Palavras desencontradas.

Ao escrever um texto, num conjunto de palavras que, de início, só para ti fazem sentido, deparas-te com imperfeições, desilusões e ilusões. A beleza do retoque permite, não só mas também, apreciar a linha de pensamento que trilhaste e, se bem que cries um novo ciclo a partir da amálgama inicial, sabes bem que o resultado final não existiria sem que as imperfeições fossem corrigidas.

Não é tentativa e erro mas sim o escrever “ao correr da pena” – por mim traduzido – corresponde ao despejar de tudo o que a mente imagina, mas sabendo de antemão que uma revisão providenciará algo mais perfeito do que apenas a soma das palavras. Como se dissesses tudo o que tens a dizer mas, na impossibilidade de ser directo, o corrigisses com a educação recebida e suavizasses o resultado final.

O ficheiro começa em branco e o título fica para o final. O turbilhão imaginativo toma conta da tela e, qual pintor “enraivecidamente comandado”, palavras soltas chegam ao cérebro que comanda o teclado e, com um sorriso na cara, vês a composição a tomar forma. Não ligas a erros, acentuação ou gramática – pois sabes que a revisão final permitirá eliminar as toxinas do texto. Uma pintura inicial é apreciada pelo autor que, nessa altura, já está a pensar no resultado final – que em nada se assemelha a tal pintura inicial.

Recordas o objetivo inicial, enquanto revês o conjunto de frases que agora compõem o rascunho, cortas palavras, acrescentas pontuação e tentas mudar o tom – para que fique de acordo com o anteriormente revisto. Lês, relês e, sabendo de antemão que a perfeição é inalcançável, dás a tarefa por terminada. Talvez o sentido seja agora diferente, afirmas tu mas, relendo mais uma vez, constatas que o final corresponde ao inicialmente pensado, agora embelezado por regras que fazem o texto fazer sentido. Ou talvez só faça sentido para ti mas, acima de tudo, escreves para ti – tornando assim redundante saber se mais alguém aprecia.

A tela imaginária coberta por letras ordenadas em frases – 12/1/2024

Deixe um comentário