O coração binário com um defeito de fabrico maravilhoso.

A conversa talvez nunca tenha acontecido mas, a ter tido lugar, era assim que ele a visualizava. Invariavelmente estariam na varanda e, por entre um ou outro cigarro, o humilde narrador seria “interrogado” pela sua maravilhosa melhor amiga.

  • Conta-me tudo!
  • Desde quando?
  • De 2011 em diante…

E o vosso humilde narrador, provavelmente corado, descreveria os eventos que tinham tido lugar entre o ano referido e a data de então. Consigo visualizar as gargalhadas, as lágrimas de riso e de choro, as nossas expressões de surpresa, o pedido de detalhes mais minuciosos, a partilha de toda uma série de informações sensíveis que eu sabia estar a depositar no cofre mais seguro de toda a galáxia!

Não foi preciso muito tempo até a conversa ter sido interrompida, para um recuperar do fôlego de toda a odisseia. E, obviamente, ela percebeu, percebeu bem demais que o maldito brilho nos meus olhos não era fruto de drogas leves mas sim de um coração completamente rendido. Rimo-nos perante as evidências – algo que sempre foi a nossa reação, sempre que atingíamos esse estado. Rimos das coisas boas e das coisas más, recordamos a loucura de tudo e o quão desfasado da realidade – da nossa, pelo menos – tudo era.

“Hoje senti-a!”, disse o vosso humilde narrador, nessa hipotética conversa. O sentir alguém era algo que, desde tenra idade, partilhávamos – algo não palpável, nem cientificamente comprovável – mas que concordávamos que existia. Uma espécie de aura que fazia o coração tremer quando sentia a proximidade de outrém, sem que pudesse constatar se outrém estava perto ou não. Mas, que batia sempre certo! Daí a cientificidade com que o usávamos!

A rires-te, deste-me a tua aprovação – chamavas-lhe benção mas eu sou ateu e traduzi.

Desabafo de um madrugador – 20/6/2020

pigsbaywatch

A inércia da pesca…

Quando as pessoas estão a dormir nós, enquanto observadores, devemos respeitar esse sono e não incomodar – a menos que o sonho que idealizamos seja razão mais do que suficiente para arrancar a vítima do seu descanso. Infelizmente há muitos anzóis colocados na linha dos sonhos e os “peixes” que ousam sonhar, por vezes, deixam-se levar pelo engodo e, imitando os seus primos terrenos, mordem o anzol.

Há os mais fortes, mais sortudos, mais ágeis e os que, numa soma de todas essas virtudes, conseguem libertar-se do anzol mas outros, mais curiosos em saber que bicho é aquele na ponta daquela coisa brilhante, são agarrados pelo metal retorcido sem dó ou piedade! Uma questão de curiosidade fatal – bom título para um filme – em que o simples querer saber mais do peixe se transforma na refeição do pescador. A perversão de tudo o que nos é ensinado: que devemos sempre seguir, com curiosidade, aquilo que desperta em nós esse sentimento!

Enquanto agarrado ao anzol, o peixe só pensa em libertar-se! Constata o erro, assim que morde a curiosidade e começa um bailado desenfreado pela vida! Mas, nesta luta entre a natureza e o ser humano, as probabilidades do peixe são muito baixas – nem um 60/40 é, quase que o equivalente a alguém dar call a uma bet de 4BB’s com Ax na esperança de ver um A bater no flop e, mesmo após o A não ter batido, continuar a cobrir as apostas do adversário até perder as fichas todas.

Há peixes que, mercê de um bailado que deve ser ensinado no Bolshoi dos peixes, conseguem libertar-se e outros que, para gáudio de todos nós que gostamos de peixe, não conseguem. Dependendo do baile que dão, os peixes poderão ou não sobreviver. Eventualmente até haverá peixes que, com um sorriso entre guelras, saltam de boca aberta para o anzol mas não me parece que esse seja o comportamento maioritário e, certamente, não será o que o pescador espera quando, de manhã cedo, parte para a pesca.

Os linguados, esse sim, têm uma boa vida. A virar-se de frente ou costas – conforme estão na rocha ou areia – são os camaleões do fundo do mar. Certamente sabem o quão saborosos são e daí a atitude de dupla personalidade, conforme frequentam a areia ou as rochas. Com sorte, muita sorte, qualquer um de nós pode mergulhar uma mão na areia e, apertando forte, sacar um linguado mas, o que se passa a seguir é que conta: levo o linguado e como-o ou finjo não ter força para apertar e solto-o? É nessa inércia de falta de aperto que se resume todo um dia de pesca!

Quem disse que o assunto era pesca? – 5/6/2020

Natural born killers

Eu sabia, na sexta-feira quando resolvi ir em frente com a decisão, que o fim de semana ia ser muito intenso. Sabia que muito provavelmente me deixaria extenuado, mas largamente recompensado, cansado, mas de prazer.

Depois das agruras de um relacionamento demasiado redutor, eu havia esquecido a sua existência (quer de um quer do outro). Talvez não me quisesse recordar ou apenas não me lembrasse, mas lembrei-me que haviam passado 2 anos e imediatamente o sonho voltou. A pergunta que não me largava a cabeça era: será que realmente há novidades? E havia!

Percorri os caminhos cibernéticos da literatura e havia duas obras-primas já disponíveis e uma a ser lançada no dia 11 deste mês. Imediatamente comprei as 2 disponíveis em Português e a que sairá no dia 11 – que será lançada em Inglês.

Foi um domingo de loucura em que, por muito pouco, quase não cheguei ao destino. Completamente vidrado na ânsia de começar a ler, começar a sofrer, começar a tentar decifrar antes do autor o escrever, de chegar ao fim e exclamar: sempre muito bom. E assim foi…até consegui bater o tempo de leitura que o Kindle diz que o livro demora…

Foi muito bom voltar a partilhar momentos com o Gabriel – ainda mais tratando-se de uma aventura maioritariamente passada na Irlanda – e voltar a sorrir com as descrições que o Daniel faz dele.…em sonhos revejo sempre a imagem de um dos melhores restauradores de obras de arte do mundo, apoiado no queixo e com o rosto ligeiramente inclinado…sublime!

Cansei-me, mas foi dos esforços mais recompensadores que tive, num Fitzgerald Park que ora estava nublado ora estava ensolarado. Um dia muito bem passado! Na companhia de estranhos, com o ruído da natureza e com o meu livro. Bem-haja!

Momentos matinais

Quando consegues dormir até às 10 da manhã, num país sem persianas, e acordas com um som que te faz imediatamente articular o queixo, de espanto…esqueces, por momentos, que devias espreguiçar-te convenientemente antes de iniciares o teu dia e trocas tudo pelo ligeiro abanar de cabeça, ao ritmo da música, seguindo a letra da mesma.

Estranhas que as boas músicas tenham um final – muito embora fiquem em nós por um tempo infinito. Acordaste e estavas no Tendinha, com os teus amigos de sempre, e até coraste porque te perguntaste “Será que realmente passei a noite no Tendinha?” mas sabes que o teu tempo no Tendinha sempre foi para queimar calorias, dançar ao som de boa música e estares com aqueles de quem mais gostas. Mais detalhes e o blog passaria a ter uma classificação de “Só para adultos” …

Ouves a passarada lá fora, abres a cortina e vês o habitual céu nublado, esboças um sorriso de gajo habituado a estas andanças – sorris ainda mais quando te dás conta que é o mesmo sorriso que esboçavas na Grécia quando, pela manhã, abrias as persianas da sala e vias a zona de Victoria no alvoroço matinal e tu – que sempre foste dado a despertares muito precoces – saudavas a boa noite de sono que tinhas tido (apesar da temperatura constante – os 30 graus nocturnos). A maneira como outrora apreciavas cada trovoada – porque já eras como os locais e abrias a casa toda para arejar (e aproveitar para baixar a temperatura no interior da mesma) – e agora começas a ver a chuva como algo habitual – como outrora o Sol o foi.

Olhas, com um amor incondicional, a tua máquina de café e, mecanicamente, colocas água na parte inferior, o depósito do café em cima – que enches com uma colheita de café colombiano do Robert Roberts, enroscas tudo muito bem e colocas ao lume. A espera pelo líquido é feita ao som de uma playlist que encontraste no YouTube e, quando menos esperas, começa a tocar o “This is the day”, dos The The…por momentos és um puto de 15 anos, no Splash, a curtir a mesma música – no meio da pista, de Super-Bock na mão (a cerveja de Leça do Balio era uma forma de separar as boas das más discotecas, no final dos anos 80), cercado de outros 5 companheiros de aventura. Depois de umas tacadas num verdadeiro bilhar Americano e com a noção que o regresso a casa seria feito muito rapidamente – alguém iria sugerir que os “Irmãos Cavaco” (evadidos nesse ano e, na altura ainda a monte) estariam escondidos na moita seguinte – o que fazia sempre com que chegássemos a casa em passo de corrida! Éramos jovens corajosos, mas também corríamos bem!

O café produz o seu efeito e desperta-te para a necessidade de criar novos momentos, mentalmente tens a imagem do duche, mas apetece-te colocar todas estas visões por escrito e questionas-te porque não fazê-lo enquanto bebo mais um café? Raramente discutes muito contigo e, de chávena na mão, atravessas os 2 metros que separam a cozinha da sala, ligas o computador e…deu nisto!

Bom fim de semana malta. Aquele abraço.

Coração

O meu coração é do meu filho. Senti-o quando ele nasceu e, por entre virtudes e erros, próprios de quem é um amador na tarefa, fui-me tornando profissional na área de lhe transmitir os valores que herdei, os que apreendi e, de entre os erros que cometi, a explicar o porquê de os ter cometido e, assertivamente, explicando a razão para ele os evitar.

Não há um melhor Pai do mundo! Porque a tarefa envolve um equilíbrio permanente entre os desejos do descendente e a autorização do progenitor. No meu caso específico tenho a certeza absoluta que o meu filho tem a melhor Mãe do mundo e que, com o crescimento, cada vez mais se revela naquele que outrora foi uma criança saída do ventre dela.

Não sei qual o futuro do meu filho (a ele pertence) mas sei que o presente é a mais bela recompensa que uma criança pode dar aos progenitores. É extraordinária a forma como cresceu, sobretudo enquanto pessoa e, por vezes, dou por mim a “babar-me mentalmente” por ouvi-lo chamar-me Pai.

É ele a minha maior riqueza neste mundo. Cada dia que passa sinto que sou mais rico: por alguma experiência que ele me conta ou, pura e simplesmente, pela visão fantástica que ele tem para com este mundo.

De um Pai orgulhoso para um filho que é um orgulho – 23/5/2017

Inesperada presença

Benditos intercâmbios estudantis que te colocam em rota com génios da Física.

Não queria mais do que sair, beber um copo, ir descansar desta semana de loucura laboral. Mas o destino tinha outros planos e a conversa prolongou-se muito para além da hora combinada, com os colegas de trabalho, para a rotineira cerveja das sextas feiras.😇

Atrasado para o reencontro com os colegas de trabalho e, muito provavelmente, envergando a cara de quem guarda o maior segredo do mundo, fui interrogado mas não cedi! Nem mesmo quando colocado debaixo do holofote de mais uma cerveja…💪

Tens arritmias, não sentes borboletas, apenas e só estás num constante diálogo cibernético com aquele alguém que, sem que nada o fizesse prever, passou a fazer parte da tua vida. Não é um “déjà vu” porque é presente, real, faz-te sorrir, obriga-te a pensar e coopera num projecto que lentamente se desenvolve a dois. 😍 A dois!!!!

Já estás de coração aberto, já sentes que há uma parte da pulsação que não é tua mas não só a consentes como a estimulas. A história faz-te recuar a um casamento em Cerveira, onde viste dois jovens que muito estimas, casarem. Ainda hoje tens essa história e uma outra, no castelo de Santa Maria da Feira, como exemplos intemporais do que é o amor. 💕

Como se caminhasses numa rua completamente desimpedida e, subitamente, tropeçasses num sentimento.

Não há duas sem três…- 21/5/2017