Pequeno almoço

Sendo a refeição mais importante do dia há que não descurar o seu horário, o seu conteúdo e, acima de tudo, já projectando o dia que vamos enfrentar. A primeira refeição demora o seu tempo a mostrar-se (eu, pelo menos, acordo sempre com mais apetite por um café do que propriamente comida) e, enquanto cultivamos o apetite, fazemos uma pausa para um cigarro e, muito provavelmente, alguma forma de higiene pessoal (um primeiro passo ensonado).

De conteúdo sempre diferente mas sempre de forma a colmatar as falhas que sentimos, com duração sempre diferente – porque me distraio com notícias, novidades e afins – com um conforto sem igual – uma espécie de melhor braço direito sempre disposto a colocar-nos o caminho correcto, com indicações claras para não me perder em círculos desnecessários a uma vida que sabemos ter um tempo definido que não nos é fornecido. A vida como uma espécie de navegação à vista – aproveitando, com a maior celeridade, as virtudes e desprezando, com igual ou maior celeridade, refeições que não são do nosso agrado. Uma vida gourmet mas com luzes intensas que nos permitem visualizar o que degustamos (se quisesse meia-luz teria ido jantar ao restaurante de uma qualquer mina, com um capacete adequada e uma arma capaz de afastar todos os bichos que se movem nas entranhas da Terra bem como os gazes que, de maneira invisível, matam!)

Vista e avaliada a refeição cabe ao autor o prazer de sentir prazer com a sua degustação – um misto de empatia e gastronomia, numa espécie de aliança diária em prol da energia do humilde narrador. Poderia ser um iogurte Grego e um Freddo Cappuccino – sempre sem açúcar porque realmente eu já sou demasiado doce. Poderia ser o Irish breakfast, com os ovos mexidos, o bacon, as tostas e os pedacinhos de chouriço grelhados, tantas vezes repetido em Lancaster Gate. Ou até os flocos baratos do LIDL que, com um pouco de leite, fazem sempre uma boa refeição.

No fundo….basta haver um consenso em relação ao que gostamos da mesma maneira que o temos para o que não nos agrada.

A gastronomia como analogia para a felicidade – 28/12/2020

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