Um conforto egoísta

Contei o máximo de gotas da chuva que me foi possível e, em cada uma delas, guardei um segredo meu. Implodiram no chão, com o ruído típico da água a bater no chão, e o segredo ficava assim guardado para sempre. Amigas de confiança estas gotas.

“I like the rain. It washes memories off the sidewalk of life.”
Woody Allen

O alongar do passeio higiénico, de forma a encontrar o Norte, e a visão – sempre diferente, sempre fresca, sempre pujante – do mar! As saudades, que vão sendo combatidas com uns olhares do cimo da Rua 33, acumulam-se numa vontade enorme de mergulhar de cabeça, naquela água gelada, mais uma vez.

O supermercado como ponto de encontro improvável e a esplanada como ponto de encontro fechado pelas autoridades. Todos respiram saudades cientes de que as suas dúvidas são as nossas e todos queremos um fim para voltarmos a ser o que outrora fomos – livres!

Rodeado de obras, como a cidade inteira está, e infernizado pelo ruído ensurdecedor dos camiões das obras a recuar – um PI, PI, PI que deve ter sido calibrado pelo gajo mais surdo à face da Terra pois ouve-se de um lado ao outro da cidade!

A areia lisa a tentar novos recomeços, a mente a negar quaisquer progressos. O mar a babar-se num sorriso aberto de espuma e o povo a sorrir perante cada nova onda – em forma, força e trajecto – como miúdos a verem algo novo…pela primeira vez!

Pela primeira vez – 4/2/2021

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