As migalhas de uma dezena de pães oferecidas a uns pássaros que me olhavam com um misto de simpatia esfomeada e histeria controlada. Observo-os enquanto interiorizo a certeza de que até eles conseguem controlar histerias e pergunto-me o que diria Freud, se conseguisse deitar os pássaros num divã, para uma análise mais terrena e mais assente na terra.
Freud certamente culparia a mãe dos pássaros – todos os voos da vida seriam escrutinados, todos os sítios por onde voaram, de onde descolaram e onde aterraram. A dieta seria analisada em função dos voos efectuados – ao mais ínfimo ingrediente.
Nada faria o cientista afastar-se da verdade e finalmente a humanidade saberia controlar as histerias individuais e assim progredir. É isso que se pretende da vida, não é? O nosso progresso individual, sem fricções, em prol de um conhecimento mais vasto e nunca se detendo na missão constante de angariar mais conhecimento. É a minha definição!
De uma amálgama de folhas mortas começa a surgir a primeira folha do que se deseja uma laranjeira! Não que não saibamos o que plantamos mas porque este jardim é uma experiência permanente no que à introdução de novas espécies diz respeito. Já teve mais de botânico mas sempre soube achar espaço para novas espécies! Numa espécie de altruísmo e bem receber, eis um jardim que se sabe adaptar para que outros possam sobreviver juntamente consigo.
O jardim dá-me uma retrospectiva da vida – são 41 anos de casa – e se é verdade que participei na aventura que foi o enchimento deste jardim também é verdade que o abandonei nos anos de trabalho no estrangeiro – perdem-se algumas virtudes e exercitam-se alguns defeitos, algo também inerente à vida! Mas, voltando ao jardim, ele é o meu campo de visão sempre que me sento no cimo das escadas de caracol (mais conhecido como o meu degrau). O jardim e as suas cores, os seus aromas, a sua frescura e a ternura com que ondula, os pássaros que mergulham na procura da migalha prometido e as formigas que fogem com uma migalha que não vai caber no formigueiro. Mania das grandezas….
Mas, os pássaros voam e nós aguardamos em terra pelo seu retorno! – 7/3/2021

Abençoado degrau, lindo jardim e bela reflexão que acredito ser bem mais poética do que a que Freud faria.
Gosto de ler as tuas cenas.
Beijinhos com saudades.
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O degrau já causou ciúmes, o jardim é tudo o que quisermos imaginar que ele representa e a reflexão é a melhor das companhias em tempos de pandemia.
Beijinhos Vânia e obrigado pela visita. Cumprimentos a todos. ❤️😘
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A “ culpa” nunca é só da mãe, diz esta Freudiana ! Bom , detalhe sentido!
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Sempre a aprender nesta vida! ❤️
O bicho homem tem uma tendência animalesca para culpar a cara metade sem antes olhar para o umbigo mas, em tempos de pandemia, já mal vejo o umbigo! 😉😂
Beijinhos, obrigado pela visita e cumprimentos a todos. ❤️🍺
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