É por entre as gotas que a lembrança se dá – as “abertas” em que não há água corrente e o céu permanece ameaçador mais não são do que pausas que permitem um inspirar fundo e relembrar todo o jogo de força que percorreste e te trouxe até aqui. As gotas grossas, que fustigam as janelas de vidro, como se pretendessem chicotear-te por teres ousado. Como ousas? Pareces escutar.
Os valores, sempre eles, como expoente máximo daquilo que ambicionas ser, os erros vistos como tropelias necessárias para uma aprendizagem completa. A chuva parece acelerar o ritmo, quando recordas as circunstâncias negativas, mas a tua experiência e destreza mental colocam-te num clima equatorial e extrais da recordação o quanto ela contribuiu para a realidade do agora.
O livro que jaz aberto a teu lado, sedento por um par de olhos que descortine nas palavras o sentido que o autor lhes quis dar, o céu cinzento que, apesar da hora, parece estar ao serviço da EDP no querer que ligues a luz para uma melhor compreensão dos parágrafos. A água que jorra do telhado para o jardim e se ouve a descer com ímpeto a canalização existente para o efeito.
Como se toda a natureza existisse numa simbiose tão perfeita e profunda que o teu único objectivo no universo fosse a procura da tua função nessa engrenagem tão perfeita. Vendo ladrões como seres menores e a amizade como o vínculo que mais progresso dá. Como se uma fotografia perfeita aguardasse a captura, através da tua objectiva da vida, que apelidas de memória. Sorris perante a procura constante que é, em si mesma, a mais profunda riqueza da vida: o conhecimento.
Um aguaceiro de ideias transpostas para um agregado de palavras – 10/3/2025
