A imaginação de um Pai.

O camião “dobra a esquina” e, ao longe, vejo as cores do curso em que o jovem progride. O ritmo cardíaco associa-se ao sentimento amoroso e, numa arritmia de plena satisfação, vislumbras um jovem que dá um jeito ao cabelo. Esticas a lente até ao limite e, após uns segundos de contemplação, confirmas o que os olhos e óculos já te haviam feito desconfiar: é ele! O meu e da mãe, vem a conversar, está de sorriso aberto e, entretanto, recebo uma mensagem que comprova os factos – “Quase a passar” dizia e eu, armado em Cartier-Bresson, foquei a imagem do meu herói.

Uma série de recortes de imagens do progresso da vida dele passa pelo meu imaginário racional e, assolado pela arritmia de emoções, fico comovido e escondo-me atrás da câmara fotográfica, enquanto tento captar o máximo de imagens de um entre muitos colegas de curso. A senhora ao meu lado estende-me uma embalagem de lenços de papel e exclama “Chorar de orgulho e alegria é a mais bonita das reações que podemos ter enquanto progenitores!” Agradeço o gesto com um sorriso molhado e volto a esconder-me atrás da objectiva.

Um “thumbs up” confirma que o meu herói já viu onde eu estou. A resposta é um aceno e aquele sorriso aberto que só concedemos a quem nos diz tanto. O fotografado é interpelado pelos colegas, que se questionam sobre quem será aquele fotógrafo de sorriso tão denunciado, e o pedido de uma fotografia de grupo é o passo seguinte. Três polegares para cima denunciam a alegria que vivem e eu irradio felicidade pela alegria deles. Sabem estudar, sabem viver, sabem estar – voltam as imagens de todo o processo de crescimento do meu herói.

O dia é deles e eu apenas estou presente como conforto para alguém sempre tão ausente. Relembro o dia em que voltávamos do infantário e eu, parado no semáforo, exclamei um “anda lá velha!”, para uma senhora de idade que começou a atravessar a passadeira, assim que o semáforo verde “abriu” para os carros, pressionado pelos carros que, sem ângulo de visão, buzinavam atrás de mim. Chegados a casa, a mãe perguntou “O que aprendeste hoje?” e o meu filho confessou com o “anda lá velha!” Todos sorrimos com a sinceridade dele, a minha boca desbocada e o humor de toda a situação. Que nunca lhe falte a sinceridade e felicidade, é o meu único desejo.

Fui cortejado – 10/5/2024

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