Não conheço os efeitos secundários de pessoas auto proclamadas alfa mas, enquanto adepto do povo Zulu – que é um dos responsáveis por existir um dialecto que é falado em quase toda a África – reconheço-me como macho Zulu (ou Sigma, armado em moderno! 😂😂😂)
Dia 19 de Novembro de 1999 foi o dia em que parti para conhecer Moçambique. Saímos da Quinta do Lambert em cima da hora, para o habitual trajecto de cinco minutos que fizemos num táxi amigo (de maneira a evitar a má disposição que corridas curtas causam aos taxistas). Chovia, muito e o Futebol Clube do Porto jogava contra o clube de Lisboa que joga de vermelho. Embarcamos e, quando o A340 aterrou em Maputo, havíamos ganho o jogo por 2-0.
No aeroporto, aguando do primeiro golo – superiormente executado pelo Capucho, dei um salto enorme no ar e reparei que um desconhecido se aproximava, a esfregar as mãos e de sorriso aberto. Assumi uma posição defensiva uma vez que a última vez que eu tinha ouvido falar em tais reacções as notícias eram oriundas dos duches das penitenciárias de Custoias, Paços de Ferreira, Pinheiro da Cruz, etc…O sujeito chegou perto de mim e perguntou:
- É golo? E eu, ainda com um golpe na traqueia em caso de emergência na mente, respondi afirmativamente.
- Eu sabia, disse o aprendiz de feiticeiro. – Quem marcou?, acrescentou enquanto o sorriso lhe rasgava a cara – de orelha a orelha e mais além!
- Foi o Capucho, respondi enquanto cerrava o punho com a força que só um Portista conhece.
Amuado, o sujeito afastou-se e eu, que não sou muito discreto no que toca a coisas irracionais como o futebol, soltei uma gargalhada tal que senti que os controladores de tráfego aéreo davam instruções a todos os aviões em espera até saberem o que era aquilo. Por um breve momento o sujeito foi feliz….
Nos dois dias que destinamos a visitar o Krüger houve momentos em que nos cruzamos com locais que não falavam nem Inglês nem Português. O Agostinho – um homem fenomenalmente culto transformado em guia turístico – tentou dialogar utilizando um dialecto e ficou tão pasmado quanto nós quando se deu conta de que o diálogo era possível. Foi um momento único de reconhecimento por tantas insuficiências que África tem e a maneira superior como conseguem sempre improvisar uma solução! Uma mudança de abordagem, por muita dúvida que provoque, é uma grande solução!
A Ana Claúdia um dia perguntou-me qual o local que eu mais gostaria de visitar e eu, que tenho a mania que tenho sempre uma resposta pronta, respondi: Bazaruto! Recordo que ela achou estranho que eu pretendesse visitar um sítio que já conhecia, sem reparar que o pretendido era mostrar-lhe um sítio que eu sei (é uma certeza) que é dos mais belos que o mundo tem.
Num pequeno arquipélago, ao largo de Inhambane, para onde nos deslocamos de helicóptero porque haviam cultivado no meio da pista de aterragem de aviões, há um resort do Pestana que é maravilhoso! Combinando o facto de sermos, na altura, da família do Director-geral, ajudou a que nada nos faltasse e nunca tivemos necessidade de pedir, o que quer que fosse, num exercício de telepatia que nós não sabíamos existir. Podes nadar com golfinhos ou com tubarões bebé, podes passar o tempo no mercado de rua mais arcaico que conhecerás ou a percorrer os quilómetros que a maré criou entre ti e o mar, podes subir uma duna – que demora cerca de uma hora a ser escalada – ou fazer ski aquático no Índico – sempre pronto para fugir, (dos tubarões adultos) em caso de queda! Em resumo: o pequeno arquipélago tem uma amostra muito reduzida do mundo, tal como o conhecemos – permite todo o tipo de relaxamento ou actividades e faz-te crescer numa empatia que provavelmente alguns descobrirão pela primeira vez. E isso…isso é o único gourmet da vida que eu procuro! A consciência de saber do que realmente gosto.
Retalhos do meu “África minha” – 8/3/2021
