A vista é para a estrada de uma vizinhança amplamente conhecida e a sombra provém de uma das poucas árvores poupadas pela besta quadrada que outrora presidiu aos destinos da cidade, os cumprimentos surgem naturalmente, o empregado de mesa adivinha o teu pedido. Há uma cliente que ajuda na gestão – levantando a louça e emitindo a sua sonora opinião acerca dos clientes que a deixam na mesa (a louça, não a cliente), assim que os clientes abandonam o local. Adoro, na minha mesquinhez humana, esses momentos: a honestidade vem à tona e arrisco – propositadamente – deixar a louça, pelo simples prazer de mais tarde ter que ouvir as considerações que teceu nas minhas costas.
Após ver o City of Angels, uma vez mais, consegui finalmente perceber que a biblioteca é em São Francisco e coloquei na agenda “a visitar”. Há algo de enigmático naquelas varandas viradas para a entrada – de arquitectura tão semelhante ao MOMA, mas com uma conotação muito mais interessante, porque profundamente sentimental. Já consigo ver o filme com um sorriso, com um sentimento alegre e profundo, de quem sabe que há realidades que extravasam o imaginário das películas. Não digo que foi o que o doutor receitou mas encaixou e encantou, neste momento específico da vida.
Sempre a evitar multidões e a delinear novos percursos para trilhar. Não com um sentido de ter que cumprir mas com um sorriso aberto de quem tem a possibilidade de os caminhar e, de forma utópica, conquistar. Deixando os olhos desfrutar para, de seguida, tentar com a câmara fotográfica captar – um alegre amador na arte da fotografia, almejando obter a minha percepção do que me rodeia, sem que qualquer valorização obtenha ou sequer a busque. Deitado, com os pés a apanhar sol nas meias, absorvendo uma temperatura que não é a real mas que entretém, num misto quente de adormecimento e satisfação.
Sonhos de uma tarde de primavera – 6/5/2024