Macacos e nós

Reunidos no local habitual, a chuva miudinha cai lá fora e cada novo cliente entra com um semblante cansado. Todos? Não! Há um senhor, nos seus setentas que, assim que entra, abre um enorme sorriso e todos saúda com um “Buenos dias”.

Tem uma barriga pronunciada, uma pesada mala de couro e vem vestido numa combinação de ganga, camisa e gravata. O sorriso com que nos brinda cativa todos os presentes e o semblante geral passa a descontraído/bem disposto.

Dirige-se ao balcão e pede ao funcionário de serviço uma água fresca sem gás e um prato de amendoins. Os olhos brilham quando recebe o seu pedido e quebra a casca do primeiro amendoim… Seguem-se minutos de rotina descontraída a quebrar cascas e a levar à boca, um por um, os amendoins despidos.

Finalizado o pequeno almoço – são 11:30 da manhã – abre a pesada mala de couro, de onde retira um exemplar do “Mystères des chiffres” de Marc-Alain Ouaknin, que pousa cuidadosamente sobre a mesa. Exclama “Ainda dizem que não descendemos dos macacos” – referindo-se ao gozo que os amendoins lhe deram… Abre a garrafa de água e bebe um pequeno trago. Está satisfeito, nós também – com a visão da satisfação dele.

Lê agora cuidadosamente o livro, consultando eventuais dúvidas no smartphone, com alguma dificuldade – uma vez que aproxima o livro dos olhos de uma forma anormal. Sorri muito e a sua expressão “contamina-nos” pela naturalidade com que goza a vida.

Há manhãs com muita piada…