Sonhei…

Acordou embalado pelo sonho de um dia de praia, desde muito cedo, a fustigar as ondas com o corpinho escultural e, assim que despertou, saiu-lhe uma valente gargalhada quando reparou que eram 6 da manhã…Não que nunca houvesse ido para a praia a tal hora mas impunha-se algum bom senso ou poderias ser confundido com alguém a terminar a noite e não a começar o dia. Adormeceu lentamente, enquanto ao longe escutava os sinos da Capela a baterem 6 vezes, para voltar ao sonho que, decorria agora a uma velocidade semelhante à rapidez  com que os grãos de areia se colam ao nosso corpo molhado. Sentia um grão mais expedito que parecia dar comichão entre o dedo grande e o segundo dedo mas era uma comichão agradável que uma vaga imaginária levou sem que o humilde narrador pudesse desfrutar de todo o potencial! Pingava salgado por onde andava e sentia o ardor do sal na face, os pés eram agora enormes estruturas de areia que dificultavam a locomoção pela colina criada pelo mar. O nariz, de frente para as vagas, numa tentativa natural de limpar a coisa, a testa a sofrer a pressão da água, as bochechas a tremerem com a passagem do líquido salgado, partes da anatomia que vão ficando geladas pela temperatura da água e outras que acolhem com um sorriso o segundo banho do dia.

Sentia as costas quentes, que não queria acreditar ser resultado da exposição solar, pois o Sol ainda não tinha atingido todo o seu potencial e era muito cedo. Mas o dia e a temperatura não estavam pelos ajustes e, inquirido o parceiro de luta nestas andanças, tive a certeza de que o corpinho estava mesmo a ficar vermelho. Um novo deslocar pesado, pela areia abaixo, um novo pézinho a ver a temperatura da água (algo completamente ilógico em Espinho), um tombo na cova da Baía e, aproveitando o fundo, um salto que deixou o humilde narrador com a sensação de ser o verdadeiro campeão de saltos radicais!!!! Não fossem as vertigens….

Umas braçadas para um lado e algumas para o outro, num abraço intenso com o mar. O lago de hoje de manhã permitia flutuarmos sem o perigo de levarmos com uma onda mais atrevida que, obviamente, apareceu justamente nesse momento e embrulhou o humilde narrador numa mistura de água, espuma e alguns peixes que, sentados numa bancada virtualmente imaginada por mim, se riam da minha falta de jeito para os imitar! Aplaudido pelas guelras deles e incentivado a nova tentativa, declinou respeitosamente e sentou-se no cimo do mar a observá-los num corropio com tanto de lindo como de exercício físico! Não deve haver obesos no mundo dos peixes….

O despertador tocou, ele acordou e foi concretizar o sonho!

 

Devaneios de uma manhã quente – 28/5/2020


 

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