Os dias…como deles gosto.

O veraneante profissional não sai da praia entre as 8 da manhã e as 8 da noite. Mas eu, que tento passar por esta vida com o espírito mais amador possível, dei apenas um mergulho. Não foi um mergulho fácil mas também não foi o mais audaz dos mergulhos, confesso. Houve avanços e recuos, como em qualquer tipo de conquista, houve arrepios de pensamento e calores como que retemperando a ideia mas, no final, eu dei o mergulho!

Não foi porque houvesse trânsito ou muita gente na praia, não! A praia era, praticamente, só minha e a temperatura do ar estava nos 20 graus pelo que a soma dos incentivos era muito maior do que qualquer irracionalidade de pensamento pudesse quebrar! Deixei um sujeito insuspeito como fiel depositário dos meus haveres e avancei, de t shirt, calção e chanatas.

Deixei-me cair, no monte criado pela maré vaza, e fui sentindo a água tépida nas palmas dos pés, agora nus de chinelos. Fui tirando a t shirt e atirei-a para cima dos chinelos, num buraco que a natureza obviamente preparou para a minha chegada. Era chegada a hora de avançar e, tratando-se da maré vaza espinhense, tal tarefa implica percorrer uns 50 metros de areia até achar uma onda digna desse nome.

Ela olhou-me e eu olhei-a! Num duelo de olhares – ela ameaçava quebrar e eu ameaçava atirar-me de cabeça – parecia haver demasiada falta de tensão mas hesitação não houve e, após um brutal esforço para erguer toda esta massa humana, eis o vosso humilde narrador completamente salgado! Restos de água que se afastam do corpo, naturalmente, enquanto outros são pela mão projectados para longe. Uma outra onda pelo nariz dentro e estou pronto para sair!

Ao longe vê-se a praia e a caminhada de volta transforma-se na aventura seguinte. Com o maior cuidado possível, para não despertar nenhum peixe-aranha adormecido, caminho a forçar a água com o corpo – o que é o pico da actividade física anual. Já rodeado pela toalha azul e branca, seco o corpo e caminho para os chuveiros. O monte criado pela maré vaza assemelha-se agora ao pico dos Himalaias e, quase cambaleando, subo lateralmente até atingir o cimo onde festejo efusivamente (interiormente, para não assustar as massas que já começam a percorrer o calçadão). 

O fiel depositário dos bens continuava a desatinar com a bebida que eu havia sugerido e, não fosse a simpatia, provavelmente tinha-me mandado beber aquele B de limonada! Troca de calções efectuada, longe de qualquer atentado ao pudor, e eis o vosso humilde narrador de volta ao confinamento. 

Coisas simples sobre as quais podemos sempre elaborar mais um pouco – 21/6/2020

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