As duas últimas covas.

A cerimónia estava marcada para o início da tarde mas, mercê de uma profissão com imponderáveis temporais, foi adiada uns 30 minutos – tempo suficiente para um café e um escovar de dentes. 

De botins colocados, e chegada a hora marcada, eis-me deitado, numa confortável cadeira gerida pela doutora responsável. Recordamos histórias da nossa geração – uma espécie de anestesia antes da real anestesia e, quando dou por mim, o queixo do lado direito já não dá sinal de vida.

Raspa-se, broca-se, limpa-se, aspira-se, seca-se, insere-se massa, seca-se novamente, até a cova estar novamente coberta e livre da cárie que, embora pequena, podia vir a dar problemas.

Mais umas histórias recordadas, mais umas gargalhadas trocadas, uns sorrisos como forma de recordar e demonstrar carinho por momentos ímpares das nossas vidas.

Beijinhos de despedida, agradecimento por todo o empenho no trabalho feito e eis-me, de queixo direto caído, mas sorridente como sempre.

A cáries removidas não se olha o custo – 24/4/2024

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