Mudanças…

Muito cedo, pelo meu ritmo actual, levanto-me e, como o comum mortal, vou comprar pão. Numa caminhada que tem muito mais de nostalgia do que de distância, revejo o passeio onde fazíamos corridas de bicicleta, o muro da Fosforeira (tão alto na infância e, hoje em dia, vejo bem acima dele), a casa dos avós, etc…Interrogo-me sobre pequenos detalhes (quantos loucos mais haverá no mundo a jogar futebol na sala?).

Virando à esquerda no cimo da rua, normalmente deparo-me com os primeiros seres humanos e, curiosamente, cumprimentam-me! Cumprimento de volta, claro…mas pergunto-me: quem seria? São desconhecidos que, num gesto novo de empatia, passaram a cumprimentar os transeuntes…Curioso, digo para mim mesmo e, uns metros mais à frente, o mesmo gesto, de outra pessoa que desconheço, e de quem passo ao largo…distância de segurança oblige.

Percorro a rua 18 com a certeza absoluta de que se trata de uma seita mas, por outro lado, quem criaria uma seita de empáticos matinais? Só com o patrocínio de uma multinacional de café e não havia qualquer publicidade na indumentária deles…de onde viria o retorno??? Deixei a vertente económica e debrucei-me apenas na vertente humana; passei a sorrir para todos por quem passo e, quiçá, talvez já se diga por aí que pertenço à seita…

Há um misto de empatia e pedido de absolvição quando as pessoas se cruzam, nos tempos actuais. Uma mistura de “Olha quem ele é” e “mantém-te ao largo, se faz favor” que andamos a interiorizar – uma antítese de tudo aquilo que, antigamente, perseguimos e que, em última análise, é o amor! Estamos alheados por obrigação mas não perdemos o que de mais belo fomos interiorizando e pretendemos voltar a colocar em prática!

Desabafo:
A curiosidade de sermos de um país que empurrou milhares de médicos, enfermeiros e outros, para o estrangeiro, e agora batemos palmas e ajoelhamo-nos perante o esforço – daqueles que, abdicando de um salário muito superior – ficaram para nos salvar! (E, mesmo assim, ficamos muito aquém do agradecimento que eles merecem).
Convém manter todo o parágrafo anterior bem memorizado para a enxurrada de movimentos nacionalistas que, inevitavelmente (e infelizmente), surgirão, após tudo estar resolvido, tentando colher os louros de algo que nunca plantaram (porque não existe neles semente), nunca trataram ou tentaram cooperar (porque neles não existe esforço)!

Obrigado pela visita e até breve! – 7/4/2020

corona

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