Naquele passo de quem nada faz e nada tem para fazer, nos antípodas dos stressados com que me cruzo, com um sorriso sincero a cumprimentar quem conheço, de jornal debaixo do braço a desforrar-me de três anos sem poder desfolhá-lo.
Retiro os óculos porque não enxergo a esplanada, coloco os óculos porque quero cumprir o resto do trajecto em segurança, entro na padaria e constato que está cheia e que a esplanada vai demorar. Foco os olhos num rabiosque bem desenhado e a proprietária do dito saúda-me com um “não preferes tirar uma fotografia IKA?”.
As bochechas vermelhas denunciam a mentira contida na resposta – “estava a escolher o bolo para o pequeno-almoço!” – e ela, que não é daltónica e distingue o rubor da cara, ainda me atasca mais com um “é teu, sempre que o quiseres!” Finjo que escolhi um bolo e respondo “Sem dúvida que aquele queque é meu, e quero-o hoje!” Ela responde com um sorriso angelical e sabe perfeitamente o que eu sinto.
Trago um café e uma nata, sento-me na esplanada, que entretanto já está montada. Ela passa por mim e, com uma forma de estar super descontraída, exclama “Tu vais ter que te confessar a mim, é inevitável!” E é, ela tem razão. Mas será a seu tempo, quando o outono chegar e as folhas enfeitarem o caminho que percorreremos juntos.
Planos futuros – 14/9/2024
