O saco de pão diz tudo!

Num qualquer portal distante, a muitos anos-luz da Terra, havia uma sincronia entre duas pessoas: uma baseava-se nos sentimentos para comunicar e a outra no ego – ambas conseguiam assim a cobertura de rede necessária para psiquicamente comunicarem. As noites passavam a ser de insónia, as saídas a escassear ou a serem dirigidas para novos destinos, o batimento cardíaco fica amorosamente descompassado e a razão começa a esfumar-se para uma galáxia ainda mais distante. Num último suspiro de razão – no momento anterior ao embarque na nave espacial que a enviaria para muito longe – ela ainda conseguiu gritar as palavras: Pensa!!!!!! E ele, ciente de que a razão tinha o habitual dom de ter razão, não se tratando aqui de uma redundância mas sim de uma certeza, abraçou-a e sentiu o batimento cardíaco dela e não mais a soltou. A partida foi adiada e, de mãos dadas com a razão, sentaram-se a um canto a recordar os momentos racionais passíveis de serem recordados – com alegria, sem mágoa ou qualquer tipo de ressentimento, apenas recordando.

A razão havia trazido a maturidade – outrora tão ausente, havia trazido a responsabilidade – outrora inexistente, o compromisso havia passado a constar do vocabulário – não apenas como uma palavra sem nexo “alpha” mas como uma acção capaz de ser praticada, a cooperação era feita de mimos permanentes – em prol de um sucesso comum e a dois umbigos, os dois corpos fundindo-se numa só força de vontade que, apesar de ter altos e baixos, mantinha uma média de felicidade bem acima dos comuns mortais. Talvez haja um boneco de vodu envolvido nisto, e existam diferentes alfinetes que despertam diferentes sentimentos, talvez nenhum de nós esteja na posse desse boneco e seja urgente que o recuperemos, talvez um esforço conjunto seja o ideal para um primeiro passo – recuperar o boneco que gere os nossos sentimentos parece-me a tarefa ideal de libertação e prosperidade conjunta mas….porque é que sou eu sempre a falar?

Acordou quando a mão embateu na mesinha de cabeceira e derrubou a revista “Sábado” que aí se encontrava (a “Visão” estava esgotada). Havia um misto de medo e alegria no seu rosto e, com a visão turva – de sonhos, do despertar repentino e de toda uma série de questões existenciais que nos assombram assim que despertamos, do tipo “consigo mesmo tomar café antes de chegar ao WC?” e coisas do género (normalmente levo o café comigo para o WC, se precisam mesmo de saber) – sorriu e lembrou-se que tudo não tinha passado de um sonho demasiado antigo.

E tudo isto porque o Indiana levava um saco cheio de pão…

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