A linguagem, o alfabeto, as vicissitudes da comunicação.

Aquela vulgar tarefa de cortar o cabelo pode tornar-se em algo não rotineiro quando, pela enésima vez, tens que explicar como pretendes que o cabelo seja cortado. Explicas com um ar de “o mestre da tesoura, ao longo do corte, vai lembrar-se de como cortou da última vez e sairei daqui um modelo” – tal como da última vez. E deixas que ele execute a sua tarefa sem te imiscuíres naquilo que é a rotina dele e a sua profissão – daí ele ser designado como um profissional. A verdade é que eu, ao longo do corte, falei com ele, confesso! E, pelo que agora vejo no cimo da minha cabeça – que é muito pouco – devo ter dito algo como “Mais curto, mais curto”. Eu empolguei-me, ele deixou-se empolgar e o resultado não está à vista porque estou quase sem resultado para ser visto!

Saí do cabeleireiro e comecei a sentir comichão nas orelhas – uma espécie de brisa que anteriormente não estava lá – e, pensando que estaria a andar rápido de mais, suavizei o meu passo. Mas, as novas correntes de ar não cessavam de rodear a minha cabeça…”primeiro estranha-se e depois entranha-se”…realmente é verdade. E comecei a brincar, qual criança a quem deram um brinquedo novo, com a aerodinâmica do novo corte de cabelo – ora acelerando o passo, ora suavizando, ora andando e voltando a cabeça…quem me visse poderia apelidar-me de louco mas a verdade é que me diverti à brava com os diferentes barulhos que a brisa do meu caminhar produzia. Sorri…muito e continuei a caminhar. Continuo a descobrir novos sons consoante os novos ângulos que, por força da natureza humana, acabo por irreflectidamente produzir. Aconselho um corte curto, a todos, só pela descoberta…Um “must”!

Após algumas horas, com a nova aerodinâmica, senti que andava nas ruas de olhos “colados” no chão. Porque tombava a minha cara nessa direcção? A questão estava a melindrar-me…estaria insatisfeito com o novo corte? Andaria triste? O que fazia com que, inevitavelmente, olhasse o chão? Foi ao cruzar-me com um espelho que descobri a razão…o cabelo tinha ido mas a barba permanecia e, atraída pela gravidade, levava a que a cara tombasse na direcção do chão. Livre de todos os pelos na cara eis-me novamente equilibrado e pronto para mais uma semana.

É tão bom adaptarmo-nos a algo novo – tal como descobrir a razão de um problema antigo…às vezes é apenas um cisco no olho que nos faz chorar! A importância das coisas pequenas nos sentimentos grandes. É bom viver na Grécia…pensa-se mais!

Boa semana.

Aquele abraço.

Henrique Milheiro da Costa Correia de Matos