Os que mais amo.

Entre a obrigação e o querer vão sentimentos distintos. A obrigação é o correspondente ao “picar o ponto” – algo rotineiro, insosso, com presença mas sem algo que o poderia transformar em querer. Uma obrigação que não é natural, espontânea, real – uma espécie de reunião de actores e actrizes que seguem um guião desprovido de realidade, interesse, emoção – face a uma audiência que, provida de alguma cultura e mundo, desfaz a peça que perante si se desenrola – como um profissional de poker, a enfrentar um qualquer macho-alfa, desprovido da realidade e assente numa confiança total nos seus dotes de actor amador – tal a distopia que alimenta os seus egos (sim, no plural).

Rever primos, num ambiente tão simples e rotineiro como outrora, é um recuar no tempo. Um tempo que te traz a confirmação de que, felizmente, o tempo e o dinheiro – bem como toda a evolução familiar, de então até ao reencontro, não afecta minimamente os que são bem formados. O background familiar – pedra basilar a partir da qual se espera que progridamos – impede todo e qualquer retrocesso e dei por mim a ser mimado de vários ângulos. O bife foi encomendado por um, a água foi-me servida por outro, o diálogo fluiu como se aquela fosse a nossa rotina.

Muito embora a refeição fosse o que eu havia sonhado – demasiadas vezes numa Grécia que não se pauta pelo consumo de carne de vaca, devo confessar que a companhia é o condimento fundamental para que o miocárdio grite de alegria pela felicidade que sente. As tostinhas escondidas pelo bife, as batatas fritas redondas e fininhas, o cantinho de arroz branco e o esparregado, com o verde de esperança, foram o orgasmo gastronómico com que a minha imaginação me vinha torturando. Estamos mais velhos, com a mesma boa disposição face às adversidades, os abraços são iguais e a disponibilidade é total, de uns para os outros.

Posso não ter a família ideal mas devo confessar que estamos muito perto de o ser – com as nossas virtudes e defeitos, com a nossa solidariedade e compaixão. Foi um excelente almoço!

Porque nem sempre é só uma refeição – 6/2/2024

Um espantalho amigo.

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