocionais. Mais uma lufada de ar fresco para a semana que já quase termina.

Uma lógica na falta de lógica, um vento num país habituado a chuva. Sol….acho que foi do Sol….

Aquele abraço.

A folha em branco

A folha não tinha absolutamente nada nela. Estava conforme foi expedida da fábrica e destinava-se a ser usada por quem soubesse o melhor uso para ela. Estava propositadamente em branco.

O facto de todos os lápis de cor, pincéis, tintas e demais utensílios habilitados para a preencher estarem afastados não era obra do acaso, mas sim a própria folha que o impunha! Ela queria manter-se em branco até se sentir em condições de ser preenchida pelas melhores cores para a cobrirem e mostrarem ao mundo todo o potencial dessa união.

A folha gostava do cheiro de certas cores – costumava mesmo partilhar com a restante resma que “havia cheiros que a faziam ceder”. Ouvi esta confissão de uma folha que me entrou no escritório e resolveu denunciar a folha que “tinha gostos e era desprevenida”. Não pedi para conhecer a folha mas, sem que eu desse por isso, a folha conhecia-me melhor do que eu…

Vou desenhar com ela…

A tua perspectiva

Revês as palavras escritas, revês as respostas recebidas. Com uma atenção redobrada percebes que há uma palavra que, muito embora mal escrita, é a mais relevante de toda a conversa e, após constatares que nem sequer reparaste nessa palavra – cujo sentido atribuíste a uma língua que não dominas – ficas a pensar no quão desvirtuada a conversa ficou. Uma gralha transforma toda a percepção das palavras numa conversa completamente diferente.

Apetece-te gritar por existirem gralhas – que emitem sons que podem perturbar toda e qualquer comunicação – mas sabes que as borboletas conseguem harmonizar: com a sua beleza, aquele seu voo belo e sincronizado, aquelas asas que te lembram todos os testes psicotécnicos que fizeste, toda a sua harmonia…que sabe voar!

Saboreias cada palavra – como se tivesses vivido a aventura da tua vida e precisasses de voltar a relembrar. Sorris a cada troca de detalhe mais íntimo, falas sozinho porque aprecias toda a envolvência. Não nasceste para julgar ninguém e estás perfeitamente bem com todo e qualquer julgamento que queiram fazer de ti, aguardas uma ocasião singular que te permita trilhar o caminho que optaste por confessar.

Têm sido dias diferentes, mas recompensadores ao ponto de te levarem a escrever estas palavras.

Bem-haja miúdo…continua a sorrir!

História de uma hipotética noite…

Estava eu sentado na esplanada quando ele chegou. Exclamou “Devo estar a ficar maluco” e eu, com uma boca aberta de espanto, apenas respondi “Ah?” ao que ele imediatamente respondeu “Eu sei que sou maluco, mas não precisas de puxar por mim para que o diga”. Duas gargalhadas explodiram naquele quase silencioso final de tarde – apenas quebrado pelo ruído de algumas gaivotas, que pairavam sobre nós como pedinchando alguns tremoços e um pouco de cerveja.

Era dia de desabafos e, enquanto profissionais do amigável desabafo, os dois sabíamos perfeitamente o que esperar um do outro. A amizade tem aquele dom de nos dar a conhecer a pessoa amiga – as suas rotinas, os seus tiques, suas virtudes e defeitos, forma de contornar uns assuntos e de enfrentar outros. A cerveja chegou, sem ter sido pedida; os tremoços seguiram-se como se estivéssemos perante uma rotina de muitos anos. Quem nos servia era também um amigo – que sabia, de antemão, que no final dos aperitivos nós iríamos contestar a conta, refutar sequer ter participado no consumo de uma das cervejas que nos era apresentada ou que algum dia houvéssemos sequer provado os tremoços – fazia tudo parte de uma coreografia que, jamais ensaiada, nos levava sempre ao mesmo desfecho.

Após a constatação de que a sede é uma virtude e deve ser saciada, eis que os dois amigos se levantavam e, com a promessa de voltar muito em breve, dirigiram-se para o restaurante onde o arroz de polvo esperava por eles. O grande desafio: qual o acompanhamento certo com o arroz de polvo? Misturar vinho com cerveja pode tornar-se um desafio insuperável à medida que os anos avançam e, enquanto um se defende e opta por manter-se na companhia da cevada de Leça do Balio, o outro faz uma incursão nas uvas esmagadas e apuradas em cascos de uma qualquer madeira. Já não debatem qual a madeira que terá apurado o vinho, mas sim a bela noite que a varanda lhes proporciona.

Não resistem a um café no final da refeição – muito embora saibam que já não têm 18 anos e os efeitos da cafeína poderão ser mais prolongados. Esta não é uma noite defensiva…é dia de desabafos, lembram-se? Olham para a adição de todos os elementos do jantar e, sem ousar sequer contestar o olhar da senhora que lhes entregou a conta, pagam o valor sem esquecer uma bonificação que lhes permita lá voltar e ter o tratamento acolhedor a que estão habituados. Descem as escadas e o patrão da casa coloca-lhes uma questão sobre o Futebol Clube do Porto – algo também tradicional nestas “incursões ao arroz de polvo” – que sabem que vai demorar a responder. Há que usufruir das cervejas que são gentilmente colocadas no balcão, reunir consensos na resposta e avançar.

Voltam ao local onde inicialmente se encontraram. A nortada afasta-os do muro e coloca-os na mesa do meio – uma fila atrás de onde começaram. Estão animados, embalados e contentes por estarem juntos. O arroz de polvo estava bom, a cerveja e o vinho evitam qualquer rouquidão na voz e o meu amigo pergunta-me “Ouve lá, porque é que concordaste comigo quando eu me apelidei de louco?” …, entretanto, e por entre gargalhadas, chegam dois finos! A noite está salva…

“Quem muda Deus ajuda”

Instalado no novo apartamento, no mais calmo dos condomínios fechados de Cork, trocando a “solidão” de viver sozinho pela comunhão de partilhar a casa com um casal amigo. Num dúplex, em que os quartos são no andar inferior – sala e cozinha no andar superior – vou desfrutando a calma do espaço – com noites muito bem dormidas, com despertares naturais, com passeios matinais pelo bosque que ladeia o Rio Lee. Há uma certa ironia em gostar imenso de um dado local na cidade e, subitamente, termos a oportunidade de viver mesmo ao lado do local de eleição.

Passeios entre raposas e humanos, entre crianças e gelados, entre um bosque solarengo ou chuvoso, entremeado por fotografias a toda a natureza que me rodeia. Com um sorriso parvo de satisfação, com o estômago reconfortado – depois de mais um repasto de comida tradicional portuguesa, depois do contacto com os que mais sinto como “meus” sem que detenha a sua propriedade.

Caminhando muito, numa base diária, sempre fiel ao novo café de eleição (infiel ao anterior), já adaptado ao clima – e com o sexto sentido quase adaptado às mudanças de humor meteorológicas. A pensar seriamente em questões da maior importância: compro ou não compro umas galochas para os dias de cheias? Com muito poucas dúvidas e muitas certezas, com muita vontade de continuar a explorar enquanto vou amealhando roteiros fictícios que um dia tornarei reais.

A recomeçar, sem que o anterior começo tenha sido interrompido. A rever, sem que consiga atingir o pleno conhecimento da natureza que me rodeia. A interrogar os locais – com temas tão abrangentes quanto a passarada que este país possui. A sorrir, sem esquecer as conquistas do meu rebento que tanto contribui para essa mudança de feições.

Afastado de nostalgias e a reconstruir novos dias. A estabelecer novas amizades e a construir noites diferentes. A ser garoto sem deixar de ser adulto e a ser adulto sem esquecer o que me fez sorrir na infância – será nostalgia infantil? Talvez seja…mas é salutar! Sinto-me num imenso relvado verde, com a bola a rolar e pronto para um grande jogo de futebol! Acho que, para visão de ateu, estou a ser o Deus do meu próprio presente e futuro. Radiante que assim seja!

Aquele abraço.

Falha de memória

Mais vale culpar a memória pela minha ausência aqui. É óbvio que não corresponde à verdade mas parece-me ser a maneira menos dura de enfrentar o facto de te ter abandonado durante quase um mês.

Das refeições portuguesas, no Rio Café, ao pós-dilúvio das duas tempestades que enfrentamos, houve sempre muitos pequenos detalhes que ficaram por contar. Ver uma raposa a nadar no rio, logo pela manhã, o festival de jazz e os novos caminhos descobertos.

A raposa foi talvez a mais salutar de todas as experiências, em termos de contacto directo com a natureza. Caminhava eu pela ponte, em direcção ao café matinal no Union Grind, quando reparei num animal molhado que tentava o equilíbrio nos cabos que percorrem as margens do Lee. Obviamente desequilibrou-se e caiu no rio, nadou até às escadas e, qual animal assustado no meio citadino, correu pela rua fora e desapareceu nos jardins da Câmara municipal (provavelmente para pedir asilo….ahahahahahah).

As viagens directas, de Cork para Reykjavík, terminaram no final de Outubro e lá terei que aguardar pela Primavera (ou ir via Dublin) para visitar a Islândia. Não é “bucket list” mas é uma idéia que começou a formar-se por me encontrar aqui tão perto – um pouco à semelhança da visita à Roménia quando me encontrava na Grécia – algo diferente e aqui tão perto.

Estou a poucos dias de mudar de apartamento, para um apartamento dividido com a minha colega de trabalho, e conto as horas que faltam. A casa não tem alcatifa o que, em muito, vai contribuir para uma melhor saúde pulmonar (soa a piada de fumador mas é uma realidade).

Prometo voltar em breve para tentar voltar à cadência das aventuras que vocês merecem ler. Até lá deixo-vos…Aquele abraço!

Redundância

Chove! Mas chove de maneira semelhante à que levaria qualquer outro país a emitir um alerta meteorológico; aqui temos um simples alerta amarelo, que corresponde a “alguma pluviosidade”.

Assim como não entendo o “feels like”, na temperatura das aplicações, também nisto dos alertas sou um pouco desconfiado. Quem determina a sensação de uma dada temperatura e quem determina que a pluviosidade é em excesso?

A conclusão é que tudo depende da perspectiva: a temperatura pode fazer um Grego sentir frio enquanto um Irlandês passa por ele de manga curta e calções. O agricultor pode exclamar que choveu pouco  enquanto que o citadino – afectado pelas cheias do rio – exclama que foi uma intempérie monetariamente dolorosa.

Mais vale uma perspectiva abrangente do que uma expectativa remota.

Aquele abraço.

“Depois da tempestade vem a bonança”

O ditado popular, com a interpretação que cada um lhe quiser dar, significa para mim, que depois da parte má segue-se a parte boa – numa tradução literal, fácil de entender e que é a minha tradução.

Depois de 12 horas com o vento a soprar muito forte, de ver um carvalho a dobrar – como se de um ramo se tratasse, de ver objectos a passar no ar – como se fizessem parte do céu, de atentamente tudo acompanhar – no apartamento virado a norte (logo, de costas voltadas para a força do vento), de consultar os relatos dos inúmeros sites que cobriam o acontecimento e que diziam que havia pessoas no mar…que queriam testar a força da tempestade…posso finalmente exclamar “Estou aqui! Estou bem.”.

Provavelmente não será a maior tempestade a que assisti – talvez a de Cuba, em 1997, tenha sido maior, mas aqui, não me perguntem porquê, sentia-me mais frágil perante a natureza. O carvalho, no jardim das traseiras do apartamento, oscilava como um simples ramo e eu, que o conheço desde que me mudei para aqui, sei bem que um abraço dos meus não chega para abraçar aquela árvore…assim, a Ideia que constantemente me assolava era “Se aquele elemento da natureza (árvore) perde a batalha contra o outro elemento da natureza (vento) como é que esperam que nós – meros humanos – nos saíamos desta intempérie?”

O facto de haver a obrigatoriedade de estar fechado em casa não ajuda…aproveitei para limpar a casa, lavar a roupa e dormir uma longa sesta – embalado pelos assobios daquele vento que ainda esta noite me passou pelos sonhos. Sim, pelos sonhos…porque apesar de parecer obra de um pesadelo a verdade é que um espectáculo desta natureza (no sentido literal da coisa) não é algo que todos possam presenciar e usufruir. Foi como dormir embalado por uma música diferente do habitual e, para quem nutre um gosto ímpar pela natureza, isso assemelha-se a um embalo muito reconfortante!

O espírito irlandês começou a surgir, a meio da tarde e quando se começou a constatar que o vento baixava de intensidade. No Crisis response do Facebook, relativo à Storm Ophelia, sucediam-se os pedidos de ajuda de irlandeses que solicitavam aqueles bens de primeira necessidade, após uma catástrofe, mas no contexto irlandês. 99% pedia cerveja e 1% solicitava papel higiénico…De seguida, e numa série de organizações espontâneas, começaram a aparecer convites para festas intituladas “Eu sobrevivi à tempestade Ophelia” e os pubs a requisitar mais pessoal para poder lidar com a imensa moldura humana que se havia formado! Bonito de ver, de brindar, de celebrar!

Hoje a manhã assemelhava-se a uma tela pronta a ser pintada pelo artista. Ou, melhor ainda, a obra-prima de um artista após ter presenciado algo ímpar e ter recebido uma inspiração que, aqueles que acreditam, traduzem por divina. Descreveria o dia de hoje como um novo começo…o céu parecia pintado de um azul diferente, o verde parecia mais limpo e desejoso de ser visto, toda a cidade estava limpa e apenas os amontoados de folhas denunciavam os acontecimentos do dia anterior. As pessoas tinham um sorriso muito pronunciado nas faces e os cumprimentos eram mais longos e calorosos que anteriormente. Se não soubesse eu diria que tinham aberto as portas a uma cidade completamente nova onde as pessoas eram naturalmente felizes…

Aquele abraço.

 

Semelhanças

As coisas começam a assemelhar-se a vivências de territórios habitualmente afectados por intempéries: as lojas retiram os placares exteriores, as janelas são cobertas com madeira e a sensação que tens é que estás nas mãos da natureza.

Assistir a uma loura a estacionar o carro, num local onde cabem dois, foi o entretenimento a partir desta húmida esplanada. Falhei a feijoada no Rio café mas vinguei-me nuns divinais baked beans.

Agora debato o estacionamento com a loura…terá sido o meu olhar crítico a providenciar este momento? Seja…

Aquele domingo chuvoso

Chove, desde que acordaste. As previsões meteorológicas dizem que a tempestade Ophelia deverá passar muito perto de Cork. Estás abastecido de mantimentos.

Se a chuva, por si só, não constitui uma novidade sabes, de antemão, que o alerta vermelho indicia algo de perigoso. O plano de contingência passa por chamar um táxi para, da maneira que te parece ser a mais segura, ires trabalhar. As escolas estarão fechadas e há um alerta para eventuais cheias do Rio Lee!

Vieste de uma terra de alertas vermelhos porque estavam 42 graus e havia uma tempestade de areia para uma terra com alertas vermelhos onde levas com cargas de água semelhantes á que levou o outro senhor a construir uma arca…opções!

As árvores demonstram a força do vento e estás seriamente a ponderar ir para um hotel, só por uma noite, para evitares o receio que é estar a viver ao lado de pinheiros com mais de 25 metros a cerca de 10 metros de casa! Não é preciso ser um génio da matemática para perceber que são potencialmente perigosos.

Terminada a aventura com a conterrânea do Sr. Putin, estás agora mais livre para fazeres aquilo que gostas. E continuas com a Escócia debaixo de olho! Nunca paraste a tua procura e sabes que, a qualquer momento, poderás ter que fazer as malas e partir. Não são malas de cartão e tu há muito que compreendeste a piada que é partir para um sítio novo, desconhecido e cheio de locais para conhecer – não de férias, mas para trabalhar e conhecer, de novo, pessoas novas, locais novos e ver a natureza, acima de tudo isso, desses novos lugares por explorar.

De dedos cruzados e com um sorriso de quem quer o melhor para si próprio, sem réstia de egoísmo, mas com a certeza do seu valor próprio, vais tomar um duche e desces até à cidade.

Aquele abraço.

Um país atento

Há sempre um alerta meteorológico neste país! Hoje é amarelo e, desde que cheguei, acho que nunca houve um dia sem o registo de uma qualquer intempérie…se está sol (um milagre que raramente acontece) a exposição UV é sempre perigosa e, quando chove, há sempre vento a acompanhar…8 ou 80!

Ainda não consegui perceber como é que os locais conseguem andar 90% do tempo vestidos de calções e t-shirt mas confesso que não vou esforçar-me mais por compreender.

Que, de facto, são um povo caloroso isso não há dúvida! Que possuem um património digno de ser preservado e partilhado com as gerações futuras…sem dúvida.

Adoro o verde neste país. Sinto-me em África com a frescura irlandesa.

Aquele abraço.

O coelho branco

Qualquer analogia daltónica entre o coelho branco e o coelho laranja merecerá um comentário apagado. São as novas regras da democracia que o ditam!

Após uma noite passada no White Rabbit (“Follow the White Rabbit”, ring a bell?), a assistir ao Irlanda-Gales, em que as restantes pessoas que assistiam olhavam para o ecrã com cara de quem não reconhecia o desporto em causa (o futebol será, porventura, o terceiro ou quarto desporto – em termos de praticantes – neste país), eis que hoje a selecção jogou.

Um orgulho ver como a bandeira une o povo português. Senão, vejamos: o ponto de encontro é de uma trivialidade tal que somente um incauto, com muitas dificuldades de visão, audição e afins, não conseguirá encontrá-lo. E, após o apito inicial, noto que há uma camisola de um tom que não aprecio particularmente, bastante desbotada (tal como o clube em causa), e a única ideia que me ocorreu foi enviar um email ao proprietário a notificá-lo daquele potencial atentado ao pudor!

Nutro, pelo desporto-rei, um certo amor e não tolero que o mesmo seja abusado sem qualquer perspectiva de compromisso! Embora, no caso anteriormente descrito, a fé seja tanta que, muito provavelmente, não caberá à camisola o abuso, mas sim ao jogo de bastidores!

“Chega!”, gritou a voz de adepto da selecção nacional! “Chega o quê?”, respondeu a voz do adepto do Futebol Clube do Porto que, na ocasião, observava atentamente um jogo da selecção nacional de futebol. Umas pancadinhas no ouvido direito, igual número de pancadinhas no ouvido esquerdo e eis que as vozes se desvanecem…

Há um golo dos nossos e, enquanto outros se questionam quem terá sido o autor, tu já festejas o simples facto da bola ter ultrapassado a linha de golo, estar a caminho do centro do campo e estarmos em vantagem por um golo de diferença! “Está na hora!”, pensas para ti mesmo e, de facto, estava na hora de encomendar a segunda pint e ver os restantes minutos do desafio. O puto que te habituaste a ver crescer domina a bola com o pé esquerdo, passa para o direito e enfia o segundo na rede dos Suíços!!!!! Vibras, contemplas o teu amigo destas andanças (e não só destas andanças!!!!), e constatámos que realmente estamos a ficar velhos para perceber de futebol. Festejamos…ele segura – orgulhosamente – uma meia-pint e tu brindas com a pint que, entretanto, chega.

Não é a mesma sensação que tiveste quando voltaste de Sevilha, ou de Gelsenkirchen, ou de Dublin…mas é um alegre momento que, enquanto expatriado, te faz sentir em casa!

Novas mudanças

Havia a oportunidade de mudar o alojamento do site de um local para outro que me faz um preço por 3 anos correspondente ao preço de 1 ano do site anterior…não é preciso ser economista para optar imediatamente pela mudança!

Não sei ainda se consegui importar todos os subscritores anteriores, mas espero que sim. Com algum tempo e dedicação acho que vou conseguir desenvolver melhor o site e torná-lo graficamente mais atraente…muito embora só me importe com o que escrevo, reconheço que as aparências podem ajudar na apresentação da escrita!

Nunca deixará de ter o propósito inicial – ser o meu diário de ficção – para um dia mais tarde me poder rir com as palermices que vou inventando ou vivendo…confesso que até eu fico confundido com escritos de outrora e não sei se foram ficção ou realidade! Ou talvez não sejam os escritos passados, mas as vivências passadas, mas…quem está a olhar para trás?

Dias de cansaço, dias de glória, dias de esforço, dias de ócio…tudo junto numa compilação de histórias que, um dia, constituirão o livro da minha vida. Com muita coisa escondida, outra sub-repticiamente implícita, mas, acima de tudo, com a vontade de ter uma pena, tinta e papel até que o último bafo me leve! Na falta desses três eu vou teclando no teclado e guardando as conversas online!

Que nunca vos falte a paciência para ler…aqui ou em qualquer outro lado.

Aquele abraço.

Caminhada 

Vais andando em direcção ao bacalhau mas a ementa só referia arroz de pato.

Cruzas-te com uma mãe e os seus filhos e, perante a avó que assiste, uma das crianças pergunta à mãe o que é a tentação (a mãe havia dito às crianças para segurarem bem o Labrador, quando passaram perto da água, por causa da tentação). A avó sorri perante a pergunta mas a mãe – fruto da sua experiência – responde dizendo que é resistir a algo que se quer muito…sorri, a avó e a mãe também, e as crianças ficaram a pensar naquilo! Devia ter parado para ver e ouvir como acabou!!!

Sentado a comer o arroz de pato, a observar as folhas que caíram na água e são levadas pela corrente numa forma que se assemelha muito a pintainhos a serem carregados para jusante.

Já me servem o café como eu aprecio e sou saudado por um grupo que se desloca em kayaks. Ainda a reflectir no melhor local para ver o derby – está encoberto mas a temperatura ronda uns agradáveis 17 Celsius.

Vamos caminhar, até já.

Detalhes…

…ou provavelmente o fundamental da vida…

Entras no autocarro e dás de caras com um italiano que chegou a Cork, vindo de Atenas, no mesmo dia em que tu chegaste. Todas as suas expressões são de satisfação imensa e recordas que ele esteve de férias e, muito provavelmente, este é o primeiro dia de trabalho dele. E assim é, faz-te um resumo da árdua mas recompensadora tarefa que é visitar tudo e todos e o quanto isso nos dá em termos de satisfação.

Os italianos são bastante semelhantes a nós, em termos de valores familiares, e revejo o mesmo sentimento nele conforme o meu, aquando da chegada das últimas férias.

Dizia ele: só me faltou visitar uma pessoa que, já muito tarde soube, precisava da minha visita! Também eu, respondi…mas tento agora retomar o diálogo de outrora – algures numa esplanada em Espinho, quando falamos muito e tivemos a certeza de sermos amigos.

A vida é um ballet e nós temos que criar a nossa melhor coreografia!

Aquele abraço.

Altruísta ou egoísta?

Por vezes escreves como se quisesses que o mundo te ouvisse, outras vezes escreves como se de um sussurro se tratasse – e não queres que ninguém leia…

Por vezes apetece-te largar tudo e mudar o mundo, outras vezes deitas-te no sofá até que te passe…

Gritas bem alto os pensamentos que te ocorrem, somente para te sentires incomodado pelo ruído que tu próprio causaste. Tapas as orelhas e questionas-te se já terá passado…

Estás entre a acção e a inacção, perdido entre sonhos e objectivos concretizados, dividido entre o que está por fazer e o que orgulhosamente já atingiste e perguntas-te, em mais um dos teus monólogos, se realmente serás altruísta ou egoísta…

– És um bipolar literário! Vai-te deitar!!!

– OK, realmente estou com sono…

Em casa!

Viagem longa para quem está só a duas horas de Portugal – duas horas e vinte de avião e três horas e meia de autocarro…

É bom voltar a ver algumas caras, locais, coisas…e estar de volta ao cabeleireiro para tirar este peso extra de cima de mim. Se já tinha a mania do cabelo curto agora tenho a mania do pente 4 – uma espécie de vingança por um dia me terem obrigado a cortar por essa medida e, logo depois, chegou um telegrama a dizer que já não necessário.

Saíram pessoas da equipa portuguesa e o volume de trabalho decresceu substancialmente. Os dias de trabalho são passados na leitura de Saramago e Arturo Pérez-Reverte e na conversa com o resto da equipa.

Nunca parando de pesquisar o mundo, na procura de algo melhor e num país tão agradável quanto a Grécia, nunca esmorecendo a dedicação presente, nunca fugindo ao conhecimento de novos locais, pessoas, diferentes maneiras de ser e de agir.

Sempre de sorriso aberto, agora com mais um dente – temporário – que, no próximo ano, dará lugar à obra completa! Um grande abraço a duas dentistas que trataram exemplarmente desta empreitada.

Agora posso afirmar: já nada me espanta neste mundo!

A viver – hoje e sempre.

Um dia não são dias…

Há muito que aprendeste a ultrapassar as agruras da vida e, apesar delas, este foi realmente o melhor período de férias que alguma vez tive na vida adulta. Chegado a 1 de Setembro, depois de apanhar o metro e o comboio, subi a rua e encontrei o jovem de 12 anos e 364 dias a correr para os meus braços. Ele já havia ido 2 vezes à estação para ver se eu chegava…sem sucesso! Cheguei no terceiro comboio e o Samsung continuava sem conseguir registar-se numa rede portuguesa…incontactável!

Foi um abraço como só os pais que amam os filhos sabem dar e receber. Foi um agradecimento de um Pai a um filho por todo o esforço que ele tem colocado naquilo que é o emprego dele – os estudos – bem como na forma como tem evoluído socialmente, desportivamente e a maneira como define os seus objectivos futuros. Obviamente o jantar foi escolha dele e as pizzas do Tomate foram a escolha…culpa da menina Paula que lhe mostrou o sabor das ditas e imediatamente o colocou a fazer a sua própria pizza – não estive contigo desta vez, mas nunca és esquecida.

Adaptar-me a Espinho é algo que faço com um gosto que me sai naturalmente! Talvez não seja o que esperam de mim, mas o que eu quero…a t-shirt, as havaianas e o calção de banho são a indumentária mais utilizada! Furando por entre os “rurales” ainda conseguimos um dia de bastantes mergulhos e, com grande alegria, constato que já não fico gelado após o primeiro mergulho – está perdida a adaptação às águas Gregas e recuperada a adaptação às águas espinhenses.

Ri-me, como sempre o fiz, com o Luís Pires e chegamos à conclusão que já só faltam aproximadamente 28 meses até os Pais voltarem a dormir como outrora o fizeram. Debatemos os velhos métodos para adormecer crianças – o aspirador, o exaustor da cozinha, etc…apenas para chegar à conclusão que o rebento dele e da Henrieta consegue triunfar e não cede a métodos velhos de adormecimento.

Coloquei a conversa em dia com a Carla Lacerda e com o Ricardo Tavares e, retomando onde havíamos ficado da última vez, progredimos no conhecimento daquilo e daqueles que nos rodeiam. Muito recompensador e libertador. Bem hajam.

Passei tempos deliciosos com os meus primos, mãe, irmão, madrinha e padrinho “adoptado” e não consigo encontrar palavras suficientes para lhes agradecer. Terá que ser por acções. O Pedro a.k.a. “Careca” foi, como sempre, o impecável animador daquelas noites espinhenses que todos julgam que não vão dar em nada e.…dão sempre! Sempre com o acompanhamento do Roger Waters e alguns discos pedidos – alguns mesmo pirosos – de outrora. Vi a factura detalhada ser introduzida no Bombar e chorei à gargalhada com o detalhe a que se pode chegar!

Gosto muito da minha cidade e de um certo número de pessoas que a habitam. Muitos ainda procuram a sua vocação, mas, acima de tudo, são pessoas que sabem dar tudo em prol dessa palavra que é a amizade. São o que nos faz voltar e ter saudades. Bem hajam.

Sair no aeroporto de Dublin e encontrar o Quim Tó à espera da Mãe dele demonstrou-me que os espinhenses estão em todo o lado, mas os bons…merecem sempre um abraço!

Nunca digo adeus e, quem me conhece, sabe que me despeço com um “Até já”. É mais demonstrativo do desejo de voltar e de estar com aqueles que nos dizem tudo e eu não consegui estar com todos. Com os meus erros e uma ou outra virtude sempre estarei cá para vós. Se me esqueci de mencionar alguém foi por puro descuido meu, perdoem-me!

Aquele abraço, até já!

Paz

Disse-me um amigo, muito recentemente, que eu sou uma pessoa que sabe – com a minha maneira própria – trabalhar para a minha própria paz. Tratando-se de alguém que me tem acompanhado de perto – fruto da amizade que nos une e que já nos fez percorrer caminhos agrestes, soalheiros e, acima de tudo, rendeu uma tremenda dose de experiência – tomei a frase como um elogio.

Ele ainda tentou desconcertar-me e, tipo ratoeira e num interrogatório (existem interrogatórios entre amigos ou, quando confiamos e contamos tudo são apenas conversas?) muito bem planeado, abordar temas de outrora e, pacificamente (!) arrancou-me uns sorrisos e, bem-dispostos, brindamos com um fino.

Conseguiu, esse amigo, afirmar que eu sempre soube imiscuir-me nos mais diversos meios e, ao mesmo tempo, manter salvaguardados os valores que mais me são queridos. Achei bastante bonita a forma como ele colocou a questão e acabamos a conversa comparando tais tempos a alguém que tem que usar o salto alto da Joana Vasconcelos e, ainda por cima, com uma pedra que, entretanto, se alojou entre o pé e o azeiteiro salto alto. A dor provocada pela pedra aliada ao fraco gosto de ter que usar aquele salto alto específico.

Agora que estou a poucos dias da partida, e salvo algum imprevisto de maior, vou levar no coração estas férias como das melhores que tive até hoje. Uma proximidade com as amizades que me dizem tudo, a habitual visita a todos os restantes familiares, o FCP a ser goleado no Dragão e ainda os inesquecíveis mergulhos com o meu rebento na Baía dos Porcos!

Vou partir de coração cheio e desejoso de repetir muitas mais vezes este mesmo cenário. Não sei se fui eu que mudei (também), não sei se tudo mudou ou se, muito provavelmente, tudo se manteve, mas uma certeza eu tenho: é bom ter poucos amigos com uma riqueza tão grande como os que tenho!

Não haverá Natal em “casa”, mas muito provavelmente teremos uma Páscoa muito especial – sobretudo para o mais novo membro da família. Por enquanto são desejos, mas assim que se tornem realidade, ouvir-me-ão sorrir porque quererei acordar todos e exclamar a plenos pulmões: voltei!!!!!!

Aquele abraço.

Dias de jogo

Fazes a direita apertada, entras no tabuleiro da obra construída pelo saudoso Eng. Egar Cardoso, vertes uma lágrima quando vês o estádio ao longe. Tentas recompor-te mas a “fome de bola” é superior e, quando chegas ao final da ponte, já há lágrimas derramadas por toda a face…

Não é fanatismo, é um amor por algo não palpável. Vais buscar o jovem de 13 anos e 11 dias e, juntos, caminham até ao centro de estágio.

Encontras a tua prima que, por sua vez, não encontra a chave de casa. Surge o teu primo. Pelo canto do olho continuas a deliciar-te com o resumo do CSKA.

Encomendas uma francesinha e um prego no prato e sorris quando os pratos chegam.

É dia de bola…até os comemos.

Aquele abraço.

Amigos…

Muitas vezes nos questionamos quem são os nossos amigos. Interrogamo-nos, num diálogo mudo, sobre o porquê da amizade que existe entre nós e outrem e, na maioria das vezes, damos por nós a sorrir de momentos muito bem passados e relembramos então o porquê de os apelidarmos de amigos.

Hoje tive a alegria de estar com um amigo de há muitos anos. A vida separou-nos algures por volta dos nossos 22 anos – quando eu tomei uma direcção e esse amigo optou por seguir outra via! Ele estava correcto e eu errado, mas nunca deixei de o apelidar de amigo, apesar da frieza com que fui então tratado.

Ele sempre se pautou por ser uma pessoa de uma serenidade acima da média e, recordo agora, tivemos muitas conversas sobre a decisão de outrora. Talvez fosse a minha maneira de enfrentar os tempos de então, mas, na altura, a decisão errada parecia-me a mais correcta. Ainda hoje ele me recordou – sem precisar de palavras – o quão errado eu estava e, quando o fez, eu sorri como que admitindo toda a minha culpa e desculpando-me por ter escolhido a via incorrecta.

Voltamos, por breves horas, a ter 15 anos. Estávamos os mesmos 3 de outrora e sorríamos como se os anos não tivessem passado…como os putos de outrora. Há muitas recompensas na vida – algumas pelas quais trabalhamos e outras que simplesmente nos são dadas – e esta, sem qualquer margem para dúvida, foi um retroceder até aos tempos da nossa virgindade e sabermos que, apesar de termos tomado direcções opostas num anterior momento da vida, agora nos encontramos no mesmo caminho.

É bom sorrir com um amigo. Muito bom! Agora imaginem com 2….

Aquele abraço.

Visitas…a todos os que amas!

O blog recebe aquela visita de França que teima em não voltar a Cork – será que algo ainda há para dizer? Para fazer? Para concretizar? Os dias de confraternização familiar continuam e os repastos alongam-se em tempo e amena cavaqueira.

Reservas um dia específico para os copos, outro para o almoço com os primos, ainda um para a praia – que grande tareia a que levaste do Atlântico…fazes o teu caminho habitual, respiras fundo, vês pessoas que não sabias ter saudades de ver – dos teus tempos de pretenso jogador de voleibol, sorris com as histórias, dissecas as vivências e rimos em conjunto do quanto caminhamos até termos chegado aqui.

Espinho é uma cidade em que podes fazer tudo a pé e só um parolo é que usa carro (salvo pessoas com necessidades especiais). É uma cidade em que a praia dista, no máximo, uns 10 minutos a pé – para o residente mais afastado. Analisas cada novidade, fazes o teu juízo de valor que interiorizas sem revelar e continuas, de cabeça sempre voltada à procura de novos detalhes – desde a última visita.

Andas trôpego com as palavras reveladas pelos professores do teu filho – em que todos o querem ter na equipa mesmo se houver necessidade de lutar por ele – todos gostam da sua atitude, da sua sabedoria e da sua inteligência. Ressalta nas palavras deles o seu sarcasmo – do qual sou Pai – e a sua inteligência na maneira como aborda as problemáticas de vários ângulos e com várias possibilidades.

Estás contente por estares na tua terra, puto. É só isso que interessa! Diverte-te.

Aquele abraço.

Com tanta calma…

Com toda a calma do mundo vais repondo o teu sono. Dás um beijo de agradecimento às persianas antes de adormeceres e agradeces o sono concedido ao acordar.

Tomas o teu café a 50 metros de casa e até arriscas dizer umas verdades à tua paixão do ciclo. Devia haver um tratamento para traquinas como eu…para podermos rejeitar o tratamento e, com um sorriso de verdade, sabermos abraçar aquelas pessoas que nos chamam amigo.

Estás com o teu filho, tens passeado e nadado bastante. As conversas têm sido longas e muito recompensadoras – estás a ouvir as idéias dele para o futuro – o que significa que ele está atento ao mundo e às suas necessidades.

Hoje chega a maninha e estás desejoso de lhe contar aquela traquinice que fizeste – como enganaste alguém com a verdade e escapaste…ela vai sorrir, dizer “Oh IKA…” e vamos ambos sorrir dessa paixão que nunca se concretizou ou deixou de o ser.

É assim que tu és…traquinas mas ficas sem jeito perante uma só pessoa. Desde tenra idade…

Ironias da vida…aquele abraço.

Cronometragem decrescente

Não é que estejas constantemente a verificar quanto tempo falta mas, na verdade, estás.

Não é que estejas constantemente a pensar naquele abraço á chegada mas, sendo realista, estás.

Não é que sonhes com a gastronomia do teu país mas, com franqueza, sonhas.

Divagas sobre aquele homicídio que a lei permite – o matar saudades – e sabes que, nesse capítulo, és como um soldado no campo de batalha! Saltitando de abraço em abraço até ao abraço final.

Recapitular abraços é tão reconfortante e enriquecedor quanto ver o  Casablanca pela enésima vez – sabes como termina, já tinhas outros planos mas abdicas de tudo, com o teu sorriso traquinas, e vês a obra-prima mais uma vez.

Até já. Aquele abraço.

Contagem

Contas horas, minutos, segundos! Tens um tic-tac mental que,  não sendo explosivo, é emocionante. Queres bater as asas e voar mas ainda tens 3 horas de autocarro até Dublin.

Anseias por sol e dizem-te que chove, anseias por praia e ouves dizer que o verão acabou…anseias por uma Super-Bock fresquinha e sabes que essa nunca te falhará.

Sonhas com tremoços, amendoins e o pôr-do-sol na tua praia.  Imaginas uns banhos de mangueira para remover o sal.

Vagas que te permitam mergulhar, a água estupidamente gelada, o ouvido sempre a ameaçar uma otite. Os membros paralisados com a temperatura e outros mirrados sob a sua influência.

Enfim, és um puto que adora sonhar…

Resumos

Aquela sexta-feira muito dificilmente sairá da tua lembrança – a piada da espontaneidade, o vinho, a cerveja mas – acima de tudo – a empatia.

Conseguires debater tudo o que querias, com quem querias e, sem que estivesses preparado, da maneira que querias.

Há experiências realmente valiosas nesta vida e essa noite será sempre um post-it de sobre como podemos ter tanto com tão pouco.

Há beijos que nos tiram a seriedade e outros que nos despertam sorrisos tão longos que deviam ser emoldurados. Numa moldura que nos relembrasse sempre quão bom foi pintar a  tela.

Aquele abraço.

Diferenças culturais

Quando comemoras 5 meses e 2 dias num país que não é o teu tens tendência para já ter armazenado as diferenças mais significativas entre os dois povos – o teu e o do país em que te encontras. Sem laivos de superioridade, ou inferioridade, sem pretensões sequer de fazer a comparação. Simples constatações!

É óbvio que, sempre que tomas o teu café da manhã, há sempre alguém por perto a beber uma pint. Óbvio porque os turnos de trabalho também implicam trabalho nocturno e, obviamente, esses profissionais fazem-no no final do expediente. Sim…é óbvio que nem todos se encaixam no perfil, mas não vamos ser picuinhas!

Viver na Irlanda deve assemelhar-se muito a viver nos Açores. Há muita chuva, a humidade é sempre elevada, mas as paisagens compensam todo o incómodo do “inverno constante”. Há algo de muito castiço neste povo que é o fazerem exactamente o mesmo que os países quentes fazem no Verão…vestirem roupas de Verão. Olho para as montras e largo mais um espirro, sorrindo quando vejo a decoração de uma qualquer praia com imenso sol. Eis que passa mais um local, vestido com os seus calções e a sua t-shirt e eu, refugiado no meu casaco apertado, pergunto se haverá um calor que eu desconheça – no exterior do meu casaco. Não há!

A verdade é que basta afastarmo-nos alguns quilómetros de uma grande cidade e imediatamente percebemos o porquê da Irlanda. Campos de um verde puro, que só a natureza pode dar, como se fossem roupas deixadas na chuva para realçar as cores. As vacas têm um ar mais robusto e, após horas a pastarem, simplesmente deitam-se no campo e dormem. Os milhões de estrelas que conseguimos observar, assim que a noite toma conta do céu, são dignas de registo. Um registo que faço mentalmente, num constante alimentar da vontade de conhecer a natureza, cada vez mais e cada vez melhor.

A cerveja é boa, as paisagens são divinais, as praias são do mais bonito que tenho conhecido, o povo é amistoso e muito acolhedor. Porque esperam? Venham daí enquanto é Verão! 😉

Aquele sábado

Após a limpeza da casa dirijo-me para o meu canto pacífico onde, ironicamente, há um casamento. Lentamente comendo o meu bife com cebola grelhada, a calma é interrompida pelos convidados que resolvem vir fumar para a esplanada.

Os empregados olham os noivos que chegam num clássico. Carro bonito e noivos de cara feliz, abraçando aqueles que os saúdam logo á entrada.

O gerente dá um ar da sua graça quando exclama, dirigindo-se às funcionárias, um sarcástico “até parece que nunca viram um casamento” mas o olhar das funcionárias está naquele momento, no que sentem as pessoas, na felicidade que paira no ar.

Uma lufada de ar fresco numa rotina de trabalho? Talvez. Um momento a observar? Sempre. A constatação da felicidade alheia é sempre um bom contributo para a nossa própria felicidade – um alhear daqueles sentimentos que são considerados pecados e uma empatia com os valores mais nobres da vida em sociedade.

Mais uma pint, um sorriso quando a convidada dá um nó de laço no vestido de maneira completamente oposta á que utilizarias. Uma constatação de que tudo na vida pode ser feito ao contrário da maneira como fazes e o resultado ser perfeito.

Retalhos de um sábado…

215… é o autocarro.

Os teus três dentes novos estão quase prontos, o autocarro chega pontualmente, ainda não tomaste o pequeno-almoço, tens aquele sorriso na cara…

O que se passa contigo miúdo? Questionas-te. Acho que nada de anormal…respondes a ti mesmo. Então porquê o sorriso traquinas? Deve ser o subconsciente a preparar alguma… é a única explicação que tens!

Depois de um dia de grande esforço, assustas a espanhola – quando te sentas ao lado dela no autocarro. Sorriem com a impertinência do vosso humilde narrador e, após uma breve troca de palavras, troco de lugar. Para vos escrever, é a minha justificação quando, na verdade, é para evitar que os restantes dentes sejam acusados de assédio! A ponderar seriamente se não seria melhor usar uma placa dentária que me protegesse destas situações….

Quase a chegar… até já! Aquele abraço.

Feriado

Quando chegas ao centro da cidade parece que chegaste a uma cidade abandonada – o trânsito é escasso, há uma pessoa que caminha á tua frente e que, de 20 em 20 metros olha para trás com receio de ser violada (?!). O teu raciocínio pré-café apenas te diz que – caso dependesse de vocês os dois – a raça humana extinguir-se-ia! Sorris, porque sabes o disparate que acabas de pensar, e o teu pensamento volta a estar focado no café…

O Néctar está fechado, o café italiano também. Continuas pela Oliver Plunkett e, finalmente, encontras o O’Brien’s aberto! Um suspiro de alívio, uma saudação do interior… ainda te conhecem! Apostas num cappuccino e num cheesecake com muito bom aspecto e esperas na esplanada.

Tens uma vista lateral da Oliver Plunkett, de frente para a farmácia e os primeiros madrugadores começam a circular. O facto de veres outros seres vivos e o café dão-te uma primeira lufada de vigor. Sorris ao ouvir a música que toca e és atirado para o passado – mesma música mas nos antípodas da Irlanda – e constatas que a tua sorte sempre foi o facto de nunca teres parado de sorrir – na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na paz e na guerra.

Sonhas com os teus dentes novos…e sabes que vais poder voltar ao teu sorriso bem aberto.

Trabalhas nos feriados locais e tens 29 dias úteis de férias. De que te queixas?

Aquele abraço.

Pausas

Quando tens aquela possibilidade de, durante o teu horário de trabalho, simplesmente parar. Aproveitar o sol, deitado na almofada gigante, vendo os corvos a passar – certamente a caminho de mais uma travessura – a responsável pela horta a mostrar-te as últimas colheitas, os carros que passam ao longe… muito saboroso!

Hoje é dia de despedida de alguém que tem um significado especial para ti. Durante dois meses vão estar afastados e, muito provavelmente, o reencontro será em Outubro. Aguardas serenamente e gozas este teu novo estado de espírito…a serenidade é o melhor dos confortos.

Toca o despertador e, perante o chilrear dos pássaros, percorres o caminho de volta ao teu posto de trabalho. Dias cansativos mas largamente recompensadores.

Vamos a isto! Aquele abraço.

Persistente

Após a formatação do smartphone, houve que aguardar que a instalação de todas as aplicações fosse novamente feita. O tempo não estica e, se escolhes passar o fim de semana fora de casa, sabes que esta é uma das consequências… espero que tenham tido muitas saudades e que voltem – prontos para devorar mais um relato da vida nesta ilha!

Foi um fim de semana dedicado a um misto de cozinha e lazer, em casa alheia, num trânsito constante entre o quarto e a cozinha. Com uma vista panorâmica da cidade de Cork e colinas que a rodeiam, dedicamo-nos á leitura, gastronomia, conversa e exercício.

No domingo tive a felicidade de conseguir a última dose de bacalhau com natas, no Rio Café, e voltei a Portugal durante o tempo que a refeição demorou a desaparecer. Diria mesmo que se evaporou!

De regresso ao trabalho e com os sentidos colocados na reunião de avaliação desta sexta-feira. Ou continuo ou aceito a vaga em Budapeste! A ver vamos!

Sempre a curtir o melhor que esta ilha tem…e é mesmo muita coisa!!!!

Aquele abraço.

Detalhes…

É nos pequenos detalhes que nascem as grandes obras… digo eu…😂 Ironicamente foi o alho que nos aproximou! Nenhum dos dois concebia uma refeição sem primeiro estar certo da existência de alho suficiente para levar a cabo a obra!

Viram juntos o pôr do sol, puseram a conversa em dia e a outra personagem, agora mais morena que loura, tinha muito para contar. Tentavam avançar capítulos, por entre beijos de saudade, e muitas vezes não conseguiam ir muito além da primeira letra do capítulo seguinte.

O encaixe era perfeito, ao nível da melhor engenharia, e pouco ficou por ser feito. Apesar do hálito ser maioritariamente de alho, nada os impediu de até se rirem –  aquando de um comentário de um transeunte que referiu sentir um odor a alho no ar de Cork…

Uma maneira muito imperfeita de não sair de casa! Na proporção directa do prazer obtido.

Aquele abraço.

Trabalho

Tenho a sorte de trabalhar com dois profetas: um é o profeta do “que se foda!” e o outro o profeta do “vamos apanhar ar!”.

Completamente distintos! Um nunca se penteou, gosta de umas boas cervejas, adora a família que tem e é dono de uma atitude que faz sorrir o morto. Dá sempre vontade de sorrir e copiar algumas partes. O outro é alguém que se cuida bastante, gosta do ar livre, arrasta-nos nessa paixão e permite-nos momentos de lazer enquanto trabalhamos.

Em grande parte eu devo a estes dois profetas muitos dos sorrisos dos últimos meses. Bem haja!

Homenagem lhes seja feita.

Mudanças

Acordado pelo ajuntamento de pássaros no jardim – seria uma manifestação? – eis-me a caminho no 215A (autocarro que utiliza os atalhos todos e chega mais cedo). Com aquela necessidade permanente de café, rodeado de duas belas cidadãs russas que trabalham comigo, pronto para um novo dia!

Sempre lento a despertar, sempre rápido após o ter feito, sempre desejoso de ter tudo arrumado, sempre incumpridor!

Sou um dos poucos que circula com um casaco, voltei a vestir verde e estou muito bem disposto. Não sei se já me posso chamar de Irlandês adoptado – falta o inverno para eu saber se resisto – mas tem sido – a nível pessoal – uma experiência muito enriquecedora.

Na Grécia tive 18 meses de cultura e passeio e aqui estou com 4 meses de passeio e sempre misturado com diferentes culturas. Ambas as experiências são enriquecedoras. O que falta? O tempo o ditará!

Aquele abraço.

Mania das grandezas…

Tens sede e apetece-te uma cerveja. Visitas o frigorífico e recuas, perante o tamanho das garrafas que te olham. São louras, estão a gotejar de frescura e tu recuas? Não te reconheço! São XL, com 50 cl de conteúdo…

Estará doente? Pergunta a voz diabólica. Não, é um rapaz consciente! Afirma a voz angelical.

Continuas de frigorífico aberto e já quase temes pela integridade delas. Apetece-te retirar os oito pecados do frio, colocá-las em fila e tirares uma selfie, enquanto as abraças!!!!

Também te passa pela cabeça a fotografia de grupo e tu a fazeres um coração, com os indicadores e os polegares… por favor, tudo menos isso!!!! O Kindle emite um som e tens outra paixão que chama por ti. Foste corajoso em ir espreitá-las, foi como um Pai que verifica como estão as crianças, antes de se deitar. ❤️

Vais sonhar com caricas a voar dos gargalos, gargalhadas desmedidas e tremoços… muitos tremoços! 😋

Elas andam a provocar… 😊 – 24/7/2017

Rio

Escolhes fazer uma caminhada, atravessar a cidade, procurar um lugar recatado que ainda não conheças, onde possas estar ao sol.

Recordas que te falaram de um café português, sobre o rio, com muito boa exposição solar e muito tranquilo. Como é dia de caminhada e tens que fazer algumas compras para casa o local escolhido tem que passar pelo centro. Escolhes o Rio café e descobres que te mentiram! Não há Super Bock!!!! Heresia.

Telefonas para o 21 e descobres que há 8 em stock com um preço promocional…€20! Fazes a reserva e tens agora 4 litros de cerveja reservados por €20! Uma boa maneira de teres algo para acompanhar o jantar…

Entendes agora perfeitamente o porquê do povo desta ilha ter um bronzeado “de camionista”. Ao teu lado tens duas mulheres a debater o quão libertina a vizinha se tornou, desde que se divorciou. Há um misto de horror e inveja nas palavras delas e sorris, na direcção oposta á da conversa. Foi com fenómenos destes que a vídeo-vigilância prosperou!

No rio continua um desportista, no seu kayak, dando voltas sobre si mesmo. Não parece que precise de ajuda e, passados uns minutos, já circula pelo rio a um ritmo de quem apenas se refrescou antes de continuar.

Ora tens sol, ora está encoberto. Vês os aviões a partir e a fazer a habitual curva á direita que os leva a passar por cima do teu apartamento. Questionas-te porque não farão uma curva á esquerda mas ninguém te responde.

Fumas mais um cigarro e dás graças por teres encontrado 8 Super Bock por €20! Prioridades…

Aquele abraço.

Sorriso diário

Rotineiramente segues para o café matinal, o multibanco continua avariado e já tens uns três cafés no livro de calotes (não, aqui não utilizam a porta do frigorífico), o dia promete máximas de 16 mas já tens maturidade suficiente para não acreditar em promessas.

O trânsito é caótico, junto á câmara municipal, segues cuidadosamente entre a fila de carros que tenta circular por onde não há espaço, és cumprimentado e saudado por desconhecidos que te incentivam a prosseguir a tua marcha pela frente dos carros que conduzem e chegas, exactamente três minutos depois de teres partido, á paragem do autocarro.

Relembras que tens que interpelar o jovem que te arranjou uns filmes para veres pois tens apanhado uns sustos valentes em cada um deles. Sorris e questionas-te: o que seria da vida sem um pouco de emoção?

A tua amizade mais próxima e mais querida tornou-se tia-avó! E, sabendo tu que tens quase a mesma idade, sorris de maneira traquinas enquanto pensas que ainda não chegou a tua hora de teres tal honra. Sorris, num misto de quem não sabe o que sentiria mas sempre solidário com quem tem a felicidade de sentir. Recordas o 3 de outubro de 1999, quando te tornaste tio e concluis que deve ser uma sensação de felicidade semelhante.

Hoje tens a festa mensal dos expatriados e já sabes que vais percorrer muitos edifícios históricos de Cork (nome de código para Pubs). Vais conhecer pessoas novas e diferentes e ouvir a sua história de vida. Como és sempre indiscreto, muito provavelmente abandonarás os que nada acrescentam para te juntares aos que mais te ensinam. Aquele dia de escutar os outros que tu tanto aprecias.

Aquele abraço.

Manhãs

Há alguma falta de hábito tua quando, mais uma vez, um estranho passa por ti e afirma que está uma bela manhã. Olhas á volta mas és o único a quem ele se dirige, sorris e concordas porque, de facto, está uma bela manhã – céu nublado, com algumas abertas de sol intenso e sem sinais de chuva.

Ainda estás ensonado, na tua esplanada dos dias de semana, a largar os últimos bocejos antes da curta caminhada até á paragem do autocarro. Tiras o casaco quando o sol aparece e vestes o casaco quando as nuvens o escondem, num ritual a que te habituaste desde a primeira semana.

Cravam-te um cigarro e respondes com o habitual “era o último”. O sarcástico Irlandês responde que, se tivesse um euro por cada vez que ouve essa frase, estaria rico…A EUR 10.50 por maço de tabaco não há outra resposta possível…

O 215 passa por ti, no sentido contrário do teu, o que significa que tens 15 minutos para uma caminhada de 3 minutos…pedes outro café e segues o teu caminho num passo tão lento que te sentes ultrapassado por caracóis, tartarugas e outros animais de reconhecida rapidez! Entretanto surge um corvo…

É quinta-feira, o mano festeja o seu aniversário e há que ligar-lhe! Aquele abraço.

 

Ambientes

Lembram-se dos 2 marretas, no balcão do teatro onde os restantes marretas actuavam? Eles eram grandes amigos, apesar do humor de ambos ser diametralmente oposto – uma espécie de dueto, em que um conta uma piada da qual se ri e o outro, na tentativa de superar a piada de que não se riu, tenta uma piada ainda mais decadente. Há inclusivé um episódio em que um deles pensa que o outro saltou do balcão…tal a intensidade da “piada”.

Transpondo para os dias de hoje: imaginemos 2 Irlandeses e um Americano que se sentam na mesma fila. E agora, imaginemos por momentos que eles se consideram pessoas detentoras de um humor superior – de um cariz tal que só mentes muito brilhantes poderão entender. Continuemos a imaginar e coloquemos o vosso humilde narrador na fila atrás desses personagens e que, após umas semanas a rir-se sozinho, resolve participar do humor sem sentido que é debatido na referida fila.

O humor corrosivo irlandês, complementado pelo humor que é causado pela constante correcção que o Americano faz da pronúncia do vosso humilde narrador, sem que humildemente reconheça que não passa de um produto de origem numa conquista Inglesa, mais tarde, descartada por ser longínqua demais para explorar.

São assim os dias que o vosso humilde narrador passa, enquanto trabalha, apreendendo os vícios e costumes de quem o rodeia e do que o rodeia. Atento a tudo, escolhendo o que mais aprofundar, envolvido na natureza singular deste país maravilhoso que é a Irlanda. Se precisarem de motivos para uma visita, deixo-vos uma dica muito importante: tragam guarda-chuva mas venham com a visão preparada para ser deslumbrada pela beleza que, constantemente, vos vai rodear: beleza humana, beleza natural, beleza sarcástica mas com um grande sentido de humor.

Habemus risum!

Rotinas

Há o taxista, sempre presente na esplanada do Murphy’s, de pint de Guiness pousada sobre o barril que faz o papel de uma mesa.

Há o sem abrigo, que desperta á mesma hora a que tu corres para o Néctar, para recolher o teu cappuccino matinal.

Há os motoristas dos autocarros locais que, em bando, se dirigem para o Murphy’s, para uma pint de final de turno.

Há a chuva, que alegremente constatas, não caiu com o vigor anunciado pelos avisos da protecção civil (muito rápidos a actuar por estas bandas).

Há sempre o desconhecido que te cumprimenta – como se fosses aquele membro da família á muito desaparecido.

Há uma série de pequenos detalhes que te recordam que não estás no teu país mas sorris – porque se não fossem pequenos detalhes a lembrarem-te, tu jamais irias notar.

Chove! E nós também sorrimos nesses dias. 🇮🇪

Perduram

Outrora apelidada como a autora da carta anónima, cuja origem nunca sequer me propus investigar – tal era a estupidez com que foi interpretada naquele momento por quem ma lia, aos berros, afirmando que eu afinal tinha “outra”. ☠️ Dois anos passaram nesse hipotético episódio.

Não sou pessoa de dizer “não me importo com o que os outros dizem” e agir de forma contrária ao que afirmo. Nunca fui e acho que já tenho maturidade suficiente para saber entreter-me com factos e não boatos. Imaginem que até sorrio: quando relembro momentos de dor, de ver a minha confiança a tentar ser quebrada – numa tentativa vã de me afastar daquele sorriso traquinas que tanto amo. 🤗

Gosto de estar a passar por esta vida sem criar muitas ondas – sobretudo que afectem outrém – mas, acima de tudo nutro um especial apreço pelo facto de simplesmente não dar importância a pessoas e “factos” que mais não são do que o bilhete de identidade de quem produz tais obras de arte…ao nível de uma Joana Vasconcelos. Ahahahah, escrevi Joana Vasconcelos e nível na mesma frase. 😂

Por vezes desabafo contigo estes hipotéticos cenários porque, lá está, “ouvi dizer” que faz bem e, nesse boato específico, eu acredito. 🤔

Aquele abraço.

Devaneio nocturno debaixo de uma monumental trovoada. 🇮🇪 🇵🇹

Segundas

Curiosa a forma como os Irlandeses celebram a aparição do sol. Os sorrisos abrem-se, o passo é mais vigoroso e seguro, a postura é perfeita e a sensação que um forasteiro tem é que algo muito bom está a acontecer…☀️☀️☀️🇮🇪🇮🇪🇮🇪

As segundas-feiras são dias muito pouco apreciados pelo mundo fora. A excepção é uma cidade, infelizmente sem gauleses irredutíveis, que celebra a sua feira semanal. Por entre trocas de material que foi testado e não serviu, apetrechos para a semana que começa e devaneios para um dia que pode nunca chegar, eis a massa popular reunida para a confraternização semanal. Talvez afinal a cidade esteja pejada de gauleses… quem sabe? ❤️🇵🇹

Confesso que habitualmente fujo na direcção oposta á do evento… não só na segunda-feira mas também nos restantes dias e só me aventuro por terrenos acima da rua 20 quando convidado para confraternizar com uma família que me é muito próxima! 😉

O texto refere-se ao dia de ontem. Hoje está nublado, já caíram umas pingas mas o vosso humilde narrador continua de sorriso maroto e bem aberto. A magia anda no ar….😂

Silêncio

O silêncio pode ser um problema ruidoso. Quanto mais tempo temos de silêncio mais precisamos de ruído! Que mais não seja para exercitar a audição! 🤔

Poderá soar a contradição mas a ausência de som não é um elemento natural dos dias de hoje. Talvez no campo, em casas separadas por muitos quilómetros, tal seja possível de observar mas haverá sempre um elemento da natureza a “manchar” essa ausência de ruído. E, é nesse elemento que nos devemos concentrar pois é a sua presença benéfica que nos permite divagar sobre as virtudes da nossa audição – excepto se for um mosquito! Um mosquito está, na escala de audição humana, para o humano como o bombardeamento de Dresden esteve para os Alemães – ouvimos o ruído mas destrói-nos a paz! 😂

Não sei se é coincidência mas o silêncio permitiu-me ouvir ruídos dos quais me mantinha afastado e, mercê da alegria de voltar a ouvir, talvez aprecie mais esta nova fonte de ruidosa inspiração. Também não sei se é mais recompensador ouvir um ruído antigo ou debruçar-me sobre um ruído novo – explorando as suas virtudes e os seus defeitos para, juntos, aprendermos a ouvir melhor. 😊

Vou, silenciosamente, estudar este ruidoso problema. Se não me ouvirem é porque estou a estudar e, enquanto amigos, vocês irão – ruidosamente – sorrir… porque me conhecem e sabem que nem o silêncio é de ouro nem o ruído é algo a menosprezar. 😉

Aquele abraço.

Luminosidade

Hoje tomei nota dos factos: o dia começou a clarear às 5 da manhã, a mesma luz que só nos abandona por volta das 22… temos 7 horas de sono natural, sem luz.

Adoro persianas! Cada vez mais sinto saudades terríveis desse instrumento que evita que a luz solar prejudique o nosso sono. Este sistema de cortinas definitivamente não é para olhos sensíveis que despertam ao primeiro sinal de luz. Vou trabalhar numa solução pois todos os sonhos andam á volta desse tema…

Mais um dia, mais uma amizade. Segundo um amigo comum, ela é “esquisita” mas, depois de debatermos o que o “esquisito” significa chegamos á conclusão que todos são esquisitos perante nós e vice-versa – o segredo passa pelo apetite de conhecer pessoas diferentes ou andar sempre embarcado num cruzeiro de iguais: sem debate, seguindo o líder, sem racionalidade… não é para mim!

Debatam-se sempre as diferentes maneiras de ser (e de viver, para seguir a letra da música) para, pelo menos, termos conhecimento do porquê de as tratarmos como diferentes. Pelo menos… assim evitamos deduções de terceiros e fazemos o nosso próprio julgamento de carácter – a nossa própria noção de quem é o outro! De alguma forma acho que é o que tem faltado a um mundo preguiçoso – mais ávido por seguir do que ter opinião própria.

Apeteceu-me escrever isto…

Aquele abraço.

Chuvinha de …..

Estou em cima do motorista do autocarro! Não no sentido carnal da coisa mas apenas no andar de cima do double decker.

Chove, o que não é novidade nenhuma, e recordo os melhores momentos que vivi á chuva com o topo da lista ocupado por São Tomé e Príncipe, no Blue Marlin Resort, ouvindo o Toto, ao longe, com o “i guess it rains down in Africa”.

Já tenho saudades do sol mas hoje o sofrimento surgiu de receber um vídeo dos Foo Fighters, em pleno teatro Odéon, a darem um concerto maravilhoso. Perdi a Aída, devido ao controle de capitais, e agora Foo Fighters porque simplesmente já não vivo lá.

A vida continua e nem sempre os horários coincidem. Vou aproveitando o tic-tac dela para ir curtindo os melhores momentos. Sou um democrata: por vezes ganho e por vezes perco mas, acima de tudo, há um sorriso traquinas que permanece e isso… não tem preço!

Aquele abraço.

 

Vida no campo

É quando vives num país como a Irlanda que o teu sentimento de querer estar em contacto com a natureza mais se revela.

Recordas São Tomé e Príncipe, onde para chegares a uma roça tinhas que sair do 4×4 e, munido de uma catana como os locais, abrias caminho por entre a verdura que, em escassas horas, estaria exactamente igual.

Recordas Moçambique e o facto de não poderes ter ido para Villanculos de avião – alguém havia plantado uma horta no meio da pista de aterragem.

Recordas imensos paraísos africanos, onde nada é artificial, e começas a ter a certeza de que esse é talvez o continente mais próximo do que consideras ser o teu conceito de beleza.

Continuas a tua viagem no autocarro e contemplas os cenários verdes que a Irlanda te dá. Sonhas acordado com a força de quem quer executar e sabes que estás mais perto de concretizar esse sonho.

Divagações reais ou sonhadas mas, sobretudo, matinais.

Clock ticking

Acordado pela passarada, corpo bem esticado por um espreguiçar ímpar, com muita preguiça de fazer até o próprio café…

A necessitar de fazer as compras semanais e deparado com uma cidade que já dorme a sesta, de ar condicionado ligado, como se a temperatura fosse tão aflitiva…

Estão uns 18 graus, corre uma brisa ligeira, de vez em quando, e estou na esplanada do Ó Conail que, apesar de ter como especialidade o chocolate, tem um cappuccino muito bom.

Sorvo mais um gole e vejo quem passa. Salvo raras excepções está tudo num ritmo típico de domingo e até eu, já depois de ter visitado o Fitzgerald Park, anseio por uma soneca.

Semana muito recompensadora, em termos humanos, com novas pessoas conhecidas. Algumas amizades a fazerem-me questionar como por vezes podemos ter colegas de trabalho como amigos!

O café toca música dos anos 80/90 e os turistas param, espantados, antes de entrar para relaxar um pouco. Este é o meu canto secreto, aquele onde descanso enquanto escrevo, aquele onde bebo café enquanto vejo quem passa, aquele onde me sinto bem.

Ao contrário do Néctar, este café fica numa viela entre a rua principal e uma paralela que nos conduz á Ópera (direita) ou Grand Parade (esquerda). É essencialmente percorrida por pessoas ávidas de conhecer detalhes e não o que o roteiro indica, fugir do vento para uma pequena brisa, apreciar sem pressas e com detalhe.

Um bom domingo. Aquele abraço.

A bela manhã

Depois de uma noite iniciada a três, depois de todo o suor, um suspiro surgiu da cozinha e, para que não houvesse qualquer dúvida, agarrei na que sobrava e fui deitar-me com ela.

Acordei com as mazelas típicas de quem dorme com três louras tão Portuguesas e tão intensas. Sonhei acordado com os melhores momentos da noite anterior e prometi a mim mesmo repetir.

Ontem havia-lhes saltado a tampa e foram totalmente sorvidas por mim. Hoje mostravam-se vazias de desejo. Completamente extenuadas de toda a acção, clamavam por ser devolvidas a Portugal para uma terapia que lhes repusesse o desejo.

Sexta-feira, dia de pagamento e está sol.

Bom fim de semana!!!!!

Momentos matinais

Quando consegues dormir até às 10 da manhã, num país sem persianas, e acordas com um som que te faz imediatamente articular o queixo, de espanto…esqueces, por momentos, que devias espreguiçar-te convenientemente antes de iniciares o teu dia e trocas tudo pelo ligeiro abanar de cabeça, ao ritmo da música, seguindo a letra da mesma.

Estranhas que as boas músicas tenham um final – muito embora fiquem em nós por um tempo infinito. Acordaste e estavas no Tendinha, com os teus amigos de sempre, e até coraste porque te perguntaste “Será que realmente passei a noite no Tendinha?” mas sabes que o teu tempo no Tendinha sempre foi para queimar calorias, dançar ao som de boa música e estares com aqueles de quem mais gostas. Mais detalhes e o blog passaria a ter uma classificação de “Só para adultos” …

Ouves a passarada lá fora, abres a cortina e vês o habitual céu nublado, esboças um sorriso de gajo habituado a estas andanças – sorris ainda mais quando te dás conta que é o mesmo sorriso que esboçavas na Grécia quando, pela manhã, abrias as persianas da sala e vias a zona de Victoria no alvoroço matinal e tu – que sempre foste dado a despertares muito precoces – saudavas a boa noite de sono que tinhas tido (apesar da temperatura constante – os 30 graus nocturnos). A maneira como outrora apreciavas cada trovoada – porque já eras como os locais e abrias a casa toda para arejar (e aproveitar para baixar a temperatura no interior da mesma) – e agora começas a ver a chuva como algo habitual – como outrora o Sol o foi.

Olhas, com um amor incondicional, a tua máquina de café e, mecanicamente, colocas água na parte inferior, o depósito do café em cima – que enches com uma colheita de café colombiano do Robert Roberts, enroscas tudo muito bem e colocas ao lume. A espera pelo líquido é feita ao som de uma playlist que encontraste no YouTube e, quando menos esperas, começa a tocar o “This is the day”, dos The The…por momentos és um puto de 15 anos, no Splash, a curtir a mesma música – no meio da pista, de Super-Bock na mão (a cerveja de Leça do Balio era uma forma de separar as boas das más discotecas, no final dos anos 80), cercado de outros 5 companheiros de aventura. Depois de umas tacadas num verdadeiro bilhar Americano e com a noção que o regresso a casa seria feito muito rapidamente – alguém iria sugerir que os “Irmãos Cavaco” (evadidos nesse ano e, na altura ainda a monte) estariam escondidos na moita seguinte – o que fazia sempre com que chegássemos a casa em passo de corrida! Éramos jovens corajosos, mas também corríamos bem!

O café produz o seu efeito e desperta-te para a necessidade de criar novos momentos, mentalmente tens a imagem do duche, mas apetece-te colocar todas estas visões por escrito e questionas-te porque não fazê-lo enquanto bebo mais um café? Raramente discutes muito contigo e, de chávena na mão, atravessas os 2 metros que separam a cozinha da sala, ligas o computador e…deu nisto!

Bom fim de semana malta. Aquele abraço.

Atentado ao pudor

O meu canto, aquele onde vou carpir as minhas mágoas, onde sorrio das minhas alegrias, que só mostrava aos muito próximos…ofereci-o ao mundo!

No mais bonito gesto altruísta decidi partilhar convosco o meu, e agora vosso, blog.

Sem pretensões de chegar aonde quer que seja mas sem deixar de alcançar tudo e todos. Sem querer incomodar ninguém mas mostrando a todos que, muitas vezes, o “incómodo” é a diferença entre a boçalidade e o deslumbre. Sem objectivo nenhum definido que não seja o puro gozo de obter a vossa opinião.

Ontem na Grécia, hoje na Irlanda e amanhã…onde eu conseguir chegar!

Que sejam todos bem recebidos neste blog. Aqui não há críticas a pessoas específicas, há uma dose imensa de educação herdada e apreendida mas, acima de tudo, um único desejo: que saiam daqui a sorrir!

Um forte abraço e obrigado pelo tempo dispensado.

Solidariedade

Havia sido uma noite bem preenchida – de novas amizades, de novos brindes, de possíveis projectos novos na América do sul. Estava muito bem disposto quando me deitei e apenas com uma pequena azia quando acordei – certamente fruto de uma pint menos fresca…🤡

Não espreitei as notícias logo de manhã, como normalmente faço, mas apressei o café e vim fumar um cigarro ao som dos pássaros do meu jardim. Estava a repor a boa disposição, a relembrar a noite anterior, a exercitar o meu saudosismo. 😊

Abri o Guardian e falava-se de dezenas de vítimas num incêndio em Portugal. Pensei que se tratava de um erro de tradução e fui espreitar o Google News e constatei que não só não era um erro de tradução mas o número de vítimas continuava a aumentar. Fiquei triste, muito, e resolvi telefonar a todos a saber como estavam. 😏

Ser expatriado implica sofrer à distância mas o sofrimento é exactamente igual ao que em Portugal trabalha. É verter uma lágrima num país que não é o nosso mas vertê-la pelo amor à nossa pátria! 😍

Somos um país de vencedores e certamente venceremos mais este obstáculo. Força Portugal. Muita força! 🇵🇹

Por aqui acordamos com 20 graus e um céu nublado…ou chove ou vem calor…Wait and see, como dizem os ingleses! Aquele abraço. 🇮🇪

Que calor…

As reconciliações são um momento de nobreza dos sentimentos, dos sentidos, da valorização de quem nos completa. Não me lembro de ter passado tantas horas à conversa com alguém de quem gosto tanto e que, fruto do seu intelecto superior, questiona tudo. Uma filósofa do século XXI. 😙

A questão era completamente descabida mas a aproximação de duas pessoas nunca se fez pelas semelhanças mas sim pelas diferenças que, ou aceitamos ou abandonamos, preservando o nosso background. 🤗

Esta loira é uma verdadeira supermulher, em termos profissionais e pessoais, sempre solicitada para resolver as questões mais complicadas num mundo de ciência que é de aprendizagem contínua. Em boa hora fui para os copos naquele dia, em boa hora parei de conversar com a amiga dela, em boa hora fomos jantar! 😄

Hoje temos um dia de Verão na Irlanda! Estão 22 graus (sempre o 22) mas mais parecem 50…tal é a forma como os locais se comportam: de tronco nu, de calções e chinelos! Há algo de cómico em tudo isto e percebo melhor agora porque é que eles parecem camarões (quando vão ao Algarve ou fazem praia num país mais quente) e porque é que os Pubs são designados como o melhor protector solar na Irlanda…

Um país cómico, com muito sarcasmo, cheio de artistas e mentes brilhantes e muitos, mas mesmo muitos, profissionais no consumo de cerveja!

Aquele abraço.

Dia de sol

Finalmente a semana termina! Atribulada em horas de sono conseguidas, com juras de sono profundo nos próximos dois dias, ciente de que tudo poderá ser uma mentira e acabarmos, todos juntos, num qualquer sítio divertido. 🤗

Reunião de avaliação trimestral superada com sucesso, camaradagem com quem interessa e desenvolvimento dos conhecimentos. O acidente de trânsito mais idiota que eu já vi, duas mulheres ao volante, centenas de polacas que surgem do nada para proteger a conterrânea. 🤠

Desejo de uma pizza entregue no domicílio, uma tranquila noite de leitura e música enquanto aguardo a visita de domingo para a limpeza do apartamento. 😎

Calmamente a colocar tudo em ordem, a desfrutar todos os detalhes, ainda a finalizar a lista de compras e pronto para mais uma semana. 😎

Obrigado clima pelo dia que nos deste e pela semana que prometes. Até já. 😘