Eram jovens e despreocupados. Saltitavam pela rua, de mão dada e de sorriso aberto, contando os passos que iam dando. Desviavam-se das gotas de água da chuva como profissionais de futebol a fintar os adversários. Colocavam uma postura profissional para captar o Sol no melhor dos ângulos.
Trocavam impressões sobre preocupações comuns. Sentavam-se, bem encaixados um no outro, a contemplar o mar – contando cada onda – associando a diferente ondulação a um estado de espírito humano: sempre desigual, mas sempre maravilhoso. Molhavam os pés ao desafiar as marés sabendo de antemão que não tinham nascido marinheiros.
Já se haviam fisgado um ao outro e a pesca não fazia, para eles, sentido praticar. Viam as embarcações ao largo e desejavam que o fruto da pescaria fosse a refeição seguinte deles.
Sentiam o calçado afundar na areia molhada e afirmavam estar a “andar nas nuvens”. Interrompiam tudo, quando o dever chamava, mas aquele era o “porto seguro” de ambos – onde podiam estar sempre atracados sem medo de qualquer intempérie.
Aproveitavam o Inverno como haviam aproveitado o Verão: de banhos na praia transferidos para o chuveiro simulavam estar nas águas coloridas de um qualquer mar exótico – sem muito calor, sem muito movimento – apenas e só o mar com que haviam sonhado.
O choque térmico da saída do duche assemelhava-se à entrada na água durante o Verão. O tapete do duche era a areia e tudo o mais apenas e só passos muito largos para abraçar a chegada dessa Primavera que já permitia transformar sonhos em realidade.
No final do dia assobiavam a música dos 7 anões:
Eu vou eu vou
Para casa agora eu vou
Parara-tim-bum
Parara-tim-bum
E assim passaram um Inverno quentinho…
Sorriso de uma noite de Inverno – 27/1/2017