Por quem tocam os sinos.

E agora que consertaram o sino da igreja, mantendo o relógio avariado e constantemente na mesma hora (está certo duas vezes ao dia), eu pergunto-me se escutamos o mesmo som – primeiro os doze batimentos do meio-dia, seguido da música inerente ao facto de termos atingido o meio do dia, seguido de uns batimentos que, nunca sendo doze, parecem o prenúncio de uma nova avaria a querer impor-se…

Não sendo católico e não vendo utilidade na existência do sino – num mundo em que a hora está sempre disponível, sem custos, pergunto-me se a melodia das doze não será para nos embalar. Não que eu tenha pretensões de dançarino – actividade em que não vou além de um ligeiro bate pé, a tentar acompanhar o ritmo da música (sempre sem sucesso mas nunca esmorecendo na tentativa e erro), mas porque o embalo me faz lembrar tempos de carícias, sem motivo que não fosse o querer acariciar, momentos de intimidade, com toda a vontade de construir a nossa própria intimidade, de amor, na procura constante de querer descobrir quem és e como és.

Entretanto o tempo passa e o som das doze vai sendo ultrapassado por batimentos muito curtos – a uma, as duas, etc…como que querendo vincar a saudade das doze, sem deixar de proclamar a sua importância, sobretudo para os que não usam relógio.

Não quero ser subjugado por tempo, apenas tenho a pretensão de espaço – conquistar e construir um espaço comum, que permita a ambos sentirmo-nos na mais bela viagem espacial…

Desejos que o sino da igreja alimenta – 17/4/2024

Algures em Portugal.🇵🇹

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