Soul vibrations.

Vibrações da alma, numa tradução livre do termo anglo-saxónico. O sentir alguém sem que necessariamente consigamos observar (ou até discernir) de quem se trata e, posteriormente, sem a necessidade de termos esse alguém presente.

A primeira vez que se recordava de sentir algo assim foi no segundo ano do ciclo – havia uma colega dele que, sem que ele a conseguisse visualizar, lhe detectava a vibração. Não se trata da vibração amorosa por outrém mas sim o sentir a presença de outrém sem que haja sentimentos agregados e podendo essa pessoa nem sequer estar presente.

Imaginemos que acordamos, de manhã cedo e fora do horário habitual, e sentimos que outrém também o fez – também acordou fora do horário normal, também sente algo e pensa em ti enquanto tu pensas nessa pessoa. Estabelece-se uma conexão metafísica qualquer e as duas pessoas ligam-se através de uma telepatia impossível de ser cientificamente provada.

Era assim que o Alfredo escolhia os seus amores! O carimbo final de aprovação de um futuro romântico dependia sempre do modem telepático conseguir estabelecer a ligação. Havia acontecido com a mulher com quem havia casado e com mais alguns exemplos pós-divórcio. Todos os amores anteriores ao casamento, salvo na idade da inocência – em que colecionava quecas como se pretendesse encher uma caderneta com todos os cromos que ia amealhando – haviam passado pelo crivo da ligação. Havia uma óbvia excepção – que havia de se tornar a sua melhor amiga, confidente, o ombro que ele gostava que ainda existisse para curar todas as suas maleitas amorosas.

O Alfredo, fruto da sua confiança no modem sentimental, depositava todo o seu miocárdio nos elementos que eram aprovados no processo. Numa espécie de confiança desmedida – sem atender à existência de tantas guilhotinas sentimentais – abria o coração e cedia cada pequeno vaso nervoso até ao mais pequeno dos capilares. O sorriso de enamorado do Alfredo era desmedido, destemido, orgulhoso, visualmente muito pujante – sendo que, apesar de só possuir um músculo para irrigar o corpo, o colocava na guilhotina sentimental a toda a hora. “Porque só assim é que vale a pena!”, foram as últimas palavras que um dia o ouviram proferir, horas antes de um planeado mas sempre doloroso bypass. 

Amores que só conseguimos imaginar que possam existir – 29/7/2024

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