A mulher ideal

Talvez o cenário se assemelhasse a um vão de porta – o que, por si só já é um convite à entrada, numa perspectiva de copo meio cheio – e de certeza que a pose estava perfeita – uns tons de vermelho e branco que, apesar de não serem as minhas cores de eleição, te tornavam ainda mais radiante. As curvas estão memorizadas e revê-las é sempre um prazer extra pela atitude de quem as conduz.

Curiosamente, ou talvez não, o facto de ter alterado todo o caminho de ida e volta foi a mais bela decisão espontânea do presente século. Percorrendo o passeio, ziguezagueando tanto quanto a distância social obriga, a verdade é que não esperava ver uma pessoa que desperta tanta curiosidade e saudade imediata – numa espécie de reboliço mental que é emocionalmente controlado. Algo que destrona o pescoço de vergonha e, desavergonhadamente, permite ver-te e apreciar-te – num misto de risco de torcicolo e artes marciais de sedução.

Talvez os meus olhos tenham cruzado os teus, num ângulo impossível de 180 graus, ou talvez fosse eu que o tivesse imaginado. Talvez eu tivesse sentido um estímulo amoroso, no momento que antecedeu o nosso encontro ocular ou talvez fosses tu quem o enviou. Talvez tenhamos um campo visual só nosso que nos permite ser traquinas socialmente aceites…

As dúvidas de um marinheiro de cidade – 2/4/2021

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