A leitura sempre foi, desde tenra idade, um vício desta família. A forma como disputávamos o jornal, que nos era entregue diariamente à porta (envolvendo esquemas que implicavam colocar o despertador mais cedo de maneira a surpreendermos quem anteriormente tinha a melhor hora), a forma como os livros novos percorriam a família e se tornavam tópico de conversa aquando do almoço e jantar, o espanto quando me subtraiam os primeiros livros que a escola me pedia para ler porque “tinham saudades daquele livro”, a enormidade de banda desenhada que acumulamos e cujos exemplares chegavam semanalmente ao quiosque da avenida. Era simplesmente impossível não estar constantemente ladeado por livros – enquanto devorávamos um havia sempre outro já escondido da concorrência! O tempo parecia prolongar-se, a imaginação parecia estimular-se e o intelecto ia apreendendo a forma de construir frases, o escalar do suspense, as mil e uma formas de entreter o leitor que é, em última análise, o objectivo do autor.
Os dias de chuva eram sinónimo de almofada no chão, peito deitado sobre a almofada e o aproveitar da luz que as janelas deixavam passar. Sentir a chuva a bater no vidro e acompanhar algumas “corridas de gotas” (em que mentalmente apostas numa gota para ser a primeira a atingir o limite do vidro), o barulho da madeira que estala na lareira e que se traduz em calor, a manta que alguém te coloca nas costas para maior aconchego – a leitura sempre foi sinónimo de bem estar, conforto e o deixar a mente vaguear (algo em que sou um profissional não certificado).
O verão é sinónimo de banhos de mangueira entre banhos de sol, uma música discreta – mas que normalmente é um Chico Buarque, calminho e carinhoso como o ambiente tranquilo que se reúne. Quem quer desce a 33, dá um mergulho e volta para um churrasco que, no mínimo, se prolonga até ao pôr do sol – altura em que as camas de rede e a relva passam a estar ocupadas para uma sesta merecida. Com uns chuveiros pelo meio e já damos por nós sentados a comer novamente “Porque estás a crescer”, dizem…como desculpa para mais uma garfada. A noite é da chavalada, que vai sair, e de reunião para os que ficam – uma tertúlia improvisada, conversa despreocupada, mentes que se esvaziam num diálogo íntimo de amigos.
A ocupação de tempos livres como forma de crescimento – 13/3/2021
