A minha ideia de um ser supremo…

Tal como no “O ABC do Amor”, do Woody Allen, também aqui existiriam pequenos seres, dentro do nosso corpo, permanentemente em alerta. Ao contrário do episódio em que tudo se cinge ao acto sexual, aqui a totalidade do corpo humano era constantemente monitorizada, internamente, aferindo todos os níveis e, imediatamente e em tempo real, descobrindo a cura para as maleitas que afectavam o paciente monitorizado – seríamos todos pacientes e estaríamos permanentemente a ser diagnosticados.

A alegria – expoente máximo na medição da nossa caminhada humana – seria o diapasão pelo qual todos afinaríamos (numa espécie de “The Truman Show”, onde toda a realidade é idealizada para ser a ficção do actor principal). Tudo giraria à volta da alegria de cada um dos indivíduos, sem que invejas, ciúmes, ganâncias ou outros sentimentos menores influenciassem o desfecho do alegre momento de cada um, individualmente. Uma espécie de socialismo social, em que ao invés da economia seria a alegria a base do Estado.

Não haveria mortes, acidentes ou qualquer outro tipo de problemas que pudessem colocar em causa a alegria do indivíduo ou do todo, num equilíbrio só ao alcance de um juiz que, alegremente e ciente do poder da alegria, julgaria improcedente qualquer tentativa de destabilização do alegre status quo. A empatia seria a moeda de troca, com cada indivíduo a ter um saldo ilimitado, e a saída de cena uma opção que cada um tomaria, assim que achasse que a sua passagem por cá já tinha chegado ao nirvana que interiormente havia idealizado.

E depois da partida? Mercê de toda a monitorização, e feito o reset da memória, voltaríamos a ser colocados num outro espaço paralelo, enquanto éramos celebrados neste. Certos de que a passagem por cá foi apenas a afinação para a passagem para lá. Isso sim, seria uma divindade a ser celebrada, aperfeiçoada constantemente e, com uma alegria imensa, a servir de inspiração para gerações vindouras e existentes.

Divindades – 2/7/2024

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