Já com o contrato de aluguer em meu nome, eis que o senhor da agência (um monstro de trabalho que se tem desdobrado em contactos para que o apartamento esteja a 100%) se vira para mim e diz “agora é só mudar a electricidade, um clique na internet e já está!”. O vosso humilde narrador, que de burro tem muito pouco, habituado a estas andanças gregas, respondeu “ainda bem que assim é, sentemo-nos aqui e vamos fazer isso!”. Qualquer outro mortal mudaria de cor e, amarelado por uma tarefa inesperada, ficaria de mau humor. Mas este não é um comum mortal e, juntos, acedemos ao site da empresa de electricidade…para Entramos no site, olhamos para as opções, e ele diz “bestial, está ali o número de telefone!”…caiu-me tudo mas deixei-me levar pelo processo. Marcamos o número, ele ouve a mensagem em grego, carrega no 9 e passa-me o telefone “ela fala inglês”. Aguardo uns 10 segundos e a gravação continua a sair em grego. Lá atende alguém, eles entendem-se e o telefone volta para mim. Dados trocados, cópias enviadas, processo submetido! Um clique…
Há uma lógica perversa nos interruptores que tenho encontrado, nos apartamentos por onde vou passando. O interruptor de dentro nunca é o que acende a luz do local da casa onde entras. É fenomenal, estimula muito mais a moleirinha e eu simplesmente adoro a lógica da coisa. Experimentem…
Há muita beleza nesta nova vizinhança. Rodeado da grande contribuição portuguesa para a imagem grega, as laranjeiras estão por todo o lado (googlem como é que se diz Portugal ou sumo de laranja com gás). Tenho a sombra delas o dia inteiro. Perdi a grande varanda de Zografou, mas herdei um fresco rés do chão em Kallithea. Kallithea que significa Boavista – em termos de equiparação à Invicta – é como mudar da Pasteleira para a Boavista, perdoem a repetição.
Saio de casa, com um ar concentrado e decidido (o ar só, por dentro vou a dormir), passos rápidos em direção ao supermercado (a 2 minutinhos a pé) e o queixo lá se deixa cair e eu sou obrigado a parar para o interrogar. Pretendo interrogar o queixo até que a verdade saia…até porque, entretanto, passa por nós um monumento ambulante e eu, como ateu praticante, coloco o meu alter ego de trolha lusitano e deixo os olhinhos contemplarem – já consegui largar as fraldas e a baba é agora apenas uma lembrança antiga de algo que não tem acontecido. Interrogam-me porque não faço desportos radicais mas, claramente, não conhecem a Grécia…é um decatlo diário!!!!
Aquele abraço – 9/1/2023