A alegoria da tenda de circo.

O Alfredo era um homem de visão amorosa condicionada. A realidade dele resumia-se a toda uma vivência dentro de uma tenda de circo. Malabaristas, palhaços, animais da selva retirados do seu habitat para, no desconforto do ser um saltimbanco por obrigação, serem mostrados a quem nunca os havia visto no zoológico ou, pior ainda, a serem dominados pela ameaça de um chicote que os “educa” a mostrarem-se como o chicote ordena.

O número de malabarismo dava-lhe a ideia que o normal, na  sociedade que  talvez existisse fora da  tenda de circo, era os sentimentos serem divididos entre múltiplas pessoas. Como se um sujeito pudesse dividir-se entre múltiplos amores e, sem olhar a consequências para os miocárdios envolvidos, jogar com todos eles. O atirar ao ar um amor enquanto se despendia algum tempo com o amor  que entretanto aterrava e, imediatamente a seguir, atirar esse ao ar para receber o seguinte. Num exercício sem qualidade de sentimento mas com quantidade de sujeitos envolvidos, como se o reunir do maior número de amores passageiros fosse o fim para o qual a paixão e o amor existem. Era assim que o Alfredo via o amor porque era essa a única visão que tinha dele, estava condicionado pela única percepção de realidade que lhe era dada a conhecer e acreditava nela como sendo a verdade absoluta.

O número de magia e os palhaços mais não eram do que a superficialidade desse malabarismo. O malabarista podia desaparecer, sempre que lhe aprouvesse, e os palhaços seriam todos os restantes que acreditassem que a sua “ressurreição” seria o retorno ao amor que, sendo o único que conheciam, fazia deles palhaços por desconhecimento. Muito embora fosse o ambiente que os condicionasse, também há que culpar os indivíduos pela falta de procura pelo conhecimento – o não sair da tenda é, em si, um acto de cobardia e condicionamento permitido. O ser domado por um chicote, que é a ignorância do amor, no seu  estado absoluto. O ter uma claque de apoio constante num estado de espírito que não vai mais além e nem sequer se questiona…se todos me apoiam isso quer dizer que posso confiar em todos eles? E, dentro da tenda de circo, a confiança resumia-se ao que lhe era dado a conhecer, havendo uma só opção.

Da douta ignorância para o conhecimento – 31/7/2024

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