Por aqui também chove!

Existem vários feitios, de acordo com os cientistas da área, e afectam-nos de forma diferente, de acordo com a explicação abaixo, que obviamente é tudo menos científica!

A chuva alheia, como eu gosto de designar, é uma chuva que se nota que já vem exausta de um esforço húmido anterior e a cadência é muito irregular. Cai como se fosse, após a queda, fazer exigências – como uma criança que segura um guarda-chuva automático mas pretende “dar ares” de quem desconhece o funcionamento do objecto. Não acrescenta absolutamente nada com a sua chegada e, caso não nos atingisse, passaria totalmente despercebida!

A chuva caseira (só o nome remete-nos logo para recordações de casa – seja ela onde fôr!) É a chuva que nos cativa, de maneira tão profunda, que, só a ideia dela, causa em nós um arrepio delicioso de prazer antecipado! É a chuva que queremos para companhia, para um exercício de intimidade breve mas fortuita – queremos sentir a sua presença sem compromisso futuro. Podemos sempre voltar a casa mas, quem nos acompanha, é uma escolha pessoal, sempre baseada numa equivalência emocional que não sabemos explicar mas que apelidamos de algo superior (que não podemos fazer prova de porque não é real).

A chuva erótica é a minha preferida! São as gotas com as quais alinhamos, num pacto secreto e íntimo em que só nós e a chuva é que sabemos o conteúdo do que assinamos! São as gotas a quem tudo permitimos – são as gotas que alcançam partes da anatomia que nos fazem ruborizar na via pública, são as gotas que nos lembram que, apesar de adultos, podemos voltar a ter sensações infantis e recompensadoras, são as gotas que nos obrigam a um exercício de intimidade silenciosa que, apesar de muito agradável, receamos sempre que vá terminar com uma acusação de atentado ao pudor.
É verdade que a chuva limpa as memórias dos passeios da vida – a frase é do Woody Allen – e as memórias podem ser tão presentes quanto a gota de chuva que escolhemos receber.

Um dia constatei uma chuvada improvável – 23/4/2021

Deixe um comentário