Era um pedaço do intestino, infectado, e só a remoção podia acabar com as dores, excruciantes, que instintivamente o levavam a colocar a mão sobre o mesmo, na parede exterior da barriga, e massajar. A dor era agora mais forte e duradoura e o placebo de tentar massajar não passava de um acto reflexo sem consequências no atenuar da dita.
Como se a repetição tivesse conduzido a uma adaptação e, o que anteriormente resultava, não passava agora de um sinalizar da origem da dor. Era tudo parecido mas não era igual e o instinto de sobrevivência levou-o a procurar ajuda, para debelar aquela sensação que não lhe permitia continuar a sua vida no estado introspectivo e calmo a que estava habituado.
A resposta do cirurgião geral foi clara e inequívoca: a remoção da infeção permite prevenir a peritonite e acabar com a dor. Há que agir prontamente de maneira a evitar males maiores. Encurralado, entre o amor pelo pedaço de intestino e a sua forma de viver plenamente, a decisão foi prontamente aceite e a cirurgia teve o resultado anunciado. É certo que teve que andar com um penso, mudado diariamente, e a sensação de alguém ter mexido nele mas, no final e ultrapassada a convalescença, sentiu-se grato por ter optado pelo contacto, atempado, com a pessoa certa.
A cirurgia – 22/4/2024