Há um degrau, em casa dos meus pais, que é o meu lugar de eleição para a boçalidade. Nele consigo esticar as pernas, ver parte do jardim dos vizinhos – as diferentes plantas amarelas e verdes, sinais nítidos da existência de um cão, o barbecue no centro e os pequenos pássaros que amiúde lá aterram para apanharem uma ou outra minhoca que detectam. No nosso jardim visualizo as macieiras, a nespereira e os limoeiros que lutam por voltar a ter o esplendor de outrora.
Poderá não ser este o melhor local do mundo, o melhor degrau do mundo mas é o que mais aprecio. A vista de um telhado baixo, à esquerda, permite ver a passarada a “guerrear” nas poças de água por um banho rápido, as gaivotas voam bem alto, o Sol consegue ver-se sobre o lado esquerdo, bem alto e sempre pujante. À direita há uma mesa verde, onde amiúde coloco uns pedaços de pão ressesso, e que é visitada pela passarada mais pequeno e um ou outro melro – de cor preta mas com cores de bico sempre diferentes mas em tons amarelos e alaranjados – que primeiro saltitam no muro e depois se atrevem a saltar para a mesa.
Em termos do que sinto, e embora não sendo um local rico, de exposição ou habitualmente adoptado socialmente para o descanso, este degrau é para mim sinal de paz, casa, natureza e segurança. Pode um homem enamorar-se por um degrau?
Há sempre uma escada na nossa vida – 5/3/2017