Ai os gajos…

Um casal de velhinhos, aparece nas costas de um directo na RTP1, sobe a rua em direção a Santa Catarina. Estão de mão dada e nota-se um toque do marido na mão da mulher para seguirem pela esquerda da imagem da TV. O que à primeira vista parece ser mais um casal a tentar aparecer na TV não faz sentido numa situação destas – em que todos vemos e eles não querem ser vistos – e é, quando vejo o outro polícia, a aparecer nas costas do polícia que está em directo na TV, que percebo tudo: os velhinhos fugiam da polícia!!!!! Ambos baixam a cara, quando interpelados, e após um breve sermão da polícia…seguem o caminho. As expressões nas faces, que se conseguem ver quando o casal é “libertado do sermão” mas capturado pela câmara em directo, é semelhante ao estado de espírito dos que estavam em Woodstock em 1969! Reguilas, sem regras, a sorrir muito….

Percentualmente, segundo as estatísticas, as pessoas mais velhas já cumpriram uma percentagem superior às de menor idade (casos haverá em que, infelizmente, vicissitudes da vida o contradizem) logo, estão mais perto de terminar a odisseia que é a vida. Assim sendo, entendo perfeitamente a ânsia de andar na rua, de quebrar regras, de querer – de muito querer – não cumprir as regras e ser desregrado. Eu acho que, enquanto o casal de velhinhos passava em frente ao directo da RTP, ouvi Hendrix ao fundo….poderá ter sido a minha imaginação…

O tempo – que presentemente sentimos de maneira mais palpável – é a medida da nossa vida. Não temos acesso a qual “o comprimento” que vamos atingir mas podemos muito bem divertirmo-nos enquanto vamos crescendo, temporalmente falando! 

Acordamos, pela manhã, e fazemos a doação do nosso tempo: doamos tempo a um café que tomamos, uma torrada que comemos, uma obra que executamos!

É a falar do tempo que a gente se entende!

Devaneio matinal – 4/4/2020

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Guantanamo

Acordei cedo, pelos meus parâmetros, e fui às compras. Havia uma fila e o comportamento foi super decente, por parte dos que esperavam. É todo um novo mundo o que existe lá fora: há pessoas, olhares desconfiados, alguns sorrisos e, acima de tudo, demoramos uns valentes segundos a associar quem nos cumprimenta…ao longe, claro está! Um profeta da desgraça, à porta do Pingo Doce, anunciava toda uma série de catástrofes e eu….fui tomar 3 cafés para não ter que voltar a sair.

Chegado a casa com um cesto de compras para 2 dias, muito aquém de ter esgotado qualquer produto que seja e esquecendo outros fundamentais, coloquei o “Dancing with myself”, aos altos berros e, de mini Super Bock na mão, saltei que nem um louco! Acho que a minha passagem de ano está, finalmente, celebrada! Faltou a ressaca mas eu sou um homem comedido! 

Foi um almoço moderado, bem regado e segue-se uma “estimulante” sesta! A leitura seguir-se-á e ligar a TV para ver mais números alarmantes está fora de questão…antes ouvir Justin Bieber!!!! (estou a brincar, jamais o ouviria! Preferia umas sessões de Waterboarding em Guantanamo!). A sensação de muito calor no corpo que, afinal, não é mais do que o sol a bater no corpo do prisioneiro.

Ao final da tarde um passeio de alguns minutos, só para espreitar o sol, seguido de um recolhimento até ao dia seguinte. Há leitura suficiente, há música suficiente e há comida para uns snacks valentes e umas refeições bem para além de modestas. Tenho visões de pratos muito bem confecionados (babo-me com o pensamento), de colesterol elevado e o estómago enche-se de pensamentos eróticos em relação ao que vai digerir a seguir.

Disse-me o senhor do café que as pessoas que lá passam estão a começar a perder a paciência ao que eu respondi que mais vale isso do que perder a vida! Contundente, bem sei, mas os tempos não são de facilidades mas sim de dificuldades. 

Força aí! Todos juntos nesta odisseia não programada mas que certamente todos iremos superar!

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Rikers Island

As grades são tudo o que me limita – as janelas que me impedem de voar, a porta que nos impede de sair, a TV e o seu discurso catastrófico – quanto a mim, ainda aquém do necessário (uma opinião pessoal), que nos dá um cenário dantesco, muito para além do que conseguimos imaginar e constatar.

Fujo da solitária cerca de 30 minutos por dia – aquém do confinamento na solitária de Rikers – que permite 60 minutos de pátio – para olhar o mar, após ter fugido de todos aqueles com quem me cruzei pelo caminho. Os olhares são desconfiados, as caras são de medo e o vírus continua a ser algo desconhecido.

Notícias de uma besta quadrada, que preside a um país da América do Norte, e que tenta, a todo o custo e com recurso ao “Almighty dollar”, comprar os estudos feitos por uma companhia Alemã em prol de uma vacina, para uso exclusivo no povo a que “preside” – quanto a mim o ponto mais baixo da humanidade mas, vindo de quem vem, não me espanta que se consiga “superar”. Os “familiares” dessa besta, que presidem aos destinos do Reino Unido e do Brasil, seguem-lhe os passos…

Medo do desconhecido? Todos temos, quando somos humildes ao ponto de o reconhecer. Tentar superar o desconhecido, através de iniciativas individuais, nunca superará a força do movimento colectivo (a vida tem-nos dado inúmeros exemplos). O meu grande medo, actualmente, é a falta de um grande líder mundial que consiga unir a humanidade face a uma das maiores catástrofes com que já se deparou.

Conspirações e afins são a justificação possível para quem acredita nessas teorias mas o facto é que lidamos com o desconhecido e os únicos dados que possuímos vão sendo transmitidos dos países mais afectados para os que serão afectados em seguida. Estamos a aprender conforme o tempo vai passando, conforme a virose vai evoluindo, conforme os mortos vão destruindo a nossa confiança e os pacientes recuperados nos dão alegria (apesar das fortes mazelas com que ficam). 

E a economia? É talvez a justificação para a morosidade com que algumas nações enfrentam este flagelo – ninguém ousa sequer contabilizar os custos de algo assim até porque, nesta altura, tal seria considerado insensato. Não há material suficiente, não há conhecimento suficiente, há um esforço desmedido por parte daqueles que realmente dominam estes fenómenos epidémicos – contrariado por Governos mais preocupados com a economia e eventuais reeleições (a política é a verdadeira origem da palavra hipocrisia).

Saudades de um bom abraço, de um bom beijo, de fazer todas as coisas que nunca nos fazem falta – quando as temos – mas que se transformam em saudade, assim que a oportunidade de as termos desaparece…O humor tudo supera!

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Sempre a aprender…

A aprendizagem pode ser extraída dos mais pequenos episódios da vida. Relembro sempre o dia em que, nos primórdios do WhatsApp, resolvi alterar o nome de um grupo ao qual pertencia para “Anedotas básicas” e, imediatamente, aprendi uma lição sobre gestão e uma outra sobre o sentido de humor….eu explico: demorou 2 segundos a eu ser expulso do grupo e imediatamente percebi que havia uma enorme falta de humor no mesmo!

Hoje, sentado no muro da praia e fumando um cigarro, observei o pôr do Sol. Só quem o observa, tantas vezes quanto o possível, consegue atingir os pequenos detalhes que o diferenciam, dia após dia. A nuvem irrequieta que o perturba, as cores de uma paleta que só a natureza consegue produzir, a velocidade da brisa que corre, os aromas que a nortada empurra. Toda uma série de circunstâncias que, nunca sendo iguais, poderão ser vistas como tal….por amadores, só por esses.

Foi, sentado na areia e com o traseiro ligeiramente humedecido pela areia molhada, que vi o astro partir. Senti o povo irmão Brasileiro a saudar a chegada do calor das 2 da tarde com mais um churrasco, um pão de queijo ou um feijão tropeiro. Numa amena cavaqueira, com uma distância social aceitável, a degladiarem-se pelo melhor pedaço de carne!

A verdade? A natureza é a mais bela paisagem a que os nossos olhinhos têm acesso. Basta abrí-los…

Boa quarentena!

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A P.D.I.

Alguém muito próximo perguntou-me, por estes dias e a uma distância segura, porque é que eu nunca escrevia sobre a idade, o envelhecimento, etc…A verdade é que se trata da pessoa ideal para colocar essa questão pois andamos a envelhecer juntos desde 1988…

O Outono da nossa vida, como prefiro apelidá-lo, devido às muitas semelhanças entre a natureza e o corpo humano. Tal como as folhas se desprendem do ramo para, num bailado lento e nas mãos do vento, alcançar o solo e passar a ser um estrume adicional para a árvore de onde caiu…também nós partimos de uma estatística que nos pode deixar no lençol – sem futuro, sem dignidade e ao alcance de qualquer máquina de lavar – ou alcançar o útero e criar uma nova vida.

A vida é feita de probabilidades e nunca sabemos o tempo que nos está atribuído logo, nunca conseguimos saber, antecipadamente, o resultado correcto da equação. Mas é justamente nessa falta do valor final que reside o combustível que nos faz levantar e procurar o objectivo seguinte.

Surgem uns nervos com tiques, obviamente, nervosos, uns dentitos têm que ser substituídos, umas dores de costas que não faziam parte do roteiro habitual. Dás muito mais valor a escutar do que a falar e dá-te um gozo muito maior o processo de aprendizagem das coisas – talvez porque damos mais valor ao tempo (que realmente tem mais valor pois estamos num cronómetro regressivo e já percorremos parte do tempo definido).  

Ainda erras como antigamente e aprendes – temporariamente – com o desejo de errar novamente o mais brevemente possível. Adoro essa parte do processo de envelhecimento…dá-me a impressão que sou um “velhinho de desenho animado” que pode escapar sempre das situações, ainda de coluna bem levantada e com um sorriso traquinas que é imagem de marca.

Assim, por alto, é o que me ocorre…

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Há cáries que vêm por bem…

Na aventura que tem sido o buscar emprego em diferentes países há detalhes que afectam sempre a tua escolha. Falhaste redondamente no passar 860 dias num ambiente dos mais agrestes que há por perto. Perguntam-se vocês se eu contei os dias? Obviamente!!!!

Se no início chegas a um país com uma vontade enorme de descobrir tudo e todos, muito rapidamente a meteorologia começa a “afectar-te” e começas a esmorecer sempre que tens que sair da casa – impecavelmente isolada – para um tempo que muito raramente tem sol. Os detalhes, que sempre tão cuidadosamente analisados, antes de partir, e andam sempre à volta de detalhes como a meteorologia, o poder de compra que posso ter e o saber qual a melhor área para habitar (perto, muito perto, do mar).

Se na Grécia o tempo só tinha 2 meses de Inverno forte então, na comparação com a Irlanda, posso dizer que nem uma semana de calor existe e, caso a mesma apareça, terá que ser atribuído a um estranho fenómeno meteorológico típico dos dias actuais. Foram 860 dias a tentar superar uma vontade enorme de largar tudo e voltar para Portugal e escolher o destino seguinte.

Um dia, porque tinha um dente que me doía, fui à dentista local e arranquei o doloroso companheiro..por EUR 180 (!)!!!! Assim que saí do dentista, e ainda entorpecido pela anestesia que havia recebido, disse para mim mesmo: se chegares à próxima esquina e seguires em frente….vais trabalhar mas, se chegares a essa mesma esquina e virares à direita, então colocas um ponto final em tudo isto. 

Assim que cheguei a casa – sim, virei à direita, com um sorriso do tamanho do mundo, sem peso nenhum nos ombros – liguei para os meus colegas de casa e contei-lhes a decisão. Tratando-se de pessoas muito amigas e perspicazes, o jovem casal ainda tentou demover-me com a visita ao Brasil que se iria iniciar, daí a uns dias…mas a decisão estava tomada e a viagem ao Brasil seria o primeiro passo num merecido descanso de chuva, frio, neve, gelo, etc…

Não censuro (como poderia?) quem se aguenta na Irlanda e triunfa – são os meus heróis – mas eu não fui talhado para sofrer tanto com a meteorologia e, gradualmente, o trabalho foi-se tornando cada vez menos apetecível e, quando encurralado entre a indisposiçao de ir trabalhar ou o alento de procurar algo novo….a resposta é óbvia.

Chegado do Brasil – e assim que retornei a Cork (outra coisa irritante do país é que não há voos entre Dublin e Cork o que obriga a uma viagem de 3 horas e meia de autocarro que ainda te massacra mais) – falei com os meus colegas de casa e ficou decidido que eu partiria e outras pessoas surgiriam para ocupar a minha vaga. Correu tudo muito bem e cheguei a Espinho a 25 de Julho de 2019.

Como sempre na vida, conheces pessoas espectaculares com as quais gostarias de continuar a partilhar o teu tempo e outras com as quais não gastas um milésimo de segundo (sim, tenho que trabalhar melhor na cara hipócrita que tenho que fazer quando estou perante alguém de que não gosto). Já consigo esboçar uns sorrisos em frente ao espelho mas imediatamente sai uma gargalhada pelo facto de não ser espontâneo…antes assim! A Irlanda foi uma aventura saudável, fiquemos assim!

Havia, desde a chegada, uma data definida para começar a procurar algo novo – Janeiro de 2020 – e assim foi. As entrevistas continuam e vocês ririam muito se soubessem quais os países, quais os salários e quais as actividades a que concorro! Faço figas e estudo que nem um louco (expressão deveras apropriada) para conseguir um novo país, novas aventuras, novo conhecimento e, quase que me esquecia, um novo emprego.

Em breve certamente partirei, muito provavelmente para um país da UE, mas sempre de olho na América Latina e Central (daí dizer acima que louco é uma expressão apropriada). Não busco a riqueza do mundo mas tão só e apenas a oportunidade de visualizar algumas das maravilhas que o mundo contém! Louco? Sim, por novas aventuras, novos países, novas pessoas e, acima de tudo, a oportunidade de conhecer algo diferente!

Benditos EUR 180 que gastei na remoção do dente….aquilo andava a afectar a engrenagem da alegria!!!! 🙂

Aquele abraço.

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Fotógrafo: Mario Horta Oliveira

Irlanda

18 de Março de 2017. Foi esse o dia em que aterrei em Cork e comecei a fase irlandesa da minha vida. 2 anos, 5 dias…recordo que marquei a viagem para chegar – propositadamente – após a festa nacional, o ‎Saint Patrick’s Day. Uma decisão corajosa de quem vinha de uma série de festas de despedida – algumas a superar o nível de alguns dos filmes da trilogia ressaca – que me fazia sempre recordar a máxima “Poupa o teu fígado!”.

Era um dia nublado e chuvoso aquele em que cheguei. A natureza, de um verde insuperável, dava esperança ao humilde narrador de que talvez houvesse um dia em que se pudesse (eventualmente) até fazer praia…era, obviamente, a visão deturpada pelo cansaço da viagem que teve que ser feita com escala em Londres. Mas sim, consegui um dia ir à praia na Irlanda e farei questão, caso a situação ocorra, de contar aos meus netos para que nunca façam merdas desse tipo!!!!!!

Trocas de casa, pessoas novas conhecidas e acarinhadas, pessoas novas conhecidas e remetidas ao esquecimento, sorrisos, gritos de luta e incentivo e, ultimamente, uma vista muito mais sorridente. Tal como o rio, que nos serve de imagem diária para quem frequenta uma sala completamente rodeada de vidro, também a vida flui naturalmente – talvez não para o rio que desejamos, mas há que fazer o melhor com o que vamos encontrando nas margens ou procurar sítios mais distantes para buscar o pão.

E que rico pão…vivemos a uns 100 metros de uma padaria francesa fabulosa (na Irlanda consome-se mais o nosso pão de forma pelo que a padaria, enquanto estabelecimento, é um conceito quase não existente para eles) na qual os produtos que estão expostos são de fazer babar o mais bem-educado dos meninos de um qualquer colégio particular em Portugal.

Olhos bem abertos na constante procura de mais ver; uma procura constante por novos pequenos nadas que vão surgindo e que urge apreciar. Um lugar quase cativo no autocarro e a construção de uma nova “seita” no fundo do mesmo. Gargalhadas com humores semelhantes, gargalhadas com humores diferentes.

Trocas de olhar e sorrisos constantes, condutores demasiado expeditos e recém-encartados ao volante. Viagens de pura adrenalina versus sermos ultrapassados por caracóis. E, lentamente, conhecendo….

Sempre na luta…

Nunca fomentamos a nossa relação pela exigência no contacto mas percebo que exijas mais de mim do que presentemente te tenho dado. Ando egoísta, talvez seja isso! Mais relaxado, mais dado a tarefas caseiras, mais dado a gargalhadas com os que mais gosto.

Livrei-me do velho portátil e teclo-te agora de um modelo novo. Nem percebo como deixei algo chegar a tão velho mas, por vezes, deixamos coisas envelhecer ao nosso lado sem que exista mérito para que tal aconteça. Não mais voltará a acontecer: mereces que as novas criações provenham de um modelo ao teu nível! E assim será, doravante.

Continuamos a curtir a nossa casa, em frente ao rio, com uns endiabrados (de bons) brunches aos domingos. Vamos usando os sábados para ir conhecendo novos locais para o pequeno-almoço tardio mas os domingos são nossos!!!! A nossa varanda tornou-se o nosso local de culto e o rio, constantemente a fluir em direcção ao mar, a minha alegoria para largar palavras velhas e usar um diálogo novo!

Acusam-me de evitar-te! Que desabafo demasiado contigo, que as pessoas que interessam – só essas existem – são sempre as segundas a saber do que se passa. Acho que são ciúmes, más línguas ou apenas uma forma amorosa de expressarem o seu gosto pelos escritos passados. Mas, tal como na bolsa, lucros passados não são garantia de lucros futuros e, com os escritos antigos, é precisamente a mesma coisa.

Vou começar a natação, assim que consiga atravessar os 20 metros que me separam entre a porta de casa e a piscina do hotel. Com trezentos euros anuais tenho acesso a tudo o que se passa na piscina e, qualquer dia, lá estarei com os velhinhos todos a fazer hidroginástica!

Passos pequenos mas muito seguros. Fevereiro de 2019.

Férias

Havia muito tempo que mentalmente estavam planeadas! Uma espécie – para não usar a palavra “tipo” – de descanso do guerreiro que mais não é do que levar o guerreiro a prestar vassalagem ao Sol.

Partir do aeroporto de Cork assemelha-se, em muito, a partir do aeroporto de São Tomé: as máquinas são ligadas para inspeccionar as bagagens, há muitos sorrisos – por parte dos passageiros que sabem que vão evoluir, pelo menos, uns 20 graus centígrados em termos de temperatura, a boa disposição impera e contagia!

Voo tranquilo, apesar da histérica que seguia a meu lado e que, a cada pedaço de turbulência, se agarrava a mim…fosse a Claudia Maria Schiffer e a história teria sido diferente! Sem turbulência, claro está! A chegada foi tardia e as primeiras impressões de uma semelhança brutal com a Gran Canaria – entre a Playa del Ingles e a Playa de Las Americas há semelhanças tão incontornáveis quanto a relação de vizinhança das 2 ilhas!

Dias passados maioritariamente entre o Papagayo e a praia! Papagayo para hidratar e a praia para plena satisfação da necessidade vital para quem nasceu tão perto do mar! A temperatura da água não seria a ideal – de acordo com os padrões Gregos – mas, para um Espinhense habituado a estas lides…estava fresca!

Festejamos a amizade Luso-Helénica, em todos os momentos em que pudemos estar juntos, e descobrimos que temos maneiras de ser bastante idênticas – sempre sem afectar a amizade ou respeito que nos unem.

Maravilhoso voo de volta para Cork – que estava 21 graus abaixo da temperatura da ilha – e o tabaco a ser capturado na fronteira, por um troglodita da alfândega (que não a discoteca em Caminha….antes fosse!!!!) que só exclamava que a Espanha nunca tinha pertencido à União Europeia! Um intelectual, claro está!

Após pedir uma qualquer declaração, atestando que o tabaco tinha sido apreendido, resolvi dar meia volta e seguir para casa – onde me esperava uma mudança para o apartamento novo!

A ironia da vida é agora tentar perceber como é que 4 dias apenas te colocam na cara um sorriso tão duradouro….

Aquele abraço.

Dizem…

…que foi uma visita de médico mas eu discordo. 
Os médicos, quando visitam os que amam, têm um sentimento emocional aliado ao profissional (acreditem que eu sei…).
Percorri umas dezenas de vezes a cidade inteira, sempre de sorriso estúpido/saudosista estampado no rosto, estive com os que mais amo e gostaria de amar, comi a francesinha, comi o gelado, comprei natas e bolas a horas quase decentes, quase morri atropelado por estar constantemente a olhar para o lado errado…
Sorri, amei e fui aventureiro. Fica gravado no meu coração. ❤

Venha o ano novo com o mesmo sentimento para todos vocês. 🍻

Original de 31 Dezembro 2018 às 01:01

Amor é…cafeína!

Sentado no sofá e refém da sua caneca de café. Mentalmente analisando a evolução do percurso: começou num pequeno curto pela manhã, evoluiu para dois curtos pela manhã para, finalmente, voltar ao conforto da cafeteira de sempre – a quantidade ideal, o aroma possível para a tecnologia utilizada, a temperatura ideal!

Revê os emails recebidos, analisa cada proposta como uma oportunidade de ir conhecer outras paragens, responde no messenger e sorri. Ainda não está funcional e a audácia leva-o a uma segunda cafeteira de café. Recorda a combinação que fizeram na casa e, caso tudo corra bem, em breve terão uma máquina de café para todos!

Liga a TV e acompanha o pequeno-almoço das várias emissoras: os programas simples feitos para uma audiência fácil de cativar e ainda mais fácil de manipular. Muda para a CNN e dá de caras com o Jim Acosta, de sorriso renovado, que me dá as últimas notícias da Casa Branca.

Levanta-se do sofá, desliga a TV e chega à conclusão inicial: deveria haver uma fórmula mágica que, analisando o estado do paciente, indicasse imediatamente a dose de café necessária para o equilíbrio diário! Ora….aí está uma invenção digna e capaz de gerar lucros por muitas gerações.

Está frio, exclama enquanto abre a porta para sair de casa! A diferença de temperatura entre o interior e o exterior é elevada e o choque térmico leva-o a bater a porta, ficando dentro de casa!

Devaneios matinais de quem precisa de um edredão eléctrico para se deslocar…

Perdi a vergonha…

Ainda caíam gotas dela….notava-se que estava a precisar de descanso mas a hora era de acção e o descanso passou para um segundo plano.

Toquei-lhe com a gentileza possível de quem toca algo húmido e a precisar de repouso. A minha mão rodeou-a e apertei-a um pouco para que não me fugisse.

Coloquei aquilo que ela gosta bem dentro dela e fiz uma ligeira pressão para ter a certeza que estava conforme fui ensinado. Sim, estava.

Aqueci-a até obter dela os primeiros acordes de sucesso. Assim que ouvi a sua manifestação de dever cumprido, imediatamente peguei nela e, manipulando-a cuidadosamente, virei-a!

É um prazer diário. Adoro a minha máquina de café!

Criar algo simples…

O simples Porto-> Faro e Faro-> Porto transforma-se num Porto-> Amesterdão e Amesterdão-> Dublin. Assim começou o domingo de retorno a Cork…voo cancelado e a opção a não ser a melhor mas a possível. A KLM dá-me a protecção de preço e o voo passa a ser Porto-> Madrid e Madrid-> Dublin…menos mal mas ainda tens 3 horas e meia de autocarro entre o aterrar em Dublin e chegares a casa em Cork. O voo ideal, marcado com meses de antecedência, por uns míseros EUR 92 transforma-se numa saga de EUR 260 e mais EUR 20 para o autocarro…ninguém merece mas a Ryanair faz questão de dar estas “ofertas”.

Chegas a Madrid e tens 20 minutos para apanhar o Madrid-> Dublin, o joelho cede quando começas a tentar um passo mais acelerado e, graças ao feliz encontro com o homem do carrinho de golfe – que apoia os menos válidos (o trocadilho aqui aplia-se porque em espanhol se diz mesmo assim) – que te leva à porta H4 quando o relógio assinala as 15:55 (hora de partida do voo). Cais no lugar do meio e só acordas em Dublin…haja algo de bom na viagem de regresso! Chegado a Dublin eis que a Aircouch está a minutos de chegar e tu já tens bilhete para as 3 horas e meia seguintes…chegas a casa às 23 horas quando tinhas tudo previsto para ter chegado às 15:30 a Cork!

Sentes diferentes vazios…um porque é a tua amizade mais próxima e merece todo o carinho e atenção do mundo, outro porque não deste continuidade a algo que gostavas que tivesse continuidade e um último porque uma viagem que deveria ter sido tranquila se tornou em algo tão atribulado. Levantas o nariz e enfrentas as adversidades! Verificas o email e vês que recebeste uma notificação com os nomes das tempestades para 2018/19 e exclamas “voltei, já tenho informação privilegiada para enfrentar o clima!” Sorrio mas não é um sorriso de felicidade…é apenas uma exclamação sob a forma de sorriso, talvez tenha sido um suspiro…quem sabe? 

De volta à cidade e pronto para as vicissitudes da semana irlandesa. Haja virtuosismo e boa disposição!!!! Até já!

Uma ida a casa…

O reencontro com o meu descendente foi tão recompensador quanto o reencontro entre dois melhores amigos. Obviamente que me perguntou se a prenda de aniversário da Mãe tinha chegado e eu entreguei-lha…fugiu para um canto para testar o seu novo som e era vê-lo colocar o polegar ao alto para me informar que estava de acordo com as expectativas.

Na primeira noite ainda corri para o cantinho húmido do costume: Jorge a dar o seu melhor, Fellaini a rasgar com o seu rock alternativo todo e a Super-Bock a saltar geladinha. Recordo-me apenas que optei por não sair de dentro do Bombar e ter optado por ficar a delirar – sim, delirar – com todo o metal com que o Fellaini nos brindou – até Wolfmother nos entreteve! Eram 2 da manhã quando cheguei e a polícia acabou com a festa por volta das 3 e meia – o que acabou por resultar muito bem porque me permitiu passar pela padaria e engordar mais um pouco!

No dia seguinte corri para o porto seguro de sempre onde a mãe adoptiva estava com o seu filho e a minha melhor amiga. Abraçamo-nos como sempre e retomamos a conversa onde a tínhamos deixado: não havia novidades que eu não soubesse mas apenas uma necessidade de reforçar o apoio a quem mais significou e significa – sempre – em termos de amizade, dedicação e carinho. És insuperável na tua maneira de seres minha amiga, Obrigado!

O inesperado serviu para darmos uma lição de amizade a todos os que nos rodeiam e, mais uma vez, superamos a “prova” com distinção. Num momento infeliz houve uma equipa de amigos que conseguiu, com toda a naturalidade do mundo, proteger uma pessoa que sempre nos disse e diz tanto, ensinou e ensina tanto, dedicou e dedica tanto tempo. Há amizades insuperáveis e esta é e será sempre a minha.

Sei que estás em boas mãos pois vi o quanto todos queremos o teu bem e quanto naturalmente damos para que tal aconteça! Nunca conseguiremos ser tão completos quanto tu és mas sempre te serviremos com a mesma dedicação com que nos ensinaste e estamos sempre aqui para ti! Mereces todo o bem do mundo.

Muitas vezes, ao longo da minha vida, conseguiste milagres: roubei-te uma amiga com quem casei e de quem sou um grande amigo, mostraste-me sempre um sentido mais amplo e calmo das coisas e das pessoas, és e sempre serás a minha inspiração para o que de mais belo há no mundo – uma das raras pessoas que existem no mundo capaz de o fazer e que eu, cedo na vida, tive a sorte de ter encontrado. Sempre juntos!

Obrigado a todos pelos bons momentos e pela forma como juntos superamos os momentos menos felizes nesta curta passagem por Espinho. Vocês mostraram-me que a união faz a força e que grande força nós somos!

Um grande abraço a partir de Cork.

A amizade celebra-se!

Passei toda a minha vida sempre com uma amizade que designei como sendo a melhor. Melhor porque é superior em tudo: na bondade, na presença, na cooperação, na partilha de momentos únicos, nas gargalhadas que ainda hoje demos, no medo e receio que tínhamos com desafios que enfrentamos, na praia e no campo, no mar e na terra. Este bem poderia transformar-se o maior parágrafo alguma vez escrito se eu fosse enumerar todas as tuas virtudes! Não o farei porque é a intimidade da nossa amizade que prevalecerá – contra tudo e contra todos.

Não tenho a receita mágica para te devolver todas as forças de que precisas, mas dou-te toda a minha força para que triunfes…sempre! Sempre foi assim e sempre será! Essa é uma certeza que terás que viver sempre com.

Num mundo perfeito jamais te terias cruzado com as adversidades com que te cruzaste e que eu presenciei. Num mundo perfeito o povo ansiaria por ser como tu, trabalharia para conseguir tanto como tu sem nada pedir em troca. Num mundo perfeito tu irias sentir-te envergonhada com todo o reconhecimento que te seria dispensado, mas, como tens a certeza do teu valor, saberias superar o reconhecimento para, como sempre o fazes, superar-te cada vez mais.

Vejo-te como o desenho perfeito da amizade – sem qualquer necessidade de retoque ou edição. Nunca conseguirei sequer estar perto de um esboço desse desenho perfeito de amizade que és, mas a simples tarefa de tentar dá-me a certeza da tua grandeza e do teu engrandecer constante.

Tudo em ti parece fácil de executar – porque és tu que executas! Se, após ter memorizado como o executas, tentar o mesmo exercício eu apenas consigo sorrir, desistir de tentar e, com o meu sorriso malandro, sentir o maior orgulho do mundo de cada vez que me chamas de amigo.

Amar é possível na amizade e eu sempre soube que amava a nossa amizade pela simplicidade com que sempre a executamos. Uma espécie de engrenagem que se encaixa e se mantém em movimento muito para além do tempo em que estamos juntos.

Tentei, mas acho que ainda não consegui a descrição ideal da nossa amizade. Continuarei a tentar! Sempre juntos!!!

Sonho tornado realidade

Sonhei que idealizava a amizade perfeita:  com um sincronismo de raciocínio muito semelhante entre as duas pessoas, com um sentimentalismo muito parecido, com uma cumplicidade muito superior à de qualquer irmão, com um sorriso permanente – muito semelhante ao do vencedor que, do degrau mais alto do pódio, sorri perante as adversidades que acabou de vencer…para ser o melhor.

Acordei e vi que me tinhas enviado uma mensagem com um simples “Só tu…” e um emoji simbolizando uma gargalhada nossa. Há duas exclamações em ti, pelo menos para comigo, que sempre me habituei a responder com uma gargalhada – nunca de gozo mas sim de antecipação!

As expressões são o “Só tu…” e o “Oh IKA” – que, desde sempre, serviram para tu exemplificares algo com o qual não concordas mas igualmente não discordas! Naquela tua maneira tão low-profile de fingir que se trata de algo que jamais farias mas, e ao mesmo tempo, não discordas totalmente que eu o tenha feito. Enfim, respeitas que eu seja traquinas e sorves cada detalhe dos meus momentos de traquinice – que, embora não sendo muitos, são deliciosos. Eu sei porque os vivo e, apesar da amargura em alguns dos casos, a experiência tem sido muito recompensadora.

Vivo sabendo que és real, que batalhas, que sorris, que discutes, que gritas, que dás gargalhadas sonoras que tentas retirar, depois de dadas, como se estivesses envergonhada do volume das mesmas. Nunca estejas! São sorrisos desses que fazem as pessoas sentir aquela doce sensação de felicidade que tanto procuramos e tu…tu ensinaste-me a saber procurá-la, constatar quando a achasse…talvez agora aprenda a saber segurá-la! Cabe-me a mim aprender essa lição.

Obrigado amizade, sempre contigo! Beijo de uma grandeza tal que permita expurgar tudo o que te apoquenta e trocar tudo isso por sorrisos!

Noite de talentos…

Parecia ter tudo para ser mais um jantar com amigos – alguma cerveja, boa carne, a vontade de cozinhar segundo o conceito gastronómico brasileiro, mais cerveja, mais…bem, já perceberam a ideia!

A malta que se foi reunindo cedo mostrou que dificilmente abandonaria a reunião. Houve os que chegaram cedo, os que chegaram cedo, os que foram chegando…não havia controle sobre entradas e saídas. Havia um fluxo natural de pessoas.

As manhãs do fim de semana são sempre muito iguais: o brunch, imposto de maneira fascista por todos os que nele participam, obriga a um acordar com despertador (algo proibido em países sensíveis, durante o fim de semana). A maneira como os participantes tentam demonstrar que estão vivos, quase prontos para fazerem o caminho que os separa da Meca do brunch – o Brick Lane, demonstra bem o quanto a preguiça é combatida – pela imagem de uma tosta, uma fatia de bacon, ovos mexidos com pedaços de chouriço e uma água fresca! Uma espécie de fazer amor em jejum…com o brunch! 🙂

Irónica mensagem da colega decasa que, ao chegar ao portão, teclou um enigmático “o prédio está ardendo”. Eu, que prezo muito a minha temperatura corporal, respondi com um “qual prédio? O nosso?”. Obviamente era o nosso prédio! Medo!!!!! Corremos para a porta de entrada, nessa altura já pejada de bombeiros, e observamos os trabalhos dos bombeiros enquanto o vidro da varanda estourava – provavelmente estaria muito quente do fogo e estalou com a diferença de temperatura imposta pela água! Brutal filme de acção este que nos era dado a presenciar…gratuitamente! Fomos espectadores atentos, de cerveja na mão e sempre obedecendo às instruções que nos eram dadas.

O jantar, como sempre, correu muito bem e as pessoas estavam bem satisfeitas. Muitos momentos com muita piada, as inevitáveis desistências e esfomeados que julgávamos extintos da raça humana – mas o ser humano surpreende-nos sempre com alguém que tem um apetite bem superior aos demais…

O primo é um bem disposto, o futebol não correu tão bem quanto desejávamos: o Vasco da Gama ganhou ao Grémio com um golo absolutamente idiota. O dia já não corria bem – em termos desportivos – pois já tinha visto o Vettel a desistir de um G. P. da Alemanha – que ele liderava – com uma falha absolutamente imperdoável.

Sempre tudo arrumado após a revolução da festa. Sempre um acordar bem disposto. Um dia publico uma fotografia minha…a sorrir! 😉

Assim, é mais fácil sobreviver a onda de calor! 🙂

Vindo do além…

Voltou o céu cinzento, o sono por força da falta de incentivo para sair do quentinho e enfrentar a meteorologia irlandesa, o vento mais frio, os casacos.

Ao contrário do ano passado, este ano houve bastantes dias risonhos de sol bem aberto. Se bem que o ânimo atinge picos de loucura a verdade é que a terra está completamente seca pela falta de água. Há países que não nasceram para ter verão e certamente também existem os que não nasceram para ter inverno.

Aquela lufada de sorrisos, vinda do continente, com as respostas de uma pessoa bem mais do que importante. A constatação de que a nossa amizade é realmente abençoada – ironicamente escrito por quem não acredita em mitologia…

Tempo de curtir o fim de semana – durante umas semanas seremos 4 a viver na mesma casa – com a visita e os sempre amorosos colegas de casa. Ensinar a visita a acompanhar-nos no brunch, as tradições irlandeses, os detalhes escondidos, os becos desconhecidos, as bebidas frescas e as bebidas naturais mas de teor alcoólico acima do recomendável!

Vamos fazer a festa! Aparece.

Stevie

Seguindo a letra do Stevie, dos Kasabian.

Com um sorriso largo, após a tua resposta! Sabia que estavas bem mas queria sabê-lo por ti e não por terceiros. Glorioso o momento em que a resposta veio! Bem haja!

Combinando, com toda a calma do mundo, a visita de Outono. 🙂 Recordando todas as nossas conversas, em flashes de segundos, e sorrindo com cada momento. A gargalhada que soltei quando recordei a única vez que nos chateamos e, chegado a casa, já tinha um recado para que o “chateado” não passasse de uma impressão e não algo real.

A nossa amizade tem tantos momentos bons e tão nossos que realmente só nos conseguimos rir deles quando, na nossa intimidade e no nosso círculo, partilhamos histórias. Por entre uma cadela completamente louca e aos saltos – bem sei que é culpa minha mas adoro brincar com animais – por entre crianças fascinadas porque descobriram uma brincadeira nova, por entre cervejas que vou bebendo e por entre as nossas histórias – passadas, presentes e nossos sonhos de futuro – nós somos capazes das gargalhadas mais sinceras e, de lágrima no olho, depois de mais uma recordação, deliciamo-nos com as surpresas de outrora que nos conduziram ao presente de hoje.

Outrora a tua melhor amiga obrigou-me a confessar que eu tinha tido saudades dela – aquando de umas férias dela ao estrangeiro. Custou-me a sair a confissão mas os benefícios de uma vida em comum e o filho maravilhoso que hoje temos foi a prova maior de que realmente mais vale falarmos a verdade do que vivermos numa encenação de beleza que em nada se assemelha à realidade.

Conhecemo-nos desde sempre e isso nota-se. Orgulho imenso em ter-te como amiga e poder saber que me consideras amigo.

Para ti, só para ti. Beijinhos e até já.

Um dia…de cada vez!

Sentados no autocarro, debatendo a temperatura (alta) que se faz sentir, e eis que surge a polémica frase “Hoje está mais calor aqui do que em Ibiza”.

O vosso humilde narrador, ao ouvir a expressão de regozijo face à alta temperatura que se faz sentir, aproveita para responder com um “Mal posso imaginar o número de festas que nos aguarda…em terraços irlandeses devidamente apetrechados para o efeito”.

Ambos soltam uma gargalhada e, quase em uníssono, concordam que a descida dos terraços irlandeses em festa até à realidade do autocarro que, numa segunda-feira nos transporta até ao emprego, está ao nível das maiores tristezas da humanidade.

Constatamos que podemos não ter a meteorologia de Ibiza mas temos as nossas festas bem mais completas e bem mais privadas.

A imprensa insiste em avisar a população que hoje, ao contrário dos restantes 364 dias, o índice ultravioleta é perigoso e devemos proteger-nos com protector solar com um índice mínimo de 50 que, após colocado na pele, nos faz a todos parecer irlandeses…

“Um dia de cada vez” foi a resposta que obtive a uma questão que coloquei. Soa a frase feita mas parece ser o comportamento mais adequado a ter…sempre. Uma espécie de analogia com o ditado popular que nos incentiva a viver cada dia como se fosse o último porque, eventualmente, acabamos por acertar!

Por entre torcedoras da selecção Portuguesa e adeptos da selecção brasileira eis-nos a aguardar o jogo seguinte neste campeonato do mundo.

Giro, e ao mesmo tempo ingrato, como tantas “competições” importantes estão a ser jogadas ao mesmo tempo. Dá a impressão que o tempo não chega para acompanhar todos os resultados! Sim, já sei: um dia de cada vez!

Beijos Maninha e até já!

Por entre as brumas da memória…

Tenho-me esquecido de ti mas não é por más razões, como bem sabes. Se a viagem de ida foi extenuante, mas com uma chegada bem recompensadora, a viagem de volta foi saudosista e com uma vontade imensa de ficar.

Foi tudo feito sem planeamento, sem agenda definida – excepto no que a dentista diz respeito – e cumpriste quase tudo o que te propunhas fazer…faltaram coisas insignificantes, mas as mais significativas foram cumpridas; regressaste com uma vontade imensa de ser emocional e não voltar, de lutar contra a razão e deixar a emoção tomar conta do destino.

Estiveste com o teu filho e conseguiram retomar a conversa onde a tinham deixado ficar, estiveste com a tua família e, todos juntos, conseguiram voltar atrás no tempo e rir – com prazer desmedido – de factos outrora ocorridos e cuja memória os teus primos, todos mais velhos, agradeceriam que não recordasses. Conseguiste cumprir os pequenos objectivos a que te propunhas e ainda elevaste uma amizade à condição de namorada…nada mau para 2 semanas na tua cidade natal!

Agora regressaste a uma rotina que criaste, que te faz sorrir num país sem sol – que te faz mais forte num país marcado por uma larga ausência de sol, forte presença de chuva e frio, mas de paisagens espectaculares. Anseias a visita, para juntos darem passeios pelos verdes campos irlandeses, qual Heidi e Pedro mas com ideias mais adultas.

“Um dia de cada vez.”, explicaram-te um dia. Nunca duvidei dessa explicação.

Até já.

Diário do Capitão…

Dia primeiro do mês de Janeiro de 2018. Dia de trabalho. Céu completamente azul e um sol que, ao incidir no asfalto, confunde a visão de qualquer humano.

Terceiro planeta a contar do sol. Hemisfério Norte, ilha a Oeste do continente europeu.

Noite bem passada e de sono retemperador ao ponto de permitir um dia de trabalho “normal”. Água…muita água, fresca, transparente e a hidratar o corpo do vosso humilde narrador.

Frio, várias aves que, de acordo com o taxista local, são um sinal de neve nos próximos dias.

Sem resoluções de Ano Novo – apenas manter a moral e bons costumes enquanto vou descobrindo novas pessoas. Continuar a esquecer, continuar a relembrar, continuar…palavra de ordem é continuar!

Batalhar por melhores dias, por um abraço ao meu mais que tudo, ver a família e amigos enquanto devoro uma refeição típica do meu país.

Sorrir! Exercitar os músculos da face, com sorrisos abertos e desmedidos, até ficar com a textura de um bodybuilder! Rir….resolve muitos dos problemas!

Mudar de número de telemóvel é considerado resolução de Ano Novo? 🙂

Aquele sorriso! Até já.

Frio…

Arriscas a vida e sais sem casaco, reconheces a tua falha e voltas atrás para o buscar. Refugiado no ambiente mais quente que o casaco te dá, começas a raciocinar melhor do que no ambiente glaciar anterior.

Relembras a Grécia, quando tropeças num vídeo que mostra imagens da “tua”praça – aguardando a visita do chefe de estado vizinho…Turco. Deve ser um dia giríssimo para ouvir o humor dos gregos, dada a animosidade existente entre Gregos e Turcos e, conhecedor da situação, sorris por não poder estar presente mas imaginando todos os detalhes de todas as conversas que, neste dia, certamente terão lugar.

O frio leva-te a recordar o Rakomelo – essa bebida dos deuses que permite a qualquer ser humano manter-se quente. Devia haver um negócio mundial que permitisse a permanente circulação – obviamente livre – destas receitas populares cujas origens remontam a tempos certamente não documentados…e funcionam!

De volta ao calor resolves escrever umas linhas e…sai isto. Aproveitas os intervalos, entre ausências de trabalho, para documentares momentos, no teu blog . Haverá quem não o ache a melhor das ideias mas nunca foste um grande fã de críticos e sempre lhes deste a dimensão e importância que eles merecem.

Descobriste agora que foste objecto de um qualquer pitoresco estudo sociológico e estás exactamente na mesma após o teres constatado. Continuas sem reconhecer os dias da semana, continuas a descansar quanto baste aos fins de semana. Dás uma gargalhada pois quase nada do que acabaste de escrever é real…apenas algo que fantasiaste para teres umas linhas para escrever.

Escrever é quase tão gratificante quanto ler.

História de uma hipotética noite…

Estava eu sentado na esplanada quando ele chegou. Exclamou “Devo estar a ficar maluco” e eu, com uma boca aberta de espanto, apenas respondi “Ah?” ao que ele imediatamente respondeu “Eu sei que sou maluco, mas não precisas de puxar por mim para que o diga”. Duas gargalhadas explodiram naquele quase silencioso final de tarde – apenas quebrado pelo ruído de algumas gaivotas, que pairavam sobre nós como pedinchando alguns tremoços e um pouco de cerveja.

Era dia de desabafos e, enquanto profissionais do amigável desabafo, os dois sabíamos perfeitamente o que esperar um do outro. A amizade tem aquele dom de nos dar a conhecer a pessoa amiga – as suas rotinas, os seus tiques, suas virtudes e defeitos, forma de contornar uns assuntos e de enfrentar outros. A cerveja chegou, sem ter sido pedida; os tremoços seguiram-se como se estivéssemos perante uma rotina de muitos anos. Quem nos servia era também um amigo – que sabia, de antemão, que no final dos aperitivos nós iríamos contestar a conta, refutar sequer ter participado no consumo de uma das cervejas que nos era apresentada ou que algum dia houvéssemos sequer provado os tremoços – fazia tudo parte de uma coreografia que, jamais ensaiada, nos levava sempre ao mesmo desfecho.

Após a constatação de que a sede é uma virtude e deve ser saciada, eis que os dois amigos se levantavam e, com a promessa de voltar muito em breve, dirigiram-se para o restaurante onde o arroz de polvo esperava por eles. O grande desafio: qual o acompanhamento certo com o arroz de polvo? Misturar vinho com cerveja pode tornar-se um desafio insuperável à medida que os anos avançam e, enquanto um se defende e opta por manter-se na companhia da cevada de Leça do Balio, o outro faz uma incursão nas uvas esmagadas e apuradas em cascos de uma qualquer madeira. Já não debatem qual a madeira que terá apurado o vinho, mas sim a bela noite que a varanda lhes proporciona.

Não resistem a um café no final da refeição – muito embora saibam que já não têm 18 anos e os efeitos da cafeína poderão ser mais prolongados. Esta não é uma noite defensiva…é dia de desabafos, lembram-se? Olham para a adição de todos os elementos do jantar e, sem ousar sequer contestar o olhar da senhora que lhes entregou a conta, pagam o valor sem esquecer uma bonificação que lhes permita lá voltar e ter o tratamento acolhedor a que estão habituados. Descem as escadas e o patrão da casa coloca-lhes uma questão sobre o Futebol Clube do Porto – algo também tradicional nestas “incursões ao arroz de polvo” – que sabem que vai demorar a responder. Há que usufruir das cervejas que são gentilmente colocadas no balcão, reunir consensos na resposta e avançar.

Voltam ao local onde inicialmente se encontraram. A nortada afasta-os do muro e coloca-os na mesa do meio – uma fila atrás de onde começaram. Estão animados, embalados e contentes por estarem juntos. O arroz de polvo estava bom, a cerveja e o vinho evitam qualquer rouquidão na voz e o meu amigo pergunta-me “Ouve lá, porque é que concordaste comigo quando eu me apelidei de louco?” …, entretanto, e por entre gargalhadas, chegam dois finos! A noite está salva…

Foi de repente…

Originalmente publicado a 6 de Novembro de 2015 mas perdido nas inúmeras mudanças de alojamento do domínio.

Foi de repente…

Não esperava que voltasses. Não que não tivesse um desejo enorme de voltar a ter-te (“Tudo o que não nos destrói, torna-nos mais fortes”, já escrevia Nietzsche) mas simplesmente porque a febre que impões em mim eleva-me a uma categoria de forno industrial – daqueles usados para fabricar o vidro e cujo simples colocar em funcionamento obriga a horas de preparação, calor e muita areia – pensei que te tinha visto, de costas voltadas à beira-mar mas, afinal, voltaste!

Fugi de ti para o mais longe que consegui. Escondi-me, fugi, corri, tive medo e receio de ti e, no entanto, parece que voaste ao meu encontro. As minhas costas cederam perante a pressão que sobre elas exerceste e, ao invés de um passeio romântico a três – eu, tu e a cadela – de repente gritaste-me: não sais de casa! E eu, que já te vou conhecendo, tentei contrariar essa temperatura com que fazes questão de me contemplar. Apresentei-te aos meus amigos e eles não gostaram de te ver. Desde desculpas de “energias negativas” a espirros de saudação eis-nos escorraçados para a reclusão até que partas!

Não sei porque me persegues!!! Porque me fazes chorar quando tudo o que pretendo é rir?! Porque me fazes ter corrimento se eu sou um homem?! Porque me atiras abaixo sem um segundo propósito definido?! Não te quero ver mais este ano! Desaparece, por favor. Fui e sempre serei educado para contigo – especialmente quando estás com outros e não comigo – mas, desta vez, parece que tens a força do exército grego aquando da Batalha de Marathónas e todos sabemos que os gregos estavam demasiado fortes naquele dia.

Dei-te uma de 4 em 4 horas e não desististe – mas enfraqueceste – e pude alterar a cadência para uma de 8 em 8 horas e estou quase a vencer-te. O meu último lenço branco não será um sinal de rendição mas sim de vitória.

Maldita gripe!

Falha de memória

Mais vale culpar a memória pela minha ausência aqui. É óbvio que não corresponde à verdade mas parece-me ser a maneira menos dura de enfrentar o facto de te ter abandonado durante quase um mês.

Das refeições portuguesas, no Rio Café, ao pós-dilúvio das duas tempestades que enfrentamos, houve sempre muitos pequenos detalhes que ficaram por contar. Ver uma raposa a nadar no rio, logo pela manhã, o festival de jazz e os novos caminhos descobertos.

A raposa foi talvez a mais salutar de todas as experiências, em termos de contacto directo com a natureza. Caminhava eu pela ponte, em direcção ao café matinal no Union Grind, quando reparei num animal molhado que tentava o equilíbrio nos cabos que percorrem as margens do Lee. Obviamente desequilibrou-se e caiu no rio, nadou até às escadas e, qual animal assustado no meio citadino, correu pela rua fora e desapareceu nos jardins da Câmara municipal (provavelmente para pedir asilo….ahahahahahah).

As viagens directas, de Cork para Reykjavík, terminaram no final de Outubro e lá terei que aguardar pela Primavera (ou ir via Dublin) para visitar a Islândia. Não é “bucket list” mas é uma idéia que começou a formar-se por me encontrar aqui tão perto – um pouco à semelhança da visita à Roménia quando me encontrava na Grécia – algo diferente e aqui tão perto.

Estou a poucos dias de mudar de apartamento, para um apartamento dividido com a minha colega de trabalho, e conto as horas que faltam. A casa não tem alcatifa o que, em muito, vai contribuir para uma melhor saúde pulmonar (soa a piada de fumador mas é uma realidade).

Prometo voltar em breve para tentar voltar à cadência das aventuras que vocês merecem ler. Até lá deixo-vos…Aquele abraço!

Redundância

Chove! Mas chove de maneira semelhante à que levaria qualquer outro país a emitir um alerta meteorológico; aqui temos um simples alerta amarelo, que corresponde a “alguma pluviosidade”.

Assim como não entendo o “feels like”, na temperatura das aplicações, também nisto dos alertas sou um pouco desconfiado. Quem determina a sensação de uma dada temperatura e quem determina que a pluviosidade é em excesso?

A conclusão é que tudo depende da perspectiva: a temperatura pode fazer um Grego sentir frio enquanto um Irlandês passa por ele de manga curta e calções. O agricultor pode exclamar que choveu pouco  enquanto que o citadino – afectado pelas cheias do rio – exclama que foi uma intempérie monetariamente dolorosa.

Mais vale uma perspectiva abrangente do que uma expectativa remota.

Aquele abraço.

Semelhanças

As coisas começam a assemelhar-se a vivências de territórios habitualmente afectados por intempéries: as lojas retiram os placares exteriores, as janelas são cobertas com madeira e a sensação que tens é que estás nas mãos da natureza.

Assistir a uma loura a estacionar o carro, num local onde cabem dois, foi o entretenimento a partir desta húmida esplanada. Falhei a feijoada no Rio café mas vinguei-me nuns divinais baked beans.

Agora debato o estacionamento com a loura…terá sido o meu olhar crítico a providenciar este momento? Seja…

O coelho branco

Qualquer analogia daltónica entre o coelho branco e o coelho laranja merecerá um comentário apagado. São as novas regras da democracia que o ditam!

Após uma noite passada no White Rabbit (“Follow the White Rabbit”, ring a bell?), a assistir ao Irlanda-Gales, em que as restantes pessoas que assistiam olhavam para o ecrã com cara de quem não reconhecia o desporto em causa (o futebol será, porventura, o terceiro ou quarto desporto – em termos de praticantes – neste país), eis que hoje a selecção jogou.

Um orgulho ver como a bandeira une o povo português. Senão, vejamos: o ponto de encontro é de uma trivialidade tal que somente um incauto, com muitas dificuldades de visão, audição e afins, não conseguirá encontrá-lo. E, após o apito inicial, noto que há uma camisola de um tom que não aprecio particularmente, bastante desbotada (tal como o clube em causa), e a única ideia que me ocorreu foi enviar um email ao proprietário a notificá-lo daquele potencial atentado ao pudor!

Nutro, pelo desporto-rei, um certo amor e não tolero que o mesmo seja abusado sem qualquer perspectiva de compromisso! Embora, no caso anteriormente descrito, a fé seja tanta que, muito provavelmente, não caberá à camisola o abuso, mas sim ao jogo de bastidores!

“Chega!”, gritou a voz de adepto da selecção nacional! “Chega o quê?”, respondeu a voz do adepto do Futebol Clube do Porto que, na ocasião, observava atentamente um jogo da selecção nacional de futebol. Umas pancadinhas no ouvido direito, igual número de pancadinhas no ouvido esquerdo e eis que as vozes se desvanecem…

Há um golo dos nossos e, enquanto outros se questionam quem terá sido o autor, tu já festejas o simples facto da bola ter ultrapassado a linha de golo, estar a caminho do centro do campo e estarmos em vantagem por um golo de diferença! “Está na hora!”, pensas para ti mesmo e, de facto, estava na hora de encomendar a segunda pint e ver os restantes minutos do desafio. O puto que te habituaste a ver crescer domina a bola com o pé esquerdo, passa para o direito e enfia o segundo na rede dos Suíços!!!!! Vibras, contemplas o teu amigo destas andanças (e não só destas andanças!!!!), e constatámos que realmente estamos a ficar velhos para perceber de futebol. Festejamos…ele segura – orgulhosamente – uma meia-pint e tu brindas com a pint que, entretanto, chega.

Não é a mesma sensação que tiveste quando voltaste de Sevilha, ou de Gelsenkirchen, ou de Dublin…mas é um alegre momento que, enquanto expatriado, te faz sentir em casa!

Novas mudanças

Havia a oportunidade de mudar o alojamento do site de um local para outro que me faz um preço por 3 anos correspondente ao preço de 1 ano do site anterior…não é preciso ser economista para optar imediatamente pela mudança!

Não sei ainda se consegui importar todos os subscritores anteriores, mas espero que sim. Com algum tempo e dedicação acho que vou conseguir desenvolver melhor o site e torná-lo graficamente mais atraente…muito embora só me importe com o que escrevo, reconheço que as aparências podem ajudar na apresentação da escrita!

Nunca deixará de ter o propósito inicial – ser o meu diário de ficção – para um dia mais tarde me poder rir com as palermices que vou inventando ou vivendo…confesso que até eu fico confundido com escritos de outrora e não sei se foram ficção ou realidade! Ou talvez não sejam os escritos passados, mas as vivências passadas, mas…quem está a olhar para trás?

Dias de cansaço, dias de glória, dias de esforço, dias de ócio…tudo junto numa compilação de histórias que, um dia, constituirão o livro da minha vida. Com muita coisa escondida, outra sub-repticiamente implícita, mas, acima de tudo, com a vontade de ter uma pena, tinta e papel até que o último bafo me leve! Na falta desses três eu vou teclando no teclado e guardando as conversas online!

Que nunca vos falte a paciência para ler…aqui ou em qualquer outro lado.

Aquele abraço.

Caminhada 

Vais andando em direcção ao bacalhau mas a ementa só referia arroz de pato.

Cruzas-te com uma mãe e os seus filhos e, perante a avó que assiste, uma das crianças pergunta à mãe o que é a tentação (a mãe havia dito às crianças para segurarem bem o Labrador, quando passaram perto da água, por causa da tentação). A avó sorri perante a pergunta mas a mãe – fruto da sua experiência – responde dizendo que é resistir a algo que se quer muito…sorri, a avó e a mãe também, e as crianças ficaram a pensar naquilo! Devia ter parado para ver e ouvir como acabou!!!

Sentado a comer o arroz de pato, a observar as folhas que caíram na água e são levadas pela corrente numa forma que se assemelha muito a pintainhos a serem carregados para jusante.

Já me servem o café como eu aprecio e sou saudado por um grupo que se desloca em kayaks. Ainda a reflectir no melhor local para ver o derby – está encoberto mas a temperatura ronda uns agradáveis 17 Celsius.

Vamos caminhar, até já.

Altruísta ou egoísta?

Por vezes escreves como se quisesses que o mundo te ouvisse, outras vezes escreves como se de um sussurro se tratasse – e não queres que ninguém leia…

Por vezes apetece-te largar tudo e mudar o mundo, outras vezes deitas-te no sofá até que te passe…

Gritas bem alto os pensamentos que te ocorrem, somente para te sentires incomodado pelo ruído que tu próprio causaste. Tapas as orelhas e questionas-te se já terá passado…

Estás entre a acção e a inacção, perdido entre sonhos e objectivos concretizados, dividido entre o que está por fazer e o que orgulhosamente já atingiste e perguntas-te, em mais um dos teus monólogos, se realmente serás altruísta ou egoísta…

– És um bipolar literário! Vai-te deitar!!!

– OK, realmente estou com sono…

Em casa!

Viagem longa para quem está só a duas horas de Portugal – duas horas e vinte de avião e três horas e meia de autocarro…

É bom voltar a ver algumas caras, locais, coisas…e estar de volta ao cabeleireiro para tirar este peso extra de cima de mim. Se já tinha a mania do cabelo curto agora tenho a mania do pente 4 – uma espécie de vingança por um dia me terem obrigado a cortar por essa medida e, logo depois, chegou um telegrama a dizer que já não necessário.

Saíram pessoas da equipa portuguesa e o volume de trabalho decresceu substancialmente. Os dias de trabalho são passados na leitura de Saramago e Arturo Pérez-Reverte e na conversa com o resto da equipa.

Nunca parando de pesquisar o mundo, na procura de algo melhor e num país tão agradável quanto a Grécia, nunca esmorecendo a dedicação presente, nunca fugindo ao conhecimento de novos locais, pessoas, diferentes maneiras de ser e de agir.

Sempre de sorriso aberto, agora com mais um dente – temporário – que, no próximo ano, dará lugar à obra completa! Um grande abraço a duas dentistas que trataram exemplarmente desta empreitada.

Agora posso afirmar: já nada me espanta neste mundo!

A viver – hoje e sempre.

Um dia não são dias…

Há muito que aprendeste a ultrapassar as agruras da vida e, apesar delas, este foi realmente o melhor período de férias que alguma vez tive na vida adulta. Chegado a 1 de Setembro, depois de apanhar o metro e o comboio, subi a rua e encontrei o jovem de 12 anos e 364 dias a correr para os meus braços. Ele já havia ido 2 vezes à estação para ver se eu chegava…sem sucesso! Cheguei no terceiro comboio e o Samsung continuava sem conseguir registar-se numa rede portuguesa…incontactável!

Foi um abraço como só os pais que amam os filhos sabem dar e receber. Foi um agradecimento de um Pai a um filho por todo o esforço que ele tem colocado naquilo que é o emprego dele – os estudos – bem como na forma como tem evoluído socialmente, desportivamente e a maneira como define os seus objectivos futuros. Obviamente o jantar foi escolha dele e as pizzas do Tomate foram a escolha…culpa da menina Paula que lhe mostrou o sabor das ditas e imediatamente o colocou a fazer a sua própria pizza – não estive contigo desta vez, mas nunca és esquecida.

Adaptar-me a Espinho é algo que faço com um gosto que me sai naturalmente! Talvez não seja o que esperam de mim, mas o que eu quero…a t-shirt, as havaianas e o calção de banho são a indumentária mais utilizada! Furando por entre os “rurales” ainda conseguimos um dia de bastantes mergulhos e, com grande alegria, constato que já não fico gelado após o primeiro mergulho – está perdida a adaptação às águas Gregas e recuperada a adaptação às águas espinhenses.

Ri-me, como sempre o fiz, com o Luís Pires e chegamos à conclusão que já só faltam aproximadamente 28 meses até os Pais voltarem a dormir como outrora o fizeram. Debatemos os velhos métodos para adormecer crianças – o aspirador, o exaustor da cozinha, etc…apenas para chegar à conclusão que o rebento dele e da Henrieta consegue triunfar e não cede a métodos velhos de adormecimento.

Coloquei a conversa em dia com a Carla Lacerda e com o Ricardo Tavares e, retomando onde havíamos ficado da última vez, progredimos no conhecimento daquilo e daqueles que nos rodeiam. Muito recompensador e libertador. Bem hajam.

Passei tempos deliciosos com os meus primos, mãe, irmão, madrinha e padrinho “adoptado” e não consigo encontrar palavras suficientes para lhes agradecer. Terá que ser por acções. O Pedro a.k.a. “Careca” foi, como sempre, o impecável animador daquelas noites espinhenses que todos julgam que não vão dar em nada e.…dão sempre! Sempre com o acompanhamento do Roger Waters e alguns discos pedidos – alguns mesmo pirosos – de outrora. Vi a factura detalhada ser introduzida no Bombar e chorei à gargalhada com o detalhe a que se pode chegar!

Gosto muito da minha cidade e de um certo número de pessoas que a habitam. Muitos ainda procuram a sua vocação, mas, acima de tudo, são pessoas que sabem dar tudo em prol dessa palavra que é a amizade. São o que nos faz voltar e ter saudades. Bem hajam.

Sair no aeroporto de Dublin e encontrar o Quim Tó à espera da Mãe dele demonstrou-me que os espinhenses estão em todo o lado, mas os bons…merecem sempre um abraço!

Nunca digo adeus e, quem me conhece, sabe que me despeço com um “Até já”. É mais demonstrativo do desejo de voltar e de estar com aqueles que nos dizem tudo e eu não consegui estar com todos. Com os meus erros e uma ou outra virtude sempre estarei cá para vós. Se me esqueci de mencionar alguém foi por puro descuido meu, perdoem-me!

Aquele abraço, até já!

Dias de jogo

Fazes a direita apertada, entras no tabuleiro da obra construída pelo saudoso Eng. Egar Cardoso, vertes uma lágrima quando vês o estádio ao longe. Tentas recompor-te mas a “fome de bola” é superior e, quando chegas ao final da ponte, já há lágrimas derramadas por toda a face…

Não é fanatismo, é um amor por algo não palpável. Vais buscar o jovem de 13 anos e 11 dias e, juntos, caminham até ao centro de estágio.

Encontras a tua prima que, por sua vez, não encontra a chave de casa. Surge o teu primo. Pelo canto do olho continuas a deliciar-te com o resumo do CSKA.

Encomendas uma francesinha e um prego no prato e sorris quando os pratos chegam.

É dia de bola…até os comemos.

Aquele abraço.

Amigos…

Muitas vezes nos questionamos quem são os nossos amigos. Interrogamo-nos, num diálogo mudo, sobre o porquê da amizade que existe entre nós e outrem e, na maioria das vezes, damos por nós a sorrir de momentos muito bem passados e relembramos então o porquê de os apelidarmos de amigos.

Hoje tive a alegria de estar com um amigo de há muitos anos. A vida separou-nos algures por volta dos nossos 22 anos – quando eu tomei uma direcção e esse amigo optou por seguir outra via! Ele estava correcto e eu errado, mas nunca deixei de o apelidar de amigo, apesar da frieza com que fui então tratado.

Ele sempre se pautou por ser uma pessoa de uma serenidade acima da média e, recordo agora, tivemos muitas conversas sobre a decisão de outrora. Talvez fosse a minha maneira de enfrentar os tempos de então, mas, na altura, a decisão errada parecia-me a mais correcta. Ainda hoje ele me recordou – sem precisar de palavras – o quão errado eu estava e, quando o fez, eu sorri como que admitindo toda a minha culpa e desculpando-me por ter escolhido a via incorrecta.

Voltamos, por breves horas, a ter 15 anos. Estávamos os mesmos 3 de outrora e sorríamos como se os anos não tivessem passado…como os putos de outrora. Há muitas recompensas na vida – algumas pelas quais trabalhamos e outras que simplesmente nos são dadas – e esta, sem qualquer margem para dúvida, foi um retroceder até aos tempos da nossa virgindade e sabermos que, apesar de termos tomado direcções opostas num anterior momento da vida, agora nos encontramos no mesmo caminho.

É bom sorrir com um amigo. Muito bom! Agora imaginem com 2….

Aquele abraço.

Visitas…a todos os que amas!

O blog recebe aquela visita de França que teima em não voltar a Cork – será que algo ainda há para dizer? Para fazer? Para concretizar? Os dias de confraternização familiar continuam e os repastos alongam-se em tempo e amena cavaqueira.

Reservas um dia específico para os copos, outro para o almoço com os primos, ainda um para a praia – que grande tareia a que levaste do Atlântico…fazes o teu caminho habitual, respiras fundo, vês pessoas que não sabias ter saudades de ver – dos teus tempos de pretenso jogador de voleibol, sorris com as histórias, dissecas as vivências e rimos em conjunto do quanto caminhamos até termos chegado aqui.

Espinho é uma cidade em que podes fazer tudo a pé e só um parolo é que usa carro (salvo pessoas com necessidades especiais). É uma cidade em que a praia dista, no máximo, uns 10 minutos a pé – para o residente mais afastado. Analisas cada novidade, fazes o teu juízo de valor que interiorizas sem revelar e continuas, de cabeça sempre voltada à procura de novos detalhes – desde a última visita.

Andas trôpego com as palavras reveladas pelos professores do teu filho – em que todos o querem ter na equipa mesmo se houver necessidade de lutar por ele – todos gostam da sua atitude, da sua sabedoria e da sua inteligência. Ressalta nas palavras deles o seu sarcasmo – do qual sou Pai – e a sua inteligência na maneira como aborda as problemáticas de vários ângulos e com várias possibilidades.

Estás contente por estares na tua terra, puto. É só isso que interessa! Diverte-te.

Aquele abraço.

Diferenças culturais

Quando comemoras 5 meses e 2 dias num país que não é o teu tens tendência para já ter armazenado as diferenças mais significativas entre os dois povos – o teu e o do país em que te encontras. Sem laivos de superioridade, ou inferioridade, sem pretensões sequer de fazer a comparação. Simples constatações!

É óbvio que, sempre que tomas o teu café da manhã, há sempre alguém por perto a beber uma pint. Óbvio porque os turnos de trabalho também implicam trabalho nocturno e, obviamente, esses profissionais fazem-no no final do expediente. Sim…é óbvio que nem todos se encaixam no perfil, mas não vamos ser picuinhas!

Viver na Irlanda deve assemelhar-se muito a viver nos Açores. Há muita chuva, a humidade é sempre elevada, mas as paisagens compensam todo o incómodo do “inverno constante”. Há algo de muito castiço neste povo que é o fazerem exactamente o mesmo que os países quentes fazem no Verão…vestirem roupas de Verão. Olho para as montras e largo mais um espirro, sorrindo quando vejo a decoração de uma qualquer praia com imenso sol. Eis que passa mais um local, vestido com os seus calções e a sua t-shirt e eu, refugiado no meu casaco apertado, pergunto se haverá um calor que eu desconheça – no exterior do meu casaco. Não há!

A verdade é que basta afastarmo-nos alguns quilómetros de uma grande cidade e imediatamente percebemos o porquê da Irlanda. Campos de um verde puro, que só a natureza pode dar, como se fossem roupas deixadas na chuva para realçar as cores. As vacas têm um ar mais robusto e, após horas a pastarem, simplesmente deitam-se no campo e dormem. Os milhões de estrelas que conseguimos observar, assim que a noite toma conta do céu, são dignas de registo. Um registo que faço mentalmente, num constante alimentar da vontade de conhecer a natureza, cada vez mais e cada vez melhor.

A cerveja é boa, as paisagens são divinais, as praias são do mais bonito que tenho conhecido, o povo é amistoso e muito acolhedor. Porque esperam? Venham daí enquanto é Verão! 😉

215… é o autocarro.

Os teus três dentes novos estão quase prontos, o autocarro chega pontualmente, ainda não tomaste o pequeno-almoço, tens aquele sorriso na cara…

O que se passa contigo miúdo? Questionas-te. Acho que nada de anormal…respondes a ti mesmo. Então porquê o sorriso traquinas? Deve ser o subconsciente a preparar alguma… é a única explicação que tens!

Depois de um dia de grande esforço, assustas a espanhola – quando te sentas ao lado dela no autocarro. Sorriem com a impertinência do vosso humilde narrador e, após uma breve troca de palavras, troco de lugar. Para vos escrever, é a minha justificação quando, na verdade, é para evitar que os restantes dentes sejam acusados de assédio! A ponderar seriamente se não seria melhor usar uma placa dentária que me protegesse destas situações….

Quase a chegar… até já! Aquele abraço.

Feriado

Quando chegas ao centro da cidade parece que chegaste a uma cidade abandonada – o trânsito é escasso, há uma pessoa que caminha á tua frente e que, de 20 em 20 metros olha para trás com receio de ser violada (?!). O teu raciocínio pré-café apenas te diz que – caso dependesse de vocês os dois – a raça humana extinguir-se-ia! Sorris, porque sabes o disparate que acabas de pensar, e o teu pensamento volta a estar focado no café…

O Néctar está fechado, o café italiano também. Continuas pela Oliver Plunkett e, finalmente, encontras o O’Brien’s aberto! Um suspiro de alívio, uma saudação do interior… ainda te conhecem! Apostas num cappuccino e num cheesecake com muito bom aspecto e esperas na esplanada.

Tens uma vista lateral da Oliver Plunkett, de frente para a farmácia e os primeiros madrugadores começam a circular. O facto de veres outros seres vivos e o café dão-te uma primeira lufada de vigor. Sorris ao ouvir a música que toca e és atirado para o passado – mesma música mas nos antípodas da Irlanda – e constatas que a tua sorte sempre foi o facto de nunca teres parado de sorrir – na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na paz e na guerra.

Sonhas com os teus dentes novos…e sabes que vais poder voltar ao teu sorriso bem aberto.

Trabalhas nos feriados locais e tens 29 dias úteis de férias. De que te queixas?

Aquele abraço.

Trabalho

Tenho a sorte de trabalhar com dois profetas: um é o profeta do “que se foda!” e o outro o profeta do “vamos apanhar ar!”.

Completamente distintos! Um nunca se penteou, gosta de umas boas cervejas, adora a família que tem e é dono de uma atitude que faz sorrir o morto. Dá sempre vontade de sorrir e copiar algumas partes. O outro é alguém que se cuida bastante, gosta do ar livre, arrasta-nos nessa paixão e permite-nos momentos de lazer enquanto trabalhamos.

Em grande parte eu devo a estes dois profetas muitos dos sorrisos dos últimos meses. Bem haja!

Homenagem lhes seja feita.

Mudanças

Acordado pelo ajuntamento de pássaros no jardim – seria uma manifestação? – eis-me a caminho no 215A (autocarro que utiliza os atalhos todos e chega mais cedo). Com aquela necessidade permanente de café, rodeado de duas belas cidadãs russas que trabalham comigo, pronto para um novo dia!

Sempre lento a despertar, sempre rápido após o ter feito, sempre desejoso de ter tudo arrumado, sempre incumpridor!

Sou um dos poucos que circula com um casaco, voltei a vestir verde e estou muito bem disposto. Não sei se já me posso chamar de Irlandês adoptado – falta o inverno para eu saber se resisto – mas tem sido – a nível pessoal – uma experiência muito enriquecedora.

Na Grécia tive 18 meses de cultura e passeio e aqui estou com 4 meses de passeio e sempre misturado com diferentes culturas. Ambas as experiências são enriquecedoras. O que falta? O tempo o ditará!

Aquele abraço.

Sorriso diário

Rotineiramente segues para o café matinal, o multibanco continua avariado e já tens uns três cafés no livro de calotes (não, aqui não utilizam a porta do frigorífico), o dia promete máximas de 16 mas já tens maturidade suficiente para não acreditar em promessas.

O trânsito é caótico, junto á câmara municipal, segues cuidadosamente entre a fila de carros que tenta circular por onde não há espaço, és cumprimentado e saudado por desconhecidos que te incentivam a prosseguir a tua marcha pela frente dos carros que conduzem e chegas, exactamente três minutos depois de teres partido, á paragem do autocarro.

Relembras que tens que interpelar o jovem que te arranjou uns filmes para veres pois tens apanhado uns sustos valentes em cada um deles. Sorris e questionas-te: o que seria da vida sem um pouco de emoção?

A tua amizade mais próxima e mais querida tornou-se tia-avó! E, sabendo tu que tens quase a mesma idade, sorris de maneira traquinas enquanto pensas que ainda não chegou a tua hora de teres tal honra. Sorris, num misto de quem não sabe o que sentiria mas sempre solidário com quem tem a felicidade de sentir. Recordas o 3 de outubro de 1999, quando te tornaste tio e concluis que deve ser uma sensação de felicidade semelhante.

Hoje tens a festa mensal dos expatriados e já sabes que vais percorrer muitos edifícios históricos de Cork (nome de código para Pubs). Vais conhecer pessoas novas e diferentes e ouvir a sua história de vida. Como és sempre indiscreto, muito provavelmente abandonarás os que nada acrescentam para te juntares aos que mais te ensinam. Aquele dia de escutar os outros que tu tanto aprecias.

Aquele abraço.

Manhãs

Há alguma falta de hábito tua quando, mais uma vez, um estranho passa por ti e afirma que está uma bela manhã. Olhas á volta mas és o único a quem ele se dirige, sorris e concordas porque, de facto, está uma bela manhã – céu nublado, com algumas abertas de sol intenso e sem sinais de chuva.

Ainda estás ensonado, na tua esplanada dos dias de semana, a largar os últimos bocejos antes da curta caminhada até á paragem do autocarro. Tiras o casaco quando o sol aparece e vestes o casaco quando as nuvens o escondem, num ritual a que te habituaste desde a primeira semana.

Cravam-te um cigarro e respondes com o habitual “era o último”. O sarcástico Irlandês responde que, se tivesse um euro por cada vez que ouve essa frase, estaria rico…A EUR 10.50 por maço de tabaco não há outra resposta possível…

O 215 passa por ti, no sentido contrário do teu, o que significa que tens 15 minutos para uma caminhada de 3 minutos…pedes outro café e segues o teu caminho num passo tão lento que te sentes ultrapassado por caracóis, tartarugas e outros animais de reconhecida rapidez! Entretanto surge um corvo…

É quinta-feira, o mano festeja o seu aniversário e há que ligar-lhe! Aquele abraço.

 

Ambientes

Lembram-se dos 2 marretas, no balcão do teatro onde os restantes marretas actuavam? Eles eram grandes amigos, apesar do humor de ambos ser diametralmente oposto – uma espécie de dueto, em que um conta uma piada da qual se ri e o outro, na tentativa de superar a piada de que não se riu, tenta uma piada ainda mais decadente. Há inclusivé um episódio em que um deles pensa que o outro saltou do balcão…tal a intensidade da “piada”.

Transpondo para os dias de hoje: imaginemos 2 Irlandeses e um Americano que se sentam na mesma fila. E agora, imaginemos por momentos que eles se consideram pessoas detentoras de um humor superior – de um cariz tal que só mentes muito brilhantes poderão entender. Continuemos a imaginar e coloquemos o vosso humilde narrador na fila atrás desses personagens e que, após umas semanas a rir-se sozinho, resolve participar do humor sem sentido que é debatido na referida fila.

O humor corrosivo irlandês, complementado pelo humor que é causado pela constante correcção que o Americano faz da pronúncia do vosso humilde narrador, sem que humildemente reconheça que não passa de um produto de origem numa conquista Inglesa, mais tarde, descartada por ser longínqua demais para explorar.

São assim os dias que o vosso humilde narrador passa, enquanto trabalha, apreendendo os vícios e costumes de quem o rodeia e do que o rodeia. Atento a tudo, escolhendo o que mais aprofundar, envolvido na natureza singular deste país maravilhoso que é a Irlanda. Se precisarem de motivos para uma visita, deixo-vos uma dica muito importante: tragam guarda-chuva mas venham com a visão preparada para ser deslumbrada pela beleza que, constantemente, vos vai rodear: beleza humana, beleza natural, beleza sarcástica mas com um grande sentido de humor.

Habemus risum!

Rotinas

Há o taxista, sempre presente na esplanada do Murphy’s, de pint de Guiness pousada sobre o barril que faz o papel de uma mesa.

Há o sem abrigo, que desperta á mesma hora a que tu corres para o Néctar, para recolher o teu cappuccino matinal.

Há os motoristas dos autocarros locais que, em bando, se dirigem para o Murphy’s, para uma pint de final de turno.

Há a chuva, que alegremente constatas, não caiu com o vigor anunciado pelos avisos da protecção civil (muito rápidos a actuar por estas bandas).

Há sempre o desconhecido que te cumprimenta – como se fosses aquele membro da família á muito desaparecido.

Há uma série de pequenos detalhes que te recordam que não estás no teu país mas sorris – porque se não fossem pequenos detalhes a lembrarem-te, tu jamais irias notar.

Chove! E nós também sorrimos nesses dias. 🇮🇪

Silêncio

O silêncio pode ser um problema ruidoso. Quanto mais tempo temos de silêncio mais precisamos de ruído! Que mais não seja para exercitar a audição! 🤔

Poderá soar a contradição mas a ausência de som não é um elemento natural dos dias de hoje. Talvez no campo, em casas separadas por muitos quilómetros, tal seja possível de observar mas haverá sempre um elemento da natureza a “manchar” essa ausência de ruído. E, é nesse elemento que nos devemos concentrar pois é a sua presença benéfica que nos permite divagar sobre as virtudes da nossa audição – excepto se for um mosquito! Um mosquito está, na escala de audição humana, para o humano como o bombardeamento de Dresden esteve para os Alemães – ouvimos o ruído mas destrói-nos a paz! 😂

Não sei se é coincidência mas o silêncio permitiu-me ouvir ruídos dos quais me mantinha afastado e, mercê da alegria de voltar a ouvir, talvez aprecie mais esta nova fonte de ruidosa inspiração. Também não sei se é mais recompensador ouvir um ruído antigo ou debruçar-me sobre um ruído novo – explorando as suas virtudes e os seus defeitos para, juntos, aprendermos a ouvir melhor. 😊

Vou, silenciosamente, estudar este ruidoso problema. Se não me ouvirem é porque estou a estudar e, enquanto amigos, vocês irão – ruidosamente – sorrir… porque me conhecem e sabem que nem o silêncio é de ouro nem o ruído é algo a menosprezar. 😉

Aquele abraço.

Coisas com piada…

Aquele momento em que o telefonema do Tesco chega, a anunciar que pretende fazer a entrega às 21 horas em ponto, e tu estás a 30 minutos de distância de casa e ainda estás a trabalhar…

Educadamente pedes á pessoa mais serena que tens perto de ti que atenda a chamada e, após uma breve troca de palavras, temes pela entrega da tua encomenda…

Dás uma gargalhada para dentro, quando o sereno colega de trabalho termina a chamada e exclama: estava a ver que me chateava com o gajo do Tesco… e nem era nada comigo!!!

Do lado de lá da linha, o cliente do centro do país continua a mostrar-te as virtudes de ter um servidor de DNS próprio e tu, entusiasmado com a conversa, queres saber todos os detalhes!

Entretanto, e já após teres terminado o teu trabalho, liga-te o gajo do Tesco – com uma voz de quem pede muito por favor – e a entrega fica combinada para as 21:45…

A viver perigosamente em Cork…😂

Luminosidade

Hoje tomei nota dos factos: o dia começou a clarear às 5 da manhã, a mesma luz que só nos abandona por volta das 22… temos 7 horas de sono natural, sem luz.

Adoro persianas! Cada vez mais sinto saudades terríveis desse instrumento que evita que a luz solar prejudique o nosso sono. Este sistema de cortinas definitivamente não é para olhos sensíveis que despertam ao primeiro sinal de luz. Vou trabalhar numa solução pois todos os sonhos andam á volta desse tema…

Mais um dia, mais uma amizade. Segundo um amigo comum, ela é “esquisita” mas, depois de debatermos o que o “esquisito” significa chegamos á conclusão que todos são esquisitos perante nós e vice-versa – o segredo passa pelo apetite de conhecer pessoas diferentes ou andar sempre embarcado num cruzeiro de iguais: sem debate, seguindo o líder, sem racionalidade… não é para mim!

Debatam-se sempre as diferentes maneiras de ser (e de viver, para seguir a letra da música) para, pelo menos, termos conhecimento do porquê de as tratarmos como diferentes. Pelo menos… assim evitamos deduções de terceiros e fazemos o nosso próprio julgamento de carácter – a nossa própria noção de quem é o outro! De alguma forma acho que é o que tem faltado a um mundo preguiçoso – mais ávido por seguir do que ter opinião própria.

Apeteceu-me escrever isto…

Aquele abraço.

Chuvinha de …..

Estou em cima do motorista do autocarro! Não no sentido carnal da coisa mas apenas no andar de cima do double decker.

Chove, o que não é novidade nenhuma, e recordo os melhores momentos que vivi á chuva com o topo da lista ocupado por São Tomé e Príncipe, no Blue Marlin Resort, ouvindo o Toto, ao longe, com o “i guess it rains down in Africa”.

Já tenho saudades do sol mas hoje o sofrimento surgiu de receber um vídeo dos Foo Fighters, em pleno teatro Odéon, a darem um concerto maravilhoso. Perdi a Aída, devido ao controle de capitais, e agora Foo Fighters porque simplesmente já não vivo lá.

A vida continua e nem sempre os horários coincidem. Vou aproveitando o tic-tac dela para ir curtindo os melhores momentos. Sou um democrata: por vezes ganho e por vezes perco mas, acima de tudo, há um sorriso traquinas que permanece e isso… não tem preço!

Aquele abraço.

 

As manhãs

Acordas com o ruído dos vizinhos a sair de casa, espreguiças o corpo ao som da passarada (anda pela vizinhança um novo som e, mais tarde, irás averiguar de que nova ave se trata).

Abres os olhos com a ajuda dos dedos, numa espécie de espreguiçar ocular, arrastas o corpo até á cozinha e tens a primeira imagem erótica do dia – a máquina de café está lavada e pronta a ser usada.

Colocas água até á medida, café até ao cimo, limpas toda a área circundante do reservatório de café e atarrachas a parte superior. Salivas por antecipação, colocas os corn flakes no prato e acrescentas uma dose generosa do maravilhoso leite fresco irlandês.

Comes ao ritmo de quem ainda não tomou café, terminas no momento em que a máquina de café começa a emitir o ruído típico de quem está pronta e sentes uma alegria tua pelo ritmo perfeito da tua “orquestra” matinal.

Tomas o chuveiro já mais desperto e cobres o corpo com alguma roupa que tiras do armário. Desces à cidade e relaxas enquanto bebes o teu cappuccino. Questionas-te se devias ter ficado um pouco mais na cama mas, enquanto dono do teu tempo, fazes uma gestão atempada de tudo…

Aquele abraço.

Natural born killers

Eu sabia, na sexta-feira quando resolvi ir em frente com a decisão, que o fim de semana ia ser muito intenso. Sabia que muito provavelmente me deixaria extenuado, mas largamente recompensado, cansado, mas de prazer.

Depois das agruras de um relacionamento demasiado redutor, eu havia esquecido a sua existência (quer de um quer do outro). Talvez não me quisesse recordar ou apenas não me lembrasse, mas lembrei-me que haviam passado 2 anos e imediatamente o sonho voltou. A pergunta que não me largava a cabeça era: será que realmente há novidades? E havia!

Percorri os caminhos cibernéticos da literatura e havia duas obras-primas já disponíveis e uma a ser lançada no dia 11 deste mês. Imediatamente comprei as 2 disponíveis em Português e a que sairá no dia 11 – que será lançada em Inglês.

Foi um domingo de loucura em que, por muito pouco, quase não cheguei ao destino. Completamente vidrado na ânsia de começar a ler, começar a sofrer, começar a tentar decifrar antes do autor o escrever, de chegar ao fim e exclamar: sempre muito bom. E assim foi…até consegui bater o tempo de leitura que o Kindle diz que o livro demora…

Foi muito bom voltar a partilhar momentos com o Gabriel – ainda mais tratando-se de uma aventura maioritariamente passada na Irlanda – e voltar a sorrir com as descrições que o Daniel faz dele.…em sonhos revejo sempre a imagem de um dos melhores restauradores de obras de arte do mundo, apoiado no queixo e com o rosto ligeiramente inclinado…sublime!

Cansei-me, mas foi dos esforços mais recompensadores que tive, num Fitzgerald Park que ora estava nublado ora estava ensolarado. Um dia muito bem passado! Na companhia de estranhos, com o ruído da natureza e com o meu livro. Bem-haja!

Super mulher

Entrei e perguntei por ela. O Paul, com um ar surpreendido, olhou à volta e não a viu. Pediu-me uma descrição dela e eu, que a conheço há já uns anos, descrevi os detalhes que mais recordava nela – o corte elegante, a frescura do seu olhar, a forma como os nossos olhares se encaixavam e, muito dificilmente, se conseguiam afastar…

O Paul engoliu em seco e foi procurá-la. Eu continuava a descrição contando-lhe, num tom quase de sussurro, o quanto ela me fazia falta; os momentos para recordar e os momentos para esquecer – porque ela tem esse dom…A maneira como ela por vezes espumava – numa espécie de raiva passiva de quem sabe que vai ser devorada, mas complacente com o destino que eu lhe dava.

Quando eu a encontrava na praia era como se os meus pelos todos se eriçassem pela visão daquela loura que, muito para além de me deixar com a língua de fora, sabia como agir para que a língua fosse para dentro! Ela, só ela sabia…como mais ninguém.

Quando o Paul a encontrou eu corri para ela e abracei-a como nunca o havia feito. O suor dela escorria-me pelas mãos e apeteceu-me tê-la mesmo ali…em público! O que, para quem já foi apanhado a montar uma mula em público não é nada de mais! Havia crescido mas eu nunca fui de me intimidar pelo tamanho ou pela idade…tinha um ar mais experiente e de quem me faria gozar ainda mais.

Ainda eu a namorava quando surgiram as gémeas, trazidas pelas mãos do Paul e eu, que não sou de separar famílias, abracei-as a todas e trouxe-as comigo. Estamos agora reunidos e o sabor dela continua igual. As gémeas olham para nós com ciúme mas o momento será delas, assim que eu termine com esta!!!!

Foi muito bom reencontrar-te…Super-Bock!

Protóxido de azoto

Acordo e dou por mim de roupão desapertado, de copo de vinho do Porto na mão e no 4º andar com vista para o River Lee. O compasso das gotas a embaterem na corrente do rio, que agora flui para o mar enquanto a maré desce, o som da chuva a bater nos vidros, a vista de um rio que muda conforme a maré o comanda. O roupão é emprestado e tolhe-te os movimentos, mas já te movimentaste demais para um dia só e agora só pensas no sono retemperador que tens pela frente.

Observas a massa anónima que se desloca, de pub em pub, como se a água que cai fosse tónica para o gin da vida deles. Já te habituaste a tantos hábitos locais, mas sorris quando pensas em quantos mais ainda terás para descobrir.

Relembras o queixo caído, de hoje de manhã, quando viste a quantidade de barris empilhados para a troca diária (é sempre um número impressionante de barris multiplicado por cada pub que passas), relembras o momento em que entraste na farmácia – enquanto conversavas com o teu filho no Skype – e a palavra cotonete não te ocorria em Inglês – sorris quando recordas que ouviste uma voz em Português, vinda de trás do balcão, a dizer que os cotton buds estavam à tua esquerda, sorris pela simples razão de saberes porque te encontras naquele local, naquele momento, com aquele copo de vinho do Porto na mão

Andas a sorrir muito…infliges-te uma estalada imaginária, para tentar conter o sorriso, e sorris enquanto voltas a teclar o que te vai passando pela cabeça. Editas umas partes – não queres que as pessoas pensem que é verdade – dás um ar sinistro a outras partes, em que não queres que as pessoas pensem que é mentira e, quando chegas ao final da frase, já estás a rir-te novamente.

Obviamente culpas o protóxido de azoto! Do qual não usufruíste, nas tuas idas ao dentista, mas precisas de encontrar um culpado para tanta gargalhada…Quem, no pleno uso de todas as suas faculdades, pode sorrir sem 3 dentes? Eu!

Aquele abraço.

Momentos matinais

Quando consegues dormir até às 10 da manhã, num país sem persianas, e acordas com um som que te faz imediatamente articular o queixo, de espanto…esqueces, por momentos, que devias espreguiçar-te convenientemente antes de iniciares o teu dia e trocas tudo pelo ligeiro abanar de cabeça, ao ritmo da música, seguindo a letra da mesma.

Estranhas que as boas músicas tenham um final – muito embora fiquem em nós por um tempo infinito. Acordaste e estavas no Tendinha, com os teus amigos de sempre, e até coraste porque te perguntaste “Será que realmente passei a noite no Tendinha?” mas sabes que o teu tempo no Tendinha sempre foi para queimar calorias, dançar ao som de boa música e estares com aqueles de quem mais gostas. Mais detalhes e o blog passaria a ter uma classificação de “Só para adultos” …

Ouves a passarada lá fora, abres a cortina e vês o habitual céu nublado, esboças um sorriso de gajo habituado a estas andanças – sorris ainda mais quando te dás conta que é o mesmo sorriso que esboçavas na Grécia quando, pela manhã, abrias as persianas da sala e vias a zona de Victoria no alvoroço matinal e tu – que sempre foste dado a despertares muito precoces – saudavas a boa noite de sono que tinhas tido (apesar da temperatura constante – os 30 graus nocturnos). A maneira como outrora apreciavas cada trovoada – porque já eras como os locais e abrias a casa toda para arejar (e aproveitar para baixar a temperatura no interior da mesma) – e agora começas a ver a chuva como algo habitual – como outrora o Sol o foi.

Olhas, com um amor incondicional, a tua máquina de café e, mecanicamente, colocas água na parte inferior, o depósito do café em cima – que enches com uma colheita de café colombiano do Robert Roberts, enroscas tudo muito bem e colocas ao lume. A espera pelo líquido é feita ao som de uma playlist que encontraste no YouTube e, quando menos esperas, começa a tocar o “This is the day”, dos The The…por momentos és um puto de 15 anos, no Splash, a curtir a mesma música – no meio da pista, de Super-Bock na mão (a cerveja de Leça do Balio era uma forma de separar as boas das más discotecas, no final dos anos 80), cercado de outros 5 companheiros de aventura. Depois de umas tacadas num verdadeiro bilhar Americano e com a noção que o regresso a casa seria feito muito rapidamente – alguém iria sugerir que os “Irmãos Cavaco” (evadidos nesse ano e, na altura ainda a monte) estariam escondidos na moita seguinte – o que fazia sempre com que chegássemos a casa em passo de corrida! Éramos jovens corajosos, mas também corríamos bem!

O café produz o seu efeito e desperta-te para a necessidade de criar novos momentos, mentalmente tens a imagem do duche, mas apetece-te colocar todas estas visões por escrito e questionas-te porque não fazê-lo enquanto bebo mais um café? Raramente discutes muito contigo e, de chávena na mão, atravessas os 2 metros que separam a cozinha da sala, ligas o computador e…deu nisto!

Bom fim de semana malta. Aquele abraço.

Verão?! Na Irlanda?!

Em boa hora fiz a minha mala de viagem com uma secção dedicada às Caraíbas! Não é que estejam 40 graus, ou algo semelhante, mas dados os antecedentes meteorológicos da Irlanda está uma temperatura muito boa. ☀️

Confesso, estão 20 graus mas a verdade é que…ou eu já me adaptei ou apenas cumpro a tradição local de andar de manga curta. Vejo pessoas a passar, em passo acelerado e de suor na testa, e penso que estou no Dubai. A minha racionalidade coloca-me no Bombar a beber uns finos, trincando uns amendoins enquanto a minha imaginação me coloca no meio do deserto com um placar da Super-Bock a curta distância….😂

Há mais vitalidade com este sol e as pessoas mostram vestimentas que claramente só usam nas férias… o que lhes coloca um sorriso na cara pois sentir-se-āo de férias enquanto trabalham…😎

Aos poucos vou-me mentalizando que este ano não há natal em família mas duas semanas de férias após esse período. Festejaremos à nossa maneira a alegria de estarmos juntos. Enquanto alegria não vejo momento que supere esse – ou estou a ficar um expatriado profissional ou um sentimental sem cura…mas ambos sabemos qual dos dois é! 😊

Fica aquele desejo de uma óptima semana e aquele abraço, enquanto pisco o olho. 😉

Solidariedade

Havia sido uma noite bem preenchida – de novas amizades, de novos brindes, de possíveis projectos novos na América do sul. Estava muito bem disposto quando me deitei e apenas com uma pequena azia quando acordei – certamente fruto de uma pint menos fresca…🤡

Não espreitei as notícias logo de manhã, como normalmente faço, mas apressei o café e vim fumar um cigarro ao som dos pássaros do meu jardim. Estava a repor a boa disposição, a relembrar a noite anterior, a exercitar o meu saudosismo. 😊

Abri o Guardian e falava-se de dezenas de vítimas num incêndio em Portugal. Pensei que se tratava de um erro de tradução e fui espreitar o Google News e constatei que não só não era um erro de tradução mas o número de vítimas continuava a aumentar. Fiquei triste, muito, e resolvi telefonar a todos a saber como estavam. 😏

Ser expatriado implica sofrer à distância mas o sofrimento é exactamente igual ao que em Portugal trabalha. É verter uma lágrima num país que não é o nosso mas vertê-la pelo amor à nossa pátria! 😍

Somos um país de vencedores e certamente venceremos mais este obstáculo. Força Portugal. Muita força! 🇵🇹

Por aqui acordamos com 20 graus e um céu nublado…ou chove ou vem calor…Wait and see, como dizem os ingleses! Aquele abraço. 🇮🇪

Dia de sol

Finalmente a semana termina! Atribulada em horas de sono conseguidas, com juras de sono profundo nos próximos dois dias, ciente de que tudo poderá ser uma mentira e acabarmos, todos juntos, num qualquer sítio divertido. 🤗

Reunião de avaliação trimestral superada com sucesso, camaradagem com quem interessa e desenvolvimento dos conhecimentos. O acidente de trânsito mais idiota que eu já vi, duas mulheres ao volante, centenas de polacas que surgem do nada para proteger a conterrânea. 🤠

Desejo de uma pizza entregue no domicílio, uma tranquila noite de leitura e música enquanto aguardo a visita de domingo para a limpeza do apartamento. 😎

Calmamente a colocar tudo em ordem, a desfrutar todos os detalhes, ainda a finalizar a lista de compras e pronto para mais uma semana. 😎

Obrigado clima pelo dia que nos deste e pela semana que prometes. Até já. 😘

Escolhas

Separados pela manhã, de sorriso maroto no rosto e quase sendo o primeiro casal a morrer atropelado no centro de Cork. Não foi uma manhã normal… foi a custo que te vi partir e, muito embora não saiba quão oneroso será, sei que o pagamento será feito em géneros…em abraços, beijos, carinhos só nossos e as piadas que vamos construindo juntos. 😚

Mostrei-te o meu café de eleição, adoraste a “loucura salutar” de todos que o frequentam e imediatamente quiseste que eu conhecesse o teu refúgio secreto. A seu tempo lá iremos. Comprei uma máquina de café para nós é trouxe o salmão do Alasca que ambos adoramos. Não, não me esqueci do queijo!!! 🤗

Foste mostrar a cidade à família enquanto eu me divertia nas compras e entregava uma encomenda de tabaco a um conterrâneo. São absurdos os preços do tabaco neste país… acho que vou deixar de fumar e dedicar-me apenas a trazer tabaco de Portugal…😂

Vou dormir a sesta enquanto passeias e descansar para a noite de hoje. Espero que te divirtas tanto quanto o sorriso que me respondeu à minha explicação do porquê utilizar sempre o “Até já”. É bom saber que me conheces bem…😚

Porta 2

Levo comigo todos os abraços, beijos e manifestações de carinho e já estou ávido por mais. Olho o sol e sei que vou ter saudades dele, vejo o avião e trocamos olhares de afecto, ouço o anúncio e passo a ser um simples passageiro que terá que embarcar na porta 2.

Espantosa última noite em que bebemos e observamos o mar como se fôssemos atravessar o Atlântico numa nau. Por entre finos, príncipes, canecas e um amendoim, no sentimento misto de quem já está de partida sem ainda ter partido mas muito grato por todos os detalhes.

Observo, por vezes, pessoas que mencionam que as pessoas mais velhas voltam a ser crianças (em termos de comportamento) e, muito embora concorde, devo acrescentar que o comportamento pode ser de criança (devia haver uma lei a exigir essa obrigatoriedade) mas a sabedoria é realmente o melhor que conseguimos assimilar numa vida.

A caminho dos teus braços, com o vinho que tanto pediste, com a saudade que não esperávamos mas que nos dá um alento diferente. A caminho de um novo apartamento, mais perto de ti, de onde podemos conversar de varanda para varanda – nas poucas ocasiões em que a meteorologia o permitir.

Hoje e sempre: até já.

Benefícios da amizade

A amizade é algo que não pode ser explicado. Quando perfeita, honesta e frontal ela equivale a um amor para uma vida. Sou um privilegiado por contar, pelos dedos de uma mão, com amizades assim.

O privilégio de não ter problemas de confiança, de usufruir da confiança e de, após mais um pouco de convivência, sentir-me com o coração cheio. É algo sem deve ou haver, impossível de ser contabilizado e de um valor real muito superior a todo o dinheiro do mundo.

Têm sido dias de muita saudade: da pessoa amada que está longe mas pacificamente entende a minha ausência, e saudade de não poder passar ainda mais tempo com a amizade que sempre protegi e protegerei da malícia do mundo.

É nestes momentos que agradeço ao destino o facto de sempre me ter soprado ao ouvido se era tempo ou não de apresentar a minha amizade a pessoas que passam pela minha vida. O destino sempre foi certeiro e a protegeu desse incómodo. Bem haja!

Gostava de ter a palavra mágica para poder colocar alguma justiça nesta batalha mas, conhecendo o espírito guerreiro da mulher que batalha, sei que a guerra será vencida sem réstia do inimigo.

Sempre contigo – 5/6/2017

Saudosismo

Saudosismo

Entras pela porta em passo acelerado, rumo ao balcão,  mas o amador aqui és tu e já tens dois pares de olhos a seguir os teus movimentos. Chegas ao balcão e, de cabeça baixa, tentas pedir um fino como se fosses um anónimo. Ouves um valente “Olha quem ele é” e é-te proposto um shot que, educadamente, declinas (tens na memória o rumo que normalmente é conduzido pelos shots e queres poder guiar a tua noite).

Recebes o teu fino que sofregamente bebes. Recordas Leça do Balio e todas as suas virtudes, sorris e só te ocorre uma virtude – a fábrica da Unicer e o seu belo néctar. A cerveja está fresca, já não és um anónimo e estás em casa. Faltam alguns adeptos indefectíveis mas contamos com as presenças e veneramos a ausência dos que, por óbvios motivos de força maior, não podem estar presentes.

Falamos das novidades, conto quase tudo que tenho de Cork e vem mais uma rodada. A aposta era de um ano inteiro de cerveja (e eu ganhei)  mas não se cobra apostas a amizades. Chega o cachorro quente e posso finalmente exclamar: cheguei! O estómago pede mais um fino, a conversa a isso obriga. Ouvimos as nossas músicas, recebemos a tradução do texto em russo e, boquiabertos, interrogamos o autor. Gargalhadas, muitas.

Aparecem cinco minis no balcão e somos conduzidos, qual asno atraído pela cenoura, a ver o mar. Olhamos para trás e o bar fechou…fomos enganados!!!! Mas amanhã é outro dia e o stock de cerveja já foi conferido antes de sairmos (jogamos pelo seguro, qual turista incauto com medo de não encontrar o oásis no deserto).

Somos amigos e estamos no processo de matar saudades.

É sempre bom voltar  – 2/6/2017

A minha casinha…

Que eu sou um saudosista já não é novidade para ninguém que me conheça minimamente bem, que eu vibro com a forma como sou recebido também não escondo, que é recompensador saberes que a tua ausência é sentida…é.

Sempre me pautei pela transparência e frontalidade, aproximando alguns e afastando outros, e penso que é a única forma de realmente estarmos bem com a vida. Não fomento e não alimento rumores, sento-me e ouço o que têm para me contar, sai um sorriso esgalhado e continuo com a minha vida.

E assim vou superando dias, pessoas e obstáculos. Sempre com o meu bem estar como prioridade, sem magoar o próximo e com o projecto seguinte em mente.

A vida que escolhi tem o dom de dar-me sorrisos traquinas e gargalhadas sonoras. Sempre foi o meu objectivo.

É bom regressar a casa – 1/6/2017

Sentimento esquisito

Há 25 anos que não os via. A última vez tinha sido em Alvalade, em 1992. Nessa altura, num acto de mimo do Axl Rose, o concerto quase acabou com uma invasão de palco.

O alinhamento de 1992 era Soundgarden,  Faith no More e Guns and Roses a fechar. Lembro-me como se fosse hoje… Soundgarden e Faith no More sempre a desafiar e o público completamente rendido.

O desafio consistia em atirar o maior número de garrafas de água para o palco e todos sabemos como os lusitanos são bons de pontaria…o Axl amuou, ameaçou cancelar o concerto e…foi obviamente bombardeado com uma quantidade de garrafas equivalente ao bombardeamento de Dresden – sem o efeito mortífero mas com o orgulho da vedeta a quase colocar tudo em causa…. perante a ameaça iminente de uma invasão de palco a vedeta voltou ao palco, pediu desculpa e ficamos todos amigos.

Até hoje… hoje tive pena de não ter o puto de 1992. Com a voz a rasgar o estádio e o público completamente rendido e de queixo caído. Tivemos um cota a entoar as músicas que veneramos e um guitarrista igual ao monstro sagrado da guitarra que realmente é!

Não quero 1992 de volta. De maneira nenhuma! Como todas as más experiências de vida, retenho as virtudes, esqueço os defeitos e sigo em frente como se de um desconhecido se tratasse. E a vida tem-me dado palmadas nas costas por essa atitude. E eu sou um gajo que adora abraços…

Ainda com os ouvidos a latejar – 27/5/2017

Está quase…

Está quase concluída a semana de 11 horas e 30 minutos diários. O grande gozo que advém das três horas extra de aprendizagem sobrepõe-se claramente aos benefícios monetários. 😊

Sentir a acção sobre os domain controllers do mundo, a propagarem a informação que tu ensinaste a introduzir, sentir a tua colaboração num novo negócio que é gerado, sentir o agradecimento pela ajuda prestada. É indescritível a sensação de contribuir para a aprendizagem de outrém! A imagem que mais me ocorre é do Johnny Mnemonic a encher a sua cabeça para transportar a informação. Um bom sentimento! 💪

A cidade tem sido incrível na forma como nos divertimos e ficará sempre no meu coração. Muito mais limpa do que Atenas, muito mais fria também mas o teu salário permite-te juntar para ires até aquele continente, de língua oficial inglesa, onde sempre sonhaste passar uma valente temporada! 🇦🇺

Vives os sonhos com a realidade como pêndulo de uma racionalidade que tem que existir. És uma pessoa bem formada, com uma atenção especial a tudo o que te rodeia e sabendo sempre que o teu destino é sempre a paragem seguinte. ☺️

Para que nunca te esqueças de quem és – 18/5/2017

Bad Boys BBQ

Belo dia é aquele que corre conforme planeado, dentro da falta de planeamento habitual. Tudo a decorrer conforme o caos habitual em que amo viver nesta cidade. 😍

Encontradas as costelinhas, no Bad Boys BBQ, é chegada a hora de digerir esta bela refeição – uma espécie de prenda auto-imposta. Já não consigo contabilizar o número de prendas mas têm sido todas merecidas! 😇

Pôr do sol maravilhoso, numa ponte completamente diferente, e perdido o caminho de casa…maravilhoso! O cansaço aperta mas já só faltam dois dias para o fim de semana e um outro BBQ com a malta da empresa, no Sábado, e Internations na sexta feira. Há que preencher os tempos de ócio…😎

Aquele abraço.

A vida numa ilha – 17/5/2017

One down, four to go!

Está concluído o primeiro de 5 dias de 11,5 horas de trabalho diário. Alguns casos complicados, outros caricatos e ainda um impossível de acontecer e… que de facto não tinha acontecido. 😂

Já no autocarro, rodeado pela armada espanhola, rumo ao centro e a uma excursão pelos pubs. Curta, que amanhã há mais 11,5 horas… 😤

Noite de sono retemperador – não me recordo de uma noite tão bem dormida – e cada vez mais atribuo esse facto à paz de espírito que, cada vez mais, tem espantado meio mundo. Uma espécie de Ikinha dos anos 90 que a tudo e a todos respondia com um sorriso. 😋

Como provavelmente só terei a dentição completa no segundo semestre do próximo ano vou aproveitando para tirar umas selfies com que me rio imenso. Bela frase a que hoje me dirigiram: se for alguém com bom gosto certamente até te verá com dentes a mais… 😁

Sonhos de final de tarde – com frio, com vento e com chuva. – 15/5/2017

Terminando com uma piada, pois isto é para rir…

Espanha

“Nem bom vento, nem bom casamento” mas cada vez acredito mais que isso é apenas e só um ditado popular! 😉

São simpáticas, carinhosas e com gosto por aprender coisas novas. Uma lufada de ar fresco num universo de maus ventos! 😂😂😂😂 Acima de tudo são verdadeiras, tanto que até assusta! Dá vontade de pedir desculpa antes da discussão começar…😋 Esta, especificamente falando, é educada e acaba de dar a mais profunda lição de boa educação. Adoro, brilhante.

Há realmente um grande número de portugueses por aqui e cada vez mais entrosamos em algumas saídas nocturnas ou simplesmente acabamos juntos porque frequentamos os mesmos sítios. Salutar.

Aproximam-se duas semanas terríveis, de 11:30 de trabalho diário, mas cada vez mais gosto do que faço e da facilidade com que o faço. Aproveito para juntar uns “trocos” para uma eventual viagem a casa no final de Setembro.

É muito agradável ver o recibo de pagamento. Uma espécie de erotismo monetário…😎

Amanhã é sexta feira! – 11/5/2017

Espanha

“Nem bom vento, nem bom casamento” mas cada vez acredito mais que isso é apenas e só um ditado popular! 😉

São simpáticas, carinhosas e com gosto por aprender coisas novas. Uma lufada de ar fresco num universo de maus ventos! 😂😂😂😂 Acima de tudo são verdadeiras, tanto que até assusta! Dá vontade de pedir desculpa antes da discussão começar…😋 Esta, especificamente falando, é educada e acaba de dar a mais profunda lição de boa educação. Adoro, brilhante.

Há realmente um grande número de portugueses por aqui e cada vez mais entrosamos em algumas saídas nocturnas ou simplesmente acabamos juntos porque frequentamos os mesmos sítios. Salutar.

Aproximam-se duas semanas terríveis, de 11:30 de trabalho diário, mas cada vez mais gosto do que faço e da facilidade com que o faço. Aproveito para juntar uns “trocos” para uma eventual viagem a casa no final de Setembro.

É muito agradável ver o recibo de pagamento. Uma espécie de erotismo monetário…😎

Amanhã é sexta feira! – 11/5/2017

Gémeas

Outrora uma terra de pescadores, vizinha da Póvoa do Varzim, parece agora ter uma sósia na cidade de Cork, algures no sul da Irlanda. O mesmo cabelo, as mesmas expressões, os mesmos tiques. Começo a desconfiar que o criador fez uma cópia de segurança para estar seguro que, caso algo acontecesse ao original, a beleza da obra permaneceria intacta. Esperto o gajo…

Curiosas viagens de autocarro…a rotina das pessoas habituais, os atrasados que correm – na vã esperança de que o motorista tenha piedade e trave a fundo para que entrem, o evitar certas pessoas, o procurar outras pessoas, o conhecer pessoas novas e, sempre, o muito obrigado final, quando saímos na nossa paragem.

Sempre ávido por conhecer mas com frio, confesso. O salário faz esquecer tanta coisa mas o frio relembra-me sempre a montanha e aquele saudosismo de quem quer descer só mais uma pista bate forte.

É óbvio que há novidades, mas são minhas. Traduzo-as em sorrisos quando perante quem não confio e em intimidade com aqueles em quem confio. Soube muito bem preservar quem mais quero perto de mim, é esse o meu maior sucesso.

Aquele abraço humilde narrador – 9/5/2017

Gémeas

Outrora uma terra de pescadores, vizinha da Póvoa do Varzim, parece agora ter uma sósia na cidade de Cork, algures no sul da Irlanda. O mesmo cabelo, as mesmas expressões, os mesmos tiques. Começo a desconfiar que o criador fez uma cópia de segurança para estar seguro que, caso algo acontecesse ao original, a beleza da obra permaneceria intacta. Esperto o gajo…

Curiosas viagens de autocarro…a rotina das pessoas habituais, os atrasados que correm – na vã esperança de que o motorista tenha piedade e trave a fundo para que entrem, o evitar certas pessoas, o procurar outras pessoas, o conhecer pessoas novas e, sempre, o muito obrigado final, quando saímos na nossa paragem.

Sempre ávido por conhecer mas com frio, confesso. O salário faz esquecer tanta coisa mas o frio relembra-me sempre a montanha e aquele saudosismo de quem quer descer só mais uma pista bate forte.

É óbvio que há novidades, mas são minhas. Traduzo-as em sorrisos quando perante quem não confio e em intimidade com aqueles em quem confio. Soube muito bem preservar quem mais quero perto de mim, é esse o meu maior sucesso.

Aquele abraço humilde narrador – 9/5/2017

Revisitando

Dás por ti a fazer múltiplas comparações entre a Grécia e a Irlanda e concluis que há mais pontos comuns do que divergentes. Não tens o calor – olhas para as camisas de algodão e perguntas porque raio as trouxeste, contemplas os calções de banho e sorris – porque estás muito próximo do último local europeu onde o Titanic esteve antes de atravessar o Atlântico e só os usarias numa emergência semelhante, bebes um capuccino quente – na Grécia seria a mesma bebida mas gelada. 😅

Relembras o doloroso mergulho, na tua praia Espinhense de sempre, quando tiveste que sair a tremer – pois já não estavas habituado a temperaturas de água tão baixas – perante o olhar incrédulo do teu filho que, movendo ambos os ombros ao mesmo tempo, foi dar outro mergulho enquanto tu procuravas restabelecer a temperatura corporal… vais ter que te habituar novamente! 😋

As noites de 32 graus centígrados, em que passeavas em Plaka até altas horas esperando que a temperatura descesse…as ilhas que descobriste com a melhor guia local, os detalhes dos Gregos, que mentem aos turistas para manter as praias mais bonitas para consumo interno (sorris quando recordas que não podias falar, apenas cochichar com a tua guia).

Sabes que as recordações são para ser revisitadas, com o valor que cada uma te merece, sem que condicionem o teu presente ou futuro. Sorris quando recordas algumas das travessuras no Egeu, Jónico e Mediterrâneo – sobretudo quando achaste o Mediterrâneo o mais fresco dos três! Sim, era mesmo disso que estavas a falar…

Muito tens equilibrado as coisas! Tens conhecido gente fantástica e em segredo já choraste a partida de alguns colegas, tens explorado a cidade como um Robinson Crusoé dos tempos modernos – apanhas o primeiro autocarro e vais espreitando pela janela até veres o destino que mais te agrada, agradeces ao motorista e sais… só depois consultas o Google Maps para veres por onde andas, tens conseguido arranjar bilhetes para os eventos que queres presenciar, tens vivido – como gostas e rodeado de quem queres. Continuas a arrepiar-te de cada vez que vês um dos habitantes locais de manga curta…mas a maneira como nos acolhem revela um povo de coração quente!

Vais acompanhar, à distância e com a ajuda do teu filho, aquele momento que esperas que seja de glória para o clube da cidade em que nasceste. És um saudosista, um sentimental, mas é só assim que consegues viver – de forma honesta e aberta, sem segredos, assumindo os erros e as virtudes e caminhando por ti e em prol dos teus.

Homenagem neste dia às duas mães mais virtuosas que conheço – a minha e a do meu filho. Com demasiadas virtudes para todas enumerar, força de viver, pródigas na arte de transmitir conhecimento. Singulares porque únicas – obrigado por fazerem parte da minha vida.

Devaneio dominical – 7/5/2017

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Autocarro

A confiança nos transportes públicos lentamente a voltar a ser uma realidade. A enorme greve – durou umas três semanas – levou-me momentaneamente de volta à Grécia e à diária incerteza de ter ou não um meio de transporte para me deslocar entre a casa e o trabalho. Inclusive fez de mim refém em fins de semana que poderia ter passado a conquistar mais ilhas…mas chega de sentimentalismos! Estás numa outra ilha, a meteorologia não é igual mas, apesar das constipações, ainda não cedeste a nenhuma gripe. Um grande sinal de pujança! 😤

De férias marcadas, num surto de grande antecipação, e pronto para passear com a mais bela criação de tua autoria. Não contas o tempo mas sentes que o tempo passa rapidamente e, quando assim é, esboças sorrisos de puto rebelde – o teu símbolo de garantia. Deste por ti a ser apanhado, por ti mesmo, a sorrir para o espelho e, apesar da ventilação suplementar que a falta de três dentes te dá, sorriste como um puto que recebe o presente que sempre quis numa altura completamente inesperada.

É na certeza da existência de um puto em ti que reside a tua alegria – nas interacções, nas reacções espontâneas e na forma como aceitas ou repudias. Honestamente, fiel à tua costela sentimental e directo na forma de reagir. Não cresças tão depressa miúdo…

Infantilidades de um adulto – 4/5/2017

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Dia duro

Porque estás cá para trabalhar, e até aprecias o que fazes e as pessoas que estão a gerir-te, resolves oferecer-te para umas horas de esforço suplementar. Ainda estás numa fase de estudo e a ser estudado, a conhecer a cidade e a seres nela reconhecido, a perderes-te no caminho mas achares-te na forma como documentas o regresso ao caminho correcto.

Porque és um pouco como o Groucho Marx e até achas uma grande citação o “I don’t care to belong to any club that will have me as a member”, porque te tens divertido imenso nas tuas saídas “temáticas” nocturnas, porque tens a certeza que não deves perder tempo com quem não te percebe, porque és recompensado de cada vez que descobres alguém sintonizado na tua frequência, por tudo isso e muito mais estás cada vez mais integrado e até já te lembras de comprar o postal da praxe para os amigos que te aguardam no continente.

Porque encaras um desafio ao lado de casa da mesma maneira que encaras um desafio nos antípodas dessa mesma casa, porque as cidades novas são rapidamente conquistadas – mercê da fome de conhecimento herdada do teu Pai – porque contemplas tudo e todos e efectivamente exercitas a tua observação – como a tua Mãe te ensinou, porque não és materialista e consegues alegrias onde os outros não achavam possível…

Por tudo isso e o que entretanto te esqueceste de citar eu…dou-te os parabéns, é bom ter um espírito de vida assim. Continua Henrique, tens a minha força, o teu background e o teu conhecimento. Força miúdo.

Manifesto de auto-incentivo – 3/5/2017

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Q&A

Para tudo na vida há uma resposta – infelizmente nem sempre compreendemos a pergunta. Acordei com esta ideia na cabeça… podia ter sido pior! 

Ontem lá percorremos as ruas de Cork – os portugueses, a americana, os​ indianos, os​ espanhóis, as vietnamitas e o PhD do Togo. Falávamos de smart cities e de como o conceito está a ser implementado na Índia – após anos de pesquisa decidiram começar a implementação de estruturas de transporte em múltiplas cidades. Diferenças entre o que é o tráfego e o transporte, as fórmulas que podem ser aplicadas consoante o modelo, eventuais fracassos e forma de serem ultrapassados, o aproveitamento das condutas para deslocações subterrâneas e passagem de fibra para aumentar a velocidade da troca de informação. 

De tudo se falou, à volta da inevitável pint, e a noite terminou no habitual teatro. Com alguns resistentes – a noite aqui termina às 2:30 (excepto se a opção recair num dos poucos pubs abertos 24/7) – demos o nosso passo de dança e constatamos que, do grupo de expatriados dessa noite, não havia um único Irlandês.

Após comer um peito (de frango) lá seguimos pela íngreme subida que nos conduz a casa. Tudo cheirava a limpo e foi bom respirar fundo e sentir o aroma do lar.

Achei, na imagem abaixo, algumas respostas…

Bom domingo, onde quer que estejas.
Desventuras do mundo da cortiça – 30/4/2017

Alerta amarelo

Soa a desgraça meteorológica, quando se lê o título mas a grande limpeza que a chuva proporciona é a maneira da natureza equilibrar a sujidade instalada – bolas, a explicação ainda soa pior do que o título…🤔

O tão esperado primeiro salário chegou e, juntamente com a transferência bancária, trouxe a inevitável celebração. Numa noite de portugueses, brasileiros, italianos e uma peculiar australiana que, quando cumprimenta, não aperta a mão…😂

Depois do BDSM (é o nome do pub e não o que estás a pensar… não chegamos tão longe na festa…) seguimos, após o democrático voto, para o nosso teatro preferido (cheira logo a cultura mas é a discoteca mais castiça do burgo) onde passamos a noite na conversa, a dançar e a falar das pequenas diferenças que nos aproximam. É sempre curioso constatar que é nas pequenas diferenças que encontramos pontos em comum com os que nos rodeiam.

O sábado começou cheio de manifestações no centro – pelos direitos das mulheres, pela saída da Irlanda da UE, etc… há um ajuntamento para todos os gostos. O vosso humilde narrador veio tomar café e comprar um corta-unhas pois o tamanho das ditas já se assemelha às do Bin Laden após uns anos de reclusão nas grutas… Grotesco! 😂

Dia de limpeza… falamos mais logo, quando tudo estiver a brilhar no teu pequeno – mas muito acolhedor – apartamento.

Tenho que comprar uma máquina de café!!!! – 29/4/2017

Meteorologia

Para além de outras benesses, o boletim meteorológico é uma das coisas em que os Irlandeses não falham! Se bem que é raro o dia em que não temos as quatro estações do ano, há que saber celebrar o facto de como a informação nos é transmitida – normalmente de uma maneira agreste quando é “mais um dia” – e como se fosse a última festa à face da Terra quando a rotina desaparece. Acho o humor deste povo um “case study”! Mas subscrevo-o!!!!!!!

Aquando da abertura de conta bancária havia três cenários possíveis: TSB, Bank of Ireland e AIB. Se o Bank of Ireland parecia a escolha mais acertada – na altura partilhava uma casa com um Polaco que dizia que era o único que poderia accionar o fundo de garantia (para depósitos até 100K) – logo a ideia se esvaneceu quando ele chegou a casa com o seu cartão de débito em que as iniciais do Bank of Ireland apareciam…Como não estava nos meus planos andar com um cartão a dizer BOI optei pelo TSB.

Detalhes da minha vida aqui – 26/4/2017

O último dia do fim de semana

Para que não seja sempre o mesmo título – Domingo – desprovido de toda a emoção que o dia normalmente representa. Entre reuniões de família, convívios, bocejos com um ligeiro cheiro a cerveja, sorrisos, abraços, olhares que denunciam cumplicidade.

Das Canárias aos Açores, da Rússia ao Brasil, aqui todas as nacionalidades se reúnem numa tentativa de recriar o que temporariamente não temos e que o primeiro parágrafo descreve. Uma espécie de escola primária da vida em que reconstruímos o que sabemos ter mas não podemos tocar. Um jogo de simulações que é feito para superar essa palavra que os estrangeiros que visitam Portugal tanto adoram – saudade.

Absorto na escrita não reparo que passam por mim colegas de trabalho que me saúdam e, ao tentar responder atempadamente, tenho a expressão no rosto de quem não esperava ser reconhecido tão depressa numa cidade nova. É uma expressão que mistura o espanto com a rápida consulta aos arquivos centrais da memória para tentar saber de quem se trata. É um gesto educado, pleno de honestidade e recebo de volta um sorriso de quem o reconhece.

Estabelecida a rotina do café, onde passas para o segundo cappuccino, aprecias o povo que circula na rua estreita em que te encontras – as línguas cruzam-se com a naturalidade de uma sociedade multicultural (que sabe integrar e fazer evoluir os que recebe e que, na dialéctica natural da vivência em sociedade, recebe em sorrisos e boa disposição o agradecimento pelo acolhimento), os irlandeses sorriem, os espanhóis também, um francês que passa capta o momento com satisfação e fica contaminado com o sorriso, e o vosso humilde narrador tenta transmitir-vos a imagem.

Um casal de namorados cruza-se na rua e o óbvio nervosismo de ambos denuncia que este deve ser o primeiro encontro. Não há beijos mas há vontade de beijar, não há abraços mas há vontade de abraçar, os olhos dela estão agora mais brilhantes e os dele também sofrem do mesmo “mal”. Ele atira um espontâneo “E se fôssemos a este café?” e ela imediatamente concorda. Obviamente não é o café que os move mas o estado emocional de ambos parece movido por cafeína… Saíram uns minutos depois de mão dada e, pelo rumo tomado, foram bronzear-se para o parque da cidade neste não solarengo dia. A alegria do espontâneo e o emocional juntos.

Retalhos imaginados de um domingo em Cork – 23/4/2017

Vidas

Poder acordar mais tarde, tratar da higiene diária com todo o tempo do mundo e sair adiantado para a tua boleia é algo que te dá a possibilidade de fazeres algo que tanto gostas e que é tão menosprezado pelo ser humano – observar.

Sentado na esplanada do Néctar, com o Sol a bater de frente, imaginas que podes estar onde quiseres pois a paz que te dá permite-te reviver leituras e colocares-te nesses cenários. Bebes mais um trago do cappuccino e observas o sem abrigo que viste a colocar um número grande de pacotes de açúcar ao bolso – não o censuras, ninguém o censurou quando ele o fez pois todos estavam cientes que, muito provavelmente, aquele açúcar será a sua próxima refeição.

Ele levanta-se para pedir um refill do Americano que está a beber e sorri para um amigo que entretanto chega. Oferece-lhe um café e o amigo oferece-lhe tabaco. Há um sorriso infantil na cara de ambos – talvez pela satisfação com que disfrutam do café e tabaco. Parecem dois Lordes, recostados na esplanada, com o Sol de frente – sorriem, fumam e bebem café como se fosse a maior conquista do dia. Talvez seja – a alegria do momento.

Entretanto um casal de amantes senta-se na mesa ao lado da tua e combinam as férias na altura em que os cônjuges estão ocupados – parecem agentes secretos a esboçar o plano. Falam com cuidado mas com muito entusiasmo, detalhes misturados com suspiros, levantam-se e partem a sorrir – obviamente o entusiasmo ganhou e o plano pode ser alinhavado mais tarde…

Ocupação dos tempos livres de um expatriado que aguarda a chegada da boleia – 21/7/2017

Dias, semanas…mês

Antes de me debruçar sobre qualquer resumo deste primeiro mês devo deixar, à atenção de qualquer turista incauto que venha à Irlanda, que qualquer tentativa de enaltecer o país de origem do referido turista, com factores como o calor, o Sol, as praias cheias de turistas a deliciarem-se com o calor, etc…é encarada pelos locais como sarcasmo. E os Irlandeses são dos povos mais sarcásticos que há logo, tal como os idiotas (sem que os Irlandeses o sejam) não tentem batê-los num jogo que eles dominam. Aviso à navegação feito. Sinto-me como um escuteiro que praticou a sua boa acção do dia…:)

Continuo a descobrir a cidade e os seus cantos. Se é verdade que em cada esquina há um pub,  o grande segredo consiste em conseguir cumprir as rectas com um direcionamento igual ao dos carros quando saem da Inspecção Periódica Obrigatória! Nem que logo depois a máquina deixe de funcionar há que fazer um esforço por demonstrar todo o virtuosismo quando a dita é inspeccionada… :p

A mudança de horário para o das 11:30 às 20 permite uma maior flexibilidade matinal e uma saída directa para o jantar e para as esquinas anteriormente referidas. Não é sempre mas há que fazer um esforço adicional por nos sentirmos Irlandeses e se tal obriga a sacrifícios então há que encará-los com um respirar fundo e o pedido de mais uma pint! 😉

Desde a última actualização só choveu uma vez e os profissionais do sarcasmo já falam, enquanto choram à gargalhada, de um potencial cenário de seca! J O descanso tem sido mais longo, a leitura mais prolongada e tive a oportunidade de ir ver o Nabucco à Opera de Cork. Com um palco menor do que é habitual, uns cenários espectaculares e um quadro de excelência, posso dizer-vos que foi uma experiência a repetir. Ainda bem que trouxe a agenda cultural do Hotel Ambassador! 🙂

Porque já é tarde, e a PDI não perdoa, deixo-vos os melhores cumprimentos e que continue sem chover! Aquele abraço.

Relato de um expatriado que um dia voltará a ir ao ginásio de manhã… – 20/4/2017

Lembranças

No meio da conversa alguém nos lembra que dia 20 celebramos o primeiro mês na Irlanda – curioso como nos lembramos das datas quando conseguimos associar a elas momentos de mudança. Mesmo não sabendo como terminará a aventura podemos celebrar com a certeza de que vamos vencer as adversidades, conquistar mais amizades, continuar a conversar com a Australiana aqui ao lado… perdi-me…. Ah, falávamos de festejos! Sim, há que comemorar este primeiro mês mas, até lá, ainda temos pela frente o desafio da mudança do suporte geral (em Inglês) para o suporte em Português. Parece ser mais fácil mas a novidade, enquanto algo desconhecido, tem o dom de intimidar – afinal trata-se de confirmar (ou não) se todas as expectativas estavam correctas. 🤔

O vosso humilde narrador já conseguiu arranjar um apartamento e, no meio de toda a confusão que foi essa tarefa, só tem pena que o filho não esteja cá – o pátio do apartamento é o sítio ideal para ele praticar a paixão por toda a bicharada que coabita comigo, separados por uma porta. A seu tempo terei a sua visita! 😊

Hoje é dia de festa brasileira e, com o povo irmão, certamente estarei bem entregue. Não receio feijoada, coxinha, picanha ou caipirinha! 😇 É sábado e o tempo, apesar de encoberto, está um pouco mais quente do que é habitual. Todos os pubs estão fechados e não há álcool à venda… uma espécie de Chicago, dos anos 30, mas só até segunda feira.

Está na hora de largar o meu café de culto e começar a caminhada, rumo ao centro, onde a boleia me aguarda. Bom fim de semana!!!

Cumprimentos da Irlanda. 🇮🇪

Segunda feira

Aquando da criação deste blogue, que coincidiu com a dolorosa eliminação do anterior, recordo que o nome era algo que teria que fazer um novo sentido na minha vida: em termos de escolhas, caminhos, pessoas, família e, acima de tudo e sem narcisismo, um novo sentido para mim. Sem influência exterior!

Não poderia haver nostalgia mas teria que ser verdadeiro. Não poderia haver saudade mas teria que ter compreensão. Não poderia haver gabarolismo fácil… teria que ser uma descrição de factos desnudados de qualquer propósito publicitário da minha pessoa. Acho que tenho conseguido, sei que o tenho conseguido quando dou por mim a escrever ideias nos locais menos apropriados. Imaginem o que quiserem e certamente eu já escrevi durante…😎

O blogue tem o dom de me permitir receber críticas de pessoas próximas, conhecidos e até amigos da primária que eu julgava esquecidos. É no sentido crítico e no louvor que recarrego as minhas baterias literárias. Não com um sentido de ego acima de tudo mas numa busca por uma escrita mais perfeita e mais susceptível de ser interiorizada durante muito tempo.

Jamais deixarei de ser o meu maior crítico mas nunca deixarei de ler com incredulidade alguns dos textos que os meus dedos teclaram. Há uma beleza na criação que se torna muito recompensadora quando nos deslumbramos com algo que já não recordamos mas que afirmam ser nosso. Eu gosto dessa beleza despretensiosa da escrita.

Ainda não há Sol na Irlanda – 10/4/2017

Domingo

Aquele dia em que raramente saímos de casa e somos reféns do povo que desce à cidade para ver o mar. Normalmente associado à ausência de chuva, quase sempre associado a uma massa popular que se move sem rumo – a fugir da rotina semanal da zona em que vive, a descansar a vista, os pensamentos, o corpo – na mais bela obra prima que, quanto a mim, existe…o mar!

Mas isto aqui não é a tua cidade! É uma cidade onde fazes um esforço para que seja mas tens plena consciência de que ainda há muito para conhecer, muito para gostar e uma parte para amar. Estás inconscientemente a trabalhar nisso sem que sintas tal tarefa como um esforço…é um processo! Sorris e recordas quem te ensinou essa e tantas outras coisas. Recordas que também és Pai e dás valor a cada pequeno ensinamento que transmites ao teu descendente.

Tens a mente limpa, típica de novo recomeço, e sabes que tudo depende somente de ti. Aprendeste a saber evitar, a saber rodear-te de pessoas de valor – independentemente da origem mas com valores sociais que te dão orgulho quando os apresentas como parte integrante da tua vida, sabes para onde caminhas – o passo é seguríssimo e pode apenas sofrer atrasos para contemplar, com surpresa, verdades que a vida te mostra como desperdícios do teu tempo.

Ergues o queixo, sem nunca empinar o nariz, e constatas que realmente já fizeste muito sozinho e sempre foste bem sucedido.  Preparas-te para a corrida deste domingo sabendo que o objectivo não é ganhar mas sim sociabilizar com todos os teus novos colegas.

Andas a sorrir…e esse sempre foi o teu sinal maior de que tudo está bem. Obrigado.

Um abraço a mim mesmo – 9/4/2017

Curiosidades dadas

A curiosidades dadas não se olha o dente! Poderá soar a algo semelhante a um ditado popular mas a ideia por trás da frase é entender que o melhor que temos a fazer quando perante uma cultura nova é apreendermos o máximo sem colocar os nossos valores em causa.

Estava o vosso humilde narrador calmamente sentado a beber a sua pint de início de fim de semana quando uma Irlandesa se aproximou e exclamou que tinha uma amiga que me queria conhecer. O vosso humilde narrador, sempre receoso das DST’s, jogou pelo seguro (é um belo trocadilho, confessem) e aguardou a chegada da restante comitiva.

Trata-se da despedida de uma noiva e qualquer teste do balão mais não faria do que provar aquilo que claramente se vê a olho nu. Falam com aquele sotaque Irlandês muito fechado e, dado o estado fatigado deste autor, evito ao máximo pedir que repitam o que não entendo.

Festejam a partida de uma amiga, que abraçam enquanto o explicam, com um misto de nostalgia dos bons momentos passados e o receio de não os poderem repetir no futuro. Uma espécie de último carinho enquanto ainda a têm do lado dos solteiros. E eu? Eu caminho no meio delas, de pub em pub, e aproveito para me informar do que se passou hoje.

Retalhos da minha sexta feira – 7/4/2017

As nossas viagens

Hoje lá viemos nós a cantar, na viagem de regresso ao centro de Cork. Aquilo que a pé demora cerca de 75 minutos é feito de carro em pouco mais de 15 minutos – tendo em conta o trânsito caótico, uma vez que todos acabam de trabalhar à mesma hora. A melhor surpresa do dia foi a meteorológica…não há previsão de chuva para a próxima semana! São 7 dias que se aguardam bem secos!!!! Uma loucura que certamente virá a figurar nos livros do Guiness.

Finda a formação começamos agora o período de incubação – damos suporte aos clientes, mas sempre com o apoio de um colega mais experiente por perto. As nacionalidades cruzam-se e a necessidade obriga-nos a recorrer à experiência dos mais velhos para colmatar a nossa inexperiência de recém-chegados. Conhecemos mais colegas, interagimos mais, há muito mais acção do que a passagem chata, mas necessária da formação.

Ninguém me havia preparado para a loucura alegre dos companheiros da viagem de regresso. Com aquela “costela” tipicamente brasileira, cantam todas as músicas como se as houvessem escrito e com uma alegria que contagia o mais distraído dos seres. Eu e a Colombiana lá tentamos acompanhar, mas é literalmente impossível saber tantas letras e entoá-las com tanto ritmo…parece que a energia nunca acaba! Devem ser Duracell…:). Deve  ser  surreal  assistir  à  nossa  chegada   ao  centro… parecemos  um  bando de 5 pré-adolescentes a quem deram a primeira Coca-Cola…um sentimento fabuloso mesmo.

Continuo a acompanhar a vida na “jangada de pedra”, à distância, mas com uma saudade muito saudável. Estou a 200 metros do “Português” e só agora me lembrei que realmente tenho que passar lá a comprar umas Super-Bock! Irei fazê-lo, quando realmente encontrar um apartamento, e será a minha festa de abertura!

São dias bem alegres os passados por cá. Talvez este fim de semana já tenha a possibilidade de explorar as redondezas e elucidar-vos sobre a beleza deste país. Até lá.

Aquele abraço.

Um gajo de 1,85m com pretensões de apanhar o duende no final do arco-íris! – 5/4/2017

Domingo…

Entre o cappuccino da manhã, as caminhadas pela cidade e os intervalos para ler um bocado – deitado na relva de um qualquer parque e nos pequenos instantes em que o Sol o permite – vou observando as famílias que passeiam os seus filhos, brincam com eles e são tão ou mais crianças que eles. Não consigo estratificar as pessoas – talvez fruto da minha criancice enquanto recém-chegado a este país – porque a visão vê tudo com uma beleza sem defeitos, todos como iguais, num quadro muito belo…daqueles que todos admiramos sem sabermos porque o fazemos, mas sem deixarmos de nos espantar pela sua beleza – algo quase irracional, leviano, mas de uma razão que provavelmente reside na racionalidade que nos é transmitida de geração em geração…

Quanto mais tempo de cidade tens melhor dormes. Já consegues entender uma percentagem maior do sotaque dos locais e já os cumprimentas da mesma maneira que eles te cumprimentam a ti. Já conheces as ruas ventosas a evitar e as ruas soalheiras a frequentar. Sabes onde podes tomar o teu café preferido – enquanto praticas o teu espanhol – e dificilmente denunciarás a alguém onde é a melhor relva para estares estendido a ler. Partilhas umas migalhas com os pássaros e questionas-te se os primos deles terão alguém que olhe por eles em Espinho.

Sorris, lês mais um pouco e descobres que a manhã já passou e, no caminho de regresso, cruzas-te com alguns casais que devoram o pequeno-almoço (que é servido durante todo o dia em imensos locais) típico de ressacado – os ovos mexidos, o bacon frito e umas tostas acompanhadas de café preto. Mais uma mulher que passa de manga curta, mais um arrepio que sofres…será que comem salmão o ano todo e conseguem desenvolver uma camada de gordura semelhante à dos ursos? Pesquisas o site da National Geographic e concluis que não há nenhum estudo que comprove o que acabas de pensar…

Sobretudo pensas – muito, de maneira fresca – muito arejada, com muita novidade e com muita sede de conhecimento. E sorris – mostrando que te faltam 3 dentes que em breve vais ter de volta…dás uma gargalhada porque sabes que ninguém sorriria de algo assim, mas…tu és simplesmente tu.

Armado em pensador que vai descobrindo uma cidade nova – 2/4/2017

It’s a brave new world…

Aproxima-se a hora do exame final, roem-se as unhas, o esfincter está apertado e há uns suspiros que escapam. Conheces em quase 2 semanas mais pessoas do que normalmente cumprimentas na tua cidade – talvez não seja bem assim porque a tua cidade é pequena e conheces muita gente – mas dá uma visão melhor do cenário.

Aprendeste detalhes que não conhecias, aprofundaste outros que já dominavas e, acima de tudo, conheceste pessoas tão semelhantes a ti que te arrepias de cada vez que se encontram – e são realmente muitas vezes sem nunca serem demasiadas. Um desequilíbrio que te dá o equilíbrio perfeito.

Perdes-te na cidade e achas monumentos que ainda não conhecias, trocas os horários e conheces pessoas que o acaso não permitiria que conhecesses, andas de baloiço no emprego como parte integrante da gestão de stress.

Dás um aperto de mão e és acusado, de uma forma fraternal, de agressividade excessiva, mas nenhum dos dois envolvidos apresenta queixa às autoridades competentes. Comes umas asas de frango quando sempre adoraste peitos de frango e tens evitado asas desde que te conheces.

Procuras um tecto onde ficar e descobres que há uma procura quatro vezes superior à oferta. Cada apartamento que visitas tem filas de pessoas para fazerem exactamente o mesmo que tu…dar uma vista de olhos e decidir se há interesse ou não em arrendar…fazem uma lista e o senhorio decidirá quem obtém o bilhete premiado para ter um tecto (frutos da crise imobiliária que arrasou a Irlanda).

Sorris, porque sabes que é o gesto mais bonito que tens em ti, com aquele ar matreiro e de maroto que nunca se perdeu e sempre se soube achar. Vês mais um monumento e constatas que continua a chover (algum dia terá parado?) e continuas pelo passeio a sorrir por entre uma sociedade de cómicos, bastantes trabalhadores, que te sorriem de volta.

Tenho que conhecer este país muito bem – Promessa de expatriado a 30 de Março de 2017

 

O tempo voa…

Alguém me perguntou ontem como tinha corrido a primeira semana e foi com espanto que constatei que realmente já se tinham passado 7 dias. Não sou muito de resumir todos os detalhes da semana que passou – até porque tive a oportunidade de me rir como nunca – porque pode soar um bocadinho estranho a quem lê e ser sujeito a interpretações que não correspondem à realidade. Tentarei descrever o melhor que sei e posso…

Do meu grupo de formação fazem parte 6 pessoas no total. Quatro falam Português, uma fala Espanhol e há ainda um colega que é Belga mas vem para dar suporte ao mercado Alemão. A formação é em Inglês e preenche o dia das 9 às 17. É tudo muito intenso e há imensas nacionalidades diferentes nos corredores da Empresa o que, demasiadas vezes, se torna engraçado – especialmente quando detectamos uma língua que conhecemos mas, quando nos voltamos para tentar identificar o autor, já não o conseguimos pois já se misturou com a multidão que anda constantemente a circular.

De identificação ao pescoço, com inúmeros tokens para me identificar nas diferentes contas, adoro a chegada da hora do almoço onde temos 5 pratos principais e uma área de saladas que um dia visitarei. J O sotaque Irlandês é algo surreal de compreender e tenho que treinar essa área de maneira a ultrapassar a dificuldade em entendê-los.

Se na Grécia havia um “amor estranho” pelos Turcos aqui há um “amor estranho” pelos Ingleses – uma espécie de Trainspotting, desta vez não em “Escocês” mas sim em “Irlandês”. Assistir ao Irlanda-Gales foi uma experiência demasiado líquida e pouco depois do apito final já estava em casa – trazido por um taxista com o habitual sentido de humor dos Irlandeses! Quando lhe disse que tinha bebido 5 pints e estava a caminho de casa ele respondeu com um sorriso bem sonoro e aberto e exclamou: So…it was amateurs night at the pub?

Vou conhecendo e vou-vos contando…aquilo que posso.

Cidade de detalhes

Se é verdade que sofro com o calor – quando é demasiado – e a Grécia provou-me bem isso, também é verdade que prefiro o frio – que pode ser controlado de uma maneira muito mais equilibrada que o calor (são gostos, não vamos discutir, OK?). Os dias têm sido de máximas de 4 graus e mínimas que nos obrigam a começar a funcionar mesmo antes da cafeteira italiana ter acabado de fazer o café – tão fundamental como a chave na ignição de um carro – no que a funcionamento diz respeito.

O ambiente é fantástico, a ida para o emprego é feita em 25 minutos a pé, o projecto é para um dos maiores colossos de TI do mundo. Voltar da empresa já chegou a demorar 4 horas e meia…não que estivesse mau tempo (por acaso chovia) mas sim porque é sempre mais agradável passar um final de tarde num pub, com aqueles de quem gostamos, a ter que enfrentar as incómodas gotículas que parecem ácaros na capacidade de se infiltrarem nos piores sítios…e são geladas também.

Rodeado por um Polaco – que constantemente abre as portas e janelas porque “está calor”, um francês que, assim que chega a casa, faz sempre uns cozinhados maravilhosos, uma Italiana cuja maior preocupação na vida é a máquina de café – estes são os meus companheiros de residência. Pessoas tão diferentes, todos com histórias maravilhosas para contar, que nos ensinam a ver (sem estar presente) como são os seus países.

O mesmo sorriso parvo, cuja existência não sabemos bem explicar, voltou. Se agora já não tenho que lutar contra o calor a verdade é que tenho que me proteger do frio…mas com isso posso eu bem.

Por vezes na vida temos a sorte, a maravilhosa sorte, de encontrar alguém com quem imediatamente sincronizamos. Como se fosse possível, no mundo, duas pessoas estarem sintonizadas na mesma frequência e ambas adorassem esse facto.

Sabiam que em Cork os passageiros do autocarro agradecem todos ao motorista quando estão a sair na paragem de destino? Detalhe maravilhoso…

Diário jamais inacabado de um, novamente, expatriado. – 22/3/2017

PARA HOJE / 20.MARÇO

Quando a pessoa está convencida e auto-suficiente, fechada dentro do seu egoísmo, perdeu o espírito de sacrifício, a capacidade de fazer grandes coisas. Fica tão preocupada consigo própria e os seus interesses fixados num mundo que resolve tudo com cosméticos e estatísticas que acaba por pensar que o bem é aquilo que dá dinheiro e divertimento. Como é difícil que daí venha a coragem de um sacrifício, de um gesto de generosidade.

Vasco P. Magalhães, sj

ONDE HÁ CRISE, HÁ ESPERANÇA

Um pensamento por dia: ver em tudo o que acontece uma oportunidade de crescimento

Comentários

Um amigo de longa data comentou hoje porque razão eu não permitia comentários no blog e, voltando à data de criação do blog, relembrei-me do sentimento que me ocorreu na altura e que remonta à obrigatoriedade de ler um texto para a turma inteira em 1985. Na altura respondi à professora: – Odeio tudo o que escrevo mas sou obrigado a escrever para poder odiar! Ela sorriu-me e eu lá li, em voz alta e para a turma inteira, a redacção que havia escrito para o concurso literário.

Resolvida a questão, com a abertura dos comentários, foco-me agora na dialéctica de fazer a mala. Depois da experiência grega, com início em 2015, aprendi que devemos consultar a meteorologia anual e não apenas aquela que nos espera – imediatamente me surge a ideia dos dias gélidos aguardando que a UPS me entregasse o caixote de roupa de inverno enviado de Portugal. O método está aperfeiçoado e, desta vez, sei que devo focar-me em roupas para o frio e não para as eventuais excepções de calor. Sonho com grandes caminhadas, brincadeiras com esquilos nos parques à volta do centro da cidade e uma visita a Edimburgo.

O coração bate forte pela partida – quero chegar, quero ver e eventualmente vencer. O mais importante é ter o mesmo grau de integração que tive em Atenas – onde hoje sei que tenho grandes amigos, de inúmeras nacionalidades, prontos a darem-me abrigo e carinho. Esse é o objectivo fundamental – cultivar o prazer de conhecer pessoas novas, dos mais diversos extratos socias, com as suas virtudes e defeitos.

Saturado de lições de vida mas consciente de que elas fazem parte daquilo que nos faz crescer. Não importa que os outros não cresçam mas sim o termos “egoísmo” suficiente para concluirmos que o importante somos nós e tudo o resto é paisagem – que pode (ou não) ser apreciada ou apenas vista pelo canto do olho e desprezada pela total falta de substrato.

Não ficaria bem não despedir-me, enquanto Espinhense, de todos os que, nesse local mítico e de tantas horas bem passadas, me acolheram com o mesmo carinho com que se despediram de mim no dia em que parti. Podemos ter saudades da praia, da esplanada, do sol, etc… mas são as pessoas que constroem e fazem evoluir esse sentimento a um nível tal que, ao consultarmos o nosso coração, vemos que há lá uma secção só deles. Obrigado.

Convívios

Começou por ser um jantar e, passados tantos anos, parecia que se ia transformar num rápido café se algum dia nos cruzássemos. Havíamos partilhado dez anos na mesma Empresa e, desde o primeiro dia, havia sido a minha madrinha no ensino de todas as aplicações com que tínhamos que lidar bem como a afinação do discurso que deveríamos ter com os clientes no contacto telefónico.

Ironicamente havia algum nervosismo do vosso humilde narrador, era como receber uma irmã e havia o receio de que tudo tivesse mudado…ou eu tivesse mudado. Advém do tempo que havia passado entre a última vez que se haviam visto e ele, em jeito desafiador, deixou-lhe a mensagem que tantas vezes lhe havia dito – roubada do filme “Bom rebelde” – em que o personagem Chuckie diz:

“Oh, I don’t know that. Let me tell you what I do know. Every day I come by to pick you up. And we go out we have a few drinks and a few laughs, and it’s great. But you know what the best part of my day is? It’s for about ten seconds from when I pull up to the curb to when I get to your door. Because I think maybe I’ll get up there and I’ll knock on the door and you won’t be there. No goodbye, no see you later, no nothin’. Just left. I don’t know much, but I know that.”

Porque ela não pertencia aquele mundo de pessoas a serem constantemente oprimidas e diminuídas, porque ela sabia mais do que todos nós mas, e essa deveria ser justificação suficiente para ser devidamente valorizada, porque ela valia mais de 80% do mercado português na marca de que era gestora.

Eu sorria imenso no dia em que abandonei aquele barco e troquei os remos por uma (que agora serão duas) aventuras internacionais. Mantivemos o contacto pelas inúmeras ferramentas que a tecnologia nos fornece mas nada substitui a presença daqueles que mais valorizamos na vida.

Este sábado vingamo-nos e, como se velhos amigos se tratassem, retomamos a conversa como se ainda nos cruzássemos todos os dias. Falamos de tudo o que nos tinha levado ali e, no final, só havia uma coisa a dizer-lhe: isto deve ser mesmo amizade porque me senti como se tivéssemos retomado a conversa onde a deixamos e ela tivesse fluído exactamente da mesma maneira de outrora.

Assim vale a pena ter amigos! Obrigado.

Hino à amizade – 12/3/2017

Pensamentos soltos…

…daqueles que jamais queremos agarrar pois adoramos que vagueiem pela nossa mente!

Começou a ronda de despedidas e, como não podia deixar de ser, a família ocupa um lugar no topo do pódio. Se bem que não consiga ocorrer a todas as solicitações, tal com obviamente gostaria, levo um sentimento de dever cumprido – estive com a parte “Sulista” da família, com a parte “Nortenha” da família e os sinceros e bem sonoros abraços sucederam-se! Sinto-me como se estivesse no período das descobertas marítimas portuguesas e todos me dessem alento para eu dobrar o Cabo das Tormentas e impor-lhe o nome de Cabo da Boa Esperança! Não há Adamastor que me detenha, não procuro a Ilha dos Amores mas tão só e apenas aquele sentimento diário de dever cumprido – de forma humilde – que nos dá o mais belo sorriso do mundo (cenas de gajo sentimental…).

Apenas e só pretendo continuar a sorrir, num país com uma língua que domino muito bem (salvo o sotaque). Não levo mágoas, não levo saudades – apenas e só a sede de aventura e de, mais uma vez, conquistar os lugares e pessoas de um país que não é o meu. Vou tentar perseguir todos os duendes e vou conseguir descobrir o pote de ouro na extremidade do arco-íris! Não é ouro que procuro mas o duende sabe isso… 😉

Ouvi dizer que o verde é a cor da esperança e, dada a história daquele clube da zona de Alvalade, deve ser mesmo isso! Vou refazer a história da cor verde e demonstrar que a esperança pode ser tão presente quanto nós batalharmos para que ela o seja. Vou ser o herói de mim mesmo.

Realidades que vou cumprir – 9/3/2017

Para memória futura!

Os sentimentos: a aceitação de si próprio e do outro
PARA HOJE / 6.MARÇO

É curioso como às vezes os sentimentos se podem tornar obsessões e coisas boas se podem tornar manipuladoras dos próprios sentimentos, uma espécie de fixação! A relação tranquila, a que é harmoniosa connosco próprios e com os outros, permite ir gerindo os sentimentos. Quando isto não acontece e não há experiências de aceitação de si próprio e do outro, a certa altura a riqueza enorme do nosso mundo afectivo pode ficar desorganizada e sair explosivamente por portas que ninguém esperava.

Vasco P. Magalhães, sj
ONDE HÁ CRISE, HÁ ESPERANÇA

Macacos e nós

Reunidos no local habitual, a chuva miudinha cai lá fora e cada novo cliente entra com um semblante cansado. Todos? Não! Há um senhor, nos seus setentas que, assim que entra, abre um enorme sorriso e todos saúda com um “Buenos dias”.

Tem uma barriga pronunciada, uma pesada mala de couro e vem vestido numa combinação de ganga, camisa e gravata. O sorriso com que nos brinda cativa todos os presentes e o semblante geral passa a descontraído/bem disposto.

Dirige-se ao balcão e pede ao funcionário de serviço uma água fresca sem gás e um prato de amendoins. Os olhos brilham quando recebe o seu pedido e quebra a casca do primeiro amendoim… Seguem-se minutos de rotina descontraída a quebrar cascas e a levar à boca, um por um, os amendoins despidos.

Finalizado o pequeno almoço – são 11:30 da manhã – abre a pesada mala de couro, de onde retira um exemplar do “Mystères des chiffres” de Marc-Alain Ouaknin, que pousa cuidadosamente sobre a mesa. Exclama “Ainda dizem que não descendemos dos macacos” – referindo-se ao gozo que os amendoins lhe deram… Abre a garrafa de água e bebe um pequeno trago. Está satisfeito, nós também – com a visão da satisfação dele.

Lê agora cuidadosamente o livro, consultando eventuais dúvidas no smartphone, com alguma dificuldade – uma vez que aproxima o livro dos olhos de uma forma anormal. Sorri muito e a sua expressão “contamina-nos” pela naturalidade com que goza a vida.

Há manhãs com muita piada…

O degrau

Há um degrau, em casa dos meus pais, que é o meu lugar de eleição para a boçalidade. Nele consigo esticar as pernas, ver parte do jardim dos vizinhos – as diferentes plantas amarelas e verdes, sinais nítidos da existência de um cão, o barbecue no centro e os pequenos pássaros que amiúde lá aterram para apanharem uma ou outra minhoca que detectam. No nosso jardim visualizo as macieiras, a nespereira e os limoeiros que lutam por voltar a ter o esplendor de outrora.

Poderá não ser este o melhor local do mundo, o melhor degrau do mundo mas é o que mais aprecio. A vista de um telhado baixo, à esquerda, permite ver a passarada a “guerrear” nas poças de água por um banho rápido, as gaivotas voam bem alto, o Sol consegue ver-se sobre o lado esquerdo, bem alto e sempre pujante. À direita há uma mesa verde, onde amiúde coloco uns pedaços de pão ressesso, e que é visitada pela passarada mais pequeno e um ou outro melro – de cor preta mas com cores de bico sempre diferentes mas em tons amarelos e alaranjados – que primeiro saltitam no muro e depois se atrevem a saltar para a mesa.

Em termos do que sinto, e embora não sendo um local rico, de exposição ou habitualmente adoptado socialmente para o descanso, este degrau é para mim sinal de paz, casa, natureza e segurança. Pode um homem enamorar-se por um degrau?

Há sempre uma escada na nossa vida – 5/3/2017

Dias diferentes…

Quando dois amigos se sentam, dissertam sobre a maneira ideal de servir um carioca de limão, em chávena fria, e isto começa a tocar…

Estás no teu bar preferido, chove torrencialmente e recuas até aos teus 17 anos e sorris. Sorrimos os dois e damos por nós a rever as histórias de então e o percurso até hoje…A ironia das paixões de então que voltam a ser as paixões do presente, com décadas de intervalo.

O patrão da casa parte alguma louça, a esfregona passa em jeito de ambulância mas só esboçamos um sorriso.

Entretanto chega o café, demasiado cheio para o gosto do freguês, que interpela quem o serve sobre a enorme quantidade de café contida na chávena e recebe, como resposta, um instantâneo “Mas está cremoso”.

Esse café é raptado pelo companheiro de mesa e, quase de seguida, chega o café de substituição com a indicação “Não tomes já que eu esqueci-me da chávena fria”.

São estes deliciosos detalhes da vida, juntamente com a música que os acompanha, que torna os dias chuvosos e cinzentos em dias de gargalhadas sonoras e irracionais mas, por outro lado, deliciosas de serem dadas.

A vida é bela!

Os putos…

Eram jovens e despreocupados. Saltitavam pela rua, de mão dada e de sorriso aberto, contando os passos que iam dando. Desviavam-se das gotas de água da chuva como profissionais de futebol a fintar os adversários. Colocavam uma postura profissional para captar o Sol no melhor dos ângulos.

Trocavam impressões sobre preocupações comuns. Sentavam-se, bem encaixados um no outro, a contemplar o mar – contando cada onda – associando a diferente ondulação a um estado de espírito humano: sempre desigual, mas sempre maravilhoso. Molhavam os pés ao desafiar as marés sabendo de antemão que não tinham nascido marinheiros.

Já se haviam fisgado um ao outro e a pesca não fazia, para eles, sentido praticar. Viam as embarcações ao largo e desejavam que o fruto da pescaria fosse a refeição seguinte deles.

Sentiam o calçado afundar na areia molhada e afirmavam estar a “andar nas nuvens”. Interrompiam tudo, quando o dever chamava, mas aquele era o “porto seguro” de ambos – onde podiam estar sempre atracados sem medo de qualquer intempérie.

Aproveitavam o Inverno como haviam aproveitado o Verão: de banhos na praia transferidos para o chuveiro simulavam estar nas águas coloridas de um qualquer mar exótico – sem muito calor, sem muito movimento – apenas e só o mar com que haviam sonhado.

O choque térmico da saída do duche assemelhava-se à entrada na água durante o Verão. O tapete do duche era a areia e tudo o mais apenas e só passos muito largos para abraçar a chegada dessa Primavera que já permitia transformar sonhos em realidade.

No final do dia assobiavam a música dos 7 anões:

Eu vou eu vou

Para casa agora eu vou

Parara-tim-bum

Parara-tim-bum

E assim passaram um Inverno quentinho…

Sorriso de uma noite de Inverno – 27/1/2017

A vida do Chico…

Os amigos tinham chegado a acordo no tratamento social…de então em diante todos se tratariam por Chico! Acabavam-se as confusões no tratamento, os “betinhos” largaram o você, os citadinos largaram o tu, os aldeões largaram o sotaque – todos tinham o mesmo nome logo eram “exactamente iguais” – havia alguma confusão quando um eventual Francisco verdadeiro era tratado pelo diminutivo mas, de maneira geral, o plano correu sempre bem.

O hábito enraizou-se de tal forma que, quando em grupo, se identificavam sempre pelo diminutivo acordado – para espanto das autoridades, nas poucas ocasiões em que foram abordados e se identificaram. Não eram um grupo de amigos mas um grupo de irmãos que partilhavam os ensinamentos recebidos numa procura constante de se superarem…todos juntos. Não havia inveja, não havia nada que não fosse a nobreza de quererem, juntos, serem melhores.

A vida separou-os pelos diferentes cantos do planeta mas não separou a essência que sempre os manteve unidos. Comunicavam-se agora através de mensagens instantâneas, videoconferência ou telefonemas rápidos a combinar qual o método mais barato de comunicação a usar para se manterem sincronizados.

Uns casaram, constituíram família e outros mantiveram-se solteiros. Visitavam-se amiúde e, apesar da velocidade de sincronia ter diminuído, nunca deixaram de lutar pelo ideal estabelecido na adolescência. As agruras eram superadas em conjunto e as alegrias celebradas no evento seguinte – que rapidamente organizavam.

Houve “partidas” e novas “chegadas” ao universo próprio que haviam criado. O conhecimento era a base da sua força e sempre muito bem recebido pelos novos membros e recordado aquando da partida dos “velhos” membros.

A maneira como viviam inspirou cada vez mais pessoas e, quando parti dessa viagem a esse planeta desconhecido, todos haviam abraçado os mesmo princípios que, apesar de percursos tão diferentes, estavam alicerçados em valores que fizeram deles o planeta mais invejado do sistema solar. Invejado? Sim…por aqueles que nunca haviam conseguido alcançar esse planeta tão perfeito.

Devaneio espacial (de especial não tem nada) de um gajo que gosta de se rir – 12/1/2017

A caminho de ser Rei…

Naquele sítio onde normalmente ou se consegue tratar ou se faz uma extracção. Naquele lugar onde, normalmente, a visita é sinónimo de dor. Aquela cadeira que, sendo igualmente eléctrica, não fulmina aquele que nela se senta.

Foram quase 2 horas de batalha, de lábios literalmente abertos e de boca a desafiar a mosca, mas a só colher bisturis, afastadores, osso em pó, metais e outros afins da cirurgia.

Concentrado nas 2 lâmpadas economizadoras do tecto, tentando abstrair-me do nome das ferramentas que iam sendo pedidas e “deglutidas”, pensava nos mergulhos do último Verão – a água salgada que corria pela broca ajudava a manter o ambiente de maresia.

A certa altura, e dado o nome da ferramenta que era pedida, pedi que por favor não mencionassem o nome do que iam usar a seguir pois sofro de imaginação fértil e senti-me, por breves momentos, como alguém que estava a sofrer por antecipação.

Breves momentos de sofrimento porque a nossa imaginação é fértil é apenas sinónimo de vida! Após ver os pontos a serem dados – e foram bastantes – lá pude ser libertado das amarras metálicas que me uniam à cadeira e, num misto de muita anestesia e outras drogas legais – ver um video de uma qualquer membrana que todos nós possuímos na gengiva e a correlação dela com o nosso movimento respiratório…giro, para quem gosta destas coisas mas não para quem acordou 2 vezes no recobro por tentar ver cirurgias do Pai.

A PDI leva-nos o osso mas o génio humano já criou a maneira de a contrariar. Em pequenas e grandes coisas. Bem haja!

A caminhada é de 3 meses até receber a primeira coroa e mais alguns até a coroação estar completa. Uma cerimónia só ao nível de monarcas impares…

Da série “Fui ao dentista e voltei alegre” – 10/1/2017

Terá sido a chuva?

Foram experimentar algo que nunca haviam feito anteriormente e o resultado foi muito além das expectativas. Havia o medo das alturas, o medo do rio, o medo da ponte, o medo da viagem mas…foram! Enfrentaram os medos o enganavam-se amiúde nos nomes um do outro – talvez uma consequência da falta de hábito ou do excesso de outros hábitos.
 
Chovia muito mas, por entre as árvores, conseguiram trilhar o caminho com o mínimo de humidade possível e, à beira-rio, sentiram-se como se estivessem na mais excitante das cidades de mão dada a dividirem uma refeição. Entraram numa “Twilight Zone” de recordações e, caso se tratasse de um filme, a música de fundo seria do Victor Espadinha.
 
Na televisão havia um jogo do FCP e, pelo canto do olho, ele ia vendo o evoluir do marcador. O rio corria forte e a outra margem parecia ondular, no reflexo, em direcção ao mar. A temperatura era por eles desregulada e o termóstato de nada servia.
 
Olharam-se nos olhos, beijaram-se nos lábios e levantaram-se, de mão dada, rumo ao futuro…
 
Devaneio de ano novo – 3/1/2017

O “puto” nasceu…

O Dr. Julio Machado Vaz colocou, hoje no seu mural, a citação abaixo:
“Um homem só encontra a mulher ideal quando olhar no seu rosto e vir um anjo e, tendo-a nos braços, tiver as tentações que só os demónios provocam.”
Pablo Neruda.
Se os objectos que recebemos nesta quadra nos despertam uma sensação rápida de satisfação e realização, é nas pessoas que nos rodeiam nesta altura que verdadeiramente encontramos o acolhimento e amor que nos trouxe até aqui.
Valores herdados, comunhão de carinhos, partilha de aventuras, cedência de segredos, etc…são tesouros que guardamos e só partilhamos com os que nos são mais queridos. Sem defesa, sem medo…de coração aberto e em plena consciência que estamos a sociabilizar com os melhores! 🙂
Todo um passado, presente e futuro é discorrido à mesa, à volta dela e sempre perto dela. Tornamo-nos Gregos por um dia e tudo é puro – as gargalhadas, os sorrisos envergonhados no início da noite e o chorar à gargalhada – à medida que a noite avança e o resultado óbvio de um excesso de açúcar no sangue…;)
Os graúdos observam os miúdos, os miúdos observam os presentes. Torna-se totalmente irrelevante acreditar no personagem obeso de encarnado, o tempo avança tão trôpego quanto os personagens da história – bocas abertas de espanto, sorrisos de satisfação, caras com um ar de interrogação (outro pijama?!). :p
Obrigado gorducho de vermelho pela prenda! Pelo volume do embrulho parecia ser pequena mas é de grande carácter. Pelo peso parecia ser leve mas tem o peso da sabedoria de poucas que teima em engordar, e ainda bem, dia após dia. Pelo aspecto demonstrava a sua beleza mas percorrê-la é muito mais recompensador do que apenas olhar para ela.
Um Feliz dia de Natal e um maravilhoso 2017. Aquele abraço.

O jogo de futebol…

Imaginemos por momentos um jogo de futebol, em plena adolescência, em que sofremos uma mazela da qual, fruto da adolescência, recuperamos sem nunca perder a memória dela. Continuamos a praticar o desporto, visitamos várias equipas, ganhamos e perdemos jogos, sem nunca perder de vista a mazela que nos fica na memória…

Tratamos a mazela por tu – porque foi a primeira – e vamos jogando cada jogo futuro de maneira a adaptarmos a inevitável corrida da idade ao jogo dos mais jovens que aparecem para jogar o jogo. Usamos a experiência ganha em longas horas de prática para superarmos, quando conseguimos, a rapidez com que a juventude nos tenta ultrapassar – aprendemos a posicionar-nos de maneira diferente, as movimentações são mais lentas mas mais precisas e conseguimos manter um alto nível de jogo.

Imaginemos agora que deixamos de ver o adversário especifico dessa mazela por alguns anos e, quando somos confrontados com o mesmo, temos sempre uma quebra anímica que nos pode levar a acidentes como cair pelas escadas abaixo de um local público após termos proferido uma frase de força dizendo “esse adversário não me afecta, já o ultrapassei na minha memória”.

Passados uns anos, de comum acordo, encontramos esse adversário e vamos novamente a jogo. A mazela está no subconsciente, o jogo começa de maneira muito mais pausada, mas rapidamente evolui para o mais bonito dos jogos…

Agora imaginemos que a mazela não o é! Imaginemos que se trata de alguém muito apaixonante! Imaginemos que o jogo de futebol é a vida. Imaginemos que o posicionamento não é mais do que o inevitável reencontro. E vamos a jogo não para ganhar mas no maior jogo de solidariedade da vida – que é o amor – e o resultado final é aquilo que os dois quiserem!

Há coisas que só a imaginação pode explicar… – 22/12/2016

Bonito, bonito…

99% das pessoas pensará algo obsceno do título e 1% são arqueólogos! Tal como as pirâmides do Egipto também esta é uma história de força, perseverança, tempo mas de objectivo alcançado. Obviamente é tudo fictício pois nada disto acontece na vida real e muito menos a mim…
 
É a história de duas pessoas que se encontram e só com extrema dificuldade se conseguem separar. A história de como um abraço pode evoluir em 340 dias para algo que já tinha sido e volta a ser – da ignorância da adolescência à infantilidade possível na vida adulta.
 
É, nitidamente, a minha imaginação a tentar sobrepor-se à realidade. Um querer publicar no Facebook o “Love of my Life”, dos Queen, mas não conseguir mais do que lembrar o “Recordar é viver” do Victor Espadinha.
 
Celebrar o quanto um abraço pode significar – a sua intensidade e duração – quando é um sentimento que controla. Recordar todos os bons momentos, voltar a repetí-los e inserir novos bons momentos na cronologia actual.
 
Uma espécie de estação de rádio que a nossa mente tem e que não permite que sintonizemos uma estação diferente daquela em que nos encontramos. Como se todas as musicas que nela passam fossem “apenas” perfeitas para acompanhar o momento.
 
Depois acordei e achei que o sonho vivido era o meu presente de Natal. Sorri, não encontrei os chinelos mas caminhei para as rabanadas que por mim aguardavam. Percebo agora melhor como se sente o peru quando o engordam para esta época…
 
Tenho que começar a viver estes sonhos!!!! – 21/12/2016

Sempre a conheci…

Foi algures por entre a banda desenhada que tínhamos que a encontrei pela primeira vez. Confesso que foi amor à primeira vista: tinha cabelo comprido, ondulado e solto, superpoderes, era muito rapidamente promovida – graças à sua superior capacidade para lidar com interrogatórios e extrair informação do inimigo.

Conforme quem a desenhava ela tinha ou perdia os superpoderes…talvez algo do machismo de outrora…mas era muito rápida a decidir (sempre bem) e ainda mais rápida a colocar a solução em prática. Muito humana – talvez demasiado humana para este planeta – era capaz de mover montanhas para obter alegria para os mais desafortunados. Acreditava sempre numa solução alegre e batalhava por ela com todos os seus argumentos e todas as suas forças.

Altruísta ao ponto de esquecer-se de si e focar totalmente no objectivo. Obcecada…dirão os menos corajosos ao ponto de alcançarem feitos semelhantes. Sempre presente e disposta a ajudar o próximo sem pestanejar – uma supermulher que, neste mundo de comuns mortais cujo Super se resume à cerveja e gasolina, era ostracizada por uma sociedade incapaz de a compreender.

A DC Comics chamava-lhe Supermulher…eu trato-a por tu!

Só pode ser do frio…18/12/2016

“Saber gerir o tempo com quem gostamos”!

A frase saiu, no meio do diálogo, e eu gostei da maneira como o contexto realmente a fazia sobressair…acima de todo o resto, aquela frase obrigava a parar, contemplá-la, fazer um esgar de compreensão e, após muitos assentimentos com a cabeça, consegui continuar a ler.

No meio de tantas memórias: havíamos percorrido a nossa adolescência e chegado aos dias de hoje; revisitado lugares de outrora e tentado perceber como “encaixávamos” naquele contexto, ver caras de então mas com a idade de agora…Havíamos rido, chorado, soluçado, abraçado e, por fim, até improvisamos uma esplanada numa fria noite de Inverno.

O tempo voa…diz-se…mas há voos não planeados que nos levam ao mais belo dos destinos.

O sol bateu-lhe na cabeça…só pode! – 13/12/2016

Estereótipos, rumores e a realidade

O rumor ajuda a criar o estereótipo conforme aquele que o difunde – resta ao receptor ter a inteligência, caso a pretenda e saiba usar, de confirmar se a ideia que lhe é dada corresponde à realidade ou é apenas a ficção de alguém a denegrir outrem (o inverso – de criar uma pessoa fantástica que é apenas vulgar – também existe).
Vivemos – infelizmente – rodeados de pequenos episódios que têm o mais relevante dos dons: revelam-nos as amizades com que podemos contar e, com a mestria de um Poirot dos tempos modernos, podemos deslindar o mistério por trás de uma realidade que não corresponde à do sujeito(a) em questão. Basta, reforço a ideia, colocar a cabecinha a pensar.
Viver fora de casa durante 18 meses obrigou-me a recriar toda uma nova atmosfera num país diferente. Pese a barreira linguistica, a verdade é que consegui fazer grandes amigos e, usando a mente que foi feita para pensar, evitar todas as pessoas que se constituíam como um obstáculo ou que queriam ser um obstáculo – sem violência, apenas evitando…é muito mais fácil do que aquilo que parece!

 É com enorme prazer que vejo que alguns desses amigos voltam para me visitar! Para mim é um sinal de gratidão e que o algo que a minha amizade lhes tenha valido é agora recompensado com uma alegre presença. Dá vontade de encher o peito de ar de orgulho e sorrir para o mundo – como se fosse um escuteiro após ter cumprido a sua boa acção do dia.
Os amigos que cá deixei contam-se pelos dedos da mão e, salvo a família que é a nossa maior riqueza, dou por mim a recordar sempre os mesmos: com um enorme orgulho e com a dúvida: porque é que me aturam?!?! 🙂 Obviamente é sempre com eles que partilho o meu tempo! Debatemos tudo…do útil ao inútil sem nunca esquecer a nostalgia de outros tempos: seja no muro da esplanada de Espinho, seja numa esplanada em Atenas!
Achei que a amizade era o melhor dos tópicos para vos desejar a todos um Bom Natal.

Paixões por palavras

Não faço ideia como começou mas houve empatia. Trocamos imensas mensagens triviais de conteúdo mas divinais de paixão. Talvez as palavras não correspondessem aos actos mas era só de palavras que se tratava e se havia algo que ele pretendia era passar das palavras aos actos – sem conotações sórdidas. Aos actos belos que o ser humano tem: ao abraço bem apertado, às carícias bem direccionadas, aos beijos bem impetuosos, aos olhares que, para além de cativarem, demonstram que todas as defesas estão em baixo e a entrega a outrem é total.

A ausência física era obviamente o maior dos entraves – superada esporadicamente pela comunicação via internet em que duas faces se podem olhar, trocar impressões mas as emoções ficam reféns do canal que não permite que elas sejam transmitidas de maneira tão adequada quanto a presença física. Talvez sirva como uma espécie de catalizador para uma chama que tem que ser consumida muita em breve ou extinguir-se-á por falta de oxigénio…

Houve juras de amor e futuro, de partilha e solidariedade, de caminho de mãos dadas em direcção ao pôr do sol…tudo.  Houve zangas e atritos, desavenças e mal entendidos, tudo! Como se de algo presencial e verdadeiro se tratasse e pudesse ser desenvolvido de maneira a tornar permanente a presença num futuro próximo.

De repente o contacto cessou! Os email’s deixaram de chegar, o envio deixou de ser possível e toda e qualquer tentativa de aceder a um website tornou-se impossível. Seria este o trágico fim de tudo?

Devia ter pago a conta da Internet…

Closure will set you free

A idade pode não te dar a maturidade toda do mundo mas dá-te a grande capacidade de ver melhor – novas perspectivas, novos ângulos, cenas “graves, muito graves”, conspirações e atribulações.

Conseguir apreciar algo, a partir de diferentes perspectivas, aguça o nosso conhecimento e agiliza a forma como nos comportamos de aí em diante. Aproximamo-nos da natureza não como uma batalha de outrora mas na serenidade do agora. Rimo-nos do que é belo e pensamos nos pequenos detalhes que o terão tornado possível – certamente terá que ter havido alguma imbecilidade, ou pelo menos algum humor, na criação do mundo ou não teríamos tanto para descobrir e com tanta piada pelo meio…

Hoje decidi apreciar, com sorrisos, todos os olhares que tive. Poderei ter parecido um louco pela rua mas o que os outros pensam só a eles pertence e eu resolvi ocupar a minha mente com esse exercício. Foi hilariante porque realmente o sorriso é contagioso e mesmo o olhar – sobretudo quando paramos para apreciar algo realmente belo – é algo inesquecível…quer na forma como agimos, na lembrança que nos deixa, na maneira como nos toca…é único, só nosso e nunca haverá duas percepções completamente iguais da mesma observação.

Foi o exercício de um dos sentidos…que me deu sentido (perdoem a redundância). Foi o querer ter uma memória digital de tudo o que me rodeia e ter, na minha cabeça, a unidade de armazenamento. Enquanto discorro por algumas das imagens, obviamente mentalmente, esboço um sorriso de refugiado em Atenas (devido às sucessivas greves nos barcos, autocarros e aviões) feliz por ter descoberto por onde andar. Amanhã certamente darei passos mais experientes mas o desflorar a virgindade do acontecimento não ficou manchada de sangue e deu azo a uma nova vida.

Desabafos de um expatriado – 12/10/2016

A sentença

Entrou na sala, olhou-me nos olhos e baixou a cabeça. Algo de grave se passava pois nunca antes havia reagido assim…De análises na mão e após a profissional apalpação o diagnóstico estava feito e a cabeça baixa não era um bom augúrio.

Henrique, disse soluçando entre o grego perfeito e o inglês enferrujado, o que tenho para te dizer não é nada fácil…Olhei para os meus sapatos e vi que tinha calçado sapatilhas. Engoli em seco e preparei-me para o pior…”Vais precisar de uma dieta rigorosa durante os próximos 5 dias” – os olhos dela, lacrimejantes após proferir essa palavra proibida na Grécia, estavam avermelhados e a comoção apoderou-se de nós.

Cinco dias completos, perguntei eu e ela, soluçando entre lágrimas, sussurrou um “Sim”… tão leve e tão baixo que quase pretendi não ouvir. Mas tinha ouvido e, de sentença proferida, encaminhei-me para a porta… condenado a cinco dias de dieta – sem condicional, sem pena suspensa, sem recurso!!!!

Hoje é o último desses dias e celebro com uma dourada grelhada e uma batata cozida – vicissitudes da amizade criada com o cozinheiro chefe. Há muito tempo – desde a Casa Marques, nos idos anos 80 – que não via uma pessoa cozinhar e servir com tanto amor e carinho pelos clientes. Bem haja.

Foi uma intoxicação alimentar mas já está tudo bem. Obrigado.

Arrepios, lençóis e cobertores…

As pessoas passam na rua com os primeiros casacos, as crianças circulam nos carrinhos já cobertas com algo, há espirros e as folhas começam a cair ou a ser cortadas pelos serviços camarários. Já não sais de casa com os teus calções e tshirt e passas o dia a destilar, a água continua a ser companhia obrigatória e a primeira coisa que te é servida assim que te sentas.

As havaianas parecem estar geladas nos teus pés e, quando descobres os teus chinelos de inverno, constatas que tens que comprar uns novos. Procuras o edredão – que desde Março anda alheado do teu contacto – e colocas junto à tua cama como complemento do conforto que queres ter enquanto dormes. Adormeces descoberto e acordas coberto, espirras, olhas para as meias e sentes que vais ter que voltar a usar aquele complemento para te sentires um pouco mais quente. Essa necessidade de te sentires quente, que durante 6 meses a natureza te deu naturalmente sem que a roupa fosse sequer um acessório necessário – não fora o pudor da vida em sociedade – regressa como um arrepio que negas a princípio mas sabes não poder controlar, no final.

As amplitudes térmicas regressam e sais de casa para um dia de praia e regressas a casa como se voltasses de um dia de inverno. Imaginas-te uma criança rebelde – porque ousas tomar banho num mar que os locais já designam de muito frio – mas sabes que essa rebeldia vem de um hábito caseiro de quem passou tantos anos a descer 10 quarteirões para dar um mergulho – de tshirt, calções e havaianas – num Atlântico tantas vezes referido por atletas de alta competição como sendo uma virtude para quem tem que competir nadando nas mais diversas temperaturas. E recordas todos os mergulhos que deste fora de época e o gozo que cada um deles te deu.

Voltam as grandes caminhadas e passeios históricos, desaparecem as ventoinhas de alta velocidade (e com água) e retornam os aquecedores de grande potência. Ansiavas que o inferno do Verão passasse – e finalmente conseguiste o que querias – e agora desejas apenas que o frio passe e o calor volte – não o infernal mas aquele equilíbrio anterior a Julho e Agosto que te permite sentires-te como o Tarzan – numa selva urbana e desregrada a que agora chamas a tua casa, o teu país de adopção, o local onde respiras melhor e os teus sorrisos são mais honestos.

Voltam os amigos que estiveram retirados em ilhas durante o inferno do Verão, aparecem novas caras e novos amigos, os locais mudam da beira-mar para o interior, as trovoadas – nunca ausentes, mesmo durante o Verão – são agora mais baixas do que nunca e a multidão já não vem para as varandas como o fazia no Verão – em que o desejo de algum ar fresco levava a essa atitude infantil de saudar a chuva como se num deserto vivêssemos.

Ligas a caldeira 30 minutos antes de tomares banho – algo que havias abandonado em Março – e a água quente tem exactamente o mesmo efeito relaxante que a fria teve ao longo do período de calor. És mais célere em termos de escolher e vestir a indumentária para o dia e o casaco passa a companheiro inseparável. Acordas mais tarde ao fim de semana pois o calor já não te incomoda e o edredão coloca o teu corpo na temperatura ideal para descansares. Sorris – não porque não gostes do Verão mas porque constatas o quão belo tudo isto é – as estações do ano, a chuva, o Sol, os pássaros a baterem em retirada para o norte de África. Ouves as histórias do povo Grego que te amedronta dizendo que o Inverno passado não foi nada comparado com o verdadeiro Inverno Grego…pensas novamente nos chinelos novos que tens que comprar e começas a duvidar que só um edredão seja suficiente. Sorris com eles – que imediatamente abrem as portas de suas casas caso sintas essa necessidade e não estejas preparado para o rigor da estação que se avizinha. Obviamente falam em comida, em bebida e numa alegre conversa pela noite dentro…e assim adormeces, com um sonho de conforto digno de quem se sente bem na companhia deste povo.

Aquele abraço.

Saudade

Saudade é chegar à nossa cidade e correr para aquela miúda dos teus sonhos e, por entre todo o líquido, dar umas boas trincas que enchem o teu coração. Amansar os ânimos com uma loura muito dada a frescuras e dar um grito de prazer no final. Uma orgia de trincas, de goles e de sorrisos…

Une-se uma francesinha a uma Super-Bock e dá nisto…

Táxis…

Deve haver milhões de histórias de taxistas que, por falta de jeito, tempo ou memória, ficam por contar. Esta aconteceu-me e ainda sorrio quando me lembro dos detalhes…

Tendo acordado tarde havia só uma maneira de chegar ao emprego a horas…o táxi! Os táxis aqui têm uma corrida mínima de EUR 3,50 e só mesmo em grandes distâncias ultrapassamos esse valor.

Assim, e jogando pelo seguro, abri a aplicação Taxibeat (que aconselho a todos) e chamei o taxista que falava inglês que mais perto de mim se encontrava. Passados os 4 minutos que a aplicação indicava eis que surge o taxista no seu Mercedes sem a grelha da frente mas com os vidros fechados (bom sinal…o gajo vem com o ar condicionado ligado). Entrei e falamos do trivial de onde vens? Portugal. O Fernando Santos é o maior…aprendeu aqui e etc…

A dada altura da conversa amigável que decorria, após ele me ter perguntado o que eu achava dos espanhóis e eu ter respondido que tinha a mesma opinião que eles tinham dos turcos, a conversa descambou pelas agruras de conquistas passadas!

Vamos a isto…

Turcos? Não sei o que são e o único turco bom é aquele que não me aparece à frente! Porque é que achas que me falta a grelha da frente do Mercedes? Juro que fiquei sem saber se haveria de rir, esboçar um sorriso ou saltar do carro em andamento!!!! Mas ele lá esboçou um tímido sorriso – como quem diz “é a brincar e tal, não é nada”… – e lá seguimos viagem! Aquele homem, com cara de santo em corpo de lutador de Sumo, travou a fundo na avenida em que seguíamos e começou a apontar para o cóccix de uma jovem que atravessava a avenida. Kolara, Kolara dizia ele! E eu, com um grego ainda pouco desenvolvido, obviamente fiquei a saber que Kolara é cóccix em Grego (rabo, para quem não percebeu a piada).

Lá seguimos viagem e eu, face a um pacifista de coração tão grande, arrisquei tudo! Não sei o que me passou pela cabeça mas, assim que tinha acabado de fazer a pergunta, vi Guantanamo, a Síria e outros regiões do mundo em conflito como um bom sítio para se estar…

Vamos a isto…

Então…e a Macedónia!?!!?!? Juro que o pescoço dele se mexeu tipo o da miúda do “Exorcista” e gelei…
– A Macedónia não existe! O que existe é o FYROM (Former Yugoslav Republic Of Macedonia)!!!!
Por esta altura eu devia medir algo abaixo de 1 metro de altura e o gajo não parava de crescer! Eu parecia um liliputiano e o Gulliver ao meu lado ameaçava sair pelo tecto do carro (que, não sendo de abrir, também não parecia grande obstáculo…)

Amanhã? Acordo bem mais cedo e vou de Metro!

Porque há vento e pode ser que chova – 25/8/2016

Vantagens

Adoro os brainstormings Gregos – à volta de uma mesa de café há três sujeitos que debatem (não me perguntem o quê porque eles falam na língua deles) – o empregado de mesa chega e toma nota do pedido (cada Grego demora, em média, um minuto a descrever de que forma pretende o seu café e pedem sempre “para levar” – porque é mais barato e é um “jogo” aceite pelas principais cadeias de café) e berra para o balcão o que à mesa foi pedido.

A conversa é retomada – após a interrupção para o pedido – e os gestos continuam (são muito mais expressivos do que nós e, eventualmente, possuem uma linguagem gestual paralela para cada palavra). As caras são sempre muito sérias, num jogo de “feira da ladra” em que nenhum pretende perder a favor do outro – são certamente amigos mas, neste momento, trata-se de negócios…

Os cafés chegam e, pasme-se, há sempre alguma coisa que não está bem! Pode ser a falta de açúcar, o nível de açúcar, o cappuccino que não vem com o café extra pedido, etc…Um dos amigos pede ao empregado de mesa os copos de água em falta enquanto os outros dois continuam a conversa. Param, voltam atrás e sincronizam a conversa.

Continuo sem saber do que falam mas, pelo canto do olho, observo que estão agora mais à vontade no diálogo. Chega a água e sorriem. Entretanto uma motorizada, que obviamente circula no passeio, quase mata um jovem que circulava (também de motorizada) em sentido contrário.

Esboço um sorriso porque já não sou surpreendido e, qual local que não fala a língua, sorrio. Há uma gargalhada no café e acho que todos ficamos felizes porque o acidente não aconteceu!

Porque todas as sociedades têm as suas virtudes e defeitos – 24/8/2016

Guia rápido para quem pretende visitar a Grécia

1 – Pensa rápido e adapta-te!

2 – Não te armes em “Europeu de primeira” e coloques o pé na passadeira à espera que os veículos que circulam na estrada parem. O mais certo é nunca mais encontrares o teu pé!

3 – Os Gregos benzem-se antes de conduzir…tem cuidado!

4 – Não esfregues os olhos quando te deslumbrares com uma paisagem Grega! Acabas com nódoas negras nos olhos e sim, é mesmo verdade!

5 – Atrás de uma mulher grega há sempre um homem (ou ao lado…ou atrás); exactamente o mesmo se aplica aos homens gregos!

6 – Não tentes ganhar a um grego em termos de comida ou de bebida. Eles são profissionais e tu acabas de chegar!

7 – Arranja um cão para passeares (depois agradeces); cuidado com os gregos (ver ponto 5 e reflectir)

8 – Aqui não há alertas amarelos, laranjas ou vermelhos…está sempre um calor do carago (adaptação para evitar o vernáculo) e a vida continua! Oh, se continua…

9 – Cuidado quando circulas numa rua de um só sentido. Lembra-te do número 1…um grego poder-se-á ter adaptado a essa rua e circular em contramão.

10 – Não estranhes as amizades de todos os pontos do mundo, com todas as suas especificidades e diferenças. Adapta-te a elas como elas se adaptarão a ti.

De regresso ao calor…

Terminam hoje os 3 dias de ar fresco que habitualmente temos em Agosto. As temperaturas máximas e mínimas voltam a aumentar e volta também o tormento de ter que dormir com o ar condicionado ligado numa temperatura que quase nos permite dormir normalmente. Uma espécie de oásis de frescura num deserto de trintas e muitos…

Muito embora viva no centro – o que implica que qualquer viagem para ver o mar demore cerca de 20 a 30 minutos (ou 2 horas se quiser realmente mergulhar – já que os Gregos não aconselham a ida a banhos tão próximo do Porto de Piraeus) – tal não significa que não esteja constantemente à beira-mar. E os dias têm sido de uma frescura (cerca de 22…23) ao nível das melhores noites Espinhenses em que, ao contrário do que os teus progenitores sempre te disseram, esqueceste a camisola e o casaco pelas costas e tiveste uma noite agradável – que às vezes até terminava com aquele mergulho nu nas águas da Baía…(ouvi dizer…).

Incrível a quantidade de trintões e trintonas com que nos cruzamos à beira mar à procura dessas bolas e desses bonecos que tanto pretendem derrotar. Mérito de quem criou um jogo que os faz andar – pela madrugada fora – à procura de seres imaginários – nitidamente um exercício de fé dos tempos modernos.

Estou claramente a precisar de uma ilha e o próximo fim de semana terá de ser de vingança em relação a essa necessidade. Já saudoso da visita dos primos – particularmente daquele trio de jovens que tão bem sabe crescer – o João, o António e o “primo adoptado” Álvaro – e que nos fazem mexer muito para além do que estamos habituados e nos dão mostras claras de que o futuro está bem entregue! Voltem sempre!

A melhor coisa deste tempo fresco? Podes fazer praia como uma pessoa normal sem teres que te preocupar com o excesso de calor, beber 3 garrafas de 1,5L de água como quem bebe cerveja num sábado à noite e, muito tranquila e sorridentemente, descansar enquanto lês uma obra de Camilo nas praias gregas.

Uma espécie de sumário…15/8/2016

Aritmética de uma noite fresca

Fazes as pazes com o passado porque um acento está mal colocado, conheces alguém extraordinário e exclamas que deve ser um engano, gritas que o mundo está louco mas não te apercebes que a loucura dele é por ti.
 
Passeias à beira-mar, na única das três noites de Agosto em que o tempo te relembra a tua cidade, todos invejam o teu caminhar seguro e feliz, dás saltos de alegria e beliscas-te para te certificares de que não se trata de um sonho. As negras dos beliscões são apenas marcas de boa disposição e, mais uma vez, sorris.
 
Não dependes de ninguém, estás num país que cada vez mais é o teu e sorris quando entendes o diálogo de um grupo de jovens que está sentado num banco pelo qual passas. Aliás, todos sorrimos.
 
Não dás pelo tempo e o tempo não dá por ti…porque haveria ele de dignar-se fazê-lo? És intemporal na medida em que o tempo não é medida para ti neste momento. Como ousas desprezar o tempo? Sorris…não se trata de desprezo mas tão só consideração mútua – em que os dois chegaram a um acordo tácito de, por um momento sem medida, não se terem em conta.
 
Sorris…e dormes com esse sorriso na noite fresca de Atenas.
 
Nunca, mas mesmo nunca, questiones o teu sorriso!
 
A imaginação é a mais forte das convicções! – 14/8/2016

Blondes…

She’s blonde…

– Avoids eye contact;
– Always tries to be near but without directly addressing me;
– I love to dream about how she’d feel if I held her;
– Always smiling;
– Slippery but tasty;
– A young and unstoppable rhythm;
– Closed stubborn face as if I was not a part of her world…

You really have to love beer………..😁

Alegre surpresa

Não conhecia a cidade e, em jeito de confissão, já mal me recordava do conterrâneo que nela vive. Não me apetecia ficar em casa (que novidade…ahahahah) e, perto do destino, havia uma obra de arte da engenharia que eu só havia visto em documentários.

Habitualmente só uso o autocarro para deslocações ao aeroporto ou na volta do mesmo mas, desta vez, era definitivamente a melhor opção. A viagem durou duas horas e meia e, cansado mas curioso, reencontrei a mesma pessoa que outrora conheci em Espinho – haviam passado cerca de 20 anos. Depois do abraço da chegada fomos explorar a cidade que, não sendo minha, “obriga” a uma certa submissão a quem a conhece melhor. E ainda bem que assim foi!

Patras não é uma cidade bonita mas está cheia de pessoas bonitas – uma espécie de karma citadino em que há um balanço perfeito entre a imperfeição da cidade e a beleza das pessoas. Confesso que vi, e nalguns casos memorizei, mulheres muito bonitas numa concentração, em número, tal que mais parecia estar na partida de um grande prémio rodeado de beldades…e inteligentes! Uma combinação muito difícil de descrever mas que deixo à vossa imaginação.

Houve tempo para confraternizar, para conhecer novos lugares, para fazer praia, para comer em locais diferentes. Patras tem uma vizinhança que se estende junto ao mar e que merece uma visita…ou mais. Lá voltarei e alugarei um carro para ver o que me faltou.

É verão e a cidade estava muito aquém do que é a população residente habitual mas a amostra que tive obriga a voltar. Algures numa parede estava escrito “orgulho nortenho”… talvez fosse só isso o necessário para me sentir bem e em casa.

Um muito obrigado ao David e à Maria por me aturarem. Prometo voltar para ver a cidade em todo o seu esplendor.

Saudosismo de uma cidade recentemente visitada…o costume! 😁 🇬🇷

Recursos hídricos

Era noite e ele recordou a vez anterior em que tinha sofrido com aquela situação. Tudo parecia estar a ficar cinzento e a vista turva era a confirmação… ele soltou uma lágrima.

Retirou-se discretamente para um local mais afastado dos amigos com quem havia saído e imediatamente constatou que as lágrimas corriam desordenadas pela face ainda quente da exposição solar.

Não queria perturbar mas aquilo incomodava-o profundamente. Havia meses que não passava por isto mas a recordação estava sempre presente e, qual Wile E. Coyote & The Road Runner, ele correu rua abaixo num pranto…

Chorou, compulsivamente, como se estivesse a presenciar o pior dos cenários. Chorou como se só o choro pudesse trazê-lo de volta.

E…conseguiu! As lágrimas fizeram as lentes de contacto descolar e ambos foram felizes para sempre.

Devaneios de uma noite quente – 31/7/2016

Porque não te calas tu?!

Que a viagem ia ser longa já o sabia… não sabia que viajaria num teco-teco, do estilo dos que aqui usamos para chegar às ilhas, na ligação Porto-Lisboa.

Que agradável surpresa foi aterrar em Lisboa num aeroporto com o nome de um dos heróis que ousou desafiar o poder – senti-me com força apesar do sono que começava a instalar-se. Foi bom constatar que o Aeroporto Humberto Delgado tem salas para fumadores… dá-lhe um certo ar democrata!  😉

Nunca gostei das partidas de aeroportos – há sempre algo que fica, independentemente de ser uma coisa, uma pessoa ou um local. Começo a desconfiar que há em mim um romântico incorrigível em regressão… ahahahahah

Chegado a Atenas foi muito bom voltar a falar Grego, sentir o habitual calor e humidade. Posso adorar os momentos frescos da minha cidade mas esta cidade “adoptiva” tem demasiadas virtudes para serem desprezadas.

Quanto mais aqui escrevo mais a certeza tenho do título do blogue – não é um ataque a ninguém (perder tempo com isso é um processo que só idiotas utilizam) mas tão só uma constatação… há realmente palavras que só a nós pertencem e que doravante serão os meus segredos. Dos maiores gozos que podemos ter na vida: o que é a nossa intimidade e como a preservamos e o quão pequenos e passageiros somos neste universo.

Hora de descansar um pouco e sonhar.

Aquele abraço.

Do regresso à partida…

Se o hábito de viajar de madrugada já se enraizou nada fazia prever aquela chegada…ao lado da Mãe estava o jovem com quem diariamente falo via Skype mas…da mesma altura da avó! O que havia acontecido ao jovem que eu havia visto no natal passado? Cresceu o gajo…

O jovem alto abre a boca e, num misto de voz de criança e voz rouca de adolescente, exclama “Pai”! Sei agora que se trata do meu filho, com mais 10 centímetros de altura e um “problema” de voz que claramente indica que o menino ficou para trás e agora o homem é quem mais ordena! É obvio que chorei…seria insensato e insensível não o fazer…e fui obrigado a percorrer a lateral do Aeroporto de Pedras Rubras para ter tempo para recuperar. O abraço foi longo e bem apertado e com umas achegas juvenis – discretamente tossidas – com as palavras “Pai, controla-te que há gente a ver”! Explico que os aeroportos são talvez dos pontos de encontro em que a sensibilidade está mais “à flor da pele” e continuamos, de mão dada, até à entrada das chegadas.

Espirro mal passo a porta e me encontro no exterior e exclamo “Maravilha, está fresco!” – vinha com esta ideia na cabeça – a de ter uns dias de frescura face às altas temperaturas diárias de Atenas em que o pós laboral é passado em exercícios para refrescar o corpo e a mente. Respiro o ar de Pedras Rubras e vamos para o estacionamento. Regressamos a Espinho e o jovem da voz “alterada” já quer ir no banco da frente…

A agenda de um expatriado assemelha-se muito à de um Garcia Pereira em tempos de casos bombásticos – salvo os Panama Papers que nunca mais ouviu falar – e a chegada é celebrada com um mergulho na Praia das Sereias – ao Pai falta-lhe a adaptação mas ao filho não falta a genica para mais mergulhos…o Pai tenta acompanhar mas depressa vê que já está com “pele de velhote” e frio…seca-se enquanto observa o filho a dar mais uns mergulhos entre palavras de gozo por uma água que ele diz “estar quente”…

Adorei ver o meu irmão soprar 55 velas – haja fôlego – e poder celebrar o casamento de uma prima muito querida na companhia de toda a família. Uma noite e manhã memoráveis na companhia do melhores e dos que nos são mais queridos – Bem haja “Tio Paulo” pelo atenção ao detalhe num casamento de perfeita comunhão de famílias e amigos. Muito obrigado.

Enquanto preparo a mochila para o regresso esboço sorrisos pelos bons momentos que muitos de vocês me providenciaram. Sem dúvida que o tempo é o nosso bem mais precioso e é preciso ter a maturidade suficiente para saber sempre com quem o queremos passar. Obrigado a todos.

É chegada a hora de um último mergulho, da Francesinha, uns finos e…aviões. Sem turbulências e com muito vento a favor certamente estaremos juntos em breve.

As maiores felicidades a todos. Um brinde bem alto. Cheers!

Porque o sonho comenda a vida…27/7/2016

E lá foi ele para uma ilha…

Viver num país de ilhas é como ter um pátio diferente onde brincar…fim de semana após fim de semana…e explorar as novidades dos “novos brinquedos”.

Zakynthos foi uma maravilhosa surpresa! Chegado na sexta-feira, após um voo de 55 minutos, eis que me deparo com a primeira contrariedade – o transfer do aeroporto para a cidade (que dista 2 Km do aeroporto) tem um custo de EUR13! Está inserido no rol de coisas absolutamente idiotas que a Grécia tem, isto é, os taxistas unem-se e estabelecem que a bandeirada mínima é de EUR13! Em Atenas, capital do país, para se gastar o mesmo montante de táxi temos que, no mínimo, chegar a 30Km de distância…enfim, parvoíces de quem é nitidamente amador num país em que, fosse o turismo gerido por profissionais, seria o único destino turístico do mundo – tal a diversidade de locais maravilhosos para visitar. O Taxibeat – aplicação que tanta vez me faz evitar taxistas sem escrúpulos, não trabalha na ilha e, dado o cariz agressivo dos taxistas locais, percebo que se a Uber ou algo semelhante aparecesse  por aqueles lados…imediatamente seriam chacinados (no mínimo).

Mochila pousada no hotel, ainda fresco para explorar a cidade, eis que percorro os cerca de 500 metros que distam do hotel ao centro. A noite é tipicamente grega e todos os cafés e restaurantes estão cheios sendo que alguns bares já começam também a encher…opto por um restaurante central e com uma ementa diversificada que me conduz a uma boa costeleta, com Tzatziki e uma batatas fritas para acompanhar – os legumes já lá estavam e soube-me muito muito bem o acompanhamento da Heineken fresquinha. Refeição concluída e faço uma rápida inspecção pelos bares da praça central e, após uma cerveja num deles, resolvo recolher…afinal estou cansado e amanhã ainda tenho que alugar o carro pois quero conhecer tudo pelo meu horário e com base na minha inexperiência da ilha perder-me em locais que possa reter na memória. Chegado ao hotel vejo um Grego a conversar com 2 chinesas e descubro que estão a combinar a expedição a Navagio para domingo…meto conversa e consigo apalavrar um carro para o dia seguinte de manhã, entregue no hotel…óptimo, posso descansar!

Acordo no sábado, depois de uma das melhores noites de sono de que tenho memória na Grécia, para tomar o pequeno-almoço e constatar que o carro já foi entregue! Duche rápido e eis o vosso humilde narrador nas estradas – que não são muitas – da ilha. De mapa de turista na mão, mas de roteiro já bem interiorizado, estou ao volante com a confiança de um local mas com a pequena contracção de ser um turista…ou viajante? Nem sei, sei que adoro observar tudo e demoradamente e, muito provavelmente, serei uma pessoa muito diferente de todas as outras na maneira como abordo e aprecio o que me rodeia – o que me faz sentir imensamente bem porque o faço à minha maneira, com a minha falta de método e sempre com resultados que – para o júri que sou eu mesmo – são sempre espectaculares. Por tentativa e erro dou por mim no extremo norte da ilha onde encontro uma praia pequena (Makris Gialos) onde decido ir – há um café do outro lado da estrada o que é fundamental em dias de calor como os que tive. A praia era maravilhosa e diverti-me a meditar, tirar fotografias às minúsculas ondas e à sua transparência e a constatar que o braço esquerdo começava a ficar afectado pelo “bronze de camionista” – que é um rótulo super giro para quem conduz debaixo do sol e se esqueceu de colocar creme protector sabendo que iria precisar…coisas que tenho que continuar a educar-me até aprender.

Saio da praia e como algo no café do outro lado da estrada…sou o único turista e está tudo a ser estreado para a época que se avizinha. Um misto de sensações e cheiros de mobília nova, a maresia, o sol…maravilhoso! Hora de voltar à estrada e chego ao miradouro de Navagio Beach…até salivei com a vista! A vista é maravilhosa e o azul claro de Navagio Beach contrasta com o azul mais escuro do mar que se consegue ver justamente atrás do rochedo que delimita a praia e a torna acessível só por mar. Eu não acredito muito em rankings de coisas – pois acho que é tudo uma questão de gosto e o quão bem nos inserimos naquilo que está a ser classificado – mas senti que estava a ver uma da mais belas praias do planeta. Continuei a salivar quase que a querer antecipar a visita do dia seguinte.

Continuei a minha descoberta e cheguei a Keri, ao antigo farol, de onde se vê o mais belo pôr do Sol – a não perder e é algo que terei que repetir! Atravessei a ilha – usando a única estrada disponível nessa parte – até Laganas onde se situa o santuário das tartarugas e que merece uma visita (desde que não seja à noite). Percorri toda a costa até chegar novamente ao centro – completamente estourado mas com um sorriso de sucesso ao nível de um Vasco da Gama! Tinha os olhinhos a brilhar – como que a agradecer as belas imagens – o coração cheio – como que a dizer “Obrigado por um dia muito bem passado” e a alma recheada de memórias para partilhar mas, acima de tudo, recordar com saudade. É hora de jantar e escolho novamente a praça para o fazer – o restaurante ao lado do anterior e com a escolha a recair no peixe fresco que me soube muito bem. O empregado resolve oferecer uma cerveja para além da que eu tinha bebido e constato que realmente estou cansado e o melhor é mesmo ir para o hotel pois o dia seguinte começa às 8!

Uma campainha estridente, pessoas a correr e…acordei! O que raio se passa?!!?!? Saio do quarto e sofro uma pancada de uma freira em camisa de noite…ela grita e eu…também! O que raio se passa????? Desço à recepção e descubro que a luz falhou…é uma falha geral na ilha e o alarme que está a soar é da cozinha do hotel (deve ter sido um surdo que fez a montagem do alarme pois, muito provavelmente, ouve-se na ilha inteira!) São 6 da manhã e aproveito para dar uma volta junto à praia e fotografar o nascer do sol. O tempo passa sem que a luz volte e eu resolvo investigar onde posso tomar o pequeno-almoço uma vez que o hotel não tem gerador…Após o repasto de frutas e iogurte grego chego ao hotel e é hora de partir. Vamos às grutas azuis…

O dia de domingo é passado entre barcos, na visita às grutas azuis – onde nadei – e Navagio –  onde obviamente me deliciei com o azul da água e a sua temperatura! É uma praia de sonho e o nadar nas grutas permite-nos ver a transparência da água enquanto estamos no meio dela – imperdível. Fui o condutor de serviço de um dos carros da excursão – eu era o Europeu, havia uma Americana de Seattle e 14 chinesas. Outra ida a Keri para vermos o mar e fotografar e acabamos por fazer – juntos – um roteiro muito semelhante ao que eu havia feito no dia anterior mas com mais “conhecimento de causa” pois tínhamos um guia local.

Voltei a Atenas muito contente com tudo – apesar da noite mal dormida – e consegui outra noite de sono espectacular. Estava cansado mas pela melhor das causas – a minha satisfação!

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Aquele abraço.

Henrique Milheiro da Costa Correia de Matos

A linguagem, o alfabeto, as vicissitudes da comunicação.

Aquela vulgar tarefa de cortar o cabelo pode tornar-se em algo não rotineiro quando, pela enésima vez, tens que explicar como pretendes que o cabelo seja cortado. Explicas com um ar de “o mestre da tesoura, ao longo do corte, vai lembrar-se de como cortou da última vez e sairei daqui um modelo” – tal como da última vez. E deixas que ele execute a sua tarefa sem te imiscuíres naquilo que é a rotina dele e a sua profissão – daí ele ser designado como um profissional. A verdade é que eu, ao longo do corte, falei com ele, confesso! E, pelo que agora vejo no cimo da minha cabeça – que é muito pouco – devo ter dito algo como “Mais curto, mais curto”. Eu empolguei-me, ele deixou-se empolgar e o resultado não está à vista porque estou quase sem resultado para ser visto!

Saí do cabeleireiro e comecei a sentir comichão nas orelhas – uma espécie de brisa que anteriormente não estava lá – e, pensando que estaria a andar rápido de mais, suavizei o meu passo. Mas, as novas correntes de ar não cessavam de rodear a minha cabeça…”primeiro estranha-se e depois entranha-se”…realmente é verdade. E comecei a brincar, qual criança a quem deram um brinquedo novo, com a aerodinâmica do novo corte de cabelo – ora acelerando o passo, ora suavizando, ora andando e voltando a cabeça…quem me visse poderia apelidar-me de louco mas a verdade é que me diverti à brava com os diferentes barulhos que a brisa do meu caminhar produzia. Sorri…muito e continuei a caminhar. Continuo a descobrir novos sons consoante os novos ângulos que, por força da natureza humana, acabo por irreflectidamente produzir. Aconselho um corte curto, a todos, só pela descoberta…Um “must”!

Após algumas horas, com a nova aerodinâmica, senti que andava nas ruas de olhos “colados” no chão. Porque tombava a minha cara nessa direcção? A questão estava a melindrar-me…estaria insatisfeito com o novo corte? Andaria triste? O que fazia com que, inevitavelmente, olhasse o chão? Foi ao cruzar-me com um espelho que descobri a razão…o cabelo tinha ido mas a barba permanecia e, atraída pela gravidade, levava a que a cara tombasse na direcção do chão. Livre de todos os pelos na cara eis-me novamente equilibrado e pronto para mais uma semana.

É tão bom adaptarmo-nos a algo novo – tal como descobrir a razão de um problema antigo…às vezes é apenas um cisco no olho que nos faz chorar! A importância das coisas pequenas nos sentimentos grandes. É bom viver na Grécia…pensa-se mais!

Boa semana.

Aquele abraço.

Henrique Milheiro da Costa Correia de Matos

Perdido para me achar…

O titulo soa a antítese mas a verdade é que sem nos perdermos não podemos chegar à conclusão que o rumo é o correcto (excepto quando chegamos ao destino o que, na vida, pode ser tarde para descobrir que aquele não era o destino correcto).

Sempre consegui ser desregrado e cumprir com as regras. Até um ponto em que as regras se impunham e eu não consegui deixar de ser desregrado. Se há coisas belas na vida uma delas é a liberdade que temos e que, enquanto adolescentes, é fruto da liberdade que nos dão e também a que consegues conquistar face aos que te sustentam. E eu tive imensa…e talvez tenha conquistado para além, muito para além, daquela que merecia. Responsabilidade sempre minha já que, com a habilidade que a adolescência nos dá, aprendemos a contornar obstáculos e a viajar muito acima dos 120Km/h permitidos por lei. O pior é quando aparece uma Operação Stop…

Hoje bateu forte o saudosismo do mar e lá tive que ir para o Porto de Piraeus “matar” saudades. Entre turistas japonesas, a viagem de comboio – e, por fim, conhecer a estação, já que anteriormente fui sempre de autocarro – o reconhecer toda uma zona onde cheguei a 17 de Maio do ano passado. Não foi um recuo temporal mas apenas o voltar a passar por zonas que já conhecia e que sempre adorei e outras que, desconhecendo, juntei ao rol de coisas que passei a gostar.

Ver os navios a partir – alguns para viagens de 14 e mais horas para Santorini e Mykonos – outros a chegar – as pessoas com caras felizes, mas cansadas, ansiosas por voltar à origem mas, ao mesmo tempo, já saudosas dos bons momentos que passaram. E vês tudo isso na cara das pessoas – algumas delas com um sorriso imenso na cara, outras com o cansaço feliz mas já com a consciência do regresso ao trabalho – de corpos carregados pelo descanso e emoções do fim de semana. É algo reconfortante de observar.

Tenho o meu local de eleição para descansar, ler, tomar café, almoçar tardiamente e esse não mudo. Não é de certeza o mais barato da zona mas é o que maior paz interior me dá. O serviço é rápido, a vista é da barra da marina e a zona escolhida não tem nada que te possa incomodar. O Sol sentia-se bem e um ligeiro mudar de posição impunha-se de vez em quando. Ainda tenho a imagem mental do lindíssimo veleiro a entrar na barra, por volta das 19 horas, e a ultrapassar um barco mais lento enquanto o fazia. Parecia um barco de piratas, com uma enorme bandeira grega, a regressar a porto seguro.

Foi um domingo diferente.

Aquele abraço.

Henrique Milheiro da Costa Correia de Matos

O doce conforto de poder decidir…

Estava aqui a decidir se respondia ou não a um comentário provocador colocado no mural de alguém numa qualquer rede social. Não respondi…acho que todos têm direito a uma opinião e, por mais divergente que a minha seja, devo respeitar. É ainda e sempre o actual tema dos refugiados e é escrita por um jornalista que eu tenho como inteligente – não é o facto de termos uma opinião divergente que me fará mudar essa convicção – e chateia-me talvez mais por isso mesmo…por ter a certeza que alguém inteligente se deixou institucionalizar pelos media e se tornou mais um porta-voz deles…Mas as opiniões só são certezas quando os factos as comprovam logo…ambos podemos ter razão e tratar-se apenas e só de instinto. O debate pode degenerar em discussão e acabamos numa daquelas conversas que há habitualmente entre o sujeito que acredita que os aviões são perigosos e o que os utiliza habitualmente para viajar…de cada vez que há uma – cada vez mais rara – queda de um avião temos o descrente a dizer “Vês, eu bem te digo…”. São trocas de ideias demasiado futeis para se perder tempo.


A sensação que tenho das redes sociais é que a mentira será sempre usada enquanto houver inveja da verdade de outrem. Uma espécie de rumor dos tempos modernos…as pessoas quererão ver as suas opiniões, as suas refeições, os seus locais de férias, as suas indumentárias muito apreciadas e muitas, infelizmente, vivem em função do número de “Gostos” ou “Likes” que obtêm nas suas publicações (havendo por vezes, mesmo, um trabalho de Relações Públicas, por trás, que amplifica esse número e sustenta o ego). Da mesma maneira que recebem esse carinho não contribuem com qualquer interacção em murais alheios de maneira a não extrapolarem o número de apreciações sobre o modo de vida dos outros. Uma natureza “eu quero que adorem o que eu faço mas não teço considerações sobre o modus operandi do que os outros fazem” que leva a que os outros deixem de interagir com esse alguém. É a antítese da sociedade global pela qual todos deveríamos lutar…É uma opinião, a minha. Já sei que vais discordar….:)

Verdade seja dita que as redes sociais permitiram uma aproximação das pessoas. O contacto está à distância de um clique e, de uma maneira muito simples e rápida, podemos estar em contacto com quem desejamos. Temos a possibilidade de trocar experiências e conhecimento com gente dos antípodas de onde nos encontramos e planear muito melhor uma viagem – por exemplo – com a ajuda de gentes locais que sabem muito mais do que aquilo que o Google consegue descobrir. E é assim que vou fazendo os roteiros das minhas viagens – com uma “cunha” à pessoa que vive mais perto do local e que me pode corrigir as imprecisões de turista e fazer de mim um viajante. Sem elas não teria conhecido locais que conheci, pessoas com quem interagi (concordando ou discordando), o contacto permanente com a família em Portugal e a possibilidade de os avisar de cada vez que dou “um salto” a um local diferente – não que eles achem estranho (porque já conhecem a minha natureza) mas porque sinto que lhes devo esse conforto.

Cada vez mais sinto que escrever é o melhor exercício de auto-estima. Agora vou passear por Atenas e sentir na pele os 24 graus celsius.

Aquele abraço.

Henrique Milheiro da Costa Correia de Matos