Muito embora ele olhasse a obra actual com olhos de quem terminou o quadro, a verdade é que ele reconhecia, para lá da obra que agora contemplava, todas as obras passadas sobre as quais havia pintado. A obra acabada era algo em progresso e ele mentia a si próprio quando dizia que era uma obra acabada – como todas as anteriores obras “acabadas” sobre as quais havia reflectido melhor e procedido a alterações, inúmeras vezes…
A maneira de espalhar as tintas era difícil, por cima de mais camadas do que uma cebola, mas o pincel era a única ferramenta capaz de pactuar com a velocidade vertiginosa a que os rasgos de imaginação, misturados com realidade, eram transferidos para a tela. Os pelos tinham a juventude necessária para o esforço em progresso, mas a musculatura do pintor sentia as consequências de tanto pintar, disfarçar, pintar por cima…
O homem da maratona virou pintor – 4/5/2021
