O nosso novo mundo

Arrepia-me a desconfiança com que as pessoas circulam – nota-se um misto de receio versus desejo por voltar a repetir a festa do fim de semana passado, numa mistura tão incoerente, fruto do desconhecimento e do chico espertismo tão tipicamente lusitano em que a estupidez de querer usar óculos escuros prevalece sobre o uso obrigatório de máscara – como se desafiar a doença fosse mais importante ou inteligente do que descuidar a indumentária. 

Tenho o maior apreço por todos nós que, sem ingenuamente questionarmos o que a ciência dita, não deixamos de acompanhar a evolução dos métodos de defesa contra a virose vigente e os colocamos em prática – pela nossa e vossa saúde. Desagrada-me o facto de haver quem pensa que uma pandemia pode ser debatida nos mesmos termos de um jogo de futebol e, enquanto o povo não for educado, tentará sempre debater qualquer assunto como se de um jogo de futebol se tratasse – ignorando, ostensivamente, o claro fora de jogo!

Após uma volta matinal, feita num ritmo infernal que eu apelidei de “Espinho local during the pandemic” – que consiste em acelerar o ritmo habitual porque a volta higiénica deve ser um exercício de respeito pelo próximo e, ao aumentar o ritmo, posso queimar tantas calorias quanto um passeio mais longo num ritmo não tão radical, deparo-me com o aroma da Aipal e, como qualquer bom cidadão espinhense, cedi na aquisição de dois pães – sempre bem tostados e a sair do forno. Compro o jornal por puro saudosismo de coisas palpáveis – e enquanto a Wook não envia o último do Daniel Silva. Euromilhões registado e um olhar mortífero, ressalvo, daqueles que fere, por parte do polícia estacionado que já me viu a voltar da beira-mar actualmente existente.

A reserva de baked beans esgotou ao almoço e lá tive que ir ao ponto de encontro dos dias de hoje…o supermercado! É giro ver gente reunida com o pânico nas faces…há qualquer coisa de David Lynch na cena! Não houve trocas de olhares…foi apenas uma compra de laranjas, bolachas de e sal e o inevitável feijão! São dias feitos a um ritmo tão descontraído que, por vezes, tenho que acordar as pálpebras para efectivamente perceber o que me rodeia.

Imaginemos tudo isto como um simples jogo de solteiros contra casados em que, apesar de haver virtudes e defeitos em ambos, o amor prevalece e o abraço certo surge naturalmente…como uma onda do mar que rodeia um casal empenhado em namorar e que nem se apercebe do que os rodeia porque só eles existem! Esse tipo de amor.

A rir corrigem-se os costumes e, confinados, ainda melhor – 23/2/2021

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