Todos nós, ao longo da vida, vamos colecionando pequenas coisas que guardamos na memória. No meu caso específico, a porta da nossa antiga casa é um dos objectos que melhor me dá uma ideia do quanto cresci.
Dos primeiros anos de idade, divididos entre as casas do Porto e Espinho, houve sempre duas portas fundamentais: a porta da garagem do Porto – que me permitia ter uma longa recta após deslizar pela rampa bem inclinada – e em Espinho era a porta de entrada da casa dos avós maternos.
O abrir da porta de Espinho requeria que eu trepasse pelo gradeamento existente e, suspenso, conseguisse alcançar o batente. Hoje, ao passar por essa mesma porta, pude constatar o quão fácil é alcançar o batente e, como se de uma marca de crescimento se tratasse – como outrora fazíamos nas portas de casa para que a memória perdurasse – sorri perante a aventura que era aquela porta.
Nitidamente há uma série de rampas na vida que, podemos subir ou descer, conforme sentimos ser o melhor caminho. A subida implica esforço enquanto que a descer “todos os santos ajudam”. Mas será que são todos santos? Confesso que a teologia nunca me interessou, salvo se servir de referência para nos enaltecer e crescer.
A verdade é que, hoje em dia quando passo pela porta, revelo a saudade de ter que fazer aquele esforço – hercúleo, na altura – mas, por outro lado, lembro-me do quão recompensador tem sido todo o crescimento e o quão preparado ele nos deixa para a rotina ou até o inesperado.
A aproveitar a vida antes dos 50 – 21/7/2020
