O conta-gotas.

Era um jogo irracional e, humoristicamente, a plenitude para o sorriso aberto, honesto e feliz que ostentava. Irracional pela percepção dos transeuntes com quem se cruzava e de pleno humor porque só ele sabia que o jogo estava a decorrer, no interior da sua cabeça, sendo um segredo verdadeiramente trancado a sete chaves.

Com os cinco sentidos bem apurados, deambulando pela cidade, tinha que ter a certeza de cada gota de água que a chuva providenciava. Cada unidade tinha que ser, imediatamente, ligada a um momento da vida passada, presente ou futura, com a obrigatoriedade de ser um momento feliz, independentemente do desfecho. Soa a loucura? Só para não praticantes!

Visto de fora, e o humilde narrador é muito dado a sugestões externas (estou a ser irónico), deve ser algo muito bom para se poder apelidar o autor de loucura mas, sentido por praticantes, é o nirvana da alegria e boa disposição. Com os aguaceiros tinha vindo a aprimorar o jogo e sentia-se agora como um grego, campeão de gamão, disposto a enfrentar qualquer adversário numa panóplia de sorrisos que desafiam a má disposição.

Foi interpelado pela polícia, numa operação stop pouco habitual e, mercê das gotas que caiam, preso para averiguações. Sorriu, obviamente, enquanto era algemado e levado para os calabouços – não porque a situação fosse divertida mas tão só e apenas porque não ousou interromper o jogo!

A chuva miudinha – 17/5/2024

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