A idade pode não te dar a maturidade toda do mundo mas dá-te a grande capacidade de ver melhor – novas perspectivas, novos ângulos, cenas “graves, muito graves”, conspirações e atribulações.
Conseguir apreciar algo, a partir de diferentes perspectivas, aguça o nosso conhecimento e agiliza a forma como nos comportamos de aí em diante. Aproximamo-nos da natureza não como uma batalha de outrora mas na serenidade do agora. Rimo-nos do que é belo e pensamos nos pequenos detalhes que o terão tornado possível – certamente terá que ter havido alguma imbecilidade, ou pelo menos algum humor, na criação do mundo ou não teríamos tanto para descobrir e com tanta piada pelo meio…
Hoje decidi apreciar, com sorrisos, todos os olhares que tive. Poderei ter parecido um louco pela rua mas o que os outros pensam só a eles pertence e eu resolvi ocupar a minha mente com esse exercício. Foi hilariante porque realmente o sorriso é contagioso e mesmo o olhar – sobretudo quando paramos para apreciar algo realmente belo – é algo inesquecível…quer na forma como agimos, na lembrança que nos deixa, na maneira como nos toca…é único, só nosso e nunca haverá duas percepções completamente iguais da mesma observação.
Foi o exercício de um dos sentidos…que me deu sentido (perdoem a redundância). Foi o querer ter uma memória digital de tudo o que me rodeia e ter, na minha cabeça, a unidade de armazenamento. Enquanto discorro por algumas das imagens, obviamente mentalmente, esboço um sorriso de refugiado em Atenas (devido às sucessivas greves nos barcos, autocarros e aviões) feliz por ter descoberto por onde andar. Amanhã certamente darei passos mais experientes mas o desflorar a virgindade do acontecimento não ficou manchada de sangue e deu azo a uma nova vida.
Desabafos de um expatriado – 12/10/2016